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Um pequeno histórico das políticas monetárias do real - e por que estamos em uma sinuca de bico

O real entrou em circulação em julho de 1994.  Embora seja louvado como a moeda que trouxe estabilidade econômica para o Brasil, a realidade é menos auspiciosa.  De julho de 1994 a março de 2013, a inflação de preços acumulada pelo IPCA está em 330%.  Pelo IGP-M, a situação fica ainda mais tenebrosa: 458%.

Neste mesmo período, a inflação de preços da Austrália — país de dimensões e economia semelhantes ao Brasil — foi de 65%.  Na Nova Zelândia, 53%.  No Chile, 126%.  No final, nosso histórico é semelhante ao da Colômbia (459%), país que até 2003 vivenciou algo muito semelhante a uma guerra civil.

Por que esse histórico tão desanimador?  O que pretendo mostrar neste artigo é que, dentre todas as opções de política monetária que se mostraram possíveis a cada momento, sempre escolhemos a pior. E, no atual arranjo, isso tem gerado distorções com um potencial trágico.

Sim, é fácil e confortável fazer acusações olhando em retrospecto, mas tal comodidade não deve ser um impeditivo para absolver as autoridades monetárias de suas culpas.

Mesmo em nosso melhor momento, que foi durante a primeira etapa do Plano Real (1994-1998), as coisas não foram feitas como deveriam ser.

Para acabar com uma hiperinflação

Um país que está vivenciando uma hiperinflação e que quer estabilizar sua economia — como o Brasil no início da década de 1990 — não tem muita opção: ele não apenas tem de trocar sua moeda, como tem também de mostrar para todo o mundo que está genuinamente disposto a, dali em diante, "levar as coisas mais a sério".  Caso não transmita essa confiança aos investidores internacionais, sua nova moeda simplesmente não terá nenhuma aceitação no mercado internacional — e, consequentemente, sua população não terá nenhum poder de compra fora do país.

Adicionalmente, dado que a causa de todas as hiperinflações da história sempre estiveram no hiperativismo de seus Bancos Centrais — que, até a década de 1990, podiam imprimir dinheiro para financiar diretamente o governo federal —, a primeira medida a ser tomada pelo país é mostrar que esta instituição operará de agora em diante de maneira bastante contida.

Sendo assim, não basta apenas trocar a moeda — afinal, nada garante que o Banco Central não continuará desvairado.  É preciso deixar claro que a nova moeda terá "qualidade", isto é, que ela será lastreada por uma moeda mundialmente reconhecida como forte.  Apenas isso pode gerar confiança no novo regime que está sendo adotado.  E uma maneira bastante eficaz de se fazer isso é adotando um regime de câmbio fixo.

Existem três tipos de política cambial: há o câmbio fixo, há o câmbio atrelado e há o câmbio flutuante.

Câmbio fixo e câmbio atrelado

O câmbio fixo — e aqui me refiro ao câmbio estritamente fixo, cujo valor nunca se modifica — só ocorre quando uma economia opera sob um Currency Board.  O Currency Board nada mais é do que uma agência de conversão de moeda que, por definição, tem de manter reservas internacionais em um volume que seja igual ou maior que a base monetária da moeda nacional.  A função do Currency Board é trocar moeda nacional pela moeda estrangeira escolhida para servir de "âncora cambial" a uma taxa de câmbio fixa.  Normalmente, essa moeda é o dólar.  Mas, ao longo da história, a libra, o marco alemão e, atualmente, o euro já desempenharam e seguem desempenhando essa função.

Sob este arranjo, quando um empreendedor exporta produtos, ele recebe como pagamento uma moeda estrangeira — no caso, o dólar.  Ato contínuo, o Currency Board emite moeda nacional a uma taxa de câmbio fixa em relação ao dólar e deposita o valor na conta deste exportador.  Os dólares ficam com o Currency Board.  Inversamente, quando um empreendedor importa produtos, a moeda nacional é trocada por dólares a uma taxa fixa no Currency Board, que então fica com a moeda nacional e envia os dólares para fora. 

Note que, sob um Currency Board, a variação da base monetária é completamente passiva.  Ela aumenta e diminui estritamente de acordo com a entrada e saída de moeda estrangeira.  O Currency Board não faz política monetária.  Ele não pode criar moeda nacional e injetá-la na economia em troca de um ativo qualquer.  Ele só pode emitir moeda nacional se receber um valor equivalente em moeda estrangeira. 

Sob este regime de câmbio estritamente fixo e de política monetária totalmente passiva, quando há um superávit no balanço de pagamentos, a base monetária se expande.  Isso gera uma redução nos juros e, consequentemente, uma expansão no crédito e uma elevação nos preços.  Ato contínuo, as importações aumentam, o que gera uma saída de reservas do país.  Tal saída de reservas reduz a base monetária.  Os juros sobem, a economia se desacelera e o balanço de pagamentos volta ao equilíbrio.  Tal arranjo funciona exatamente como funcionaria um padrão-ouro, com uma moeda estrangeira fazendo o papel do ouro.  (Com o tempo, o balanço de pagamentos tende ao equilíbrio, de forma que tais flutuações econômicas sejam mínimas.)

O Currency Board gera confiança na moeda doméstica justamente porque ele mantém reservas internacionais em um volume igual ou maior que a base monetária da moeda nacional.  Em teoria, quando a operação do Currency Board é obedecida ortodoxamente, ataques especulativos não geram resultados — afinal, seria impossível exaurir as reservas internacionais (a base monetária teria de ser toda mandada pra fora, algo por definição impossível).  Essa é a principal atratividade do sistema: ele dá segurança aos investidores estrangeiros, que deixam de temer uma súbita desvalorização da moeda nacional, o que causaria enorme prejuízo para eles quando fossem repatriar seus lucros.

Uma explicação mais detalhada sobre o funcionamento de um Currency Board já foi feita neste artigo.  A intenção aqui é apenas ressaltar que tal arranjo não apenas é o mais eficiente para se aniquilar rapidamente uma hiperinflação, como também é o arranjo que realiza tal feito com o mínimo de efeitos colaterais: ele aniquila uma hiperinflação sem deixar de herança juros estratosféricos, como ocorreu no Brasil.  Um país que adota um Currency Board passa a operar com juros semelhantes aos juros vigentes no país emissor da moeda utilizada como âncora.

O melhor exemplo histórico deste fenômeno é fornecido pela Bulgária.  Em 1996, sucessivas trapalhadas econômicas fizeram com que o país decretasse moratória em sua dívida externa.  Em 1997, o país entrou em hiperinflação e vários protestos nas ruas quase levaram o país a uma revolução social.

Em março de 1997, o país apresentava uma inflação anual de 2.019%.  A legislação para a implantação de um Currency Board foi então apresentada e o Currency Board, que teria marcos alemães como reserva, foi criado no dia 1º de julho.  Em um ano e meio, a inflação de preços caiu de 1.500% para 1,4%. 

bulgaria-inflation-cpi.pngGráfico 1: taxa de inflação de preços na Bulgária, janeiro de 1997 a dezembro de 1998

Ainda mais espantosa foi a queda dos juros do mercado interbancário (equivalente à nossa SELIC): de 555% no auge da hiperinflação para apenas 3,56% no mesmo mês em que o Currency Board passou a operar.

bulgaria-interbank-rate.pngGráfico 2: taxa de juros do mercado interbancário na Bulgária, janeiro de 1997 a janeiro de 1998.

A Bulgária foi apenas o mais extremo dos exemplos.  Mas todos os outros países que também adotaram um Currency Board — Hong Kong, Estônia, Lituânia e Argentina — vivenciaram este mesmo fenômeno: queda abrupta na inflação de preços e, principalmente, drástica redução nas taxas de juros, que caíram para apenas um dígito.

E isso vale ser ressaltado: com a exceção de Hong Kong, todos os países acima citados estavam na mais completa baderna.  Não obstante, a criação de um Currency Board logrou fazer com que suas economias — até então completamente avacalhadas — se tornassem repentinamente civilizadas, com inflação de preços e taxas de juros iguais às de países desenvolvidos. 

Agora comparemos esse histórico ao que fez o Brasil. 

Ao contrário do que é dito até hoje com muita frequência, o Plano Real nunca se baseou um uma "âncora cambial" ou em um "câmbio fixo".  Desde que o real foi introduzido em primeiro de julho de 1994, o câmbio nunca foi fixo, sequer por um dia.  O Brasil adotou o regime de "câmbio atrelado ao dólar".  Neste sistema, o Banco Central faz intervenções diárias no mercado de câmbio (comprando ou vendendo dólares) com o intuito de manter a cotação do dólar próxima a um valor por ele estipulado.

Veja a evolução da taxa de câmbio de julho de 1994 até dezembro de 1998, último mês antes da alteração do regime cambial.

brazil-currency.pngGráfico 3: evolução da taxa de câmbio durante a primeira fase do real, julho de 1994 a dezembro de 1998

O principal problema em se utilizar um câmbio atrelado é que há uma contradição entre a política monetária e a política cambial.  Com uma taxa de câmbio fixa — no caso, um Currency Board —, não há política monetária; as variações no balanço de pagamento determinam as variações da base monetária da economia.  Com uma taxa de câmbio flutuante — a ser analisada mais abaixo —, não há política cambial; o Banco Central se preocupa apenas em fazer política monetária.  Já com um câmbio atrelado, o Banco Central tenta fazer as duas coisas ao mesmo tempo: determinar uma política monetária e uma política cambial, sendo que ambas são mutuamente excludentes, impossíveis de serem efetuadas simultaneamente.  Inevitavelmente, a política cambial acaba entrando em choque com a política monetária, e os ataques especulativos são a consequência inevitável. 

Quando se trabalha com um câmbio atrelado, o Banco Central tem de, diariamente, fazer intervenções no mercado de câmbio de para fazer com que o dólar fique próximo à cotação determinada pelo Banco Central.  Sendo assim, quando ocorre uma entrada "excessiva" de dólares no país, há uma tendência de apreciação do câmbio.  Para evitar isso, o Banco Central compra estes dólares criando reais, o que gera um aumento da base monetária.  Ato contínuo, para evitar este súbito aumento da base monetária, o Banco Central vende títulos públicos para retirar da economia os reais que ele próprio acabou de criar quando fez a conversão de dólares para real (esse processo é tecnicamente chamado de "esterilização").

Já quando ocorre uma saída de dólares, o fenômeno inverso é observado: há uma tendência de depreciação do câmbio devido à maior procura por dólares.  Para evitar isso, o Banco Central vende dólares para satisfazer esse aumento da demanda por dólares.  Essa venda de dólares pelo Banco Central gera uma redução da base monetária.  Para evitar essa redução, algo que tende a gerar uma recessão, o Banco Central cria reais e compra títulos públicos em posse dos bancos.

Adicionalmente, vale enfatizar que, durante toda essa primeira fase do Plano Real, houve déficits na balança comercial (mais importações do que exportações).  Para compensar esses déficits, o Banco Central tinha de manter juros bastante altos para atrair dólares e fazer com que o balanço de pagamentos pudesse se equilibrar. 

Observe que este comportamento ativo do Banco Central é totalmente distinto do comportamento de um Currency Board, que permite que a base monetária varie automaticamente de acordo com o saldo do balanço de pagamentos.

E é exatamente por isso que a opção por um regime de câmbio atrelado custa caro: como o regime não inspira confiança nos investidores internacionais — pois uma desvalorização pode ocorrer a qualquer momento — e dada a contínua necessidade de estar sempre atraindo dólares para se fechar o balanço de pagamentos e para manter o câmbio dentro do intervalo especificado pelo Banco Central, as taxas de juros têm de ser bastante elevadas.  O gráfico abaixo mostra a evolução da SELIC de agosto de 1994 até o final de dezembro de 1998.  Compare com os juros da Bulgária, no gráfico 2.

cewolf.pngGráfico 4: evolução dos juros do mercado interbancário brasileiro (taxa SELIC), de agosto de 1994 a dezembro de 1998.

E esta foi justamente a "mácula" da primeira fase do Plano Real: a necessidade de manter juros altos para atrair dólares e, com isso, manter a confiança da comunidade internacional no Plano.  Não bastasse isso, o governo ainda apresentava um déficit orçamentário de aproximadamente 7% do PIB (não havia sequer superávit primário).  Tamanha necessidade de financiamento contribuía ainda mais para a elevação dos juros.

No final, o que vale ser ressaltado é que esta postura do Banco Central — de ficar vendendo e comprando dólares para manter o câmbio dentro de um intervalo especificado e de ficar arbitrando juros para atrair dólares para fechar o balanço de pagamentos — gera um descasamento entre a quantidade de dólares nas reservas internacionais e a base monetária do país: haverá um momento em que a quantidade de dólares nas reservas internacionais será bem menor do que a base monetária.  Quando isto ocorre, é apenas uma questão de tempo para que os especuladores descubram esta contradição entre política cambial e política monetária e forcem uma desvalorização da moeda — ou a imposição de controle de capitais.

Este tipo de ataque especulativo varreu a América Latina e o sudeste asiático ao longo da década de 1990.  A crise do México em 1994, a crise asiática em 1997 e 1998, a crise do real em janeiro de 1999 e a crise da Argentina em dezembro de 2001 (cujo Currency Board havia sido praticamente abolido em junho daquele ano) — todas ocorreram de acordo com este mecanismo.  Com efeito, até mesmo o ataque perpetrado por George Soros à libra esterlina em 1992 se deu por causa deste arranjo, uma vez que o Banco Central da Inglaterra vinha mantendo a libra atrelada ao marco alemão.

Veja a evolução das reservas internacionais do Brasil, e observe a queda súbita ocorrida no segundo semestre de 1998 em decorrência do ataque especulativo que culminou com a abolição do regime de câmbio atrelado:

cewolf4.pngGráfico 5: evolução das reservas internacionais durante a primeira fase do real, julho de 1994 a dezembro de 1998

Sendo assim, surge a pergunta inevitável: se um Currency Board é estável e se um regime de câmbio atrelado sempre se esfacela, por que então a opção pelo último é quase que universal?  Há várias respostas, mas duas se sobressaem: o regime do câmbio atrelado não abole a moeda nacional e, principalmente, o governo mantém sua autonomia para fazer política monetária, algo de extrema importância para financiar seus déficits via inflação.  O preço desse nacionalismo e dessa autonomia governamental são juros altos, instabilidade e crise no balanço de pagamentos.

Por outro lado, para não dizer que só há críticas ao arranjo brasileiro, houve um fator positivo: o comportamento da inflação de preços.  Como o Banco Central tinha de manter a expansão monetária contida para evitar uma súbita desvalorização do real perante o dólar, a inflação de preços apresentou um continuado declínio.  Não tão súbito quanto o da Bulgária e da Argentina, mas ainda assim substancial.

cewolf (1).pngGráfico 6: evolução da inflação de preços durante a primeira fase do real, junho de 1995 a dezembro de 1998

 

A adoção do câmbio flutuante e o problema com o sistema de metas de inflação

Após a inevitável série de ataques especulativos (detalhados aqui) ocorrida no final de 1998, que reduziu abruptamente a quantidade de reservas internacionais do Banco Central, o regime de câmbio atrelado foi abolido logo no início de 1999.

A partir daquele ano, adotou-se aquilo que é conhecido hoje como 'tripé macroeconômico': câmbio flutuante, superávit primário e metas de inflação.

Em tese, adotar um câmbio flutuante significa que o Banco Central irá se preocupar exclusivamente com a política monetária — isto é, irá se preocupar apenas em controlar a evolução da base monetária e dos agregados monetários (M1, M2, M3 e M4) visando a atingir uma determinada meta de inflação de preços, sem olhar para o câmbio.  O comportamento da taxa de câmbio ficará exclusivamente por conta das forças de mercado.  Justamente por não se preocupar com a taxa de câmbio, um regime de câmbio flutuante não sofre crises no balanço de pagamentos, como ocorre com o regime de câmbio atrelado.

O problema é que, na prática, tal teoria nunca foi de fato implantada.  Em primeiro lugar, o Banco Central brasileiro nunca se preocupou exclusivamente com a política monetária, deixando a taxa de câmbio flutuar ao sabor do mercado.  Ele sempre tentou controlar as duas variáveis, que são incompatíveis.  Consequentemente, ao tentar fazer duas coisas mutuamente excludentes — política monetária e política cambial —, o resultado final foi uma inflação de preços continuamente acima da meta (a qual, diga-se de passagem, sempre foi muito alta).

O gráfico abaixo detalha este descasamento.  A linha azul mostra como seria a inflação de preços acumulada de 1999 caso o Banco Central de fato conseguisse manter a inflação de preços dentro da meta por ele próprio estipulada.  Já a linha vermelha mostra a verdadeira inflação de preços acumulada.  (Veja os valores anuais aqui).

Meta x efetivo.pngGráfico 7: inflação de preços acumulada de acordo com a meta estipulada pelo Banco Central (linha azul); inflação de preços observada (linha vermelha)

Mas o principal problema desse atual tripé macroeconômico nem chega a ser o conflito entre política monetária e política cambial: o problema está justamente no formato escolhido para a política monetária.

O modelo de política monetária utilizado pelo Banco Central brasileiro se resume a estipular uma meta para a taxa de juros do mercado interbancário (a SELIC) e, em seguida, fazer injeções de dinheiro no mercado interbancário para tentar manter essa taxa de juros estipulada.  Por meio de cálculos econométricos sofisticadíssimos (e sempre errados), o Banco Central estipula qual é o valor da SELIC que, na crença dos burocratas, fará com que a inflação de preços fique próxima do valor tido pelo Banco Central como 'desejável'.

Tal prática — a qual, segundo a imprensa, foi unanimemente testada e aprovada ao redor do mundo — não apenas gerou um legado desastroso para o Brasil, como também, ao contrário do que se imagina, é utilizada por apenas um outro grande Banco Central em todo o mundo: o Fed.

Um pequeno histórico do sistema de metas para a taxa de juros

Essa política de metas para a taxa de juros foi adotada pela primeira vez nos EUA no final dos anos 1970.  O então presidente do Fed e criador desta política foi um cavalheiro chamado G. William Miller, que, de tão desastrado, durou no cargo apenas de janeiro de 1978 a agosto de 1979.  O resultado de sua criação foi tão pavoroso, que Jimmy Carter teve de tirar o sujeito do comando do Fed e colocar o durão Paul Volcker em seu lugar. 

O problema desta política criada por Miller — e hoje adotada pelo Brasil — é que, quando você estipula uma determinada taxa de juros como alvo, você perde totalmente o controle do crescimento da base monetária e dos agregados monetários, os quais passam a se comportar de forma totalmente errática.  O M2 americano, sob o comando de Miller, passou a crescer a uma taxa de dois dígitos (12%), algo até então inédito na história do país.  Foi isso que aniquilou Miller e provocou a inflação galopante americana daquela época.  Para se ter uma ideia, em novembro de 1978, apenas 11 meses após implantar sua nova política, Miller fez com que o dólar se desvalorizasse 34% em relação ao marco alemão e 42% em relação ao iene japonês.  Já no início de 1980, o "IPCA" americano estava em 15%.

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Gráfico 8: evolução da inflação de preços nos EUA, janeiro de 1977 a março de 1980


Quando Miller foi retirado, Paul Volcker assumiu o comando e disse que essa prática de determinar uma meta para a taxa de juros não mais seria a política do Fed, e passou a controlar diretamente o crescimento da base monetária e dos agregados monetários, desconsiderando totalmente as taxas de juros resultantes, as quais passaram a flutuar alucinadamente.  De início, isso aniquilou a inflação de preços, que caiu de 15% em 1980 para 2,5% em 1983.    

united-states-inflation-cpi (1).pngGráfico 9: evolução da inflação de preços nos EUA, março de 1980 a julho de 1983

Abaixo, a variação da taxa básica de juros americana neste período.

united-states-interest-rate.pngGráfico 10: variação da taxa básica de juros americana.  De meados de 1979 ao final de 1983, o Fed se preocupou exclusivamente em controlar os agregados monetários, gerando aquelas desenfreadas variações nos juros.

Porém, como havia vários distintos e complexos agregados monetários, ninguém se entendia a respeito de "o que era dinheiro" e qual agregado monetário deveria ser seguido: o M1, o M1-A, o M2, o M3 ou o M4?

Consequentemente, mais tarde, em agosto de 1982, o Fed retornou à política de determinar uma meta para os juros, sendo até então o único Banco Central do mundo a fazer isso.  Quinze anos depois, mais especificamente a partir de 1999, o Banco Central brasileiro também viria a imitá-lo.  Hoje, estes são os únicos grandes bancos centrais do mundo a fazer este tipo de política monetária.

Como tal afirmação parece estranha, vale a pena enfatizá-la: dentre os grandes, apenas o Fed e o Banco Central brasileiro utilizam este mecanismo de continuamente injetar dinheiro no mercado interbancário — chamado de operações de mercado aberto — para manter a taxa básica de juros em um determinado nível.  O Banco Central Europeu, o Banco Central suíço, o Banco Central da Inglaterra, o Banco Central japonês, o Banco Central canadense, o Banco Central australiano e o Banco Central neozelandês estipulam os juros por meio da janela de redesconto, um mecanismo muito mais punitivo para os bancos.  

Já o Banco Central de Cingapura não estipula juros nenhum.  Ele apenas controla a taxa de câmbio do dólar cingapuriano em relação a uma cesta formada pelas moedas dos principais parceiros comerciais do país.

Não é o objetivo deste artigo especificar como funcionam os mecanismos utilizados por estes outros bancos centrais; basta dizer que mercado aberto (Brasil e EUA) é dar dinheiro para os bancos em troca de títulos públicos, ao passo que janela de redesconto é empréstimo.

