EDUCAÇÃO:
UM ASSUNTO CONTROVERSO
A
educação é um dos grandes dogmas da sociedade contemporânea. É absolutamente
comum ouvir grupos de pressão e políticos falando sobre a necessidade de se
promover a educação no Brasil, especialmente por meio da aplicação maciça de
recursos públicos no setor, valorização salarial dos professores e
melhoria da infra-estrutura, e que tais medidas levarão o país a um novo
patamar de desenvolvimento.
Esse
artigo tem como objetivo desmistificar o tema da educação para demonstrar que o
verdadeiro valor que traz desenvolvimento econômico a um país é a liberdade, e
que a educação é sim um excelente investimento, mas somente em uma sociedade
verdadeiramente livre, pois a educação não é um fim em si mesmo.
O
QUE É EDUCAÇÃO?
Segundo
o Wikipedia,
educação é o processo de ensinar e aprender. A educação pressupõe, portanto, um
conhecimento, que é um bem imaterial objeto dessa transação, um educador, que
possui o conhecimento e o repassará, e, por fim, um educando ou aluno, que não
possui o conhecimento, mas irá adquiri-lo ao final do processo de educação.
Do
ponto de vista civilista, a educação é um serviço, e poderia servir como objeto
de qualquer contrato livre, desde que um educador queira vender um conhecimento
e um aluno queira comprá-lo.
Nota-se,
então, que o conceito de educação não é um conceito substantivo, mas sim um
conceito adjetivo ou procedimental. Educação é apenas um meio (ou seja, algo
adjetivo ou procedimental) pelo qual se busca adquirir para si o conhecimento
(esse sim de natureza substantiva). A educação é desprovida de qualquer valor
intrínseco, sendo apenas um conjunto de procedimentos que visa agregar
conhecimentos de interesse do aluno, que por sua vez se baseia em valores.
E
esses valores buscados são absolutamente subjetivos. O motivo pelo qual um
homem estuda direito ou economia e não geologia é que o tal sujeito se
interessa muito mais por aqueles temas do que por esse. Para um geólogo,
contudo, essa afirmativa seria um sacrilégio. São os valores individuais e
subjetivos de cada aluno que o levará a buscar determinado conhecimento.
Cabe
ainda uma discussão interessante sobre a possibilidade de a educação ser
individual, ou seja, se educador e aluno podem ser a mesma pessoa. A resposta
convencional diria que sim, por causa do fenômeno do autodidatismo, mas a
melhor resposta é não. Explica-se.
O
autodidatismo é comumente conceituado como o ensino através do
auto-direcionamento. Esse processo não é, contudo, exclusivamente individual.
Para que uma pessoa possa se auto-direcionar em busca de um ensinamento, ela se
guiará por livros ou qualquer outro tipo de instrução. Logo, o autodidatismo é
necessariamente uma relação entre um educador e um aluno, ainda que este
educador esteja em um ponto remoto e o procedimento de ensino não se dê de
maneira direta, mas sim indireta.
No
caso de um conhecimento ser adquirido única e exclusivamente pelo indivíduo,
sem nenhuma interferência de um educador, não houve um processo educacional,
mas sim um processo de criação ou descobrimento. Criação e descobrimento não se
confundem com educação.
Resumindo
todos os elementos, conceitua-se educação como um instrumento procedimental sem
valor intrínseco, baseado em um acordo de vontades verbal ou escrito, gratuito
ou oneroso, segundo o qual um educador, direta ou indiretamente, transmite um
conhecimento a um aluno, buscado em virtude de valores e interesses subjetivos
deste último.
É
importante delimitar o conceito de educação para demonstrar cabalmente que a
educação é, por sua natureza instrumental, desprovida de valor material, um
mecanismo segundo o qual pessoas trocam informações relevantes para suas vidas.
