quinta-feira, 28 fev 2013
Há
certas ideias econômicas que não apenas são logicamente erradas como também
nunca foram confirmadas por nenhum fato histórico. Já se demonstrou por que elas estão erradas
há pelo menos 250 anos. No entanto, elas
ainda possuem ferrenhos defensores até hoje.
E o que é pior: quanto mais se prova que elas não têm nenhuma lógica,
mais seu número de defensores aumenta.
Há
algo estranho que parece ser inerente à maneira como o homem pensa sobre sua
própria riqueza. Há algo que parece
persuadi-lo de que tudo aquilo que ele já viu acontecer repetidas vezes
em vários países simplesmente não aconteceu.
Ou, se claramente aconteceu, não mais continuará acontecendo.
Uma
destas ideias é a de que impostos sobre o consumo de bens importados aumentam a
riqueza de quase todas as pessoas da sociedade.
Esta é a doutrina de que tarifas e cotas de importação
impostas pelo governo irão de alguma forma deixar as pessoas mais ricas. Este erro foi refutado definitivamente por um
dos maiores filósofos de todos os tempos, David Hume, em 1752. Aproximadamente 25 anos depois, foi refutado
em detalhes por Adam Smith, amigo de David Hume, em seu livro clássico A Riqueza das Nações. Não obstante, apesar de haver uma
concordância quase universal entre economistas sérios, e apesar dos repetidos
sucessos econômicos de países que reduziram suas tarifas e cotas de importação,
medida essa que levou a uma crescente prosperidade, ainda existe uma linha dura
de pensamento anti-econômico que diz que o governo federal — mas nunca
governos estaduais e municipais — deve aumentar os impostos sobre bens
importados. Caso contrário, a população
do país ficará pobre.
Por
mais que se escreva sobre isso, e eu o continuarei fazendo, não tenho a menor
ilusão de que os ferrenhos obscurantistas irão algum dia entender que impostos
sobre o consumo de mercadorias importadas não tornam uma população mais rica. Algumas pessoas simplesmente não possuem a
capacidade intelectual de seguir uma linha de raciocínio econômico. Isso inclui pessoas que acreditam que tarifas
e cotas de importação tornam a maioria das pessoas de um país mais ricas.
A mentalidade ludita
Existe
outra falácia igualmente sem nenhuma lógica e que é idêntica à falácia dos
indivíduos pró-tarifas de importação.
Tal falácia também possui vários seguidores. Trata-se da crença de que as máquinas e a
automação deixam os trabalhadores mais pobres.
Esta crença é frequentemente rotulada de 'filosofia ludita'. Um sujeito chamado Ned Ludd supostamente saiu
quebrando máquinas de tear durante um acesso de fúria em 1779. Em 1811, um artigo sobre Ludd foi publicado
em um jornal. Isso inspirou várias pessoas
a repetirem o feito. Quando então elas
saíram quebrando máquinas, elas foram chamadas de luditas.
Quem
eram esses agressores? Eram pessoas que
até então possuíam empregos altamente bem pagos como fabricantes de
determinados bens que atendiam às demandas de pessoas ricas. Era um mercado bem restrito. Com o tempo, essas pessoas foram descobrindo
que sua clientela cativa estava diminuindo em decorrência do fato de outros
produtores terem passado a utilizar máquinas para produzir em massa esses mesmos
bens. Essa produção em massa aumentou a
oferta desses bens. Tal aumento da
oferta levou a uma redução de preços. Essas
pessoas repentinamente descobriram que seu trabalho era caro e pouco produtivo.
Tais
pessoas eram membros de uma guilda que por séculos havia utilizado seu poder
político em áreas urbanas para adquirir o monopólio de mercados específicos. Elas descobriram que a concorrência de preços
trazida pelas máquinas estava reduzindo suas rendas. Em resposta, eles destruíam as máquinas. Em outras palavras, elas utilizavam de
violência contra produtores e proprietários de máquinas com o objetivo de
manter seu monopólio. Antes, elas
utilizavam seu poder político para alcançar este mesmo objetivo.