Como aqui os economistas só leem literatura americana, eles adotaram o Fed e suas operações de mercado aberto como modelo a ser seguido.

Consequências

As duas principais consequências deste modelo de política monetária adotada pelo Banco Central brasileiro são o estímulo maior à inflação monetária e ao endividamento das pessoas.

Se o Banco Central está continuamente injetando dinheiro no mercado interbancário para tentar manter os juros próximos a um valor específico, ele irá estimular os bancos a concederem mais empréstimos.  Consequentemente, a expansão do crédito — isto é, a expansão da quantidade de dinheiro na economia — será mais intensa e mais errática. 

O gráfico abaixo mostra a evolução da quantidade de títulos públicos em posse do Banco Central.  Ele mostra a quantidade de dinheiro que o Banco Central brasileiro já criou e entregou ao sistema bancário com o intuito de manter a taxa básica de juros, a SELIC, próximo do valor por ele estipulado.

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Gráfico 11: títulos públicos comprados do sistema bancário pelo Banco Central brasileiro

A consequência desta maciça injeção de dinheiro no mercado interbancário foi a volumosa expansão do volume de crédito na economia.  Quando bancos concedem crédito, eles criam dinheiro eletrônico para emprestar a pessoas e empresas.  O gráfico abaixo mostra a evolução do crédito concedido pelos bancos ao setor privado da economia (pessoas físicas, indústrias, setor rural, comércio e serviços).

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Gráfico 12: total do crédito concedido pelo sistema bancário brasileiro ao setor privado

E a consequência desta expansão do crédito foi a desordenada, errática e colossal expansão da quantidade de dinheiro na economia.  O gráfico abaixo mostra a expansão do M2 brasileiro (cédulas e moedas metálicas, depósitos em conta-corrente, depósitos em poupança e depósitos a prazo).

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Gráfico 13: evolução do M2 brasileiro

No final, essa política monetária adotada pelo Banco Central que se resume a injetar dinheiro no mercado interbancário para controlar a taxa de juros gerou uma inflação de preços sistematicamente maior do que a vivenciada durante a era do câmbio atrelado.  Observe no gráfico abaixo que, ao passo que a inflação de preços apresentava uma tendência claramente declinante até 1998 (sendo que o IPCA daquele ano foi de saudosos 1,65%), houve uma súbita e pronunciada inversão desta tendência a partir de 1999.  A tendência de alta apresentada desde 2007 é preocupante.

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Gráfico 14: evolução do IPCA acumulado em 12 meses

Porém, ainda pior do que a inflação de preços é o grau de endividamento da população brasileira.  E isso era inevitável.  Se você cria um sistema monetário que se baseia completamente no controle artificial dos juros e no estímulo ao crédito, o incentivo ao endividamento se torna irresistível.  E as consequências podem ser trágicas.

O gráfico abaixo mostra o nível de endividamento das famílias em relação à sua renda acumulada nos últimos doze meses (linha azul) e os gastos das famílias com o serviço de suas dívidas — ou seja, juros e amortização — em relação à sua renda mensal (linha vermelha).  De acordo com as últimas estatísticas, o endividamento das famílias é de quase 43,75% da sua renda acumulada em doze meses, e os gastos das famílias para cumprirem o serviço de suas dívidas é de 21,70% de sua renda mensal.

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Gráfico 15: nível de endividamento das famílias em relação à sua renda acumulada nos últimos doze meses (linha azul); gastos das famílias com o serviço de suas dívidas — juros e amortização — em relação à sua renda mensal (linha vermelha).

A título de comparação, como é possível ver no gráfico deste artigo, esta mesma variável (linha vermelha) para os americanos é de apenas 11%.

Tal nível de endividamento levou a uma inadimplência total de R$85 bilhões, um recorde.

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Gráfico 16: inadimplência dos brasileiros junto ao sistema financeiro

Conclusão

Eis aí a nossa sinuca de bico.  O endividamento e a inadimplência estão em alta, o que reduz a propensão ao consumo futuro e, consequentemente, restringe novos investimentos.  A atual contração do setor industrial, que se expandiu acentuadamente durante os anos de 2010 e 2011, época da farra do crédito, é uma consequência inevitável desta nova realidade.

Enquanto estas duas variáveis (endividamento e inadimplência) não forem equacionadas, não há grandes perspectivas para o crescimento econômico.  E caso a SELIC mantenha sua trajetória de alta — o que pode se traduzir em um aumento dos juros do crediário —, o endividamento e a inadimplência podem piorar, afetando ainda mais a economia e a situação financeira dos bancos, das empresas e das indústrias.

Adicionalmente, a quantidade de dinheiro na economia (gráfico 13) tem apresentado um acentuado arrefecimento no seu ritmo de crescimento, muito provavelmente porque os bancos estão mais contidos em seu ritmo de concessão de empréstimos — certamente estão mais cautelosos com o nível de endividamento e com a inadimplência.  Esse fenômeno foi analisado em detalhes neste artigo.

Essa combinação entre desaceleração do ritmo de crescimento da quantidade de dinheiro na economia e inflação de preços ainda em alta está afetando sensivelmente a renda real das pessoas.  Em outras ocasiões em que inflação de preços também estava alta, como em meados de 2011, não havia esta sensação de renda afetada porque a quantidade de dinheiro na economia também estava crescendo acentuadamente, o que gerava um certo alívio.  Agora, no entanto, o arranjo é outro: a inflação de preços está em alta, mas a quantidade de dinheiro na economia está crescendo bem mais contidamente, o que gera esta sensação — real — de aperto financeiro.  Este atual arranjo dificulta ainda mais a capacidade das pessoas de honrarem suas dívidas. 

E caso os juros aumentem (ou caso desemprego suba), tanto os gastos com o serviço da dívida quanto a inadimplência podem piorar, afetando ainda mais a receita das empresas e o balancete dos bancos.

Tudo isso é uma consequência natural do nosso atual sistema monetário e financeiro, no qual tecnocratas a serviço de políticos populistas — que só pensam em popularidade e em alguns décimos de PIB — estimulam os bancos a expandirem o crédito e a patrocinar o consumismo e o endividamento.  Isso pode acabar mal.



autor

Leandro Roque
é editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

  • José Ricardo das Chagas Monteiro  20/05/2013 08:35
    Saudações, muito bem explicado, apenas tenho dificuldade quando entra o relativismo, positivo ou negativo, com o PIB, referecial nuvemno céu estrelado.
  • Patrick  09/10/2014 19:55
    Gostaria de entender porque não foi comentada a mudança no modelo de politica economico depois da crise de 2008 e as sucessivas intervenções do governo na atuação do BC apos 2010
  • Leandro  09/10/2014 20:21
  • anônimo  20/05/2013 10:55
    offtopic: pra quem ficava se perguntando por que a demora em se criar um forum, tem esse agora, criado por usuários do mises gringo:
    thelibertarianforum.com/
  • Pedro  20/05/2013 11:16
    Leandro,
    Meus conhecimentos econômicos ainda são superficiais, então me tire uma dúvida.
    Salvo engano em 1999, como enfatiza o artigo, as mídias atribuíram exclusivamente ao câmbio fixo a culpa da crise argentina. O que de fato aconteceu?
  • Leandro  20/05/2013 12:33
    Pedro, como explicado e ilustrado pelo gráfico 3, o câmbio jamais foi fixo no Brasil. Nem sequer por um dia. Se a mídia insiste em chamar de 'câmbio fixo' um arranjo que na verdade é um 'câmbio atrelado', isso mostra bem o nível de conhecimento econômico da imprensa.

    Sobre as causas da crise cambial de 1999, foram exatamente essas explicadas pelo artigo e explicadas em ainda mais detalhes no artigo linkado, sobre a história do Plano Real.

    A crise asiática de 1997 e a moratória russa de 1998 geraram uma fuga de capitais ao redor do mundo. O Brasil sobreviveu à crise de 1997 mas sucumbiu à de 1998. O problema foi que um volume considerável de reservas internacionais saiu do país em 1998, mas o Banco Central, em vez de permitir que a base monetária diminuísse em decorrência dessa fuga, e, ao mesmo tempo, em vez de permitir que o câmbio se desvalorizasse, ele tentou fazer duas coisas que são impossíveis de serem feitas simultaneamente: controlar a base monetária e controlar o valor do dólar em relação ao real.

    No final, as reservas despencaram e tornou-se óbvio que, caso o Banco Central mantivesse sua política, as reservas do país simplesmente secariam. Logo, a desvalorização do real tornou-se uma mera questão de tempo -- caso o real não fosse desvalorizado, o país perderia todas as suas reservas em decorrência de ataques especulativos.

    Insisto na importância de se ler este artigo para entender melhor os detalhes de tudo o que narrei acima. Uma leitura complementar que também valeria muito a pena é a deste artigo, que narra os percalços econômicos da Argentina.

    Grande abraço!
  • Marcos Campos  20/05/2013 20:49
    A mídia fazendo analises de economia é horripilante. Depois que passei a frequentar os artigos do MISES, sinto vontade de vomitar com as meninas do Jô.....
  • Fabio Bastos  04/06/2013 12:33
    Leadro parabéns por mais um brilhante artigo. Já estou compartilhando o mesmo com os amigos.
    Confesso que ainda persiste a dúvida em relação ao caso argentino semelhante a dúvida descrita pelo Pedro no comentário acima.

    Os meios de comunicação culpavam o câmbio fixo argentino. Eu lembro que eles (os críticos da época) alegavam que os Argentinos perderam boa parte das reservas em moeda estrangeira devido a sua vulnerabilidade ao "Efeito Tequila", com os investidores internacionais retirando seus capitais.

    Embora você já tenha escrito um artigo sobre o caso argentino poderia nos explicar melhor esta situação argentina, o que ocorreu com as reservas em moeda extrangeira? O Currency Board seria vulnerável a expeculação internacional? Onde eles erraram afinal em relação ao Currency Board?

    Fabio Bastos
  • Leandro  04/06/2013 13:01
    Eu realmente não conseguiria ser mais claro e explícito do que fui naquele artigo sobre a Argentina. O Currency Board argentino começou corretamente e assim se manteve até o início de 2001, quando suas características foram abrupta e profundamente alteradas, fazendo com que nada mais restasse do Currency Board original.

    Enquanto o arranjo original do Currency Board foi mantido, tudo funcionou como era pra funcionar. A fuga de dólares gerada pela crise do México em dezembro de 1994 afetou a economia argentina apenas pontualmente: os juros subiram e isso fez com que os dólares voltassem ao país. Um ano depois, o país já estava crescendo novamente. Esse mecanismo autocorretivo é inerente ao Currency Board.

    Ataques especulativos não ocorrem sob um arranjo de Currency Board ortodoxo -- isto é, um arranjo no qual o governo não tem papel nenhum na política monetária. Por outro lado, se o governo interfere e -- pior ainda -- altera o câmbio e introduz câmbios paralelos para exportação e importação, como fez o governo argentino no início de 2001, aí já não mais se tem Currency Board nenhum, e os ataques especulativos -- bem como a fuga de dólares -- serão inevitáveis.

    Enquanto as regras básicas do Currency Board foram respeitadas, a economia argentina era robusta, não obstante os seguidos déficits orçamentários do governo (por causa de seus gastos crescentes) e o seu crescente endividamento. Quando as regras básicas do Currency Board foram jogadas no lixo, toda a economia argentina foi à lona.

    E isso deve ficar claro: dívida e gastos do governo não são impedimento para a criação de um Currency Board. No entanto, uma vez criado, é bom que o governo se contenha, pois uma contínua elevação de seus gastos e de sua dívida levará a um aumento insuportável dos juros (pois todo o crédito bancário estará sendo absorvido pelo governo, nada sobrando para o setor privado). Em um arranjo com Banco Central, a contínua injeção de dinheiro no setor bancário mitiga esse problema (ao custo de uma continuamente alta inflação de preços). Em um arranjo com Currency Board não existe este subsídio ao setor bancário, e ele tem de agir com total prudência caso não queira se ver insolvente.

    Portanto, eis aí as respostas para suas perguntas:

    "O que ocorreu com as reservas em moeda estrangeira?"

    Enviadas para bancos no exterior tão logo o governo deu sinais de que iria mexer no sistema.

    "O Currency Board seria vulnerável a especulação internacional?"

    Só quando suas regras ortodoxas são desrespeitadas -- o que significa que, neste caso, não há mais Currency Board.

    "Onde eles erraram afinal em relação ao Currency Board?"

    Além de alterarem suas regras mais básicas, introduzindo um sistema de taxas de câmbio paralelas (uma para importação e outra para exportação), o governo começou a falar abertamente em desvalorizar o câmbio, o que assustou os investidores estrangeiros, que compreensivelmente saíram correndo. Não bastasse tudo isso, o crescente endividamento do governo argentino, e quase todo ele em títulos de curto prazo, começou a suscitar dúvidas sobre sua capacidade de honrar dívidas. Papos sobre um possível calote ganhavam força diariamente. E pioraram depois que os mercados internacionais pararam de emprestar para a Argentina. Como boa parte dos credores era estrangeira, esse pessoal saiu correndo.

    De novo, todos esses detalhes foram elencados no artigo sobre a Argentina. Basta ler a partir de 2001.

    Grande abraço e obrigado pelas palavras!
  • Felipe  02/03/2022 00:03
    "A crise asiática de 1997 e a moratória russa de 1998 geraram uma fuga de capitais ao redor do mundo. O Brasil sobreviveu à crise de 1997 mas sucumbiu à de 1998. O problema foi que um volume considerável de reservas internacionais saiu do país em 1998, mas o Banco Central, em vez de permitir que a base monetária diminuísse em decorrência dessa fuga, e, ao mesmo tempo, em vez de permitir que o câmbio se desvalorizasse, ele tentou fazer duas coisas que são impossíveis de serem feitas simultaneamente: controlar a base monetária e controlar o valor do dólar em relação ao real."

    A base monetária você fala do M0 ou do M1? Por que o BCB não quis permitir o recuo da base monetária? Por medo de uma recessão prejudicar a reeleição do FHC? Se se permitisse o recuo da base monetária, a gente poderia afirmar que a desvalorização do real seria mais contida, já que a oferta de reais estaria menor?

    "Adicionalmente, vale enfatizar que, durante toda essa primeira fase do Plano Real, houve déficits na balança comercial (mais importações do que exportações). Para compensar esses déficits, o Banco Central tinha de manter juros bastante altos para atrair dólares e fazer com que o balanço de pagamentos pudesse se equilibrar."

    Aqui você colocou balanço de pagamentos e balança comercial. Há esses dados do balanço de pagamentos disponíveis no SGS do BCB? O que acontecia no Brasil nessa época é que, como ocorria mais importações do que exportações, "saía" mais dólares do que entrava, de forma a interferir nas reservas internacionais (devo supor que as contas de dólares dos exportadores constem como reservas internacionais do BCB, estou correto?). Vendo a situação do Banco Central da Bolívia, preocupa a queda nas reservas internacionais do país.

    O que o BCB fez na década de 2000 em acumular dólares nas reservas, seria impossível de ser feito durante a época do Plano Real, por causa da prodigalidade monetária do Fed nos anos 2000, algo bem distinto do Fed nos anos Clinton?
  • Leandro  02/03/2022 04:21
    "Por que o BCB não quis permitir o recuo da base monetária? Por medo de uma recessão prejudicar a reeleição do FHC?"

    Correto. A Selic dispararia no curto prazo e a quantidade de moeda na economia encolheria (a contração na base monetária levaria a uma contração do M1). Isso é extremamente recessivo no curto prazo porque salários não podem cair (é proibido pela Constituição).

    Com menos moeda há menos volume de gastos. Consequentemente, há menos receitas nominais para as empresas. Mas como elas não podem reduzir salários, tem-se que uma parte significativa de seus custos ficam fixos, ao mesmo tempo em que as receitas caem. Logo, elas são obrigadas a demitir (sem justa causa, o que é muito custoso) ou a cortar investimentos (o que, no fim, também gera demissões).

    "Se se permitisse o recuo da base monetária, a gente poderia afirmar que a desvalorização do real seria mais contida, já que a oferta de reais estaria menor?"

    Sim, seria bem mais contida. Mas a recessão seria bem mais intensa, pelos motivos explicados acima.

    "Aqui você colocou balanço de pagamentos e balança comercial. Há esses dados do balanço de pagamentos disponíveis no SGS do BCB?"

    Balanço de pagamentos, por definição, sempre tem que ser zero. Sempre.

    Grosso modo, balanço de pagamentos é:

    1) balança comercial e de serviços, também chamada de "conta-corrente" (não confundir com as "conta-correntes" dos bancos, que são coisas completamente distintas);

    2) conta capital e financeira (investimento estrangeiro direto em capital físico e em títulos, ações e demais papeis, remessas de lucro entre filial e matriz, transferencia entre empresas).

    Esses dois têm que ser iguais. Por definição contábil.

    Se há uma "saída de dólares" porque houve mais importação do que exportação (item 1), então estes dólares têm antes que ter "entrado" no país. E eles entram pela conta de capital (item 2). Ou então saem das reservas do BC, de modo a fazer com que os itens 1 e 2 terminem iguais.

    O fato é que de algum lugar terão de sair estes dólares. Ou saem das reservas internacionais do BC, ou então alguma empresa ou mesmo o governo se endividou para atrair estes dólares, ou então investidores compraram papei ou investiram em capital físico.

    De novo, isso é regra contábil. Não tem como escapar disso.

    Logo, você nunca encontrará uma séria histórica para o "balanço de pagamentos" pelo simples fato de que ele, por definição, sempre será zero todo ano. Logo, não faria sentido ter uma série histórica para ela.

    Já para todo o resto você encontra nas séries históricas do BACEN. Clique em setor externo" e depois em "balanço de pagamentos". A série irá se desdobrar em vários sub-itens, e você poderá escolher qual quiser.

    "O que acontecia no Brasil nessa época é que, como ocorria mais importações do que exportações, "saía" mais dólares do que entrava, de forma a interferir nas reservas internacionais (devo supor que as contas de dólares dos exportadores constem como reservas internacionais do BCB, estou correto?)."

    Havia mais importação do que exportação, fato. E a conta de serviços também era deficitária (esta, aliás, sempre foi, em todos os períodos, em todos os planos econômicos). E isso fazia com que a conta-corrente (item 1 acima) fosse deficitária.

    Porém, havia um enorme influxo de capital estrangeiro para investimentos diretos e para a compra de papeis (atraídos pelos juros). E este influxo de capital estrangeiro era muito maior que a saída via balança comercial e de serviços. Tanto é que, até meados de 1998 (imediatamente antes da crise da Rússia), as reservas internacionais subiram de US$ 40 bilhões para US$ 75 bilhões.

    A única maneira de as reservas subirem é quando o item 2 é maior que o item 1 (lembre-se: o balanço tem sempre que ser zero; se há um excesso de dólares, então ele vira reservas internacionais).

    Mas aí, com a crise da Rússia, tudo se reverteu. E se perdeu.

    "Vendo a situação do Banco Central da Bolívia, preocupa a queda nas reservas internacionais do país."

    Essa eu confesso que não estou acompanhando. Mas as reservas são cruciais para eles manterem o câmbio fixo. Se elas estão desabando, então, em algum momento, o governo terá de alterar o regime cambial. No mínimo, terá de fazer alguma desvalorização. E aí são altas as chances de haver ataques especulativos que levem a um overshooting do câmbio, o que tende a gerar alta inflação e inquietação social.

    A conferir.

    "O que o BCB fez na década de 2000 em acumular dólares nas reservas, seria impossível de ser feito durante a época do Plano Real, por causa da prodigalidade monetária do Fed nos anos 2000, algo bem distinto do Fed nos anos Clinton?"

    Correto. O BCB só conseguiu acumular aquele mundo de reservas graças ao expansionismo monetário americano, o qual foi gerado pela Guerra do Iraque (a qual, por sua vez, aditivos a bolha imobiliária). Tudo explicado em detalhes aqui.

    Chances zero de ter conseguido aquilo não fosse a guerra do Iraque. Veja com seus próprios olhos (lembrando que a guerra só se intensificou a partir de meados de 2004, quando ficou claro que não havia estratégia de saída, que a mudança de regime não seria tranquila, e que o financiamento seria vários trilhões a mais que o inicialmente estimado):

    d3fy651gv2fhd3.cloudfront.net/charts/brazil-foreign-exchange-reserves.png?s=brazilforexcres&v=202202121001V20200908&d1=19220327
  • Felipe  02/03/2022 12:57
    Com essa zona que ficou a economia russa, podemos ver um novo calote e uma nova crise, como a crise russa de 1998?
  • Felipe  02/03/2022 15:08
    Falando de Rússia, olha que curioso:

    "Empresa dona do gasoduto Nord Stream 2 pede falência"

    O Gerhard Schröder, curiosamente, é um dos controladores da empresa russa GazProm. Ele foi colocado por Putin em fevereiro desse ano. Sim, o primeiro-ministro que fez reformas liberalizantes na Alemanha, agora está numa estatal russa de gás natural. Muito estranho.

    Não é só no Brasil que temos os nossos "ronaldinhos dos negócios"...
  • Felipe  02/03/2022 23:27
    "Essa eu confesso que não estou acompanhando. Mas as reservas são cruciais para eles manterem o câmbio fixo. Se elas estão desabando, então, em algum momento, o governo terá de alterar o regime cambial. No mínimo, terá de fazer alguma desvalorização. E aí são altas as chances de haver ataques especulativos que levem a um overshooting do câmbio, o que tende a gerar alta inflação e inquietação social.

    A conferir."


    Nos últimos dois anos, após bastante tempo com déficits na balança comercial, a economia boliviana voltou a ter superávit na balança comercial. Parece que nesse mês de janeiro, houve recorde no superávit (em 2021 houve superávit, o que não acontecia há anos). Isso poderia interferir de que forma nas reservas internacionais do país?