É uma atividade absolutamente espontânea na vida em sociedade e independe de
qualquer regramento para ocorrer. No momento em que duas pessoas conversam e
trocam informações, elas são, simultaneamente, educadores e alunos uns dos
outros, sobre ilimitados temas. O ato educacional é eminentemente livre.
No
Brasil, entretanto, não é bem assim.
A
EDUCAÇÃO NO BRASIL
A
Constituição brasileira tem caráter pós-positivista, o que significa, em termos
práticos, o respeito ao normativismo da constituição (positivismo clássico) com
a agregação de alguns valores fundamentais que legitimariam esse normativismo
(elementos de jusnaturalismo), sendo o principal deles a "dignidade da pessoa
humana", conceito absolutamente fluido que suporta praticamente toda e qualquer
política governamental. Essa característica é, inclusive, glorificada pelos
seus defensores, mesmo com seu relativismo inviabilizando a segurança jurídica
na sociedade brasileira e ferindo de morte qualquer filosofia de justiça
coerente. As contradições insuperáveis desse modelo sem sentido são resolvidas
através de uma técnica aleatória chamada "ponderação de interesses", onde o
interesse governamental se sobrepõe ao interesse do cidadão em praticamente
todos os casos.
A
Constituição, que consagra esse modelo casuístico, declara que a educação é um
direito social de todos (art 6º), sendo dever do Estado e da família prestá-lo,
além de promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao
pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho (art. 205).
Como
visto anteriormente, o conceito tradicional de educação não possui valor
intrínseco, sendo apenas um meio de transmissão de conhecimento natural entre
dois indivíduos. Todas as pessoas que têm seus cinco sentidos em funcionamento,
ainda que parcialmente, têm capacidade de interagir educacionalmente, ou seja,
transmitir conhecimento um ao outro. Essa capacidade é natural, e a intervenção
do governo poderia apenas ampliar ou restringir os meios de educação, seja
aumentando ou restringindo os modos diretos de promoção de educação
(professores), seja aumentando ou restringindo os modos indiretos de promoção
(livros e internet, entre outros).
Os
constituintes trabalharam, na verdade, uma idéia substantiva de educação, ou
seja, educação não como um instrumento de conhecimento, mas como misto de
instrumento e conhecimento em
si. Para os criadores da constituição, a educação possuiria
valores intrínsecos.
Na
cadeira de filosofia de direito se aprende que valores são as razões que
justificam e motivam as nossas ações. Todo sistema jurídico se baseia em
valores que o justificam e motivam sua criação. Esses valores se refletem em
princípios que nortearam as regras do sistema. A existência de princípios
constitucionais da educação demonstra cabalmente que a educação no Brasil é
baseada em valores objetivados de cunho estatista.
Os
valores educacionais do poder constituinte brasileiro se refletiram nos
princípios insculpidos no artigo 206, quais sejam: (i) igualdade de condições
para o acesso e permanência na escola; (ii) liberdade de aprender, ensinar,
pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; (iii) pluralismo de idéias
e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas
de ensino; (iv) gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; (v)
valorização dos profissionais da educação escolar, garantidos, na forma da lei,
planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso público de provas
e títulos, aos das redes públicas (redação dada pela Emenda Constitucional nº 53,
de 2006); (vi) gestão democrática do ensino público, na forma da lei; (vii)
garantia de padrão de qualidade; (vii) piso salarial profissional nacional para
os profissionais da educação escolar pública, nos termos de lei federal.
(também Incluído pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).
A
esses princípios somamos as seguintes regras, relativos ao dever de prestação
da educação pelo estado (art. 208): (i) educação básica obrigatória e gratuita,
(ii) progressiva universalização do ensino médio; (iii) atendimento especial
aos deficientes; (iv) creche gratuita; (v) meritocracia no acesso ao nível
superior; (vi) oferta de ensino noturno; (vii) entrega de material didático,
transporte, alimentação e assistência à saúde.
Já
o ensino privado é "livre", desde que cumpra as ordens do MEC; e seja avaliado
e autorizado por este órgão (art. 209).