O
termo "sabotador" vem de "sabot", que é sapato em francês. Operários atiravam sapatos
nas máquinas com o intuito de destruí-las e, com isso, reduzir a produção de
bens altamente específicos. Tal ato era
visto pela maioria das pessoas como destrutivo, mas ele claramente trazia
benefícios de curto prazo para aqueles que estavam enfrentando a concorrência
das máquinas. No final, tudo era apenas
mais um dos vários casos de violência contra proprietários e empreendedores.
Atualmente,
a maioria das pessoas crê que tais atos de violência são moralmente errados. Elas também acreditam que são economicamente
errados. Essa é uma vantagem que temos
hoje. Há um número maior de pessoas que
começou a entender princípios básicos de economia — no caso, que tudo aquilo
que aumenta a oferta de bens, e que também é lucrativo para a pessoa que está
aumentando a oferta de bens, é bom para a maioria dos cidadãos desta sociedade.
O
problema é que a filosofia dos luditas ainda continua presente entre nós. Hoje, tal filosofia é encontrada mais
especificamente naquele que criticam a automação e o uso da robótica. Ainda hoje, há várias pessoas cujo
conhecimento econômico sobre a natureza do livre mercado e sua relação com a
prosperidade econômica é precário. Tais
pessoas são hostis a uso de robôs em todas as áreas de produção. Quero dizer, em quase todas. Curiosamente, elas aceitam a automação e o
uso intensivo de máquinas naquelas tradicionais linhas de montagem, as que vêm
utilizando robôs há 30 ou 40 anos (como o setor automotivo). Em outras palavras, para casos específicos,
estes progressistas se tornam tradicionalistas.
Para eles, o mundo de 30 ou 40 anos atrás era bom. Aqueles dias eram muito melhores do que os
dias de 100 ou 200 anos atrás.
No
entanto, o aumento da produtividade que levou o mundo aos bons tempos de 40
anos atrás foi baseado na adoção de técnicas de produção em massa as quais hoje
chamaríamos de automação e robótica. Foi
a adoção de máquinas no lugar da mão-de-obra humana, algo que por sua vez se
baseou em novos suprimentos de energia, o que permitiu que todo o mundo se
tornasse mais rico. Pense nas invenções
do século XIX. Pense na ferrovia. Pense na colheitadeira. Pense na máquina de costura. Todas essas invenções substituíram o trabalho
manual por equipamentos. Os condutores
de charrete perderam a competição contra o motor a vapor, e o mundo ficou em
melhor situação por causa disso.
Não
importa quantas histórias sejam contadas e quantos exemplos práticos sejam
relatados sobre o incremento no padrão de vida do mundo atual em decorrência do
aumento do uso de energia e do aumento do uso de máquinas — a mentalidade
ludita continua firme e forte entre nós.
Há pessoas que continuam afirmando que a automação nós deixará mais
pobres. Elas estão dizendo isso há 200
anos.
Aumentos
no padrão de vida estão diretamente relacionados a um aumento na quantidade de
bens e serviços disponíveis. E isso foi
possibilitado pela automação.
Há
uma regra fundamental na economia que nunca deve ser ignorada: qualquer coisa que possa ser feita lucrativamente por uma máquina deve ser feita por uma máquina.
Por que isso é verdade? Porque a
mão-de-obra humana é, de longe, a mais versátil e a mais móvel dentre todos os
capitais. As pessoas são capazes de
estar sempre aprendendo novas formas de servir seus clientes. Macaco velho realmente aprende novos
truques. No entanto, para fazê-lo
aprender novos truques, ele tem de enfrentar a realidade: o que quer que ele
fazia antes para ganhar a vida pode agora ser feito de maneira mais eficiente e
mais barata por uma máquina. Macaco
velho pode aprender novos truques, mas a necessidade é a mãe da invenção. Macaco velho prefere fazer truques velhos. E ele prefere ganhar uma renda alta para
fazer truques velhos. Mas o progresso
econômico não os permitirá continuar auferindo uma renda alta fazendo truques
velhos se surgirem novas ferramentas que irão possibilitar que novatos façam
esses mesmos truques — e os façam de maneira até melhor — a um preço menor.