    Esse é o gráfico que compara o comportamento do M1 do país, e o das reservas internacionais.

    Se o balanço de pagamentos sempre tende a zero (i.e. ao equilíbrio), então por que ele é tão importante no câmbio atrelado e fixo? Em pesquisas minhas sobre a Caixa de Conversão, houve também menções sobre o comportamento do balanço de pagamentos.
  • Leandro  03/03/2022 00:54
    "Nos últimos dois anos, após bastante tempo com déficits na balança comercial, a economia boliviana voltou a ter superávit na balança comercial. Parece que nesse mês de janeiro, houve recorde no superávit (em 2021 houve superávit, o que não acontecia há anos). Isso poderia interferir de que forma nas reservas internacionais do país?"

    Só com essas informações não dá para saber. É necessário ver como a está a conta financeira e de capital.

    "Esse é o gráfico que compara o comportamento do M1 do país, e o das reservas internacionais."

    Bom, a informação que eu tenho do M1 é esta.

    d3fy651gv2fhd3.cloudfront.net/charts/bolivia-money-supply-m1.png?s=boliviamonsupm1&v=202112111007V20200908&d1=20170304

    Crescendo bem desde 2020 (como em todos os outros países do mundo).

    Considerando que o M1 cresceu, e as reservas internacionais caíram (e muito), então a lógica ensina que o BC boliviano está expandindo a oferta monetária e ao mesmo tempo está vendendo dólares para tentar conter uma apreciação cambial.

    Isso dura até as reservas acabarem ou até fizerem um ataque especulativo contra a moeda (quanto mais um BC intervém no câmbio, mais ele estimula apostas especulativas contra a moeda, pois mais lucrativo se torna apostar em uma iminente desvalorização dela).

    Nesta situação boliviana, alguém terá de ceder.

    "Se o balanço de pagamentos sempre tende a zero (i.e. ao equilíbrio), então por que ele é tão importante no câmbio atrelado e fixo? Em pesquisas minhas sobre a Caixa de Conversão, houve também menções sobre o comportamento do balanço de pagamentos."

    Atenção: não é que ele tende a zero. Não existe tendência em balancetes. Assim como não há tendência ao lucro ou ao prejuízo, não há tendência a zero no balanço de pagamentos.

    O balanço de pagamentos tem de ser zero, pelo mesmo motivo que ativos e passivos sempre têm de ser iguais no balanço de uma empresa. Isso não é uma tendência; é uma regra contábil.

    O balanço tem de ser zero porque a quantidade de dólares que entram (saem) via balança comercial e de serviços tem de ser igual à quantidade de dólares que saem (entram) via conta financeira e de capital. Ponto. Se não for assim, o balanço não fecha. Dólares ficam perdidos e não contabilizados.

    De novo, isso é regra contábil. Não é questão de tendência.

    O balanço de pagamentos é crucial em regime de câmbio de fixo (via Currency Boad) exatamente porque é a maneira como irá se dar o fechamento do balanço que irá determinar o volume das reservas.

    Em uma empresa, se entra mais dinheiro do que sai, então essa diferença vai para o patrimônio líquido da empresa. Em um país, se entram mais dólares do que saem, essa diferença vai para as reservas internacionais.

    É assim que se fecha um balanço.

    Se entraram mais dólares no país do que saíram do país, então este excesso irá compor as reservas internacionais (zerando então o balanço de pagamentos). Consequentemente, sob um Currency Board, a oferta monetária irá se expandir.

    Se, ao contrário, saíram mais dólares do que entraram, então este déficit de dólares será compensado pela redução das reservas internacionais (zerando então o balanço de pagamentos). Consequentemente, sob um Currency Board, a oferta monetária irá se contrair.
  • Felipe  05/03/2022 00:23
    "Correto. A Selic dispararia no curto prazo e a quantidade de moeda na economia encolheria (a contração na base monetária levaria a uma contração do M1). Isso é extremamente recessivo no curto prazo porque salários não podem cair (é proibido pela Constituição).

    Com menos moeda há menos volume de gastos. Consequentemente, há menos receitas nominais para as empresas. Mas como elas não podem reduzir salários, tem-se que uma parte significativa de seus custos ficam fixos, ao mesmo tempo em que as receitas caem. Logo, elas são obrigadas a demitir (sem justa causa, o que é muito custoso) ou a cortar investimentos (o que, no fim, também gera demissões)."


    O interessante que isso que você falou, de certa forma aconteceu nas economias grega e espanhola, já que lá a redução salarial é proibida e o mercado de trabalho é amarrado. Nesses países houve deflação de preços por anos.
  • Leandro Torricelli  20/05/2013 12:59
    Muito bom Leandro! Mais uma vez, um ótimo artigo, extremamente didático e de fácil compreensão, até para alguém com conhecimento de economia tão raso como ao do ministro Guido Mantega.

    Sobre endividamento, inflação e inadimplência, por acaso saiu hoje no Estadão:

    "Consumo fraco tira R$ 27 bi da economia
    Perda do ritmo de crescimento de vendas do comércio varejista é causada pela inflação, inadimplência alta e endividamento das famílias"

    www.estadao.com.br/noticias/impresso,consumo-fraco-tira-r-27-bi-da-economia-,1033578,0.htm

    As pessoas já estão travando as compras, e cada vez mais a situação segue delicada. Acredito que muito do crédito expandido foi ao setor habitacional, elevando os preços às alturas. E ainda há sonhadores querendo vender seus apartamentos de 50m2 e mal localizados a módicos R$ 300.000 (achando que a farra será eterna), quando a população está, no geral, regulando alguns reais no mercado. Claramente a conta não fecha e acredito que tudo isso irá acabar muito mal.
  • Leandro  20/05/2013 13:06
    Muito boa essa reportagem, xará.

    Dentre todas as mazelas econômicas, endividamento e inflação são as piores. E o Brasil está justamente em um arranjo que envolve os dois: endividamento com inflação de preços. Para acabar com a inflação, é necessário reduzir a taxa de crescimento da quantidade de dinheiro na economia. Só que tal medida dificulta ainda mais a quitação de dívidas. Sinuca.

    Grande abraço e obrigado pelas palavras.
  • Sérgio Araújo  20/05/2013 13:02
    Mais uma excelente análise dentro do rigoroso padrão "Leandro Roque de Qualidade".

    Você tem que mandar esse texto para o mises.org, Leandro, já está na hora do tradutor ser o traduzido.

    Parabéns!

    Abraço!
  • Leandro  20/05/2013 13:20
    Obrigado pelo reconhecimento, Sérgio. Mas ainda é cedo para isso. Os gringos certamente têm outras preocupações e interesses que não o Brasil.

    Grande abraço!
  • Lord Krugman  20/05/2013 14:24
    ...mas a demanda agregada está sendo estimulada!
  • Pobre paulista  20/05/2013 15:11
    Engraçado como esses keynesianos e seus variantes acham que o consumo é um grande clitoris e que o emprego é um orgasmo.

    Leandro,

    Agora que estamos nessa (previsível) sinuca de bico, quais são as cenas do próximo capítulo? Recessão, hiperinflação? Crash da bolsa? Estouro de bolha imobiliária? Todas as anteriores?

    Abs
  • Lopes  20/05/2013 15:25
    Permaneceremos em um aumento acomodatício da Selic durante mais alguns meses, provavelmente. Como resultado, a estagflação sorrateira na qual estamos continuará a crescer. Considero improvável que o governo optará por um aumento adequado da taxa para a prevenção de um acentuado ritmo inflacionário. Sustenta-se os preços dos imóveis em alta com esforço hercúleo, basta observar algum gráfico atualizado dos valores imobiliários.

    Aparentemente, a confiança em Mantega parece absoluta e devido às recentes declarações realizadas por ele aos veículos midiáticos, aparenta estar "satisfeito" com o atual estado da economia e receio que continuará a repetir sua atual fórmula de estímulo à alavancagem através de bancos estatais.

    É imprescindível que não subestimemos a capacidade dos atuais governantes de destruir a economia em prol da politicagem. Lembrar-vos-ei que apesar de qualquer situação desastrosa de controle de preços na qual encontra-se a Venezuela e a Argentina parecer ainda distante de nossa realidade, é evidente que a inteligência econômica latina não trata de tais sandices como revezes, mas como instrumentos econômicos aceitáveis e funcionais.

    Esperemos.
  • Leandro  20/05/2013 15:26
    Paradeza em todos os indicadores. Os preços dos imóveis já estão em queda.

    Quanto a uma hiperinflação, não há nenhuma chance. Ao menos, não no arranjo monetário atual, em que são os bancos -- e não o Banco Central -- que injetam dinheiro diretamente na economia. Além de não ser do interesse deles criar hiperinflação, há mecanismos autocorretores que impedem tal fenômeno, como, por exemplo, a forte subida nos juros dos empréstimos que ocorreria ao menor sinal de inflação de preços mais acentuada.
  • Dilma Rousseff  20/05/2013 16:08
    ...mas e quanto ao ganho da inflação, Leandro?

    É absurdo que a minha contribuição acadêmica continue a ser negada pelos economistas anti-progressistas, patrocinadores do Brasil-colônia, anti-BNDES e que não querem ver o pobre usando roupa de grife e andando de avião. Depois eu é quem sou terrorista.
  • Leonardo Couto  20/05/2013 14:47

    Seus artigos sempre nos obrigam a separar tempo para lê-los, Leandro. Muito bom.
  • Leandro  20/05/2013 15:23
    Obrigado pela deferência, prezado Leonardo. Mas creia-me: absolutamente todos os artigos do site merecem essa mesma cortesia.

    Grande abraço!
  • Joeber B. S. de Souza  20/05/2013 15:50
    Um excelente texto, Leandro. Após uma avaliação deste e de outros textos recomendados, fico muito preocupado com a fragilidade da economia dos países em desenvolvimento, como o Brasil. Verifica-se pela própria história que quando um país está fazendo seu dever de casa e seus índices de qualidade de vida, educação e renda melhoram, aparece um vilão nacional (financiado por quem?) e da o golpe em nome do nacionalismo, ou os países(dito de primeiro mundo, educados com ferramentas poderosas de avaliação da economia, que ditam regras etc.) investidores no país que está saindo da crise, retiram seus investimentos por medo devido a crise de outro país. Concluindo, quando não se faz o controle monetário da moeda nacional ao câmbio fixo corre-se o risco da especulação cambial interna, mas quando se faz o dever de casa como a Argentina o fez, corre-se o risco do investidor externo por se dizer acreditar em especulação em outro país retirar o corpo fora e deixar um estrago àquela nação, sem pagar por isso. Parece como o tabuleiro do jogo "WAR", onde o domínio de territórios pela força subitamente deixa de existir no momento que retirarmos os nossos exércitos e transferimos para outro território deixando o primeiro vulnerável. Só que no domínio econômico o exército é o dinheiro, a reserva, o investimento. Lembremos que, para mantermos uma tropa, num país dominado, são gasto muito dinheiro além de perdas humanas pelo país dominador, assim como, para retirá-la do país dominado. Mas com o domínio econômico basta algumas transações bancárias, complexas é claro, para que o país dominado / dependente fique com o prejuízo levando a pobreza e morte de sua cidadania.
    Vamos ter que repensar numa blindagem econômica para essa sinuca. O que você acha, Leandro? Abraços.
  • Leandro  20/05/2013 17:02
    Discordo, Joeber. Um país sofrer um ataque especulativo em sua moeda não é uma inevitbalidade; tudo vai depender de como seu governo está tratando a moeda. Bulgaria, Estônia, Hong Kong (e mais 40 outras localidades) subordinaram suas moedas nacionais a moedas de outros países e não sucumbiram a nenhum ataque especulativo. Já o governo da Argentina quis inventar moda e todo o país foi pro saco. O Brasil ficou em um meio termo: a economia não se esfacelou com os ataques especulativos do final da década de 1990, mas a perda no poder de compra da nossa moeda tem sido aviltante.

    No final, tudo vai depender do governo e da seriedade que este transmite.
  • Joeber B. S. de Souza  20/05/2013 21:01
    Leandro, como exemplificado pelo seu próprio texto intitulado "Cambalache - a história do colapso econômico da Argentina", nota-se a Argentina fazendo bem feito sua arrumação monetária e os consequentes bons resultados,assim como, a crise do México que nem se quer tinha a mesma postura ortodoxa monetária, como causa da saída do dinheiro dos investidores da Argentina. Logo, o que escrevi foi exemplificado por você. Não seria uma atitude precipitada e de intenção questionável, os países investidores diante de um ataque especulativo no México deixarem o povo Argentino? Após o qual ficou o salve-se quem puder, com o povo batendo panela, o Governo corrupto tomando medidas erradas entregando suas estatais em meio ao caos, e desta forma, exacerbando a corrupção. Um ciclo vicioso.
    Concordo com você que diante de uma crise, se o Governo argentino e o brasileiro, mesmo com a retirada de capital estrangeiro, fossem mais ortodoxos e menos corruptos e buscassem mais parcerias com os países vizinhos já criariam uma blindagem as especulações futuras. Entendo que sempre haverá crises no mundo do capital, mas a exploração aviltante por parte de alguns países e a corrupção por parte de outros são ingredientes "infalíveis" para se manter o domínio econômico ao invés do domínio pelas armas. Diante da pluralidade do mundo, você acha que a equivalência das moedas, uma língua única e o amor ao próximo unirá os povos? Ou só serão instrumentos de domínio dos fortes sobre os fracos? Não podemos nós brasileiros ser ingênuos. Temos que defender o livre mercado com consciência ética, combater a corrupção dos órgãos de controle públicos e privados, exigindo punição exemplar, para que os empreendedores com uma visão de mundo globalizado e respeitosos com sua nação possam ter a liberdade de pensamento, da propriedade, e a paz.
    Um grande abraço.
  • Leandro  21/05/2013 00:26
    Prezado Joeber, a crise mexicana de dezembro de 1994 nada teve a ver com o colapso da economia argentina em dezembro de 2001. A fuga de capitais gerada pela crise mexicana é algo com o qual o mecanismo de um Currency Board ortodoxo está prepado para lidar. O que destruiu a Argentina foi sua total desconsideração pelo mecanismo de funcionamento do Currency Board, como explicado em detalhes neste artigo que você mencionou.

    Abraços!
  • Joeber b. S. de Souza  21/05/2013 02:26
    Caro, Leandro, após uma releitura do seu artigo entendo a verdadeira causa da crise argentina. Agradeço sua paciência.

    Me tire uma dúvida, essas empresas que estão sendo elaboradas como política de governo como a EMBRAPII (pesquisa e inovação da indústria), EBSERH (serviços hospitalares), que o governo relata orçamento público anual bilionário, não seria um mecanismo de controle partidário do dinheiro público beneficiando e fomentando empresas ditas públicas de direito privado sem a menor competência, que no fundo vão onerar os gastos do governo com uma gestão incompetente e corrupta. Sem falar que muita dessas empresas já nasceram na inconstitucionalidade. Sabendo que governos municipais e estaduais já pecaram com essa estratégia injetando nossos impostos em OS e pseudo-fundações com controle partidários locais, eliminando a livre concorrência e equilíbrio público e privado, será, o governo federal com seu populismo, na sua insensatez e sua ganância pelo poder, capaz de destruir dois grandes pilares da nação, ou seja, a liberdade de pensamento principalmente dentro das universidades e o livre comércio.

    "O tamanho do estrago que um governo é capaz de fazer em uma economia é algo que jamais deve ser subestimado."

    Um grande abraço.
  • Julio Cesar  20/05/2013 16:35
    Leandro,o grande problema do Brasil foi se importar muito com a inflacao e deixar os outros problemas de lado,a taxa de juros no Brasil durante o governo FHC foi algo ridiculo contra producente ao cresciemtno da economia e que ela por si mesmo fazia deficts nominal incriveis que por sua vez trazia instabilidade na economia,o Brasil do governo FHC fez uma das piores politicas economicas da historia economica,se auto sabotando com uma taxa de juros que em media durante o governo foi de 30% e uma elevacao da carga tributaria de 25% para 35%,para custear a taxa de juros,para se ter uma ideia no ano 1995 o governo se auto provocou uma recessao para frear o consumo na epoca o Brasil crescia a 6% ao ano com uma inflacao de 15% para jogar a inflacao na casa de um digito foi provocada uma recessao na qual o Brasil so veio a se recuerar no segundo mandato do governo lula,ou seja Leandro como ao contrario que pensa o grande culpado pelo fracasso do Brasil foi a inflacao mais so quedo lado inverso a politica economica contra a inflacao levou o Brasil ao fracasso,uma das unicas coisas boas foi a politica expansionista do Arminio Fraga que oi responsavel por uma certa retomada da economia brasileira em 1999 assim como uma taxa de juros mais civilizada mais nao muito,Leandro isso é fazer analise economica nao proselitismo ideologico,essa e a real analise da economia brasileira discorda?
  • Leandro  20/05/2013 16:54
    Pelo que consegui entender, você está dizendo que o segundo mandato de FHC foi melhor que o primeiro justamente porque a inflação ficou em segundo plano. Discordo completamente. Aliás, a população brasileira também. Tanto é que os índices de popularidade do primeiro mandato são amplamente superiores aos do segundo. Adicionalmente, as taxas de crescimento do PIB foram maiores no primeiro mandato do que no segundo. Não que eu acredite em PIB, mas é simplesmente errado crer que mais inflação gera mais crescimento e que menos inflação gera menos crescimento. Fosse assim, a Suíça seria um país paupérrimo.

    Inflação nunca é solução e nem nunca ajuda em nada. Ao contrário: ela só cria distorções e instabilidades.
  • anônimo  20/05/2013 22:11
    Falou tudo. Se fosse assim, o Japão seria um país paupérrimo e o Zimbabwe um país rico.
  • Julio Cesar  20/05/2013 17:47
    Nao,eu quero dizer que o caombate a inflacao levou o Brasil ao FMI e o Brasil teve um cresciemnto menor no segundo mandato por causa de ja estar quebrado no FMI,seujeito a superavit primario de mais de 4% que por sua vez acaba com todo dinamismo da economia vindo dos gastos publicos vide mutiplicador keynesiano ou vc vai refutar o mutiplicador keynesiano e ainda por cima com taxa de juros de por volta de 25 30 porcento durante todo o mandato transforma esse superavit em defict nominal,o segundo mandato e consequencia do primeiro,a politca contra a inflacao transformou o governo promissor de FHC em um desastre,muito melhor seria indexar toda a economia e conviver com uma inflacao de 20% idexada e uma economia fiscal em ordem,cresciemento elevado,superavit nominal,como se sabe inflacao e bom para o lado fiscal da economia nao deixando a razao divida PIB aumentar ou e melhor ficar com superavit primario de 4% como fator recessivo e taxa de juros 30% levando o pais a sucessivos resgates?
  • Marcio  20/05/2013 16:51
    É pra rir ou pra chorar?:

    Cultura brasileira ruim? Quem sabe vocês preferem a cultura americana, a do país que mais faz guerra no mundo. Que tal a cultura europeia, que gosta de abrir mão de seus benefícios sociais em troca de uma moeda forte?

    A última frase quase me fez desistir de viver.
  • anonimo  20/05/2013 17:03
    Boa tarde.

    Muito bom esse texto, mas gostaria de saber se é possível e aceitável um Currency Board com ouro? Algo como o que a Singapura faz, só que ao invés de fazer com uma cesta de moedas faria com ouro?
    Não seria um sistema mais confiável?
    E também não poderia fazer um sistema sem nenhum Banco Central mexendo no câmbio? seria um problema do importador ou exportador comprar ou vender a moeda que ele quer, uma situação em que o livre mercado é que resolveria o problema?

    Desculpe pelas várias perguntas e desde já agradeço.

    Obrigado e tenha um bom dia.
  • Leandro  20/05/2013 17:10
    Um Currency Board lastreado em ouro seria excelente.

    A Gold-based Currency Board, Please

    Quanto a um Banco Central livre, como esse que você sugeriu, ele funcionaria satisfatoriamente apenas se fosse gerido por alemães. Mas nada supera um Currency Board com lastro em ouro.

    Abraço!
  • anonimo  20/05/2013 23:12
    Boa noite.

    Muito interessante o artigo, acho que seria um sistema bastante confiável, pena que não seria possível de ser feito nos termos do artigo, por aqui, falariam em soberania nacional, sistema de leis, mas talvez um currency lastreado em ouro, presente aqui, é claro que seria menos confiável do que se estivesse na Suiça, mas...

    Obrigado pela pronta resposta e tenha um bom dia.
  • Lopes  20/05/2013 17:29
    Leandro, perdoe-me, esqueci de parabenizá-lo por mais um excelente artigo que a mim serve de inspiração para prosseguir meus estudos das desnecessariamente complexas ciências econômicas. É um tanto impressionante o contraste entre os malabarismos mercantis elaborados para justificar e mecanizar a intervenção governamental e a manifestação tomada pelo mercado durante a inexistência desses.

    Seria de muitíssimo valor caso você elaborasse uma curta série de artigos estruturando toda a história das políticas intervencionistas(Desde o controle de preços às reservas fracionárias e subsídios creditícios em operação na modernidade) e seus impactos tanto à destruição dos mercados nas quais foram implementadas como na forma que influenciam negativamente ou positivamente o pensamento econômico moderno. Ou meramente uma análise aprofundada da árvore genealógica da prática do intervencionismo econômico em nosso domínio tupiniquim. Admito que exploraria a mais predatória das "mais-valias" de tal artigo se pelo IMB brasileiro fosse elaborado.

    Novamente, excelente artigo e abordagem histórica.