Por
fim, os artigos 210 e 214 explicitamente dispõem que o Ministério da Educação e
Cultura fixará os conteúdos da formação educacional através de um "plano
nacional de educação" e uma "lei de diretrizes e bases".
Em
resumo, os burocratas constituintes decidiram que a educação brasileira é um
conjunto de conhecimentos específicos escolhidos pelo MEC que deve ser imposto
à população em geral e custeado pela própria população, de maneira igualitária
(fator "valor"), seja através de instituições públicas ou de instituições
privadas também aprovadas pelo MEC (fator "instrumental").
A
primeira crítica a se fazer sobre essa conceituação é a inserção de elemento de
valor. Dizer que apenas certos conteúdos podem ser denominados de educação é
absolutamente imoral, pois pressupõe a imposição de valores objetivos a
indivíduos que possuem valores absolutamente distintos dos primeiros. Os
valores são sempre subjetivos, pois pressupõem uma mente racional valorativa,
ao contrário da ética, que é objetiva[1],
mas que não é o objeto do presente estudo.
Valores,
repisando, são as razões que justificam e motivam as nossas ações, e Mises,
brilhantemente, ensina que as ações humanas são produzidas para levar o homem
de um estado de menor satisfação para um estado de maior satisfação, logo, são
os valores subjetivos que jazem na razão que permitem às ações humanas levarem
seu realizador a um novo estado de satisfação. Valores são tão particulares que,
de fato, é impossível se impor um valor a outra pessoa sem que esta, no final,
permita. Se um indivíduo, por vontade própria, não interiorizar aqueles
valores, eles não estarão aptos a, em uma ação concreta, aumentar a satisfação
do seu realizador.
Ninguém
deveria ser obrigado a receber doutrinação de valores de outros homens.
Adiciona-se
a essa questão outra, ainda mais perversa: essa tentativa de imposição de
valores através do sistema educacional público é bancada por dinheiro
extorquido de muitos indivíduos da sociedade e entregue a indivíduos sob os
quais os financiadores não possuem nenhuma responsabilidade moral.
Seres
humanos são indivíduos livres, independentes e responsáveis. Os que não são
completamente independentes e responsáveis, notoriamente as crianças, possuem
pais responsáveis por elas[2], e
estes pais são os únicos moralmente responsáveis por essas crianças. Essa ideia é tão natural que, quando uma
pessoa observa outra em dificuldade, ela ajuda por voluntarismo, compaixão e —
por que não? — amor ao próximo, mas não por culpa, sentimento típico de alguém
que é responsável pela má condição de outrem.
No
entanto, a ideia vendida na mídia é diversa. Intelectuais em geral defendem o
investimento "público" em educação de maneira apaixonada, partindo do
pressuposto que os recursos em questão pertencem ao governo. Esses recursos não
pertencem legitimamente ao governo. Pertencem, sim, aos trabalhadores e
empresários que criaram legitimamente essa riqueza, violentamente expropriada
daqueles pelo governo, através da tributação. Somente os pais poderiam ser
responsabilizados pela educação de seus filhos, nunca a sociedade como um todo.
A
postura coletivista também enfraquece o núcleo básico da sociedade, que é a
família. Responsabilizar o governo e a sociedade pelo custeio e conteúdo da
educação de crianças retira dos pais a sua autoridade natural e enfraquece a
relação social mais básica que existe, justamente por ser uma relação, antes de
mais nada, voluntária. Fica enfraquecida a relação baseada no voluntarismo e no
amor, a família, e fortalecida uma relação baseada na coerção e violência, a
relação estado-cidadão (súdito).