A
maneira como o Ocidente enriqueceu após 1800 foi por meio do empreendedorismo,
da criatividade, da redução do custo da energia (possibilitada por maiores
investimentos e maior acumulação de capital) e da invenção de máquinas melhores
e mais eficientes. Nós enriquecemos
porque fomos capazes de aproveitar a produtividade da natureza, na forma de
energia e por meio de equipamentos especializados, e utilizá-la para substituir
a valiosa mão-de-obra dos seres humanos, mão-de-obra essa que consequentemente
foi liberada para ser utilizada em outros setores, o que permitiu um aumento
generalizado da oferta de bens e serviços.
Trabalhadores demitidos
Os
luditas sempre afirmam estar falando em nome dos trabalhadores que foram
substituídos pelas máquinas e cujos serviços não mais conseguem concorrer em um
livre mercado. Os luditas se posicionam
a favor do trabalhador demitido como se as necessidades de um trabalhador
demitido gozassem de uma maior autoridade moral do que os desejos de
consumidores que estão sempre à procura de bens melhores e mais baratos. O ludita parte do princípio de que o livre
mercado deve funcionar em benefício do produtor e não em beneficio do
consumidor.
Essa
é a lógica da guilda. É a lógica de uma
pessoa que não mais é capaz de competir com a produtividade de máquinas que
podem operar dia e noite lucrativamente, com interrupções apenas ocasionais
para manutenção. Sempre que for lucrativo
para o empreendedor substituir um ser humano por uma máquina, a conclusão é uma
só: os consumidores estão sendo mais bem servidos pela máquina. Quem diz isso? Os próprios consumidores. São eles que compram os produtos das
máquinas. São eles que, ao propiciarem
lucros para o empreendedor, mostram para ele que sua decisão foi acertada.
Por
que deveríamos criticar consumidores em nome do operário dispensado, uma vez
que o operário dispensado pode agora servir diferentes consumidores e produzir
diferentes serviços, sendo que estes serviços são exatamente aqueles que estão
sendo demandados pelos consumidores? Por
que temos de defender o estilo de vida do operário que não mais é capaz de
concorrer com uma máquina inanimada, em detrimento do consumidor?
Seguidas
vezes, os suspeitos de sempre dizem que a automação deixará a sociedade mais
pobre como um todo. Eles dizem que
ficaremos mais pobres como nação ou como civilização porque haverá um constante
fluxo de novos equipamentos que irão aumentar a produtividade dos
produtores.
Sempre
que alguém se aproximar de você dizendo que o livre mercado nos deixará mais
pobres, comece a procurar os reais objetivos desta pessoa. Pesquise quem são as pessoas que ele
representa. Pesquise em nome de quem ele
está falando. Siga o dinheiro. Se sua investigação não gerar nenhum resultado
interessante, rastreie a ideia até suas origens. Pode estar certo de que não se trata de uma
ideia nova. Pode estar certo de que
outra pessoa, uma década ou um século atrás, surgiu com esse mesmo argumento. E defendendo os interesses de alguém mais
poderoso.
Então
o livre mercado nos deixará mais pobres.
Por quê? Porque ele permitirá que pessoas
criativas sirvam seus consumidores de maneira mais completa e mais eficaz. Isso é um perigo para produtores relaxados ou
defasados que não são capazes de concorrer com novos métodos de produção. O ludita sempre falará em nome do produtor, e
especificamente do produtor desalojado, que não é capaz de concorrer de maneira
eficaz. Ele nunca falará em nome do
consumidor, que é em sua maioria formada por pessoas mais pobres que o
produtor.
Avaliamos
a riqueza per capita por meio daquilo que somos capazes de comprar; e quando
podemos comprar mais coisas com nossa renda, estamos mais ricos. No entanto, os luditas entre nós alegam que,
na condição de consumidores, estamos iludidos.