    (Aos interessados em uma experiência semelhante porém teórica à minha sugestão, procurem as aulas da história do pensamento econômico na ala de multimídia)
  • Leandro  20/05/2013 17:43
    Prezado Lopes, para uma empreitada de tamanha ambição, eu teria de contar com a inestimável envergadura intelectual do "Típico Filósofo". Apenas ele saberia como expressar, com a eloqüência necessária, a magnanimidade de todos os nossos planos econômicos, que tanto fizeram "pelo social".

    Junto ao Filósofo, eu seria apenas um esforçado e atento aprendiz. Como sei que ele é seu amigo, estimule-o a entrar em contato comigo.

    Grande abraço e obrigado pelas palavras.
  • Rudson  20/05/2013 18:03
    O Brasil tem um histórico interessante de ciclos econômicos. Em 1854 o Brasil passou a estimular a expansão monetária dos bancos (obviamente sem nenhum lastro) para estimular a economia. Resultado foi uma ilusão de crescimento e uma quebradeira geral em 1864.

    Com a República veio o encilhamento de Rui Barbosa. Mais uma expansão frenética do dinheiro na economia que, mais uma vez, resultou em quebradeira geral, mas desta vez a farra durou pouco.

    Engraçado que nós até já tivemos um período mais ou menos tranquilo graças ao governo Campo Sales e o plano econômico dele, que valorizou a moeda (mas não a deixou paritária, nem atrelou ela ao ouro) e a deixou mais estável. Resultado: crescimento econômico, com investimentos privados em infra-instrutura e indústria. Não fossem as políticas de proteção do valor do café, que faziam com que capitais fossem desviados para aumentar a já estratosférica produção do café , e o crescimento poderia ter sido ainda maior, sem a "superprodução" de café gerada pelo intervencionismo.

    A partir de 1930 a história ficou ainda pior, com mais intervencionismo, mais "vôos de galinha" e tudo que a gente já sabe

    Mas a realidade é que o Brasil nunca teve um capitalismo real. O governo sempre interveio e a atividade economica nacional quase sempre dependeu de favores concedidos pelo estado (protencionimso, juros subsidiádos, subsídios diretos), uma herança herdada de Portugal
  • Lopes  20/05/2013 18:38
    Excelentíssima observação a respeito da má-alocação de capital no café. A oferta de subsídios e salvamentos governamentais pós-taubaté(Formalmente) e até anteriormente o tornarão uma espécie de porto seguro de investimentos garantidos pelo estado, desincentivando os maiores capitalistas do país a correr riscos investindo em setores alternativos, como indústria.

    É imprescindível a compreensão econômica da máxima de que grandes recompensas no mercado podem ser obtidas por riscos. A condição mínima para que um investimento ocorra é que o empreendedor julgue que seu retorno será maior que o preço da insegurança da aplicação quando comparado ao que seria obtido caso o dinheiro fosse mantido em um "porto seguro".

    Entretanto, por que não simplesmente abandonamos o projeto e culpamos os EUA? É mister a confissão de que tal estratégia tão filosófica vem promovendo inúmeros baluartes das ciências sociais a celebridades intelectuais há mais de 100 anos.
  • Arthur Gomes  20/05/2013 19:48
    Parabéns;

    Boa observação, que tal o Leandro fazer um histórico a respeito da nossa moeda e as expansões monetárias ocorridas desde o Império até a República.

    Isso não existe em aula nenhuma de história, seria uma contribuição enorme para o pensamento brasileiro e para os pobres alunos do ensino médio brasileiro.

    Essa educação rasteira que temos em nosso país. Mas a história está montada para acontecer endividamento das famílias, inflação alta e agora crescimento baixo.

    O Japão precisa estudar o Brasil
  • Felipe  24/07/2021 02:49
    Será que um dia teremos um livro contando, em detalhes, sobre a economia na República Velha, sob uma ótica austríaca?
  • TL  21/05/2013 23:18
    Lopes,

    de forma similar ao seu pedido de produção de uma séria de artigos sobre o intervencionismo ao Leandro Roque, eu provoco-o a produzir e publicar seus próprios artigos.

    Você tem um longo histórico como comentarista, desde a época em que você assinava com o nome completo até a época mais recente, quando personificava magistralmente os típicos filósofos e políticos brasileiros.

    Seu conhecimento sobre a ideologia e retórica marxista é uma preciosa fonte para a produção de artigos libertários.
  • Lopes  22/05/2013 13:22
    Caro, TL. Agradeço pela apreciação, apesar do ainda austríaco em gestação que sou. Venho realizando a leitura de artigos deste portal há tempo insuficiente quando comparado ao Getúlio Malveira, ao André Cavalcante e ao Faccioni. Debruço-me em comparações marxistas e neoclássicas frente austríacas sobre situações específicas à procura de pontos argumentativos onde a defesa da liberdade tornar-se-á sempre a solução mais viável e operante.

    Receio que não seja maior conhecedor que ti, entretanto, agradeço por seu "feedback" e devo também elogiá-lo por suas próprias postagens, que são sempre abrangentes e esclarecedoras naquilo que visam comunicar.
  • Rudson  20/05/2013 17:38
    Leandro,

    Como um currency board pode funcionar de forma adequada num país que adote um sistema de reservas fracionárias? Como os bancos podem aumentar a quantidade de moeda em circulação dentro do país (em razão das reservas fracionáris), não é possível que logo essa quantidade extrapole as reservas do Currency Board e surja aí um desequilíbrio possivelmente perigoso (mais reais em circulação, por exemplo, do que dólares guardados)?
  • Leandro  20/05/2013 17:54
    Esse é o calcanhar de Aquiles do sistema. Mas há duas defesas plausíveis:

    1) Não havendo proteção aos bancos e sem nenhum emprestados de última instância, os bancos tenderiam a ser mais contidos em suas expansões monetárias;

    2) Caso o cenário acima não fosse respeitado e houvesse um ataque especulativo, o sistema ainda se manteria caso o governo permitisse que a base monetária realmente se contraísse na mesma proporção da queda de reservas internacionais. Isso geraria um acentuado aumento dos juros do mercado interbancário, atraindo capitais externos e reequilibrando a situação. Agora, caso o cenário 1 fosse seguidamente desrespeitado, aí de fato o sistema entraria em colapso.

    Ou seja, os proponentes de um Currency Board afirmam que, caso sua ortodoxia seja rigorosamente obedecida, o sistema só entra em colapso se os bancos forem freqüentemente temerários -- algo impossível em um cenário sem seguros para depósitos e sem um emprestador de última instância.

    Abraços!
  • Pobre paulista  20/05/2013 18:10
    Mas com um currency board, o país que o adotou não estaria exposto às políticas monetárias do país emissor da moeda lastro?
  • Leandro  20/05/2013 18:25
    Correto. Daí a importância de se escolher uma boa âncora. Bulgária e Estônia correram para o marco alemão, e se deram bem.
  • Andre Cavalcante  21/05/2013 14:14
    Leandro,

    O dólar seria uma boa âncora para o Brasil, ou seria a única alternativa?

  • Leandro  21/05/2013 14:25
    Em 1994 era a única opção. Atualmente, o euro é mais estável, mas somente porque os bancos europeus são zumbis. Como os bancos europeus ainda estão com seus balancetes severamente afetados em decorrência do estouro da bolha imobiliária europeia, eles não estão expandindo o crédito, como explicado neste artigo. Sendo assim, o euro, por não estar sendo inflacionado, se mantém forte.

    Escolher qual é a melhor âncora vai depender de qual moeda o país mais utiliza em seu comércio exterior.

    O bom de um arranjo com Currency Board é que ele pode ser defendido por partidos políticos liberais que defendem o federalismo e a concorrência de moedas. Por exemplo, um partido pode defender que um determinado estado da federação tenha uma moeda própria que seria emitida por um Currency Board privado (com sede na Suíça) que utilize o euro como lastro. Tal moeda passaria a concorrer com o real e as pessoas teria plena liberdade para utilizá-la ou não. Esse seria o primeiro passo para uma livre concorrência de moedas.
  • Lopes  20/05/2013 18:32
    Rudson, é possível articular uma defesa contra seu questionamento devido à ausência da política monetária do Currency Board ao mantenimento de um possível sistema de reservas fracionárias, o que desincentivaria(Porém não garantiria) as instituições bancárias a elevarem sua alavancagem acima de 1:1 dado que não existirá um emprestador de última instância(Atividade monetária do BACEN) para salvá-los em situações de estresse como uma corrida aos bancos.

    Lembrá-lo-ei como adendo de que apesar de o sistema de reservas fracionárias consistir numa atividade legal, ele é à grosso modo pura oferta de dinheiro inexistente; ou seja, uma fraude ética. Havendo uma rígida defesa à propriedade, é questionável que tal sistema viria à existência. Na realidade, era considerado ilegal o empréstimo acima das reservas bancárias até 1698, quando tal atitude fora validada pelo Bank of England(Perdoem-me por qualquer equívoco histórico dada a tradição holandesa junto ao pioneirismo bancário).

    Obs: Lembrá-lo-ei a máxima mercantil de que a ineficiência de hoje é a oportunidade de grande lucro amanhã. Nos casos de uma tragédia como aquela descrita em seu comentário, o rendimento a.a das aplicações em tais bancos desesperados por solvência poderia vir a atrair capital externo em minha concepção e aumentado a quantidade de moeda estrangeira nas reservas fracionárias.

    (Perdoe-me se cometi algum erro.)
  • Pedro Ivo  20/05/2013 18:21
    Leandro, no gráfico 16 (inadimplência dos brasileiros junto ao sistema financeiro), no ano de 2006, houve uma queda repentina no endividamento do patamar de 22bi para uns 12bi. Em seguida um aumento igualmente repentino pada mais de 25bi e queda subsequente e repentina para o patamer de 12 bi novamente; e, de novo, um repentino aumento do endividamento para 25bi. O gráfico fica num curioso formato de 2 chifres de ponta-cabeça, dada a linearidade e rapidez das quedas e subidas. Que aconteceu naquele ano para provocar este comportamentos tão abruptos?
  • Leandro  20/05/2013 18:27
    Certamente foi um dado lançado erroneamente no sistema por um sonolento e entediado burocrata do Bacen. Aliás, há várias séries no Bacen que apresentam este mesmo problema. É mais corriqueiro do que se imagina.
  • Pobre paulista  20/05/2013 18:39
    Pode ter sido uma "mudança nos métodos de avaliação" que foi feito e desfeito várias vezes. Acontece com o PIB também. Curiosamente sempre com resultados para cima.
  • Pedro Ivo  20/05/2013 20:11
    Porra, Leandro e Pobre Paulista: depois destas 2 explicações perdi minha fé na estatística. Só de pensar nos 4 anos de faculdade estudando psicometria...

    Mas falando sério: [1] se for por mudança de método, então há um gráfico contínuo a partir de dados não-comensuráveis (porque métodos diferentes coletam dados diferentes. Não é assim?)?! [2] Se por erro de tabulação, então nem a automatização da data-base foi completada?! - Eu entendi direito?! É este mesmo o grau de amadorismo destes caras?! Já não basta as arbitrariedades políticas que eles praticam com seu planejamento neo-positivista e pseudo-teoria-econômica, mas ainda por cima (se entendi direito), eles sequer tem certeza da compatibilidade entre dados e métodos que usam para planejar, nem da precisão? É isto?!
  • Pobre Paulista  21/05/2013 01:11
    Ué, pra que fazer direito? Eles não lucram nada, nem competem com ninguém... é óbvio que vai ser mal feito!
  • Pedro Ivo  21/05/2013 12:24
    Ahhhhhhh é! Verdade! Tinha me esquecido.
  • Glaucio  21/05/2013 14:47
    Leandro, onde está o artigo contando sobre a criação do banco da Inglaterra? Procurei e nao achei, foi retirado?
  • Leandro  21/05/2013 14:53
    Você deve estar se referindo a este artigo:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=907

    E não, nunca tiramos artigos nenhum do ar.
  • Sergio  20/05/2013 19:41
    Leandro,

    Obrigado mais uma vez pelo brilhante e didático artigo.
    Aprendo muito com o instituto Mises.

    A cada dia tenho ficado mais e mais preocupado com os efeitos nefastos que virão com uma política econômica tão desastrada. Seria pedir muito um artigo que sintetizasse o que o indivíduo pode já começar a fazer para se proteger das consequências que estão por vir?

    Um abraço.
  • Equipe IMB  20/05/2013 19:59
    Sobre dicas de investimento e formas de proteger a poupança, recomendamos este site comandado pelo Helio Beltrão, pelo Fernando Ulrich e pelo Jonas Fagá.

    opontobase.com.br/
  • Bernardo  20/05/2013 20:04
    Leandro,
    Parabéns por mais este texto. Divertidíssimo e esclarecedor como sempre.
    Minhas dúvidas de hoje não são especificamente sobre ele, mas sobre as consequências dos fatos nele narrados em nosso vida: o que podemos fazer? O que devemos fazer?
    Alguém aqui do Mises já pensou em alguma alternativa válida?
    - Mudar-se para a Nova Zelândia (ou para a Áustria, como você)?
    - Continuar lendo, conversando, aprofundando-se nesses temas como forma de passatempo?
    - Tentar um golpe de Estado de "seis contra o resto"?
    - Encher a cara no bar enquanto sacaneia os colegas governistas?
    - Candidatar-se, fundar um partido (tendo a sensatez de saber que nada vai mudar)?
    - Estudar, dar aulas e acreditar que daqui a 100 anos as coisas vão melhorar?
    - Meter-se no cerne da confusão para tentar resolver as coisas de dentro (Ministério do Planejamento, da Fazenda, Banco Central... - se é que esses órgãos têm alguma autonomia)?
    - Parar de ler o Mises e passar a ler a Carta Capital?
    Sei que vocês, como bons libertários, acham que cada um tem liberdade para fazer o que bem entender. Mas o que eu quero é fazer alguma coisa em relação a isso tudo que leio por aqui e, por isso, acho mais fácil encontrar alguns revoltados exatamente entre os leitores do site.
    Grande abraço e espero que 100 anos passem rápido.
    PS 1: alguma indicação de leitura sobre as influências do Estado em nossa indústria automobilística (com suas margens de lucro gigantescas, o que não é crime, mas poderia indicar um cartel, o que também não é crime - para mim - mas reduz o bem-estar dos consumidores)?
    PS 2: já foi estudado alguma coisa por aqui sobre possíveis consequências positivas (lógico que não) das injeções de dinheiro na economia pelo BC? Pergunto isso pois indaguei-me se as recessões acentuadas no final dos períodos de pujança não seriam compensadas pelo maior crescimento durante esses períodos.
  • Lopes  20/05/2013 23:09
    Bernardo, a expansão de crédito consiste em destruição de capital derivada de sua má-alocação em setores aos quais não havia demanda real. Ele não é derivada de poupança e a falsa sensação de abundância resulta inevitavelmente em estagnação(Devido ao período de realocação de recursos. Pode variar de acordo com a volatilidade burocrática da economia e com a facilidade de alocação de capital, além de um programa de "austeridade" do governo que não consista em um aumento de impostos durante um período de deflação), inadimplência altíssima entre consumidores(E por conseguinte, maior compromisso da renda das famílias com serviço de dívida), recessão(Pois o aumento artificial da demanda terá fim), entre outras inúmeras consequências da descoordenação dos interesses de produtores para com consumidores.

    É mister inocular também as velhas proposições de John Stuart Mill e os adendos de Hayek, que estabelecem a diferenciação do uso da poupança empreendedora para a produção de bens comerciais e bens de capitais, onde ambas são inversamente proporcionais; ou seja, quando ocorrer o aumento da primeira(Durante uma expansão artificial de crédito, por exemplo), a segunda tenderá a desacelerar.

    O próprio São Leandro Roque(padroeiro da área de comentários e autor do artigo), elaborara um artigo a respeito da questão dos automóveis:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1027

    Sobre a agitação "revolucionária" do IMB:

    *Bernardo Santoro, aluno do professor Ubiratan e excelente libertário, está há anos buscando a criação de um partido defensor da ideologia no Brasil, o Líber.
    *Devido à condição de minoria nossa e à própria natureza do meio intelectual brasileiro, antagonista do individualismo metodológico e do direito natural; encontramo-nos crescendo na periferia. Entretanto, os pensamentos libertário, liberal e conservador(Os três públicos que utilizam este portal) vêm crescendo aceleradamente nos últimos anos.
    *O EPL(Estudantes pela Liberdade) junto ao IMB está disponibilizando apostilas e auxílio geral na formação de grupos de estudos da Escola Austríaca.
    *Hélio Beltrão foi um dos principais responsáveis pela expansão do Fórum da Liberdade ao seu tamanho atual, além de haver fundado o próprio IMB.
    *O movimento libertário cresce aceleradamente no Brasil através da internet, tornando o país um caso de crescimento crescimento acelerado da defesa do direito natural ímpar na América do Sul.
    *O IMB realiza inúmeras palestras anualmente junto ao EPL e à outras organizações liberais/libertárias.
    *Há também a contribuição de inúmeros usuários e autores do IMB para a adaptação da inteligência econômica austríaca e do direito natural a outros portais e públicos, como o YouTube e o mercado financeiro(Ver opontobase.com).

    Recomendá-lo-ei que não se prenda ao pensamento errôneo e inocentemente cínico de que esta comunidade é inativa na defesa da liberdade. Tendo eu estudado o lento desenvolvimento do pensamento austríaco em outras partes do mundo, testemunho em prol do caso ímpar brasileiro, onde o IMB é peça chave para a defesa do livre-mercado e do direito natural.
  • Bernardo  21/05/2013 02:45
    "Camarada" Lopes,
    Obrigado pela atenção, boa vontade e ajuda.
    Peço desculpas se pareci menosprezar o trabalho do IMB em prol da liberdade, isso nunca passou pela minha cabeça. Mesmo sem conhecer as ações práticas do instituto, já valorizava muito o trabalho exposto no site, sabendo que isso já representa a semeadura de muitas árvores que ainda darão mts frutos. O que eu queria era exatamente conhecer mais sobre as árvores que já estão mais desenvolvidas e tentar ajudá-las de alguma maneira. Gostaria de saber se vcs têm alguma estratégia de atuação definida, ou se, por ora, investem apenas na divulgação e ensino das idéias libertárias, o que não deve ser entendido de maneira alguma como forma de menosprezar a atuação do IMB.
    Cheguei a sentir-me como um "filósofo", um "pensador" ou um "camarada Krugman" sendo levado a sério em minhas brincadeiras...
    Sobre minhas questões, obrigado pelo link para o artigo e pela resposta à primeira indagação. Entretanto, não fiquei plenamente satisfeito com esta: enxergo os malefícios de se inflar a bolha quando ela estoura, mas será que o desenvolvimento gerado durante sua expansão não acabaria compensando os problemas do estouro, fazendo com que a situação ficasse igual a de um mundo sem expansão artificial do crédito (sem reservas fracionárias e um BC injetando dinheiro continuamente)?
    Vc disse que os investimentos mal feitos seriam destruição de capital, mas isso me pareceu exagerado. Ele gerou empregos e riqueza e,mesmo que não produzam agora, virão a produzir no futuro. Não serão jogados no lixo.
    Não estou defendendo o modelo, sei que esses desequilíbrios deveriam ser evitados, mas estou estressando para ver se num longo período de tempo as reservas fracionárias não poderiam gerar um desenvolvimento ainda maior do que um modelo de reservas 100%. Imagino que neste último tudo ficaria continuamente mais barato, mas será que juros mais altos não poderiam conter muito os investimentos produtivos, retardando o nível de desenvolvimento?
    Mais uma vez, agradeço sua solicitude e o parabenizo também por seus diversos comentários (sob diversos pseudônimos?) em vários textos aqui do site.
    Saudações libertárias.
  • TL  21/05/2013 14:45
    Prezado Bernardo.

    Dado que uma parcela do seu comentário é referente a questões institucionais do Mises Brasil, é importante informar que meu comentário é exclusivamente uma opinião de um leitor referente ao Instituto Mises Brasil (IMB). Quanto a parte conceitual de seu questionamento, eu me abstenho, pois esse comentário está extenso.

    -------------------------------------------------------
    Mesmo sem conhecer as ações práticas do instituto, já valorizava muito o trabalho exposto no site, sabendo que isso já representa a semeadura de muitas árvores que ainda darão mts frutos.

    Cabe aqui um comentário importante. Uma ação prática do IMB é a manutenção do próprio site! Uma grande quantidade de energia, pessoas e capital estão investidos nessa maravilhosa empreitada. Listo alguns dos serviços prestados pela equipe IMB:

    (1) Tradução de livros
    (2) Tradução de artigos
    (3) Promoção de material multimídia
    (4) Escrita de artigos originais sobre a economia brasileira
    (5) Manutenção da seção de comentários, que tem conteúdo tão rico quanto os próprios artigos
    (6) Promoção e apoio a diversos eventos para promoção das ideias da liberdade e da Escola Austríaca de Economia
    (7) Por último, destaco a atuação do Leandro Roque. Além de ser um excelente articulador e tradutor, a sua participação na seção de comentários é um grande diferencial do IMB. Creio, que da mesma forma que eu, muitos leitores foram instigados a estudarem as ideias promovidas pelo IMB através do colossal esforço do Leandro Roque, que modera muitos artigos, responde gentilmente e astutamente a todos os tipos de questionamentos, desde os mais tolos até os mais desafiadores. O Leandro tem sido fundamental para o sucesso do IMB e para disseminação das ideias da liberdade. Eu sou extremamente grato ao IMB e ao Leandro.

