quarta-feira, 16 0aio 2012
Os
keynesianos e os declaradamente anti-keynesianos se deram as mãos e, atuando em
conjunto, passaram a propagandear um erro intensamente keynesiano: falar sobre a "austeridade" fiscal na Europa como sendo um fato negativo. Um colunista da revista
Forbes se referiu à austeridade como sendo uma espiral mortífera.
A
palavra "austeridade", que surgiu com a crise da dívida do governo da Grécia
dois anos atrás, tem sido utilizada pela mídia como tendo exclusivamente um
único sentido: reduções nos gastos dos governos nacionais. A palavra não é utilizada em relação à
economia como um todo.
Mais
do que isto: a palavra tem sido utilizada para explicar as contrações nas economias
da Europa. Fala-se que as reduções nos
gastos dos governos estão causando a recessão das economias europeias. Esta explicação é baseada inteiramente nos
modelos keynesianos que dominam os livros-textos.
Mas
há um problema: não houve reduções nos gastos.
Ao que tudo indica, para a mídia, "austeridade" não significa o mesmo
que significa para uma pessoa normal: cortes severos nos gastos
governamentais. Ao que tudo indica, "austeridade"
significa não haver absolutamente nenhum corte de gastos.

Keynesianos
sempre defendem aumentos nos gastos do governo.
Este é o âmago do keynesianismo.
O keynesianismo depende inteiramente de um mantra: "Gastos do governo
curam recessões". Todo o resto é
periférico: inflação monetária, tributação crescente e livre comércio. Estas questões periféricas sempre serão
sacrificadas em prol da suprema premissa econômica: "Gastos do governo curam
recessões."
É
deste ponto que qualquer análise do keynesianismo deve partir. Qualquer doutrina econômica, qualquer
política econômica, qualquer solução proposta para a atual crise deve ser
avaliada em termos deste mantra.
Qualquer coisa que não comece e não termine com este mantra não é
keynesianismo. Qualquer coisa que o
faça, é keynesianismo.
Qualquer
ideologia pode se declarar triunfante quando até mesmo seus professos críticos
adotam tanto as suas conclusões quanto a sua retórica, e o fazem sem
perceber. Isto significa que os
promotores desta ideologia obtiveram êxito total em estipular os termos do
debate público. É muito difícil
substituir uma ideologia ou uma visão de mundo quando seus promotores já
conseguiram estabelecer os termos do debate.
É
algo que pode ser feito, é claro; mas, para fazer isso, os promotores de uma
ideologia rival têm de expor não apenas os erros do atual sistema, como também
a concordância implícita concedida pelos supostos críticos da ideologia
dominante. Tal postura, é bom deixar
claro, não irá lhe garantir novas amizades entre estes infelizes que creem
estar obtendo vitórias significativas ao argumentarem apenas contra aspectos
periféricos da ideologia inimiga ao mesmo tempo em que aceitam todos os seus
pressupostos centrais e todas as suas receitas políticas. Eles já foram fisgados.
Um
exemplo recente de um bem-intencionado, porém conceitualmente confuso
anti-keynesiano pode ser conferido em um recente artigo da Forbes. O título era poderoso: "O
keynesianismo é a nova Peste Negra".
Mas o artigo concluía que a grande tragédia da Europa atual é a
"austeridade".
Em
teoria, a mídia universalmente define austeridade como cortes nos gastos do
governo. Eu nunca vi o termo sendo
empregado em qualquer outro sentido.
Qualquer autor que utilizar esta palavra em algum outro sentido tem de
explicar aos seus leitores o motivo deste novo significado. Como o artigo da Forbes não ofereceu nenhuma outra distinção ou alternativa,
interpretei o termo ao pé da letra.
Se
a austeridade é a grande perversidade do momento, então a implicação é
inevitável: aumentar os gastos governamentais e abandonar qualquer austeridade
(que nunca houve) é algo positivo.
O mantra austríaco
Os
economistas seguidores da Escola Austríaca também têm um mantra: "Menos
impostos aumentam a liberdade."
Liberdade é necessária para o crescimento econômico.
Se
um governo não puder reduzir impostos sem que isso o leve à falência, então ele
tem de cortar gastos caso não queira quebrar.