Estamos tomando decisões de curto prazo quando compramos coisas mais
baratas. Estamos julgando nossa situação
econômica exclusivamente por meio do que podemos comprar. Eles nos dizem que deveríamos tomar nossas
decisões que impeçam novos métodos de produção de serem implantados, pois estes
novos métodos irão aumentar nossa renda real (poder de compra). Eles nos dizem que o aumento da renda real é
um passivo terrível. O aumento da renda
real nos deixará mais pobres. Com este
raciocínio, os luditas agitam contra a adoção de catracas eletrônicas em ônibus
e contra a substituição de condutores de metrôs por máquinas que fazem o mesmo
serviço.
A
mentalidade ludita é impermeável à lógica econômica. É impermeável ao entendimento da
história. Para um ludita, o livre
mercado age contra os verdadeiros interesses dos consumidores. Ao redor de todo o mundo, os consumidores,
desde 1980, aumentaram suas aquisições de bens e serviços. Por quê? Porque, dado que consumidores
também são produtores, eles aumentaram a oferta de bens e serviços. A oferta criou demanda. A única maneira de alguém poder ir ao mercado
e comprar bens e serviços é tendo anteriormente produzido bens e serviços. E a única maneira de se adquirir algo sem
antes ter ofertado algo é fazendo com que políticos tributem pessoas produtivas
e transfiram o dinheiro para grupos de interesse. Em todo caso, sem uma produção anterior, não
pode haver nova demanda. Falando de
outra forma, "Você não pode conseguir algo em troca de nada".
O
raciocínio ludita se baseia nesta suposição: indivíduos que agem segundo seus
próprios interesses, comprando bens e serviços de baixo custo, estão atuando
contra os interesses do país. Este era o
argumento dos mercantilistas do final do século XVII. Este foi o argumento que Adam Smith criticou em A Riqueza das Nações. Esta é a essência de todos os sistemas que
recorrem à interferência estatal na economia.
O argumento afirma que políticos sabem melhor do que todos os cidadãos o
que é bom para o país. O argumento diz
que consumidores, que agem individualmente em busca de seus próprios desejos da
maneira menos cara possível, estão totalmente desorientados e equivocados. Enquanto indivíduos, eles estão tomando
decisões que solapam sua própria riqueza.
Essa é a essência do
argumento coletivista. Essa é a
essência do keynesianismo. Essa é a
essência de todas as formas de intervencionismo estatal.
O
argumento diz que indivíduos, na condição de tomadores de decisões responsáveis
pela administração de sua própria riqueza, estão cegos em relação ao que é realmente
bom para a sociedade. Em outras
palavras, o livre mercado, ao permitir que indivíduos possuam esse tipo de
autoridade independente, leva a uma situação em que a vasta maioria das pessoas
fica em uma situação pior. Em suma, a
liberdade econômica é autodestrutiva.
Conclusão
Sempre
haverá políticos que recebem doações de alguma guilda de produtores e
trabalhadores prestes a serem desalojados pela concorrência das máquinas. Tais pessoas querem fechar o mercado para si
próprias, e estão dispostas a pedir que o governo envie homens com armas e
distintivos para impedir que empreendedores eficientes satisfaçam os desejos de
consumidores.
A
mais séria ameaça, no entanto, é intelectual.
É o raciocínio ludita, presente na academia e na mídia, que solapa a
esperança das pessoas no futuro. Se o
livre mercado é autodestrutivo, pois a busca individual pelo interesse próprio
é destrutiva para a nossa renda real, então não podemos confiar na
liberdade. Não podemos também nutrir
nenhuma esperança legítima em relação ao futuro. Dois séculos de liberdade econômica
enriqueceram o mundo de uma maneira que era totalmente inimaginável em 1800; mas
isso não pode continuar, dizem os luditas.
A liberdade econômica não mais irá produzir uma cornucópia. Por que não?
Porque a busca individual pelo interesse próprio, feita de maneira
voluntária e sem nenhuma coerção, é, segundo os coletivistas, uma cilada e uma
ilusão.
Conclusão:
precisamos de mais funcionários públicos com armas e distintivos para
restringir o empreendedorismo e a busca pelo interesse próprio. Em suma, precisamos de mais governo para
suprimir nossos desejos de melhorarmos de vida.
Isso nos deixará em melhor situação.
Quem são os iludidos?