    Em relação aos demais tipos de ações promovidas pelo IMB, por favor, acesse:

    (1) Lista de artigos assinados pelo próprio IMB. Alguns dos artigos relatam eventos ocorridos.
    (2) Eventos futuros
    (3) Página do IMB no facebook
    (4) Seção multimídia: podcast, seminários e debates

    -------------------------------------------------------
    O que eu queria era exatamente conhecer mais sobre as árvores que já estão mais desenvolvidas e tentar ajudá-las de alguma maneira

    No meu caso, não disponho do tempo necessário e, principalmente, não sou um profundo conhecedor das ideias da liberdade e da Escola Austríaca de Economia [como também das ideias dos adversários] ao ponto de contribuir na difusão das ideias e/ou no campo teórico. Disso, resta administrar o meu desenvolvimento intelectual sobre o assunto, a minha contribuição na seção de comentários [quando possível], a indicação de leitura de livros e artigos para amigos e familiares, e, certamente, a minha contribuição mais relevante para a disseminação das ideias da liberdade é o meu modestíssimo apoio financeiro mensal.
  • Bernardo  21/05/2013 20:42
    Prezado TL. Muitíssimo obrigado!
    Mesmo não sendo uma resposta institucional, ajudou-me imensamente.
    Você está certíssimo! É óbvio que a manutenção do site já demanda um trabalho hercúleo! É algo maravilhoso. Peço desculpas caso tenha parecido menosprezar o trabalho do IMB. Sou grande fã, leitor assíduo e contribuinte voluntário (existe outra forma de ser chamado de "contribuinte"? Ahhh, existe...).
    Confundi "iniciativa prática" com ação de mudança radical e imediata. Peço desculpas por minha pressa e ansiedade. Mal da geração Y...
    Ainda assim, meu comentário foi bom para conhecer mais sobre o site e para trocar ideias com você e o Lopes.
    Acompanharei e tentarei participar dos eventos, farei compras e doações e tentarei continuar semeando as ideias libertárias entre amigos e familiares.
    Espero que, um dia, alcancemos os resultados desejados.
    Sei que estudar, manter o site, organizar eventos, participar deles, dar aulas, palestras, debater e escrever artigos deve dar um trabalho danado e pode trazer grande satisfação para os envolvidos. Mas também acredito que, por mais prazeroso e divertido que isso possa ser, os membros do IMB gostariam de ver mudanças em nossa realidade político-econômica, assim como eu. Daí meu comentário inicial.
    Mas entendo que tenho que ser mais paciente. É verdade. A estrada ainda é longa. Mas vamos continuar tentando.
    Obrigado TL. Obrigado Lopes.
    E muito obrigado ao Leandro Roque. Faço minhas as palavras do TL sobre ele.
    Abraços a todos.
  • Lopes  21/05/2013 20:51
    Caro Bernardo, perdoe-me por não haver dedicado texto suficiente para a discussão do tema relativo à destruição de capital por haver priorizado as práticas institucionais do IMB como defensor do direito natural, do individualismo metodológico, do valor subjetivo, entre todas as outras idéias que vêm graças ao instituto, crescendo em relevância fora do meio acadêmico.

    Devido a meu dia ocupado dado que estou a enfrentar a maior pressão seletiva já enfrentada pela raça humana(A receita federal) e sua arbitrária fiscalização sobre movimentação de capital que me levaram à uma revoltante e virtualmente intransponível situação financeira empresarial. Em resumo, alertá-lo-ei que o estresse de empreendedor brasileiro está a matar-me. Por tal motivo, faço meu o excelentíssimo texto de São Leandro:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1514
    www.mises.org.br/Article.aspx?id=786 (George Reisman. Uma leitura adicional)
    www.mises.org.br/Article.aspx?id=813 (Estudo "laboratorial" da TACE para alimentar o discurso dos artigos acima com casos práticos)

    Investimentos errôneos consistem em mera má-alocação de recursos e capitais que tornam os consumidores mais pobres do que esses eram tanto durante o momento da expansão(Onde a oferta de crédito surge para criar o sentimento romântico de uma economia robusta e em expansão) como após essa.

    O Leandro, algumas postagens abaixo de mim, posicionou uma excelente explicação mais completa.

    Perdoe-me por não haver decifrado seus interesses no comentário original.
  • Bernardo  22/05/2013 03:58
    Lopes, suas desculpas são completamente desnecessárias. Eu que agradeço imensamente sua atenção, ajuda e paciência. Espero, em contrapartida, estar proporcionando-lhe um pouco de diversão nos momentos em que a receita, a secretaria de fazenda, o ministério do trabalho etc deixam-no um pouco em paz...
    Unificarei nossa discussão numa resposta ao comentário do Leandro. Espero que vc encontre um pouco de tempo para continuar participando.
    Sobre suas reclamações quanto às dificuldades de empreender no Brasil, que ideia vc teve também, né???? Tanto país mais sério do que o nosso. Tanto concurso público pagando bem por aí. Tanta estatal para se encostar. Tanta bolsa isso e aquilo para se receber. E vc escolhe empreender????
    Brincadeiras à parte (ou quase), cuidado com reclamações dessa natureza que vc faz aqui no Mises. Vai que um Galt ou um D'Anconia está à espreita?
    Abraços e boa sorte com esse sócio mala, que não integraliza um real, mas que te cobra um payout de 35%.
  • Rhyan  20/05/2013 21:27
    Mais um artigo primoroso do sr. Leandro Roque!

    Leandro, no outro artigo sobre o real, você disse que teria sido melhor se tivéssemos adotado o dólar como moeda. Qual a diferença entre o currency board com âncora no dólar e a dolarização da economia (ou qualquer outra moeda)? Qual é mais vantajoso?

    Obrigado, abraço!
  • Leandro  21/05/2013 00:26
    Rhyan, a diferença é técnica:

    Segundo os proponentes do Currency Board, quando você passa a usar diretamente uma moeda estrangeira, você transfere para o país emissor da moeda todos os ganhos de senhoriagem. Já quando você tem um Currency Board -- e considerando-se o fato de que as reservas do Currency Board estão investidas em títulos americanos --, os ganhos de senhoriagem ficam com o próprio país.

    Explicando melhor: o Currency Board aufere receitas com a aplicação de suas reservas em títulos americanos. E seus custos operacionais são a impressão de moeda nacional. Essa diferença entre receita e custos tende a ser substantiva, e é majoritariamente transferida para o governo nacional. O Currency Board, portanto, gera receitas para o governo nacional. Já a adoção direta de uma moeda estrangeira, não.

    Fora isso, a dolarização não deixa espaço para qualquer chance de desvalorização cambial repentina, o que aumenta a confiança no regime.

    Grande abraço e obrigado pelo elogio.
  • Gustavo Leitte  04/08/2014 00:56
    Um país grande como o Brasil adotando o dólar como moeda poderia influenciar no valor do dólar em relação a outras moedas do mundo ou não?
  • andre  20/05/2013 23:23
    Percebo que a a cada ano fica mais dificil manter minhas economias livres da inflação.
    Viva o ouro e a dupla cidadania....
  • EUDES  21/05/2013 01:57
    Leandro, mais um excelente artigo seu. Mesmo com o tempo muito escasso, senti-me obrigado a separar um tempo para lê-lo. Texto dessa qualidade, somente aqui mesmo.
  • Leandro  21/05/2013 11:34
    Gentileza extremada e imerecida, prezado Eudes. Obrigado pela consideração.

    Forte abraço!
  • Halfed  21/05/2013 04:31
    Eu sou apenas interessado nos assuntos debatidos aqui. Simpatizo com essas idéias de liberdade.
    Mas eu tenho sempre uma percepção quando eu acesso este blog, de que existe aqui uma soberba, uma superioridade, um ar de "eles estão fazendo tudo errado!", ou "esses caras não sabem nada!".
    É só uma percepção, sem ofensas.

    Abraços
  • Marcio Araujo  21/05/2013 11:33
    É verdade, Halfed. A sensação de impotência é enorme. Você sabe que a coisa tá errada, você sente que tá tudo se encaminhando para um curso perigoso, e no entanto você não pode fazer nada. Sendo assim, qual a alternativa senão tentar comunicar às pessoas e explicar minuciosamente o que se passa? É isso o que faz este site.

    De resto, qualquer um é livre para vir aqui e tentar argumentar, mostrando por que o raciocínio apresentado é errado. Apenas vir aqui reclamar que há pessoas explicando por meio de raciocínios econômicos o que está errado na política econômica do país não é postura de debatedor. É só uma percepção minha sobre você, sem ofensas.

    Abraços!
  • José Ricardo das Chagas Monteiro  21/05/2013 13:53
    Saudações, aprendi nesse síto não considerar o PIB como referencial, e agora ele está sendo utilizado, apesar de não prejudicar em quase nada o conteúdo.
  • Leandro  21/05/2013 14:04
    Em absolutamente nenhum momento o PIB foi utilizado no artigo como referencial. Aliás, a expressão "PIB" aparece no texto somente em dois momentos, nas seguintes frases:

    "o governo ainda apresentava um déficit orçamentário de aproximadamente 7% do PIB (não havia sequer superávit primário)"

    "tecnocratas a serviço de políticos populistas — que só pensam em popularidade e em alguns décimos de PIB"

    Não entendi a crítica.

  • José Ricardo das Chagas Monteiro  22/05/2013 12:34
    Saudações, desculpe, não tive a intenção de fazer crítica, tinha certeza que fazendo uma releitura do texto cuidadosamente descobriria meu engano. Entendi agora, quando você menciona que o governo ainda apresentava um déficit orçamentário de aproximadamente 7% do PIB (não havia sequer superávit primário) , você está querendo dizer que o governo usa de referenciais contraditórios, não foi você.
    A mesma coisa acontece quando você menciona tecnocratas a serviço de políticos populistas — que só pensam em popularidade e em alguns décimos de PIB , você está querendo dizer que o governo tem perfeita consciência o efeito da ação? Não é sua intenção, você quando ensina a não considerar o PIB para nada, apenas com termo de manipulação.
    Grato, agora entendi, não?
  • Emerson Luis  21/05/2013 18:28
    Muito bom, Leandro!

    Dúvida:

    Lembro de uma época em que o dólar estava congelado no Brasil, mas por causa de uma crise ele foi descongelado e por causa disso a balança comercial com a Argentina se desequilibrou fortemente contra ela, que (segundo diziam) tinha o peso atrelado ao dólar ou algo assim.

    Pode me explicar, por favor?

    * * *
  • Leandro  21/05/2013 19:31
    Emerson, você deve estar se referindo à crise cambial de 1999 no Brasil. O efeito disso sobre a Argentina foi explicado em detalhes no artigo sobre os percalços econômicos da Argentina:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1562

    Abraços!
  • IRCR  21/05/2013 18:48
    Leandro.

    No caso de Hong kong que desde 2004 vem apresentando uma grande inflação de preços media 4% (alta para uma economia desenvolvida). Lá a balança comercial é negativa desde final da decada de 70. As reservas estrangeiras sobem o fluxo de capital desce ao passar do tempo.

    Qual é o motivo disso ? já que usam uma currency board
  • Leandro  21/05/2013 19:41
    Balança comercial não tem peso nenhum, pois ela é apenas um componente do balanço de pagamentos, que é o que realmente define a variação das reservas internacionais.

    Ademais, sob um Currency Board, é sim possível as reservas internacionais diminuírem mas a quantidade de dinheiro na economia ( por exemplo, o M2) aumentar: isso chama-se sistema bancário de reservas fracionárias, cuja operação não é (e nem deve ser) regulada pelo Currency Board.

    Obs: a inflação de preços média de Hong Kong desde 2004 é de 2%.
  • anônimo  21/05/2013 19:50
    alguém poderia responder a pergunta feita acima?

    "Entretanto, não fiquei plenamente satisfeito com esta: enxergo os malefícios de se inflar a bolha quando ela estoura, mas será que o desenvolvimento gerado durante sua expansão não acabaria compensando os problemas do estouro, fazendo com que a situação ficasse igual a de um mundo sem expansão artificial do crédito (sem reservas fracionárias e um BC injetando dinheiro continuamente)?"
  • Leandro  21/05/2013 20:10
    Isso é uma enorme falácia. Bolhas não geram desenvolvimentos; bolhas geram apenas uma má alocação e uma consequente destruição de capital. Bolhas fazem com que recursos escassos sejam imobilizados em empreendimentos para os quais não há -- e nem nunca houve -- genuína demanda.

    Durante uma recessão gerada pelo estouro de uma bolha, os consumidores estão mais pobres do que antes justamente por causa de todos os investimentos errôneos e insustentáveis que foram empreendidos em decorrência da expansão artificial do crédito, investimentos estes que imobilizaram capital e recursos escassos para seus projetos, recursos estes que agora não mais estão disponíveis para serem utilizados em outros setores da economia. No geral, a economia está agora com menos capital e menos recursos escassos disponíveis. Capitais e recursos escassos foram desperdiçados na construção de imóveis e de outros empreendimentos sem demanda, capitais e recursos que poderiam estar hoje sendo aplicados em outros setores da economia.

    Este capital se encontra agora destruído (ou com um valor extremamente reduzido). A recessão nada mais é do que o período de reajuste desta estrutura de produção que foi distorcida pela expansão do crédito bancário e pela distorção das taxas de juros.

    Portanto, para acabar com uma recessão, é preciso fazer com que este capital mal investido seja liquidado e que os investimentos sejam voltados para áreas em que haja genuína demanda dos consumidores. O governo fazer políticas que estimulem a demanda agregada, de modo a não permitir que haja essa reestruturação do capital, irá apenas prolongar a recessão. O governo elevar impostos e incorrer em déficits irá apenas retirar poupança do setor privado, justamente em um momento em que ele mais necessita dela.

    Tudo isso foi explicado em detalhes aqui:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1514
  • Wagner  21/05/2013 20:23
    Não existe melhor exemplo de como recursos são usados de forma incorreta do que uma boa e velha bolha imobiliária:

    Uma bolha faz você alocar recursos nisto:
    www.revide.com.br/media//upload/tinymce/blog2.jpg

    Criando prédios que são abandonados antes de prontos pois não existem consumidores.

    E ai não sobra pra arrumar isso:
    2.bp.blogspot.com/-fcSHVJplLlo/TiiBwwXXeCI/AAAAAAAACOw/lhO5To5PJcQ/s1600/estrada_esburacada.JPG

    Isso é apenas um exemplo - extremamente simplista - dos malefícios de uma bolha. O "crescimento" que sentimos é apenas uma ilusão causada pela injeção de dinheiro na economia.
  • Bernardo  22/05/2013 04:40
    "Anônimo", obrigado por recuperar a questão e Leandro, obrigado pela ajuda. O Lopes já auxiliou bastante, tendo exposto pontos bem alinhados aos seus.
    Parece que tudo está extremamente claro para vcs e gostaria que ficasse para mim também, então continuarei provocando o debate, tendo vcs, obviamente, total liberdade para me ignorar se estiver sendo muito chato ou ignorante.
    Imagine que a produção de um país (para evitar o uso do termo PIB) cresça em ritmo acelerado durante 5 anos, sustentada por juros artificialmente baixos (reservas fracionárias e injeções do BC). Ao final do período, o país enfrenta uma recessão severa durante 3 anos.
    Nesses 8 anos, suponhamos então que a produção de bens tenha crescido 10% e que o desemprego médio tenha ficado em 10%.
    Imaginemos agora que esse país adote um esquema de reservas 100%, sem intromissões estatais nos juros. Preços cairiam constantemente, mas os juros seriam mais altos, pela menor oferta de capital (ou não necessariamente). Os investimentos seriam menores, mas a economia estaria muito mais equilibrada. Entretanto, o crescimento da produção de bens seria menor. Dessa forma, ao final de 8 anos, o crescimento e o desemprego médio não poderiam ter sido dos mesmos 10%?
    Algo que pensei agora: muitos investimentos realizados no primeiro cenário, mas não no segundo, podem ser jogados no lixo. Mas outros não podem trazer resultados espetaculares: novas tecnologias, melhorias consideráveis em infra-estrutura, novos conhecimentos médico-farmacêuticos...
    Sei que os piigs não são exemplo para ninguém, mas será que todos os investimentos realizados durante a bolha foram má alocações que desperdiçaram recursos escassos? Será que num ambiente de juros livres, as estradas, ferrovias, aeroportos, portos (?) e outras infra-estruturas desses países teriam melhorado como melhoraram desde a adoção do Euro? Sei que os Estados incharam-se. Sei que houve escândalos de corrupção. Mas, se desconsiderarmos isso (imaginando que tudo poderia ter sido feito de forma limpa e austera), será que esses investimentos não poderiam ser provas de boas alocações de capital durante bolhas?
    Com relação a investimentos em aumento da capacidade produtiva de indústrias. Mesmo que gerados por enganos provocados pelos juros artificialmente baixos, será que eles serão realmente jogados no lixo?
    Mesmo as milhões de residências desocupadas, será que elas não poderão vir a ser ocupadas no futuro, sem que precisem ser jogadas no lixo?
    Enquanto escrevia meu comentário, percebi que o desequilíbrio gerado na economia pode trazer grandes problemas, dificultando e muito a boa avaliação dos empresários quanto às oportunidades. Mas não seria exagero dizer que a bolha gera apenas destruição de capital? Será que, mesmo de maneira muito mais desorganizada e desequilibrada, ela não nos leva a cenários de riqueza total muito parecido ao de uma economia sem juros artificialmente baixos?
    Grandes abraços.
  • Leandro  22/05/2013 07:57
    O problema é que você está partindo de premissas já erradas. Por exemplo:

    "Imagine que a produção de um país (para evitar o uso do termo PIB) cresça em ritmo acelerado durante 5 anos, sustentada por juros artificialmente baixos (reservas fracionárias e injeções do BC). Ao final do período, o país enfrenta uma recessão severa durante 3 anos."

    Ora, juros artificialmente baixos e expansão monetária não podem, por si sós, gerar "aumento de produção". Produção é algo que depende de bens de capital, e bens de capital não surgem milagrosamente do nada só porque há mais dígitos eletrônicos nas contas bancárias. Isso é o equivalente a dizer que um grupo de náufragos em uma ilha deserta estará em melhor situação se passar um helicóptero e jogar pedaços de papel pintado (dinheiro) sobre essa ilha.

    Veja bem: uma economia apresenta um genuíno crescimento econômico e um genuíno aumento no padrão de vida quando há um aumento da oferta de bens. Isso sim é riqueza genuína. O padrão de vida de um país é determinado pela abundância de bens e serviços. Quanto maior a quantidade de bens e serviços ofertados, e quanto maior a diversidade dessa oferta, maior será o padrão de vida da população. Por exemplo, quanto maior a oferta de alimentos, quanto maior a variedade de restaurantes e de supermercados, de serviços de saúde e de educação, de bens como vestuário, materiais de construção, eletroeletrônicos e livros, de pontos comerciais, de shoppings, de cinemas etc., maior tende a ser a qualidade de vida da população.

    Porém, a quantidade e a diversidade não bastam. A facilidade de acesso a estes bens e serviços -- no caso, quão caros eles são -- também é essencial. Por isso, é de suprema importância termos uma moeda forte.

    Logo, a riqueza real não pode ser aumentada por meio da simples criação de dinheiro e de crédito. Aumentar a quantidade de pedaços de papel na economia (ou de dígitos eletrônicos) não torna uma sociedade mais rica; não aumenta a quantidade de recursos escassos disponíveis, não aumenta a quantidade de materiais para a construção de bens de capital e bens de serviços.

    A riqueza genuína só pode ser criada pela divisão do trabalho, pela poupança, pela acumulação de capital, pela capacidade intelectual da população (se a população for burra, a mão-de-obra terá de ser importada), pelo respeito à propriedade privada (o que implica baixa tributação), pela segurança institucional, pela desregulamentação econômica, pela moeda forte, pela ausência de inflação, pelo empreendedorismo da população, por leis confiáveis e estáveis, por um arcabouço jurídico sensato e independente etc.

    Criar dinheiro e sair concedendo crédito é uma medida que estimula o consumismo imediato e que gera investimentos que, embora pareçam rentáveis, assim que eles ficam prontos revelar-se-ão insustentáveis. Com o tempo, os preços sobem generalizadamente, a expansão do crédito é reduzida, e todos esses investimentos que foram estimulados pela expansão artificial do crédito entram em colapso, pois nunca houve uma demanda genuína por eles. Como os consumidores estão mais endividados e o nível geral de preços da economia aumentou, a demanda irá cair. Aí começa a recessão.

    No final, houve apenas desperdício de recursos escassos e destruição de capital.

    Agora -- e talvez aqui esteja a sua dúvida --, embora aumentos na quantidade de dinheiro não façam a economia crescer, eles de fato alteram a estrutura da mesma; embora variações na oferta monetária não produzam impacto no crescimento agregado da economia, elas certamente afetam a maneira como os recursos da economia são alocados e distribuídos. Ou seja, as variações da oferta monetária determinam como será a estrutura produtiva da economia, mas não o nível da produção. Variações na oferta monetária sempre serão benéficas apenas para o governo e para suas empresas favoritas -- como o setor bancário e os grandes industriais amigos do rei --, que são os primeiros a receber o novo dinheiro criado.

    E aí você continua:

    "Imaginemos agora que esse país adote um esquema de reservas 100%, sem intromissões estatais nos juros. Preços cairiam constantemente, mas os juros seriam mais altos, pela menor oferta de capital (ou não necessariamente). Os investimentos seriam menores, mas a economia estaria muito mais equilibrada. Entretanto, o crescimento da produção de bens seria menor. Dessa forma, ao final de 8 anos, o crescimento e o desemprego médio não poderiam ter sido dos mesmos 10%?"