Além
de imoral, a imposição de conhecimentos derivados de valores subjetivos dos
governantes é absolutamente inútil. Cria-se um modelo educacional padronizado
extremamente chato, desinteressante e sem nenhum sentido prático para a maioria
dos alunos, que não leva em consideração as diferenças regionais brasileiras e,
dentro das regiões, os interesses dos consumidores do conhecimento, resultando
em altíssimos índices de evasão escolar e grande desperdício de recursos. Chega
a ser uma piada obrigar um menino roceiro do interior do Brasil a aprender a fórmula de Bhaskara ao
invés de ensiná-lo, por exemplo, técnicas de plantio, manuseio de agrotóxicos e
cuidado de animais.
Sobre
os conhecimentos impostos em si, e os valores por trás deles, são os piores
possíveis. Já não se ensina português corretamente, como no famoso caso "nós
pega os peixe"[3]. Em
matemática, contas básicas de subtração, em livros oficiais, estão erradas[4]. E
o pior problema é, sem dúvida alguma, a tentativa de doutrinação ideológica das
crianças, que estão cada vez mais estupidificadas por filosofias coletivistas e
estatistas.
Hans-Hermann Hoppe, em
brilhante ensaio, explica que uma minoria não pode dominar eternamente uma maioria
apenas pelo uso da força bruta, precisando dominar a opinião da maioria, e
somente com a ajuda, forçada, se necessário, de "intelectuais" de todas as
áreas do conhecimento, e de maneira monopolista, é que se pode fazer prevalecer
idéias que são contrárias aos próprios interesses da população. Por isso o
interesse estatista no monopólio intelectual de todas as instituições
educacionais, do jardim-de-infância até a universidade, inclusive com a
compulsoriedade, ou seja, a obrigatoriedade do cidadão em freqüentar tais
estabelecimentos.
No
mesmo esteio, Joseph
Sobran ensina que
A educação controlada pelo estado se tornou um mero
instrumento de propaganda, agora chamado de "método de
conscientização", concebido para tornar as crianças meras unidades obedientes
à Nova Sociedade. A ideia da "evolução" foi adaptada para
ensinar às crianças que a Nova Sociedade era o inevitável destino da história
humana. O "intelectual" das massas (o oposto do erudito
tradicional e independente) se tornou um novo tipo social, dedicado a difundir
as fantasias da Nova Sociedade, as quais eram chamadas de "ideais".
A
questão instrumental, por sua, vez, que é o cerne do verdadeiro estudo da
pedagogia, é ignorada, em detrimento do conteúdo massificado e emburrecedor. A
busca por técnicas de ensino mais eficientes praticamente não existe, e o
modelo educacional que as novas gerações seguem é praticamente o mesmo que
nossos pais ou avós seguiam. O desinteresse na busca por novos métodos de
ensino deve ser visto sob duas perspectivas: a da rede pública e a da rede
privada.
Na
rede pública, em regra, não importa a qualidade do método de ensino, pois os
salários são padronizados, logo, o professor ganhará o mesmo ordenado no fim do
mês, sendo eficiente ou não no seu trabalho. A rede pública não busca
o lucro, ela busca verbas. E verbas adicionais só são adquiridas quando há
uma pressão social sobre o governante em virtude da má qualidade do
serviço. De fato, os incentivos na escola pública são reversos: quanto
mais ineficiente a escola, maior a probabilidade de se conseguir mais verba
para melhorá-la.
Já
na rede particular, a busca por melhores e mais eficientes métodos de ensino
até ocorre, pois a rede particular busca o lucro, e lucros só são adquiridos
quando o serviço é ofertado com mais qualidade, aumentando o número de
consumidores, e com menos custos, mas a atividade criativa do mercado de ensino
é gravemente tolhida pela grande regulamentação feita pelo MEC, que não só tem
poder de intervir no método (mesmo com a Constituição dispondo em contrário),
como também, e principalmente, no conteúdo. Essa regulamentação aumenta
artificialmente a demanda, pois existe uma obrigatoriedade do ensino
regulado, e diminui artificialmente a oferta, em virtude da burocracia para se
conseguir uma licença para ensinar, aumentando os preços e o lucro das
escolas privadas existentes sem uma contrapartida na qualidade. O governo
destrói os incentivos naturais do livre mercado educacional.