Os
governos europeus estão todos no caminho da falência. O do Japão também. O mesmo vale para o dos EUA. A solução é cortar impostos e cortar gastos
ainda mais.
"Nada
de mais gastos governamentais. Menos
gastos governamentais!"
"Nada
de mais déficits orçamentários. Menos
déficits orçamentários!"
"Nada
de mais impostos. Menos impostos!"
"Nada
de mais inflação monetária. Menos
inflação monetária!"
Em
suma: "Deixem o povo livre!"
A
solução para a recessão europeia não é aumentar os gastos governamentais, e sim
o oposto: reduzir os gastos dos governos.
E os impostos. A solução,
portanto, é mais austeridade.
Com
isto em mente, examinemos um artigo que argumenta que a austeridade é a maior
ameaça para a prosperidade da Europa.
Uma espiral mortífera?
O
artigo começa com uma análise da política europeia. Ele afirma que os eleitores estão desalojando
todos os políticos que estão no poder, em todos os países. Sarkozy foi a oitava baixa ao longo dos
últimos doze meses. Por que isso está
acontecendo? Eis a resposta sugerida:
Os eleitores da Espanha, da Grécia, da França etc. entendem
que as elites governamentais empurraram suas economias para espirais
mortíferas, e estão expressando este seu descontentamento nas urnas.
A
questão mais fundamental, no entanto, é esta: por que estas elites empurraram
suas respectivas economias para esta suposta espiral mortífera? Por que fervorosas elites keynesianas fariam
tal coisa?
Não
sejamos ingênuos. O Ocidente tem sido
gerido por elites keynesianas, ou por políticos seguidores de ideias
keynesianas, desde 1930 — seis anos antes de Keynes oferecer sua ininteligível
justificativa para as políticas então adotadas pelos políticos, por meio de seu
livro "A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda".
O
Banco Central Europeu, seguindo ideias keynesianas, empurrou as economias europeias
para um crescimento econômico artificial entre os anos 2001 e 2007. As economias da periferia da Europa — o
chamado "Club Med" — entraram em uma acentuada expansão econômica. O mesmo ocorreu com o membro honorário do
Club Med: a Irlanda. Os valores dos
imóveis na Irlanda quadruplicaram.
Parecia que tudo iria durar para sempre.
As elites — principalmente os economistas — não emitiram nenhum
alerta, exceto os economistas seguidores da Escola Austríaca, que, como sempre,
foram sumariamente ignorados como se fossem dinossauros.
E
então veio a fase da contração econômica.
Tudo o que o Banco Central Europeu havia feito antes de 2007 —
inflacionar —, ele passou a fazer ainda mais agressivamente desde 2008. Os governos europeus incorreram em déficits
ainda maiores. Todos eles implementaram
estímulos keynesianos. Nada
funcionou. A Europa entrou novamente em
recessão.
No
primeiro semestre de 2010, investidores europeu finalmente se atentaram para o
fato de que a população do Club Med não era capaz de concorrer economicamente
com o resto da Europa. Tais países
apresentavam seguidos déficits comerciais com o resto da Europa. Este pessoal calmo e relaxado estava vivendo
de dinheiro tomado emprestado junto ao resto da Europa. Seus respectivos governos faziam o
mesmo. Eles não tinham a intenção de
quitar estes empréstimos.
E
por que não? Porque é isto que o
keynesianismo ensina. Empréstimos
governamentais não serão pagos. Nunca. A dívida governamental irá aumentar
continuamente. E com ela, a prosperidade.
Dois
anos atrás, o Partido Socialista da Grécia descobriu a real profundidade do
buraco da dívida em que o governo havia se metido. As taxas de juros então começaram a subir nos
países PIIGS. Estes governos estavam
encurralados. Eles não mais poderiam
continuar incorrendo em déficits crescentes, pois o custo dos empréstimos
estava aumentando.
E
foi aí que a realidade do keynesianismo se manifestou: déficits, ao contrário
do que imaginam keynesianos, realmente importam. Dinheiro não é de graça. Dívidas devem ser roladas de acordo com os
juros de mercado. O horror!