    Isso não tem lógica econômica. De início, realmente haveria um aumento dos juros. Mas este aumento estimularia as pessoas a pouparem, e tal aumento da poupança tenderia a reduzir novamente os juros. Adicionalmente, dado que agora a oferta monetária está praticamente fixa, não tem como os juros cobrados nos empréstimos serem altos. Afinal, se não há aumento da oferta monetária, é simplesmente impossível sair cobrando juros altos. Juros altos são um fenômeno exclusivo de economias acostumadas a altas inflações. Vide o que ocorreu com a Bulgária, citada neste artigo. Bastou a oferta monetária se tornar restrita, que os juros despencaram. Óbvio: não dá para cobrar juros altos em uma economia de baixa inflação monetária (o tomador de empréstimo simplesmente não teria dinheiro para quitar seu empréstimo). Juros altos, repito, são um fenômeno de economias hiperinflacionadas.


    "Algo que pensei agora: muitos investimentos realizados no primeiro cenário, mas não no segundo, podem ser jogados no lixo. Mas outros não podem trazer resultados espetaculares: novas tecnologias, melhorias consideráveis em infra-estrutura, novos conhecimentos médico-farmacêuticos... Sei que os piigs não são exemplo para ninguém, mas será que todos os investimentos realizados durante a bolha foram má alocações que desperdiçaram recursos escassos? Será que num ambiente de juros livres, as estradas, ferrovias, aeroportos, portos (?) e outras infra-estruturas desses países teriam melhorado como melhoraram desde a adoção do Euro? Sei que os Estados incharam-se. Sei que houve escândalos de corrupção. Mas, se desconsiderarmos isso (imaginando que tudo poderia ter sido feito de forma limpa e austera), será que esses investimentos não poderiam ser provas de boas alocações de capital durante bolhas?"

    Tanto em Portugal quanto na Espanha surgiram aeroportos do nada em cidades minúsculas e estradas foram duplicadas sem absolutamente nenhuma demanda. Hoje, esses aeroportos e essas estradas estão completamente abandonados. Toneladas de cimento, de concreto armado, de vergalhões etc. foram imobilizadas nestes empreendimentos, tornando-se escassos para outros empreendimentos da economia. Como isso pode representar criação de riqueza?

    Grande abraço!
  • Henrique  19/05/2014 18:18
    Apenas ratificando o comentário do Leandro, eu vivi na Espanha por um ano, vou dar um exemplo de como há um desperdício de recursos enorme lá.

    Um país daquele tamanho (aprox. o tamanho do estado de São Paulo) possui nada menos que 76 (não tenho mais a fonte, mas li em um jornal local à época) aeroportos comerciais funcionais.

    Eu vivi na Galicia, é uma das regiões mais pobres da Espanha. O setor mais forte da economia ali é o setor portuário. La Coruña -- onde morei -- possui 250 mil habitantes. A capital galega, Santiago de Compostela, beira os 100 mil habitantes. Vigo, a maior cidade galega, possui 300 mil habitantes. Todas essas cidades possuem aeroportos internacionais e, sendo o de Santiago o maior deles.

    A população galega -- 3 milhões de pessoas -- então tem à sua disposição 3 aeroportos internacionais. Maravilha, não? Se tomarmos como exemplo a população da região metropolitana de São Paulo -- 20 milhões --, eles possuem apenas 2 aeroportos (Guarulhos e Congonhas, se é que dá pra chamar este de aeroporto). Se forçar um pouco a amizade, dá pra considerar Viracopos (100 km distante) como um terceiro aeroporto para a região.

    Entretanto, o único que possui um fluxo justificável para sua existência é o de Santiago. Os aeroportos de Vigo e La Coruña (esse tem apenas 4 portões de embarque e desembarque) ficam às moscas a maior parte do tempo. Já aconteceu de eu ser a única pessoa que não era funcionário do aeroporto dentro das suas instalações.

    Todos (ou pelo menos todos os que conheci) os aeroportos espanhóis são administrados pela estatal Aena, que consegue ser um pouco mais eficiente que a nossa querida Infraero, mas ainda assim é a responsável pela manutenção desses aeroportos deficitários.

    A maior parte da população deve achar uma maravilha 3 aeroportos à sua disposição... Mal sabem eles o alto preço que estão pagando por isso (eles sabem da crise, mas não imaginam que esse suposto conforto é uma das causas dela).

    Embora o governo espanhol seja muito mais eficiente em fornecer infraestrutura do que o brasileiro, não há mágica. No fim, quem paga a conta é SEMPRE a população.
  • Deilton  21/05/2013 19:57
    Pior de tudo é que estas questões macroeconômicas não é o maior dos nossos problemas. O maior problema atual da economia brasileira, na minha visão, é a progressiva reestatização da economia: criação de estatais, fundos de pensão das estatais aumentando sua participação nas grandes empresas nacionais, crescimento da dependência das grandes empresas do crédito concedido pelos bancos públicos, etc.
    Decisões macroeconômicas erradas são fáceis de serem corrigidas, mesmo tendo um alto custo. Reverter essa estatização da economia é algo muito complicado. O pior legado que será deixado pelo PT não será a expansão da oferta monetária e nem aumento do crédito sem poupança que o sustente, nem mesmo o crescimento do assistencialismo, o pior legado do PT (se é que um dia ele sairá do poder) será o tamanho do estado, que cresce a cada dia.
    Essas estatais novas, juntamente com as antigas, seus sindicatos e funcionários cheios de direitos, os servidores públicos federais, estaduais e municipais, e a crença da população na legitimidade disso tudo, esses serão nossos maiores problemas no longo prazo.
    Fico animado quando vejo o crescimento de grupos libertários e conservadores, mas ainda assim, somos minoria. E da minha experiência na faculdade e onde trabalho, posso afirmar que é muito dificil que sejamos maioria um dia nesse país.
    Um dia desses fui almoçar com um colega de trabalho formado e com mestrado em economia e conversando sobre a crise financeira, falei a ele sobre a expansão artificial do crédito, o sistema de reservas fracionárias e seus efeitos sobre a economia. Ele não tem idéia do que se trata.
    Fiquei abismado quando ele disse que o problema é o esgotamento do "modelão" que estava aí. "Hoje todo mundo tem geladeira, televisão, etc, estimular o consumo não é mais a solução".
    Se uma pessoa com mestrado em economia acredita nessas baboseiras, imagina convencer a população de que a crise não foi criada pelo livre mercado.
    Quando falei com esse mesmo colega sobre a bolha imobiliária, ele disse que não há bolha imobiliária no brasil, é só você ver o deficit habitacional. Muita gente ainda não tem casa.
    Não precisa dizer que ele é petista, defende o bolsa família e um estado forte e interversionista.
  • Leandro  21/05/2013 20:08
    Deilton, mas está absolutamente tudo interligado. Toda essa expansão do aparato estatal não seria possível sem uma expansão monetária, e tal expansão monetária não seria possível sem um Banco Central.

    Toda essa conexão foi explicada em detalhes neste artigo:

    Por que o Banco Central é a raiz de todos os males
  • Roger Mendes  23/05/2013 05:22
    Deilton, partilho contigo o sentimento de desespero em ver que nem mesmo a "elite" brasileira compreende as razões reais de nossa situação.

    No tocante a seus comentários sobre o argumento de seu amigo sobre o déficit habitacional.
    O fato é que NECESSIDADE é muito diferente de DEMANDA. Concordo que a população brasileira necessite de casas, assim como necessita de segurança, saúde, transporte, educação e etc. No entanto, esta necessidade não cria automaticamente uma demanda. A "demanda" habitacional que vimos recentemente no Brasil, e que causou o boom imobiliário, foi gerada exclusivamente pela expansão creditícia aos compradores. Hoje é possível financiar uma casa própria pagando pela prestação o mesmo que se pagava há alguns anos pelo aluguel. Resultado: todos compraram casas.

    A necessidade é intrinsica do ser humano, todos necessitamos, em maior ou menor grau, de um produto ou serviço que ainda não temos, ou que queremos mais. No entanto, a demanda propriamente dita só ocorre quando se tem MEIOS para satisfazer esta necessidade, seja por meio da poupança, que reflete o trabalho passado, ou seja através da poupança de outra pessoa, a qual eu pagarei com juros através do meu trabalho futuro. Já o que acontece hoje é que a poupança não é estimulada, e os financiamentos que deveriam ser feitos estritamente através de poupanças a juros compatíveis com o mercado, são feitos com "dinheiro de mentirinha", injetado artificialmente na economia. O reflexo dessa demanda artificial é a subida exorbitante dos preços de imóveis.

    Eu por exemplo tenho uma pequena NECESSIDADE de ter um Camaro Preto, porém não tenho meios para isso. Portanto vou continuar com meu Vectra 97. Caso no futuro eu consiga juntar dinheiro suficiente para comprar um Camaro, ou então vá morar em um país mais sério onde os preços dos produtos sejam mais acessíveis e eu decida por comprá-lo, só então eu estarei gerando uma DEMANDA.
    Pelo ponto de vista do seu amigo "mestre" também há no Brasil uma demanda reprimida de Camaros, pois garanto que pelo menos 60% da população gostaria de ter um. Sob o ponto de vista dele, o governo deveria incentivar as fábricas brasileiras a produzirem Camaros e depois imprimir mais dinheiro e emprestar à toda a população, para que cada brasileiro possa ter o seu Camaro. Afinal, é assim que funciona a economia brasileira hoje em dia.
  • Diego  22/05/2013 00:08
    Leandro,

    Por que a inflação monetária de Miller causou inflação de preços naquela época, mas toda essa inflação monetária (do dólar) atualmente não está causando (muita) inflação de preços?

    PS: Krugman aproveita pra comemorar krugman.blogs.nytimes.com/2013/05/16/the-sadomonetarists-of-basel/
  • Leandro  22/05/2013 07:33
    Diego, por vários motivos, sendo que o principal deles é que a atual inflação monetária do Fed simplesmente não está entrando na economia porque os bancos -- que são quem realmente jogam o dinheiro na economia -- estão retendo esse dinheiro como depósitos voluntários junto ao Fed (as chamadas "reservas em excesso").

    Explico melhor.

    No final da década de 1970, tal modelo era novidade, nunca havia sido tentado. E a consequência deste modelo -- que nada mais era do que um subsídio ofertado pelo Fed diretamente aos bancos -- foi a expansão descontrolada e desarticulada dos meios de pagamento.

    Já na conjuntura atual, os bancos não apenas não estão expandindo o crédito -- certamente por causa do cenário econômico incerto --, como também o Fed criou um mecanismo inédito de remunerar as reservas em excesso que os bancos voluntariamente mantiverem depositadas junto ao Fed.

    Ou seja, imagine que você é um banqueiro americano. Você tem duas hipóteses: ou você empresta dinheiro para pessoas e empresas a juros desprezíveis e corre um grande risco de calote, ou você empresta uma parte para o governo americano e a outra parte mantém depositada junto ao Fed, que paga juros sobre estes depósitos sem exigir absolutamente nada em troca. É dinheiro literalmente dado de graça (com o perdão do pleonasmo).

    Para se ter uma ideia, este montante depositado voluntariamente junto ao Fed como reservas em excesso é da ordem de quase US$2 trilhões (veja o gráfico). Dado que os juros pagos pelo Fed são de 0,25%, isso dá um montante de U$5 bilhões por ano de dinheiro absolutamente gratuito.

    Neste cenário, para que emprestar para empresas e pessoas? Por isso a ausência de inflação de preços nos EUA.
  • Renato Souza  22/05/2013 12:02
    Leandro

    Em parte, essa inflação de preços também não poderia ser disfarçada? O governo é quem publica os índices de inflação de preços, ou tem ascendência sobre publica. Talvez a inflação de preços seja maior do que aparece.
  • Leandro  22/05/2013 12:46
    É isso o que afirma -- e prova -- o Schiff neste vídeo:

  • Blah  22/05/2013 18:35
    Ah, Leandro... você não se cansa de ser tão pessimista? Por que você se deixa levar por pensamentos tão negativos? O governo já está solucionando os problemas. Como? Ora, do melhor jeito possível. [www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/05/1282884-na-contramao-da-politica-de-juros-governo-anuncia-gasto-recorde.shtml]Aumentanto os gastos públicos[/link]! Se não der certo, Krugman já sabe a resposta: é porque não houve gastos suficientes.

    Agora, falando, sério, a reação aos boatos do fim do Bolsa-Família serviram para mostrar que esse programa pode ter consequências muito mais nefastas do que imaginamos. Imagino que, como resposta aos boatos, o governo em breve irá ampliar ainda mais o programa. Como político, certamente é o que eu faria. Afinal, quem é que ousaria se manifestar contra o programa depois que ficou muito claro que ele garante uma quantidade impressionante de votos e uma resistência feroz (com chances para uma escalada de violência) ao seu fim?

    Recentemente, falou-se no sucesso do programa, já que 12% das famílias deixaram de receber o benefício. Pense um pouco sobre isso. Isso quer dizer que 88% das famílias continuam recebendo Bolsa-Família! Essa estatística deveria ser estarrecedora, e não motivo para comemoração. Mas a coisa fica ainda pior. Segundo esta notícia:

    Como O GLOBO revelou no domingo, 522 mil beneficiários permanecem na folha de pagamento desde o início do programa, o equivalente a 45% do total contemplado logo no mês de estreia, em outubro de 2003. É o caso de Rosana e Doraci. Os filhos de quem tem o benefício já cresceram, constituíram família e hoje ganham o próprio repasse.

    É isso mesmo. 45% do total das famílias cadastradas inicialmente continuam recebendo o benefício depois de 10 anos. As famílias dessas pessoas ganham Bolsa Família. Estamos criando uma geração de pessoas que vivem à base de assistencialismo. Só que não somos a Dinamarca, que (ainda) pode se dar ao luxo de pagar para pessoas não trabalharem.
  • Bernardo  22/05/2013 19:35
    Obrigado, Leandro. Sinto que estou enxergando a luz com mais nitidez, entendendo melhor a questão.
    A maioria das coisas que leio aqui, processo, compreendo e me sinto convencido quase automaticamente (a argumentação de vocês é extremamente racional e bem construída). Como ainda não tinha lido um texto específico sobre essa questão, fiquei com dúvida em relação ao assunto, mas seus comentários e do Lopes estão sendo verdadeiros artigos, estão conseguindo tirar essa dúvida que tinha há algum tempo.
    Mas, aproveitando-me da boa vontade de vocês:
    - se "juros artificialmente baixos e expansão monetária não podem, por si sós, gerar "aumento de produção" e se só há "genuíno crescimento econômico e um genuíno aumento no padrão de vida quando há um aumento da oferta de bens", por que o PIB (desculpa apelar para ele, sua crítica a ele é a questão do deflator?) cresce nesses períodos e o desemprego cai?
    - supondo esse caso da ilha na prática, antes de todos os náufragos perceberem que a quantidade de papel pintado dobrou, será que o vendedor de coco e peixe não vendeu mais e teve que contratar dois náufragos que estavam à toa? Aí será que o vendedor não demandou mais dos pescadores e dos colhedores, que tiveram de contratar outros náufragos à toa e aumentar a produção? Esse "aumento na oferta de bens" não representaria um "genuíno crescimento econômico"?
    - o dinheiro a mais, por si só, não aumenta a quantidade de bens produzidos e ofertados, mas ele não puxa a produção em função do aumento do consumo? Tudo bem que os produtores antes poderiam aumentar sua produção e vender mais a preços menores, mas será que o aumento de consumo não funciona como um incentivo ao aumento da produção?
    - Lembro de já ter lido que a política fiscal e monetária gerariam essa expansão em intervalos pequenos, com a riqueza retornando ao nível anterior e apenas o aumento de preços ficando como resultado final, mas não estou sabendo porque o produtor de coco vai demitir o náufrago à toa que ele contratou.
    - O problema nesse nosso exemplinho é o fato de a injeção de recursos não ser constante, como é na vida real?
    Pessoal, a escola austríaca convenceu-me de muitas coisas aqui no Mises, então acredito mesmo que ela esteja certa também neste ponto. Mas minha dúvida, apesar de um pouco esclarecida, persiste. E, para piorar, enquanto escrevia meu comentário, vi que meu texto parece extremamente keynesiano, corrente que, em diversos artigos aqui no IMB, pareceu-me bastante incorreta.
    Não me esqueçam nessa ilha, por favor.
  • Malthus  22/05/2013 19:47
    Sobre a relação entre expansão monetária e redução do desemprego -- relação verdadeira --, recomendo estes dois artigos:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1108 (apenas a primeira parte do artigo já basta)

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1347

    Quanto ao resto, a explicação é mais trabalhosa e eu estou sem tempo agora (vou deixar para algum bom samaritano), mas já adianto que você está confundindo a oferta de serviços com a oferta de bens. Se você tiver uma impressora de dinheiro, você conseguirá arranjar cabeleireiros para você, mas não conseguirá o milagre de transformar metal em automóvel (pois esse processo produtivo depende de bens de capital, cuja criação não tem nada a ver com a impressão de pedaços de papel).
  • Bernardo  27/05/2013 18:59
    Malthus,
    Desculpe pela demora no agradecimento e muito obrigado pela ajuda.
    Reli os artigos que vc recomendou e, de fato, fica evidente a relação verdadeira entre a expansão monetária e a redução do desemprego.
    Quanto às outras questões, acho que o Lopes está sendo o bom samaritano de que necessito. Mais uma razão para a diminuição estatal - dar mais tempo livre ao Lopes para que ele nos ajude com nossas dúvidas ingênuas.
    Um abraço.
  • Lopes  22/05/2013 20:41
    Prezado Bernardo, permita-me analisar seus questionamentos.

    (1)
    *Aumento da produção p/ unidade de capital durante uma expansão de crédito, se ceteris paribus, tenderá a não ocorrer. Há uma relação antagônica do capital voltado à produção de bens de capital(Que visam aumentar a razão de produção p/ unidade de capital gasta) e o capital voltado à produção de bens a serem consumidos. Caso toda renda obtida por voltada ao segundo graças à uma expansão da demanda, deduz-se que haverá ausência no primeiro. - Diferenciação de Hayek à 4º proposição de John Stuart Mill.
    Ver:

    Durante uma expansão de crédito, ocorre aumento generalizado da demanda por mão de obra e por consequência, dos salários nominais(E retrocesso dos reais); devido à demanda artificialmente estimulada por bens de consumo. Não apenas a diminuição do desemprego como encarecimento artificial de outros fatores de produção(Nos quais encaixa-se a mão-de-obra) são explicadas pelas 4 proposições de John Stuart Mill e pelo estudo aprofundado realizado por Hayek.

    Há um excelentíssimo artigo que visa exclusivamente responder ao seu questionamento e esse é, acidentalmente, um de meus prediletos:
    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1503 (Professor Ubiratan Jorge Iorio)

    (2)*Receio ter de retirar os marinheiros ociosos de seu exemplo, dado que se não há como esses viverem gratuitamente sobre o trabalho de outros, sua sentença seria meramente a morte. O desemprego é um fenômeno extremamente recente na história da humanidade. Sabendo que vivemos em um mundo de escassez, a tendência é que sempre haverá algo a ser feito.

    Perdoe-me por minha análise minimalista de seu comentário que venha a ter contribuído para um baixo entendimento meu de seu segundo questionamento. Devo lembrá-lo que em nenhum momento de seu exemplo ocorreu aumento da produção por unidade de capital gasto. Essencialmente, o aumento da demanda será regulado por um simples aumento dos preços para a capitalização.

    Não entendi tal questionamento por completo, confesso. Entretanto, para todos os efeitos:
    www.mises.org.br/Article.aspx?id=990

    (3) Ver (1) e www.mises.org.br/Article.aspx?id=629

    (4) Em analogia, pretenderei que não saberei o motivo de as construtoras demitirem os funcionários contratados no passado durante a expansão de crédito quando o fim da apreciação imobiliária tiver fim.

    Durante a expansão, projetos de longo prazo como investimentos no setor imobiliário passam a ter sua demanda evoluindo crescentemente, sendo assim, o preço. A condição para que apareça uma bolha é que a quantidade de dinheiro enviada a um determinado setor da economia evolua de maneira crescente. Entretanto, quando o ciclo econômico tiver fim após o aumento dos juros, a demanda terminará por sofrer uma queda dramática juntamente com os preços imobiliários que haviam sido inflados artificialmente através da prévia grande oferta de crédito. Investidores ver-se-ão na posse de bens cujo valor é consideravelmente menor que o esperado, ou seja, esses terão perdido todo o capital investido em tais projetos, tornando-os prejuízos.

    Seria anômalo e auto-destrutivo caso em um cenário de preços imobiliários declinantes, os produtores decidissem aumentar ainda mais a produção(O que acentuaria a curvatura de queda apreciativa), auferindo prejuízos e destruindo valor, capital e recursos na construção de cidades-fantasma. A migração do volume de investimentos aos setores onde há de fato demanda gera o período de recessão da economia. Sua durabilidade é determinada pela volatilidade do mercado. (Caso deseje um relatório de fatores que influenciam tal volatilidade, peça-os em sua réplica)

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=850

    (5) Uma expansão de crédito jamais pode prolongar-se ad infinitum. Não seria vantajoso ao sistema bancário ou à sociedade fazê-lo.

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1047
    _____________________________________________________________________________________
    Caro, Bernardo, suas dúvidas são extremamente comuns no portal. Perdoe-me caso eu não tivera capacidade de respondê-las com prontidão devido à limitação temporal que estou enfrentando neste exato momento.

    A respeito do PIB, vá à área de comentários deste artigo(mises.org.br/Article.aspx?id=687&comments=true) e confira uma intervenção minha à um questionamento direcionado ao Leandro.