O
panorama geral da educação no Brasil é, dado o grande potencial local, o
pior possível.
A
SOLUÇÃO PARA A QUESTÃO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
Sempre
que alguém me pergunta qual é a solução para determinado problema, eu me
recordo da sabedoria do personagem "Gato de Cheshire", do romance "Alice no
País das Maravilhas"[5]:
O Gato apenas
sorriu quando viu Alice. Parecia de boa índole, ela pensou, mas não deixava de
ter garras muito longas e um número respeitável de dentes, por isso ela sentiu
que devia ser tratado com respeito.
"Gatinho de
Cheshire" começou um pouco tímida, pois não sabia se ele gostaria do nome,
mas ele abriu mais o sorriso. "Poderia me dizer, por favor, que caminho
devo tomar para sair daqui?"
"Isso depende
bastante de onde você quer chegar", disse o Gato.
"O lugar não
me importa muito...", disse Alice.
"Então não
importa que caminho você vai tomar", disse o Gato.
Como
visto, a educação não tem uma natureza substantiva, sendo um meio de troca de
conhecimento. A educação é, antes de tudo, um processo de autodescobrimento. É
através dessa linda interação com outros homens (educação propriamente dita) e
com a natureza (criação ou descoberta) que se descobre suas aptidões, vontades,
prazeres e mesmo as questões filosoficamente mais relevantes: quem você é, por
que está aqui e o que quer fazer com essas respostas.
O
processo educacional está em todo lugar, em todas as pessoas. Pessoas são
diferentes, com necessidades e realidades diferentes. As Alices perdidas no
meio da floresta da vida nem sempre têm noção sobre que lugar querem chegar, ou
seja, que tipo de educação precisam para atingir seus objetivos particulares,
ou, ainda, que tipo de conhecimento as levaria de um estado de menor satisfação
para um estado de maior satisfação, no dizer misesiano.
A
boa educação passa por se saber primeiro aonde a pessoa quer chegar, para então
se decidir que caminho se deve tomar. Não o contrário, como acontece hoje.
Infelizmente, os Gatos de hoje não têm a humildade e a moral do Gato de
Cheshire, para estimular as Alices a escolherem por elas mesmas em que lugar
elas querem chegar.
Burocratas
pedagogos de órgãos como o Ministério da Educação, de uma soberba inigualável e
pobreza de espírito ímpar, criam caminhos pré-determinados (educação), longos e
ineficientes, para que todos cheguem a um lugar específico de escolha deles, a
doutrinação estatista que justifica o sistema em que as Alices dependem dos
Gatos (ou seriam gatunos?).
Uma
verdadeira educação libertária é uma educação despida de preconceitos, sem
estamentos do tipo "1º ano", "ensino fundamental" e "ensino médio". Cada um
buscaria uma instituição de ensino de acordo com suas necessidades. Esse
sistema provavelmente levaria a um ensino fundamental parecido com o que temos
atualmente, mas os métodos de ensino (a verdadeira educação) seriam de
livre-escolha da instituição, de acordo com as demandas de mercado, ou seja, de
acordo com a vontade dos pais, dos alunos e das empresas que necessitam de
profissionais, ou seja, os recursos seriam alocados de maneira muito mais
eficiente, com pouco desperdício. E as pessoas se formariam em "matemática
básica", "português avançado" e "história do Brasil", assim como em "métodos de
agricultura", "fotografia" ou "mecânica".
