quinta-feira, 29 dez 2011
O
establishment econômico americano já chegou à conclusão de que não mais se
trata de uma questão de "se" os EUA devem intervir no socorro ao euro, mas sim
meramente uma questão de "quando" e "como".
Editoriais e artigos de jornal continuamente pontificam, sempre de
maneira pretensamente inquestionável, que o colapso do euro resultaria em uma
depressão mundial, e que uma assistência econômica à Europa é a única maneira
de impedir essa calamidade. Tais
asserções nada mais são do que a velha e sempre eficiente tática do
amedrontamento, exatamente a mesma utilizada com suprema eficácia durante a
crise financeira de 2008, e que garantiu aos banqueiros vultosas transferências
de dinheiro confiscado dos cidadãos americanos.
Aparentemente,
após apenas uma década de existência do euro, as pessoas se esqueceram de que a
Europa funcionou por séculos sem uma moeda comum de curso forçado.
A
real causa das depressões econômicas é uma política monetária frouxa: a criação
de dinheiro e crédito do nada pelo banco central e a subsequente monetização
das dívidas governamentais. Essa
política monetária inflacionista é causa de todos os ciclos econômicos, e no
entanto é exatamente o que as elites políticas e econômicas, tanto na Europa
quanto nos EUA, estão recomendando como solução para a atual crise. O próximo passo, já em discussão, envolve um
pacote de socorro de vários trilhões de dólares arquitetado pelo Banco Central
Europeu (BCE), o qual seria alimentado pelo FMI e pelo Federal Reserve.
O
euro foi construído sobre bases totalmente instáveis. Seus criadores tentaram estabelecer uma moeda
europeia semelhante ao dólar, mas se esqueceram de que foram necessários quase
dois séculos para que o dólar deixasse de ser apenas o nome de uma unidade
específica de prata e se transformasse em um papel-moeda fiduciário e
totalmente sem nenhum lastro metálico.
Como o euro foi artificialmente criado, ele simplesmente não possui
nenhum histórico, o que significa que a moeda já nasceu puramente
fiduciária. Logo, não é surpresa alguma
para os seguidores da Escola Austríaca de economia que ele tenha durado apenas
uma década e já esteja no limiar do colapso.
A depressão econômica europeia é resultado da própria estrutura do euro,
um sistema monetário fiduciário que permite que os governos dos países-membros
possam gastar despreocupadamente, pois a conta sempre pode ser jogada para os
governos dos outros países.
Um
pacote de socorro aos bancos europeus coordenado pelo BCE e pelo Fed irá apenas
exacerbar a crise, e não aliviá-la. O
que é realmente necessário é que todas as dívidas podres nos balancetes dos
bancos e das empresas sejam liquidadas.
Bancos que investiram em títulos da dívida soberana dos países do euro
têm de assumir seus prejuízos em vez de socializá-los com todo o resto da
população, o que apenas posterga o inevitável processo de ajuste de seus
balancetes. A contabilidade de bancos e
empresas deve refletir a realidade e não a ficção artificialmente criada pelos
governos.
Se
isso fosse feito, o processo de correção seria doloroso, porém rápido, assim
como a retirada de um grande esparadrapo.
Isso, porém, é necessário para que a economia volte a ter bases
sólidas.
Socorrer
governos perdulários irá apenas garantir que nenhum processo de correção —algo
inevitavelmente necessário — venha a ocorrer.
Um
pacote de socorro de vários trilhões de dólares para a Europa não pode ser
empreendido unicamente pela Europa, o que significa que exigirá o envolvimento
do FMI [com dinheiro inclusive dado pelo
governo brasileiro] e do Federal Reserve.
O Fed já injetou trilhões de dólares na economia americana e nada de
positivo ocorreu. Cogitar um
envolvimento do Fed na Europa já é algo por si só grotesco. A economia americana está em péssimo estado
exatamente porque houve muita criação de dinheiro e muito endividamento
estatal. A economia europeia está
destinada a soçobrar pelos mesmos motivos.
Os
americanos já estão tendo de lidar com uma quantia insustentável de dívidas
aqui nos EUA; é totalmente injusto fazer com que eles assumam também as dívidas
da Europa. Isso irá apenas acelerar a erosão
do dólar e reduzir o padrão de vida de todos os americanos.