    P.S: Não sou genial baluarte da economia austríaca e por tal motivo, peço que não me encare como seu representante dada a gigantesca responsabilidade que tal papel a mim concederia. Sou apenas estudioso recente e por tal motivo, apenas as palavras de São Leandro ou os artigos enviados lhe servirão como réplica definitiva. Caso meu discurso conflite com alguma informação presente nos textos(Tais casos onde não há discrepância são incomuns, porém), os mesmos estarão corretos.

    Agradeço pela oportunidade e perdoe-me pela sensação de pressa presente no texto.
  • Bernardo  20/06/2013 16:02
    Lopes, mil desculpas por minha demora nesta resposta-agradecimento.
    A partir das respostas de vocês, li tanta coisa (é incrível como um artigo leva a outros, que levam a blogs e outros sites, que levam a livros...) que acabei ficando sem tempo e depois acabei esquecendo de respondê-lo.
    Vou preparar uma resposta mais aprofundada, mas queria agradecê-lo antes de qualquer coisa (e recuperar o canal, até porque só poderei escrever mais tarde).
    Acho que, finalmente, consegui entender que a emissão monetária apenas dará impressão de crescimento, pela mudança na estrutura produtiva, mas nunca proporcionará um desenvolvimento real.
    Obrigado a você pelo comentário e, como sempre, ao Leandro, pelos diversos artigos que escreveu.
    Abs.
  • saoPaulo  24/05/2013 22:57
    Leandro,

    normalmente vemos economistas e governantes dando várias explicações diferentes para o fenômeno inflação:

    1. "Quando o governo eleva salários, benefícios sociais, compras e obras, a demanda por bens e serviços no país cresce mais rapidamente que a oferta, pressionando os preços para cima."

    www1.folha.uol.com.br/mercado/2013/05/1282884-na-contramao-da-politica-de-juros-governo-anuncia-gasto-recorde.shtml

    2. "Tenho afirmado, assim como outros economistas, que as pressões sobre a inflação vêm do mercado de trabalho, pois a atual escassez de mão-de-obra implica elevação dos salários nominais a um ritmo superior ao da expansão da produtividade, com consequências diretas para os preços."

    maovisivel.blogspot.de/2013/05/paladinos-da-estagflacao.html

    Bem, no caso 1, entendo que se o governo elevar salários, etc, é óbvio que a demanda vai aumentar, mas SOMENTE para aqueles beneficiados pela elevação de salários, etc. O que não é dito é que, para fazer isso, o governo tem que retirar recursos de algum lugar. Se optar por aumentar impostos, alguém terá que consumir menos, fazendo a demanda em outros setores cair. No geral, teríamos aumento de preços em alguns setores e diminuição em outros, não afetando o nível geral dos preços.

    A única maneira de haver aumento de preços generalizado e prolongado em uma economia é se o governo aumentar a quantidade de moeda disponível, ao criar dinheiro do nada para se financiar. Este é o real motivo da inflação. À medida que serviços e processos de fabricação ficam cada vez mais eficientes, a tendência é dos preços baixarem e não aumentarem.

    Correto?

    Já no caso 2, é um economista falando ora bolas! Eu até entendo o BC distorcer a verdade para camuflar o imposto chamado inflação. E agora vem a pergunta principal: por que economistas dão mil e uma explicações para um fenômeno que até um leigo em economia como eu consegue entender? Ou meu entendimento sobre inflação é muito superficial?

    São as bases lógicas da economia mainstream que tornam a inflação incompreensível, ou tratam-se de economistas desonestos/incompetentes?

    Abraço.
  • Leandro  25/05/2013 11:33
    Sua análise foi irretocável, saoPaulo. Nada tenha a acrescentar.

    No caso específico do item 2, eu diria que se trata de um economista tentando ser mais palatável para o mainstream. Ele sabe das causas monetárias da inflação de preços (tem de saber, pois ele é chicaguista), mas talvez prefira não falar sobre isso simplesmente por não querer complicar muito sua análise, e com isso evitar alguns tecnicismos que afugentam leitores.

    Mas também não podemos descartar o fato de que vários economistas preferem -- compreensivelmente -- criticar a Fazenda e seus gastos e ver o Banco Central como um sofrido agente externo, o qual se esforça herculeamente para tentar corrigir as lambanças feitas pela Fazenda mas que acaba sendo sobrepujado pelo ímpeto gastador do governo.

    Abraços!
  • Pedro Ivo  25/05/2013 14:45
    saoPaulo, acrescenta-se ao que o Leandro disse este artigo dele mesmo: A real taxa de desemprego no Brasil. Escassez de mão de obra no Brasil?! Ô coitado!!!!!!!!
  • benito  25/05/2013 10:09
    Prezado Leandro:

    Mais uma vez permita-me parabenizá-lo pela didática e clareza, se me permite gostaria de colocar uma questão que me persegue sobre o tema do câmbio.

    A taxa de cambio fixa não seria perigosa na medida em que expõe com clareza a falta de competitividade da economia?
    Países com moedas igualmente atreladas teriam que competir dentro de mesmas regras correto?
    Isto não nos exporia a uma situação similar à da Grecia que se confronta com a produtividade da União européia?

    Saudações

    Benito

  • Leandro  25/05/2013 11:19
    Esse é justamente o ponto. Afinal, queremos uma economia de mentira, baseada em falsidades, em manipulações e em privilégios para determinados setores (quase sempre os setores exportador e o sindical), ou queremos uma economia honesta, que não manipula dados, que não distribui privilégios e que não tenta dar vantagens artificiais para determinados setores?

    Queremos uma economia de moeda forte e estável, que tente beneficiar a todos, ou queremos uma economia de moeda facilmente manipulável por políticos e burocratas, que reduzem o poder de compra da população visando a privilegiar exportadores e grandes indústrias?

    Essas são as perguntas indeléveis. E é impossível qualquer debate minimamente honesto sem que tais perguntas sejam respondidas.

    Por exemplo, qual é o real problema da Grécia? Majoritariamente, são dois: a economia está em deflação monetária e os sindicatos não aceitam reajustes salariais para baixo. (Para entender por que estão em deflação monetária, veja este artigo). Ora, se uma economia está vivenciando uma deflação monetária, então você tem de reduzir preços e salários. Se isso não acontece, então o resultado inevitável é o desemprego. Não tem segredo. Tanto na Grécia quanto na Espanha, os sindicatos fecharam os mercados para si próprios, e quem está de fora não mais consegue entrar no mercado de trabalho. Uma tragédia. Se essa espiral deflação monetária/sindicatos rígidos não for resolvida, não há a mínima chance de solução para o desemprego. Colocar o governo para gastar um dinheiro que ele não tem não irá de modo algum sequer remediar esta situação.

    Sendo assim, uma economia com câmbio fixo -- e, por câmbio fixo, refiro-me exclusivamente a um arranjo de Currency Board; nada de Banco Central, pois câmbio atrelado é péssimo e insustentável -- não tem escapatória: ou você é competitivo e honesto em suas precificações, ou você é engolido pelo mercado internacional. Com câmbio fixo, não dá para privilegiar exportadores e sindicatos em detrimento de todo o resto da população. O câmbio fixo coíbe e limita as decisões arbitrárias de políticos e burocratas. Ela disciplina o comportamento de todos os agentes que participam do processo democrático. Ela promove hábitos morais de comportamento humano. Em suma, ela restringe as mentiras e a demagogia, e facilita e amplia a transparência e a verdade nas relações sociais. Nem mais e nem menos.

    Para mostrar que a tragédia é opcional, volto a insistir nos exemplos de praxe: Hong Kong, Estônia, Bulgária e várias outras pequenas localidades trabalham com câmbio fixo (a Estônia saiu do Currency Board em 2011 e adotou diretamente o euro) e não passam pelos mesmos problemas da Grécia.

    Aliás, vale uma ênfase na Estônia e na Bulgária: ambas sempre estiveram na zona do euro (ambos os Currency Board eram lastreados em euro), mas nunca fizeram efetivamente parte do arranjo do euro. E é justamente por isso que não enfrentaram os mesmos problemas dos PIIGS. Afinal, ambas sabiam que, por não serem membros explícitos da zona do euro, elas não seriam socorridas pela Troika caso fizessem lambança. Sendo assim, elas foram prudentes desde o início, pois sabiam que não haveria babás para lhes ajudar. Já a Grécia e a Espanha sempre souberam que, em caso de lambança, a Troika seria acionada para socorrer. Isso se chama risco moral e também não pode ser ignorado em uma análise dos problemas da zona do euro.

    Grande abraço e obrigado pelos elogios.
  • Getulio Malveira  26/05/2013 13:06
    Leandro, apesar de dúvidas sobre detalhes técnicos com as quais não vou fazê-lo perder tempo, gostaria de saber se em cada caso, mesmo com um custo político elevado, teria sido tecnicamente possível fazer as escolhas certas e, mais ainda, se hoje, essas escolhas ainda poderia ser feitas. Resumindo: era possível em 1994 adotar o Currency Board? É hoje isso possível, do ponto de vista técnico? Qual a relação - se é que há alguma - entre o volume da dívida pública e dos gastos do governo com a escolha do mecanismo?

    Parabéns novamente pelo excelente trabalho!
  • Leandro  27/05/2013 09:17
    Prezado Getulio, em termos puramente técnicos era sim possível adotar o Currency Board em 1994 e é sim possível adotá-lo hoje. Tudo o que é necessário para se adotar um Currency Board é ter um volume de reservas estrangeiras maior do que a base monetária. O Brasil cumpria esta condição em julho de 1994 e cumpre com ainda mais folga atualmente. Ou seja, hoje é ainda mais fácil do que em 1994.

    O problema sempre foi político.

    Quanto a volume da dívida e dos gastos do governo, isso não é impedimento para a criação de um Currency Board. No entanto, uma vez criado, é bom que o governo se contenha, pois uma contínua elevação de seus gastos e de sua dívida levará a um aumento insuportável dos juros (pois todo o crédito bancário estará sendo absorvido pelo governo, nada sobrando para o setor privado). Em um arranjo com Banco Central, a contínua injeção de dinheiro no setor bancário mitiga esse problema (ao custo de uma continuamente alta inflação de preços). Em um arranjo com Currency Board não existe este subsídio ao setor bancário, e ele tem de agir com total prudência caso não queira se ver insolvente.

    Grande abraço e muito obrigado pelas palavras.
  • Fabio Bastos  04/06/2013 14:22
    Obrigado ficou claro agora

    Fabio
  • Occam's Razor  27/05/2013 22:47
    Aos 19:10 minutos do vídeo abaixo, o Peter Schiff fala sobre um artigo que indica uma recente taxa de crescimento de 5 ou 6% no Zimbabué. A razão seria que as pessoas estão abandonando a moeda local e usando moedas estrangeiras, e por isso o governo estaria impossibilitado de estimular a economia. Como a palestra tem um tom bem informal é difícil dizer se ele está exagerando com fins humorísticos, mas que seria uma informação hilária (Zimbábue sempre útil como referência econômica) seria. De qualquer forma o vídeo é bem engraçado.

  • Alexandre  10/06/2013 18:12
    Pessoal, um amigo meu (que exerce alto cargo no Banco Central), para quem sempre envio artigos aqui do Mises, me postou uma matéria na qual o Banco Central é elogiado. Tal setor do BC é comandado por esse meu amigo.

    Vejam abaixo o que ele postou:
    (gostaria de enviar, como resposta para ele, o comentário de vocês sobre o que segue abaixo)

    -----------------------------------------------------------------------------

    Atuação do BC é bem avaliada pelo FMI
    (Última modificação: 10/06/2013 13:08)

    Fundo também destacou a solidez do sistema bancário brasileiro. Em parceria com o BC, FMI aplicou testes de estresse para medir a resiliência da rede bancária nacional, simulando alterações em diversos fatores de risco de mercado e de crédito. Isso permitiu avaliar a solvência e a liquidez das instituições bancárias, assim como o risco de contágio em caso de crises.


    O Banco Central teve papel fundamental em assegurar a estabilidade financeira no país durante a última crise global, iniciada em 2008. Essa é uma das conclusões de três Notas Técnicas divulgadas na última semana pelo FMI, como resultado do Programa de Avaliação do Setor Financeiro (FSAP, na sigla em inglês). O programa é vinculado ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e ao Banco Mundial e analisou, dentre outros aspectos, a expansão da oferta de crédito no país na última década, a resiliência do sistema bancário nacional e as políticas macroprudenciais adotadas no país para minimizar os impactos da crise financeira internacional no mercado interno.

    "O Brasil foi um dos primeiros países a adotar medidas macroprudenciais e a experiência ganhou muita atenção da comunidade internacional. O Conselho Monetário Nacional (CMN) e o Banco Central tiveram importante papel em monitorar e garantir a estabilidade financeira durante os anos da crise global. O Banco Central, especialmente, tem desenvolvido ativamente sua política macroprudencial já há alguns anos, destinando recursos para o monitoramento de risco sistêmico, implementando diversas medidas para medir os fluxos de capitais e criando um Comitê de Estabilidade Financeira (Comef)", destaca a Nota Técnica "Macroprudential Policy Framework". O material pode ser acessado na íntegra na página do FMI.

    Outro ponto destacado pelo FSAP é a solidez do sistema bancário brasileiro. Em parceria com o BC, o programa do FMI aplicou testes de estresse para medir a resiliência da rede bancária nacional, simulando alterações em diversos fatores de risco de mercado e de crédito. Isso permitiu avaliar a solvência e a liquidez das instituições bancárias, assim como o risco de contágio em caso de crises.

    Os resultados dos testes de solvência mostraram que o Sistema Financeiro Nacional possui reservas substanciais de capital. Mesmo no caso de uma recessão global severa, algo que ocorre uma vez a cada 20 a 30 anos, o nível de capital adicional necessário para que alguns poucos bancos retornassem ao nível mínimo de índice de Basileia de 11% seria limitado. Já os testes de liquidez apontaram que a maioria dos bancos tem condições de suportar grandes choques, inclusive atendendo aos requisitos das normas propostas por Basileia III. Saiba mais sobre os testes.

    Mercado de crédito
    O FSAP analisou o desenvolvimento do mercado de crédito no Brasil. Nos últimos anos a razão crédito/PIB passou de 26% em 2002 para 49% em 2011, fruto de ganhos provenientes da estabilização macroeconômica e da inclusão financeira. O crescimento decorre também do fato de que a base inicial de comparação era bastante reduzida. Mesmo com o crescimento recente, a razão crédito/PIB permanece relativamente baixa em relação a padrões internacionais.

    De acordo com o FMI, períodos de rápida expansão do crédito costumam ser associados ao desenvolvimento de fragilidades, pois uma expansão acelerada pode levar a vulnerabilidades por meio de fracos critérios para empréstimos, excessiva alavancagem e bolhas nos preços de ativos. Entretanto, no Brasil há fundamentos que motivaram a expansão nos últimos anos e o Fundo avalia que o Banco Central tem feito um monitoramento adequado da evolução do mercado de crédito. Clique apara acessar a íntegra da Nota Técnica "Consumer Credit Growth and Household Financial Stress".

    Saiba mais
    O Programa de Avaliação do Setor Financeiro foi criado em 1999 com o objetivo de fazer análises profundas do setor financeiro dos países vinculados ao FMI. "O FSAP é um exercício amplo, realizado pelo FMI e pelo Banco Mundial, de avaliação da estabilidade e do desenvolvimento do setor financeiro dos países. Além disso, é avaliada a aderência do país às principais normas e padrões internacionais relativas, por exemplo, à supervisão bancária, de seguros, do mercado de capitais, de governança corporativa, etc. O Brasil assumiu o compromisso junto com os demais países do G20 de realizar o FSAP a cada cinco anos", explica o chefe de subunidade no Derin, Diogo Souza Nogueira.
  • Deilton  11/06/2013 12:35
    Vi essa piada e lembrei do Mantega:

    Era uma vez um rei que queria ir pescar.
    Ele chamou o seu Ministro Meteorologista e pediu-lhe a previsão do estado do tempo para as próximas horas.
    Este assegurou-lhe que não iria chover.
    No caminho, ele encontrou um camponês montando seu burro que, ao ver o rei, disse:
    - "Majestade, é melhor regressar ao palácio porque vai chover muito."
    É claro que o rei ficou pensativo:
    - "Eu tenho um Ministro Meteorologista muito bem pago que me disse o contrário. Vou seguir em frente."
    E assim fez ... e, claro, choveu torrencialmente, a pescaria ficou estragada e o rei encharcado e resfriado.
    Furioso, voltou para o palácio e despediu o Ministro.
    Ele convocou o camponês e ofereceu-lhe o cargo, mas este, sincero (não era político), disse-lhe:
    - "Senhor, eu não entendo nada disso, mas se as orelhas do meu burro estão caídas, significa que vai chover."
    O rei, então, usou a lógica, e nomeou o burro.
    Assim começou o costume de nomear burros que, desde então, têm as posições mais bem pagas nos governos.
    * Esta é apenas uma fábula!
  • Bernardo  02/07/2013 20:32
    Leandro,
    Estou lendo a Grande Depressão Americana e fiquei com duas dúvidas:
    - Por que, de acordo com Rothbard, o crédito ao consumidor não contribui para gerar o ciclo econômico? Ele não aumenta os saldos monetários?
    - Entre 21 e 29, os saldos monetários nos EUA cresceram cerca de 60%, o que é visto como a causa do boom. Entretanto, comparada à taxa de crescimento dos agregados monetários brasileiros (mundiais?) dos últimos anos, esses 60% são piada. Esses 60% foram realmente suficientes para dar início à depressão? Nesse caso, nosso crescimento do M1 nos últimos anos deveria ser suficiente para levar o desemprego para 150% quando a depressão chegar, não?
    - Esses 60% pareceram-me um ritmo bem "natural" de crescimento. Ele foi realmente muito maior do que o que vinha acontecendo nos EUA antes dos anos 20?
    Desculpe fazer essas perguntas neste artigo.
    Um abraço e obrigado.
  • Leandro  02/07/2013 22:15
    Prezado Bernardo, não existe nenhum número mágico que sirva de parâmetro de comparação para um determinado agregado monetário. Muito mais importante é analisar para onde este dinheiro está indo. No caso americano, ele foi maciçamente direcionado para a bolsa de valores, gerando sua sobrevalorização.

    Adicionalmente, como você verá no livro, esta expansão monetária gerou a bolha de ações que em seguida estourou, mas tal estouro não foi a causa do grande desemprego e da prolongada depressão americana.

    Queda do valor das ações na bolsa por si só não gera depressão. Em 1987, por exemplo, a bolsa americana caiu 15% em dois dias e não houve depressão.

    A Grande Depressão ocorreu porque:

    1) Houve uma grande deflação monetária em decorrência de centenas de quebras bancárias. E centenas de bancos quebraram porque as pessoas correram para sacar seu dinheiro deles. Como eles operam com reservas fracionárias, o dinheiro simplesmente não existia. E o que levou as pessoas a sacarem seu dinheiro foi o fato de que alguns bancos apresentaram sinais de instabilidade em decorrência do estouro da bolha do mercado de ações. Isso gerou uma reação em cadeia e vários outros bancos foram varridos neste processo.

    Atualmente, não há nenhuma chance de algo semelhante ocorrer por dois motivos: o Banco Central imprime o dinheiro e há um seguro federal sobre depósitos, algo que na época não existia.

    2) Essas falências bancárias geraram uma forte contração na oferta monetária -- consequentemente, uma recessão. Tal recessão não precisaria durar mais de um ano caso o governo americano permitisse ampla liberdade de preços e salários, de modo que se estes adequassem à nova realidade da oferta monetária. Porém, o governo fez exatamente o contrário: ele implementou políticas de controle de preços, controle de salários, aumento de tarifas de importação, aumento de impostos, aumento de gastos, aumento do déficit e estimulou uma arregimentação sindical de modo a impedir que as empresas baixassem seus preços.

    Resultado: a recessão foi prolongada por 15 anos.

    Quanto ao crédito ao consumidor não gerar ciclos, o argumento é que tal tipo de crédito, por ser exclusivamente direcionado ao consumo, não gera distorções na estrutura produtiva, mas sim apenas inflação. O raciocínio é correto na teoria, porém, como na prática o crédito nunca fica restrito apenas ao consumo (ele sempre vaza para investimentos), tal abordagem é desimportante.
  • Bernardo  03/07/2013 11:18
    Valeu Leandro,
    Essa questão do crédito ao consumidor pareceu-me "desimportante" mesmo (nunca tinha lido esse eufemismo...), afinal de contas, o crédito imobiliário e para veículos não seriam espécies de crédito ao consumidor que alteram profundamente a estrutura produtiva ao enganar os empreendedores?
    Já tinha lido por aqui que a extensão e profundidade da depressão deveram-se a intromissões governamentais. Minha questão era a formação da bolha mesmo, que pensei que tivesse que ter a ver com investimentos errados dos empreendedores e alterações na estrutura produtiva, o que parece não ter acontecido, uma vez que o novo dinheiro foi canalizado para a bolsa de valores.
    Vou terminar de ler o livro e depois volto a importuná-lo.
    Grande abraço e obrigado.
  • Hugo LF  03/07/2013 18:58
    Leandro vc viu uma notícia recente referente à dívida pública bruta brasileira que está subestimada devido à contabilidade nada honesta do governo,já que o mesmo adquiriu mais de meio trilhão de reais pra repassar aos bancos públicos? vc poderia fazer um artigo explicando esse descalabro das contas públicas?


    Muito obrigado e parabéns pelo artigo!
  • Leandro  03/07/2013 20:12
    Prezado Hugo, essa prática é tão antiga, que já temos uma artigo sobre ela. Escrito em 2010! Não dá pra entender por que só agora a mídia resolveu abordar esse tema.