Esses
diplomas teriam valor não porque o MEC disse que eles têm, mas porque as
pessoas, através do livre mercado, reconheceriam esses diplomas como sendo
bons, e se determinados diplomas não fossem bons, a escola provavelmente iria à
falência. As universidades não estariam presas a regras sobre quem elas podem
ou não aceitar no curso, podendo aceitar crianças superdotadas nas suas
fileiras, ou ainda pessoas com grande conhecimento de matemática e nenhum
conhecimento de biologia para seu curso de engenharia civil. Novamente aqui o
valor do profissional se daria pela sua técnica e talento, não pela vontade de
um burocrata. A avaliação se daria pelo livre mercado e por um sistema de
preços, que demonstram eticamente o valor de qualquer serviço, inclusive o
educacional. O autodidatismo, a criação e o descobrimento seriam tão
importantes quanto o processo educacional tradicional, pois o que importaria é
o conhecimento adquirido, e não a forma como ele foi obtido (desde que de
maneira não-violenta). As sociedades profissionais teriam um papel essencial
avaliando os profissionais, mas sem o poder de impedir o profissional de atuar,
sendo instituições de indicação de profissionais, e não de coerção, violência e
reserva de mercado.
Sem
amarras estatais, empresas e instituições estrangeiras investiriam pesadamente
no mercado educacional e profissional, aumentando a eficiência do ensino em
conjunto com a queda de preços. No mundo jurídico, por exemplo, um dos cursos
mais famosos do Brasil é um curso online. Um professor de altíssimo gabarito dá
uma aula online para milhares de alunos em todo o Brasil, em salas de aulas com
telões, barateando assustadoramente o custo e levando aulas de grande nível
para rincões onde, em outro momento, seria impossível tal profissional chegar.
Experiência análoga, em nível mundial, é a Khan
Academy, também com aulas online.
Em
um verdadeiro livre mercado e com os recursos tecnológicos atuais (também
atingidos graças ao livre mercado), a gama de possibilidades para a melhoria e
barateamento do processo educacional é infinita. Nenhum burocrata ou órgão
governamental teria como prever quais seriam os métodos mais eficientes e
baratos para a transmissão (educação) de cada conhecimento perseguido por cada
pessoa. No entanto, temos muitas mentes pensantes, espalhadas em cada cantinho
do país, prontos para dar sua contribuição local e nacional para suprir essas carências,
desde que elas sejam livres para prestar esses serviços.
E
o mais interessante disso tudo é que não há nenhuma novidade. É apenas o
resgate do conceito clássico, instintivo e natural da educação, antes da
subversão estatista. Se o grande Mises[6] uma
vez disse que a boa economia é a economia elementar, também a boa educação é a
educação elementar.
A
interação voluntária dos homens de bem, por meio do livre mercado educacional,
revolucionará o mundo.
Leia também: A obrigatoriedade
do diploma - ou, por que a liberdade assusta tanto?
Educação Pública - Um fetiche socialista
Educação e liberdade
[1] Sobre a
ética objetiva e aplicável a todos os homens, ROTHBARD, Murray. A Ética
da Liberdade. Disponível em http://www.mises.org.br/Ebook.aspx?id=12.
A ética, como fundamentação teórica para se encontrar o melhor modo de viver e
conviver, isto é, a busca do melhor estilo de vida, sempre através da razão
abstrata, é objetiva e única.
[2] Crianças
sem pais, em regra, poderiam até com certa facilidade conseguir pais adotivos,
mas são impedidos por uma legislação de adoção altamente restritiva, que
praticamente inviabiliza a adoção no Brasil.
[3] Sobre o
assunto, recomenda-se o artigo de GUEDES, Paulo. Pega os peixe, não os
emprego. Em http://www.imil.org.br/artigos/ptpega-os-peixe-os-emprego/.
[4] Reportagem
completa sobre o assunto encontra-se em http://www1.folha.uol.com.br/saber/925261-mec-distribui-livro-com-erro-de-matematica-a-37-mil-escolas.shtml.
[5] CARROLL,
Lewis. Alice no País das Maravilhas, 1886. Ed. L&PM Pocket,
1998, pg. 84.
[6] MISES,
Ludwig Von. Citado em ULRICH, Fernando. Good Economics is basic
economics. Em http://www.mises.org.br/Article.aspx?id=1058.