E
foi aí que os governos do sul da Europa começaram a "controlar" um pouco mais
os gastos. Não muito, como se vê no
gráfico acima. Os déficits continuam em
níveis inauditos: acima de 6% do PIB.
Os
keynesianos rotularam isso de "austeridade".
Mas
não é austeridade, é claro. São déficits
orçamentários em escala maciça.
Austeridade é quando os governos incorrem em superávits orçamentários e
utilizam as receitas em excesso para pagar a dívida nacional.
Não
há austeridade na Europa desde aproximadamente 1914.
O
padrão-ouro vigente de 1815 a 1914 impingia austeridade. Esta era sua principal função e seu maior
serviço à humanidade. Ele obrigava os
governos ocidentais a se manterem austeros.
E isto permitiu o setor privado crescer a taxas aceleradas.
Keynesianos
odeiam o padrão-ouro porque eles acreditam que gastos governamentais crescentes
são o que permitem o aumento dos gastos em consumo; e os gastos em consumo — e
não a poupança — são, para os keynesianos, a base da prosperidade.
O
público, que prefere o consumismo à austeridade de uma poupança, gosta das
políticas do keynesianismo. Déficits
intermináveis, endividamento sem dor, crescimento ininterrupto: os keynesianos
prometem, e os eleitores acreditam.
Porém,
o dia do acerto de contas chegou em 2010.
O dinheiro gratuito ficou caro. A
festa não acabou, mas alguns dos convidados foram mandados de volta pra casa,
onde se juntaram aos jovens adultos que estão sentados no sofá assistindo à
televisão, pois não há empregos.
O
público se sente traído. Os eleitores,
milhões deles, acreditaram no sonho keynesiano.
Políticos prometeram realizar a façanha de transformar pedras em pães. Os eleitores aplaudiram.
Mas
os tempos mudaram, nos diz o artigo.
Infelizmente para a Europa e para o mundo atual, não há, em
todo o continente, candidatos ou partidos em prol do crescimento econômico para
oferecer um alívio dos programas de austeridade que estão reduzindo suas
economias a pó. Sem ter ninguém em quem
votar, tudo o que o eleitorado europeu tem podido fazer é votar contra. Eles passaram a explicitar seus protestos
derrotando os políticos atualmente no poder.
Os
políticos que estavam no poder fizeram promessas excessivas. Eles há muito vinham dizendo para o
eleitorado que déficits não importavam.
Déficits não importavam enquanto os bancos do resto da Europa
continuassem emprestando para os PIIGS a taxas de juros de alemãs, cuja população
é bem mais frugal. E então veio a
realidade.
A Europa como um todo está em recessão; Grécia, Espanha e
Portugal estão em
depressão. O que as
pessoas devem fazer se os chefs
econômicos tanto à esquerda quanto à direita estão oferecendo o mesmo e venenoso
menu de "austeridade"?
Orçamentos
equilibrados continuam sendo apenas uma miragem. Cortes de gastos excessivamente tímidos, que
confessadamente têm o objetivo extremamente modesto de reduzir os déficits para
altos 3% do PIB em incríveis dez anos, são hoje tidos como "venenoso menu de
austeridade". Colocando em uma
terminologia mais familiar, há um excesso de pedras e pouquíssimos pães. Os eleitores não irão tolerar isso.
A
razão por que não há chefs econômicos promovendo o crescimento é simples: alguém
tem de financiar o crescimento dos gastos do governo. Quem fará isso? Quem confia nos PIIGS?
Quanto
mais alto os eleitores protestam contra a austeridade, menor será o número de
emprestadores — no caso, investidores dispostos a emprestas a taxas abaixo de
10%.
Peste!
O
artigo, no final, chega ao seu objetivo.
Então, o que aconteceu na Europa? A resposta curta é "peste". A Peste Negra do século XIV foi causada pela Yersinia pestis bacterium, que foi
disseminada por ratos. A peste atual é
resultado do keynesianismo, que está sendo difundido pelos economistas dos
departamentos das principais universidades do mundo e também do The New York
Times. Infelizmente, ao contrário da Yersinia pestis, o keynesianismo é imune a antibióticos.
Como
o artigo define keynesianismo?
Erroneamente. Ele diz que
keynesianos defendem aumento de impostos e cortes de gastos.
Austeridade, como está sendo atualmente praticada na
Europa, baseia-se na crença keynesiana de que aumentos de impostos e cortes de
gastos do governo possuem o mesmo efeito sobre os déficits do governo e sobre a
economia. Com efeito, as mais virulentas
cepas do keynesianismo fazem as pessoas acreditar que aumentar a alíquota
máxima do imposto de renda e aumentar os gastos governamentais pode realmente
estimular o PIB, pois "os ricos" possuem uma "propensão marginal para poupar"
mais alta do que os beneficiados por repasses governamentais.
François
Hollande, o vencedor das eleições presidenciais da França, é um
keynesiano. Ele acredita que elevar a alíquota
máxima do imposto de renda da França para 75% ao mesmo tempo em que contrata
mais 60.000 professores sindicalizados irá melhorar as coisas.
Como
assim? O que o um político
declaradamente socialista tem a ver com o keynesianismo? Keynesianismo é aquilo que Paul Krugman
defende: mais gastos e mais déficits, tudo em conjunto com uma grande expansão
monetária feita pelo Banco Central para poder financiar esta expansão.
Qual
político ou economista keynesiano já se pronunciou abertamente a favor de cortes
de gastos, ou seja, austeridade?
Economistas austríacos já. Ron
Paul já. É por isso que os austríacos e
Ron Paul são marginalizados pela mídia keynesiana, que os considera
excêntricos.
Para um político cuja mente está infectada de
keynesianismo, faz todo o sentido tentar reduzir um déficit orçamentário por
meio de uma combinação de aumento de impostos e cortes de gastos, com o
equilíbrio entre os dois sendo determinado por alguma combinação entre
considerações políticas e "equidade".
Há
muitos políticos na Europa que impuseram mais tributos sobre os ricos. Os eleitores sempre os encorajaram a fazer
isso, e adoravam quando isso era feito.
Os eleitores hoje estão injuriados com os "cortes" de gastos. Cortes de gastos reduzem o fluxo de fundos
para burocratas do governo e para os clientes do estado. É por isso que os sindicatos gregos fazem
baderna.
O
keynesianismo tradicional clama por mais gastos, mais endividamento e — caso
os investidores privados exijam juros mais altos — mais expansão monetária
feita pelo Banco Central para comprar mais títulos da dívida do governo. O artigo espertamente rejeita esta
monetização. Mas não clama por um
padrão-ouro. Em vez disso, defende o
euro. Por isso, o artigo sofre de uma
ilusão: imaginar que o euro não é somente mais um veículo inflacionário;
imaginar que ele seja superior a dracmas geridos por keynesianos.
A
hierarquia política keynesiana impôs o euro sobre os eleitores em 1999. Os porta-vozes das elites vêm condenando a
saída da Grécia da zona do euro. Os
tecnocratas gregos, que não foram eleitos pelo povo, assim como os tecnocratas
de todo o resto da Europa, ou são ex-empregados do Goldman Sachs ou serão futuros
empregados dele. Eles estão agora sendo
desalojados pelo eleitorado. Os
eleitores são populistas e socialistas.
Eles são simpatizantes da elite keynesiana apenas durante a fase
expansionista do estado assistencialista.
Quando a conta chega, eles passam a defender emissão monetária feita
individualmente pelos governos nacionais, tributação dos ricos, sindicalismo e
aumentos nos gastos governamentais.
Conclusão
O
keynesianismo está em uma espiral de morte.
Na mesma situação está o socialismo populista. E o mesmo ocorre com o sistema monetário
fiduciário, de características fascistas (corporativistas). Todos estão em espirais mortíferas porque
todos rejeitam esta premissa: "Impostos menores aumentam a liberdade".
A
liberdade irá vencer. Esta é uma
afirmação escatológica, eu sei. Uma das
maneiras como ela irá prevalecer é por meio da falência da ordem social
keynesiana, que defende mais impostos, mais regulamentações, mais déficits,
mais inflação.
Para
haver austeridade genuína, o governo tem de entrar em dieta: seus gastos devem
ser genuinamente cortados.
É
isso o que o eleitorado europeu não quer.
Mas é isso o que ele vai receber.
"Nada
de menos austeridade. Mais austeridade!"