    Vou transcrever a explicação do artigo, com números atualizados:

    O governo está recorrendo à engenhosa medida de expandir o gasto por meio dos bancos públicos, medida essa que neutraliza a dívida líquida ao mesmo tempo em que aumenta a dívida bruta. Ou seja, o PT descobriu como ludibriar alguns investidores mais desatentos: utilizando principalmente o BNDES para "investir" e distribuir dinheiro para os amigos.

    Funciona assim: o BNDES, numa política corporativista tipicamente mussoliniana, concede empréstimos subsidiados para grandes empresas com boas conexões políticas. Só que a maneira como o BNDES levanta os recursos que irá emprestar é bastante, digamos, heterodoxa. O exemplo simplificado a seguir vai ajudar a entender:

    O Tesouro vende títulos públicos para o sistema bancário e arrecada, digamos, R$ 100, com a promessa de pagar aos bancos R$ 8 daqui a um ano (juros de 8% ao ano, atual valor da SELIC). Ele transfere esses R$ 100 para o BNDES, que irá emprestá-los para suas empresas favoritas cobrando módicos 5% ao ano (valor da TJLP). No final do ano, o BNDES repassará uma parte ao Tesouro como dividendo (por exemplo, R$ 3).

    No final, esses R$ 3 entram no cômputo do governo como uma receita primária, ao mesmo tempo em que os R$ 8, por serem pagamento de juros, não entram na conta do superávit primário! Percebeu a safadeza? No cômputo final, houve uma piora fiscal de R$ 5, porém, no balanço divulgado pelo governo, houve uma melhora de R$ 3 no saldo primário!

    O senhor Mantega descobriu o moto-perpétuo: quanto mais ele se endivida, melhor fica a sua situação fiscal! É por isso que a dívida líquida aparece estável (ou com tendência de queda), mas a dívida bruta já está acima dos 60%, o que coloca o Brasil como o terceiro país com a maior dívida bruta entre os emergentes, atrás apenas da Índia e da Hungria.

    Abraços e obrigado pelas palavras.
  • anônimo  04/07/2013 02:00
    Meu Deus Leandro,eu sabia que a situação está ruim,porém não sabia que há uma carcaça tão grande de dívida pública sendo jogada pra debaixo do tapete todos os anos!

    Isso me lembra a situação do estado de São Paulo em 1994 logo após a queda da inflação quando foi revelada uma verdadeira carcaça de dívidas podres do estado com o Banespa de mais de 20 bilhões de dólares!

    Infelizmente estamos voltando para aqueles tempos tenebrosos!

    E com o exemplo citado por você sobre a diferença de computação das operações financeiras do tesouro com o mercado e BNDES,seria correto concluir que o superávit primário é simplesmente uma ilusão de que há um ajuste fiscal na economia?


    Mais uma vez muito obrigado por suas excelentes explicações! este site com seus grandes artigos está me fazendo gostar ainda mais de economia!

    E a propósito você poderia me recomendar um bom livro sobre economia monetária pra eu entender melhor a composição e lógica dos agregados monetários?
  • Ricardo  03/07/2013 22:43
    Prezado Leandro,

    Gostaria de saber se existe a possibilidade do Instituto Mises, apresentar palestras , cursos ou reuniões para a cidade de São Paulo. Agradeço desde já pela divulgação de textos, livros e artigos deste site, ótimo trabalho.

    Grande Abraço.
  • Leandro  03/07/2013 23:07
    Prezado Ricardo, nossos cursos são majoritariamente online. Veja os últimos:

    www.mises.org.br/CoursesHistory.aspx

    Fizemos um seminário in loco em Brasília, mas foi por uma consideração para com os organizadores do evento, que são atualmente uns dos maiores agitadores em prol da liberdade no Brasil.

    escolaaustriacadf.blogspot.com.br/

    Grande abraço!
  • Marcel  01/08/2013 15:21
    Oi Leandro,

    Parabéns pelo artigo. Gostaria de saber quais livros conseguem dar mais clareza a esses processos de juros e de como funcionaria a economia em um padrão ouro, ou sob um regime de concorrência de moedas.

    Peço desculpas se essa questão já foi colocada por aqui, mas gostaria de entender como funcionaria um processo de atrelamento da moeda, por intermédio do Currency Board, em consonância com os empréstimos dos bancos. Eles não teriam possibilidade de atuar com reservas fracionárias, lucrando apenas com juros sobre empréstimos? É isso mesmo?

    Muito obrigado pelas informações e pelos esclarecimentos!
  • Leandro  01/08/2013 15:58
    Prezado Marcel, desconheço literatura em português sobre o tema. Em inglês, há várias. Sugiro o livro de Jesús Huerta de Soto, Money, Bank Credit and Economic Cycles. O livro de Murray Rothbard, The Mystery of Banking, também é ótimo, assim como o seu O que o governo fez com o nosso dinheiro, já em processo de edição final pelo IMB.

    Outros autores que merecem ser lidos são Lawrence White, Larry J. Sechrest e George Selgin, todos adeptos do Free Banking.

    Quanto a uma literatura sobre Currency Board, digite no Google "Currency Board" e "Steve Hanke". Você encontrará um material praticamente infinito sobre o tema.

    De resto, sob um sistema de Currency Board ortodoxo, nada impede o sistema bancário de continuar operando como opera atualmente, com reservas fracionárias. A única diferença -- e uma diferença crucial -- é que não há um Banco Central protegendo o sistema bancário, coordenando o processo de expansão do crédito, garantindo os depósitos e atuando como emprestador de última instância. Isso faz toda a diferença.

    Grande abraço!
  • Marcel  01/08/2013 19:06
    Olá Leandro,

    Muito obrigado pelo seu tempo e paciência. Estou anotando suas indicações!

    Perguntei à respeito da questão das reservas fracionárias pois entendi que, no formato Currency Board, há necessariamente uma reserva de valor que cubra a moeda local, e na medida em que há a reserva fracionária, necessariamente se cria uma injeção monetária no sistema, o que acaba descompensando a relação moeda local/moeda atrelada. Por ter um câmbio fixo, fiquei com dúvidas à respeito desse antagonismo de manter o valor da moeda estrangeira fixa, mas com um aumento na quantidade de dinheiro da parte da moeda local.

    Sem o Banco Central, com toda certeza haveria uma contenção na expansão monetária, mas fiquei com a impressão que a quantidade de moeda iria aumentar de todo jeito!

    Um abraço, e mais uma vez muito obrigado pelas explicações!
  • Leandro  01/08/2013 19:43
    Prezado Marcel, sob um sistema de Currency Board, há sim multiplicação de depósitos. A quantidade de moeda escritural (dinheiro eletrônico) aumenta por meio das reservas fracionárias. É a base monetária quem varia de acordo com as reservas internacionais.

    Embora haja aumento da quantidade de dinheiro (eletrônico) na economia, a taxa de câmbio ainda assim se mantém irremediavelmente fixa. Como? Simples. Suponha que 1 real seja igual a 1 dólar. Neste arranjo, o Currency Board tem a função de trocar, sem custo e sem demora, 1 real por 1 dólar e 1 dólar por 1 real. Para cada dólar que entra no país, o Currency Board emite 1 real em troca desse dólar. A operação inversa ocorre no caso de uma saída de dólar (real seria entregue ao Currency Board que, em troca, enviaria o dólar para o destinatário estrangeiro).

    Sendo assim, se você quisesse vender 1 dólar por um valor maior do que 1 real para outra pessoa, esta preferiria simplesmente ir ao Currency Board e lá trocaria 1 real por 1 dólar. Ou seja, tal artifício é totalmente eficaz em realmente fixar a taxa de câmbio.

    Sugiro a leitura deste artigo, que aborda o Currency Board de forma mais completa:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1562

    Abraços!
  • Marcel  01/08/2013 19:56
    Perfeito Leandro,

    Entendi o funcionamento.

    Muito obrigado!
  • myself  17/08/2013 03:34
    Off topic:

    Costumo ler a coluna do Celso Ming, do Estadão. Na coluna de hoje tem o seguinte parágrafo:

    "O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, já anunciou leilões de linha de moeda estrangeira. Até agora não usou esse recurso. Trata-se da segunda linha de defesa contra a escalada indesejável das cotações: o Banco Central entrega dólares com o compromisso do tomador de devolvê-los no prazo combinado. A primeira linha de defesa, os leilões de swaps, não está segurando. E a terceira, a venda física de dólares, é o último recurso."

    Alguém poderia oferecer uma descrição mais detalhada do funcionamento dessas três "linhas de defesa" cambial?
  • Leandro  17/08/2013 03:41
    A primeira linha, leilões de swap cambial, envolve operações no mercado futuro. O BC vende contratos de dólar hoje com o intuito de entregar apenas no futuro.

    A segunda linha nada mais é do que uma operação compromissada. O BC vende dólares hoje com o compromisso de recomprá-los em uma data futura.

    A terceira linha, como explicado, é a venda física e direta de dólares.

    Dessas três, as duas primeiras são totalmente inócuas. A terceira é a única que pode surtir algum efeito.
  • Danielbg  17/08/2013 15:59
    Leandro, vou aproveitar a pergunta do myself e tomar um pouco mais do seu tempo: pq as duas primeiras medidas serão inócuas e como a terceira pode não surtir o efeito desejado?
  • Leandro  17/08/2013 16:37
    As duas primeiras medidas têm efeitos apenas pontuais e efêmeros. Elas conseguem afetar a cotação do dólar no dia em que são feitas, mas no dia seguinte o dólar já retorna ao seu valor de antes. Em um sistema de câmbio flutuante, o que decide o valor do dólar no longo prazo é o poder de compra da moeda. Como o poder de compra do real já foi para a latrina -- desde o final de 2010, o IPCA acumulado em 12 meses simplesmente não fica abaixo dos 5% (na maior parte do tempo ficou acima de 6,5%), ao passo que nos EUA ele dificilmente chegou perto de 2% -- o dólar está subindo.

    A única forma de afetar permanentemente o valor do dólar é se o BC se puser diariamente a vender a dólares a um determinado preço. Foi isso o que foi feito durante a primeira fase do Plano Real (1994-1998). Ou se o BC se comprometer a converter reais em dólares a um preço fixo, como se fosse um Currency Board. Ele possui reservas mais do que suficientes para isso.

    É por isso que eu disse que a terceira medida era a única que poderia surtir algum efeito.

    Caso ainda não o tenha feito, sugiro a leitura do presente artigo, que aborda essa questão cambial.

    Grande abraço!
  • Deilton  21/08/2013 20:03
    Prezado Leandro,

    Acessei o site do Banco Central (https://www3.bcb.gov.br/sgspub/consultarvalores/consultarValoresSeries.do?method=trocarGrafico)o gráfico que aparece é diferente do que aparece no Gráfico 13, série 1837. Meio de pagamentos amplos - M2 (Saldo em final de período).

    Qual caminho você seguiu para chegar ao gráfico?
  • Leandro  21/08/2013 20:10
    O gráfico é esse mesmo. Certifique-se de que você escolheu a data de início correta. Qualquer data anterior a julho de 1994 irá gerar um gráfico disforme por causa dos altos valores nominais das moedas daquele período em relação à moeda atual.
  • Hugo  13/01/2014 15:57
    Boa tarde Leandro!

    Na questão da primeira fase do Real,se o governo tivesse buscado diminuir os déficits públicos através da acumulação de superávits primários desde 1995 seria correto dizer que os juros poderiam ter sido bem menores e o país sofreria bem menos com os ataques especulativos de 1997 a 1999?
  • Leandro  14/01/2014 04:00
    Correto quanto aos juros, mas dificilmente impediria a crise de 1998, a qual dependia de reservas acumuladas. Ataques especulativos são inerentes a sistemas de câmbio atrelado, e a crise de 1998 apenas comprovou, mais uma vez, que um arranjo de câmbio atrelado é insustentável.
  • Hugo  14/01/2014 22:28
    E mais uma pergunta: quando o Paul Volcker assumiu o FED como exatamente ele fez pra controlar a oferta de moeda da economia? ele usava alguma espécie de meta específica de limite da expansão dos agregados monetários?
  • Leandro  14/01/2014 22:51
    Como explicado no artigo. Ele tentou controlar a base monetária com a expectativa de que isso faria com que os agregados monetários crescessem a uma taxa fixa.

    Porém, como havia vários distintos e complexos agregados monetários, ninguém se entendia a respeito de "o que era dinheiro" e qual agregado monetário deveria ser seguido: o M1, o M1-A, o M2, o M3 ou o M4? Como conseqüência, estes agregados começaram a oscilar violentamente e de forma "contraditória". Em algumas ocasiões, o M1 disparava, mas o M2 e o M3 ficavam estagnados. Em outras, o M1 encolhia, mas o M2 e o M3 disparavam.

    Aí eles abandonaram tudo.
  • Andre B.  18/02/2014 17:22
    Leandro, com o perdão da ignorância de um leigo em economia, transcrevo e pergunto:

    "Após a inevitável série de ataques especulativos (detalhados aqui) ocorrida no final de 1998, que reduziu abruptamente a quantidade de reservas internacionais do Banco Central, o regime de câmbio atrelado foi abolido logo no início de 1999."

    Qual é o grande lance, que ainda me escapa, de ter uma boa reserva em moedas estrangeiras? Assim sendo, não é bom ter uma política que estimula as exportações?

    "A consequência desta maciça injeção de dinheiro no mercado interbancário foi a volumosa expansão do volume de crédito na economia. Quando bancos concedem crédito, eles criam dinheiro eletrônico para emprestar a pessoas e empresas."

    Se os bancos criam dinheiro eletrônico do nada, eles não precisam desse dinheiro injetado no mercado interbancário para conceder empréstimos, certo? Pelo que entendi, é a redução da SELIC, consequência dessa maciça injeção de dinheiro, que estimula a concessão de crédito. É isto? Desculpe-me pelo preciosismo, é só para tentar entender.
    Qual a alegação do governo para controlar a SELIC? Eles alegam que, controlando a SELIC, controlam a inflação, é isto?
  • Leandro  18/02/2014 18:51
    "Qual é o grande lance, que ainda me escapa, de ter uma boa reserva em moedas estrangeiras? Assim sendo, não é bom ter uma política que estimula as exportações?"

    Uma grande quantidade de reservas internacionais é imprescindível -- pelos motivos explicados no artigo -- para a manutenção de um regime de câmbio atrelado. Já para um regime de câmbio flutuante, reservas são importantes para transmitir confiança aos investidores e especuladores estrangeiros, e também são importantes para evitar grandes flutuações no câmbio em momentos de convulsão global.

    Políticas que estimulam a exportação o Brasil já tem desde sempre. Você por acaso conhece algum político que disse que ia restringir as exportações e estimular as importações? No que mais, "uma política que estimula as exportações" quase sempre se traduz em desvalorização do câmbio e em aumentos da tarifa de importação, algo totalmente deletério para o bem-estar da população.

    Se o objetivo é acumular reservas, então a melhor maneira é criando um ambiente econômico estável e propício aos investidores estrangeiros, que assim trarão para cá suas divisas estrangeiras.

    Quando o BC era comandado por Meirelles, Ilan Goldfajn e Alexandre Schwartsman, e a Fazendo tinha Joaquim Levy, Marcos Lisboa e Murilo Portugal, os investimentos estrangeiros aumentaram expressivamente e o real se fortaleceu perante o dólar, pois esta equipe transmitia confiança.

    Com os atuais pangarés que estão no BC e na Fazenda, o real apenas se esfacela.

    "Se os bancos criam dinheiro eletrônico do nada, eles não precisam desse dinheiro injetado no mercado interbancário para conceder empréstimos, certo?"

    Precisam, sim. Afinal, quando o Bradesco cria dinheiro e empresta, este dinheiro é gasto e acaba caindo na conta de outra pessoa que é cliente do Itaú. Ato contínuo, o Bradesco tem de transferir este dinheiro de suas reservas para as reservas do Itaú.

    O dinheiro injetado no mercado interbancário influi na taxa de juros. Tudo o mais constante, quanto maior a quantidade de dinheiro no mercado interbancário, menor será a taxa de juros cobrada nos empréstimos entre os bancos - e, consequentemente, menor será a taxa de juros cobrada nos empréstimos para pessoas e empresas.

    "Pelo que entendi, é a redução da SELIC, consequência dessa maciça injeção de dinheiro, que estimula a concessão de crédito. É isto?"

    Parcialmente correto. A redução da SELIC barateia o crédito. Mas, em última instância, são as pessoas e as empresas que irão decidir se irão tomar empréstimos ou não. Se elas já estiverem muito endividadas, ou se a inadimplência estiver alta (de modo a fazer com que os bancos fiquem mais cautelosos), uma redução da SELIC não necessariamente irá se traduzir em aumento da concessão de crédito.

    "Qual a alegação do governo para controlar a SELIC? Eles alegam que, controlando a SELIC, controlam a inflação, é isto?"

    Correto. Falando mais detalhadamente, o raciocínio é o seguinte: um aumento dos juros tende a diminuir a propensão das pessoas e das empresas a pegar empréstimos bancários. Sendo assim -- dado que os bancos criam dinheiro sempre que concedem um empréstimos a pessoas e empresas --, um aumento dos juros tende a diminuir a taxa de criação de dinheiro. Logo, tende a diminuir o aumento dos preços.

    Este é o raciocínio.

    Para quem se interessar:

    O sistema bancário brasileiro e seus detalhes quase nunca mencionados

    Grande abraço!
  • André B.  19/02/2014 11:44
    "(...) Menor será a taxa de juros cobrada nos empréstimos entre os bancos - e, consequentemente, menor será a taxa de juros cobrada nos empréstimos para pessoas e empresas."

    Essa é uma outra questão que eu gostaria de esclarecer: a relação da SELIC com a taxa de juros cobrada para pessoas e empresas. Acho que já li, em um comentário teu em outro artigo, que a relação entre a SELIC e a taxa de juros a pessoas e empresas era de menor importância. Ou será que era a relação da SELIC e os rendimentos da poupança ou outras aplicações? Agora não lembro. Enfim, a questão é: qual o impacto da SELIC para nós, pobres mortais? A SELIC afeta os juros cobrados a empresas e pessoas? Afeta os rendimentos da poupança e outras aplicações? Afeta, mas afeta muito pouco?

    Pra encerrar:

    Quando eu for Presidente, você topa ser meu Ministro da Fazenda? :-)
  • Leandro  19/02/2014 12:30
    A SELIC afeta os juros cobrados dos empréstimos para empresas e pessoas, afeta os rendimentos da poupança e de outras aplicações, mas não de maneira proporcional à alteração da taxa. Em última instância, é a percepção dos bancos quanto às condições futuras da economia o que irá ditar quão profundas serão essas alterações nos juros dos empréstimos.

    Alterações na SELIC afetam muito mais diretamente os juros pagos pelo governo sobre sua dívida.

    Sobre o Ministério da Fazenda, acho que vou passar. Não apenas o pré-requisito para ser nomeado é ter baixo QI, como também a pasta tem pouca influência. Quem manda realmente é o Banco Central.

    Grande abraço!
  • Andre B.  20/02/2014 10:25
    Perdão, Leandro. Minha intenção não foi rebaixar sua capacidade intelectual. Na verdade, o meu programa de governo prevê a colocação de alguém capacitado no Ministério da Fazenda para "botar ordem na casa", extinguir o BC e criar um Currency Board...
    :-P
  • JBALL  04/03/2014 06:23
    Leandro, sobre essa parte aqui:

    "dentre os grandes, apenas o Fed e o Banco Central brasileiro utilizam este mecanismo de continuamente injetar dinheiro no mercado interbancário — chamado de operações de mercado aberto — para manter a taxa básica de juros em um determinado nível. O Banco Central Europeu, o Banco Central suíço, o Banco Central da Inglaterra, o Banco Central japonês, o Banco Central canadense, o Banco Central australiano e o Banco Central neozelandês estipulam os juros por meio da janela de redesconto, um mecanismo muito mais punitivo para os bancos."

    Como funciona a janela de redesconto? Tem como a injeção de moeda na economia não dar certo e os banco entesourarem dinheiro com isso?
  • Leandro  04/03/2014 14:56
    Redesconto é empréstimo. O BC empresta aos bancos. Quando o empréstimo vence, o dinheiro volta ao BC e com juros.

    Isso na teoria. Na prática, o empréstimo é sempre rolado, de maneira que o dinheiro acaba não retornando ao BC.

    Mas há uma diferença básica entre janela de redesconto e mercado aberto:

    No mercado aberto, não há a criação de nenhum passivo para o sistema bancário. Dado que o BC compra títulos públicos que estão em posse dos bancos, há apenas uma troca de ativos no sistema bancário: títulos públicos são trocados por dinheiro.

    Já no redesconto, há a criação de passivos para o sistema bancário. Dado que o BC empresta dinheiro aos bancos, há a criação de um passivo, que é justamente o empréstimo junto ao BC.

    Este artigo explica em detalhes o funcionamento do BCE:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1204
  • Sérgio Duarte  09/03/2014 20:43
    Um Currency Board lastreado em uma moeda fiduciária é um sistema exploratório. Quando o país emissor da moeda adota uma política monetária expansionista: ocorre um aumento nominal dos salários de seus habitantes primeiro, ocorre um aumento nominal dos salários dos habitantes do país que adotou o Currency Board depois; ocorre um aumento dos preços no seu mercado interno primeiro, ocorre um aumento de preços no mercado interno do país que adotou o Currency Board depois. Sendo as premissas apresentadas anteriormente verdadeiras, a exploração do país que adotou o Currency Board se dá pelos importadores do país emissor da moeda, conjuntamente com os exportadores do país que adotou o Currency Board. Os importadores conseguirão adquirir produtos, sem converter a moeda, por preços garantidamente mais baixos que os do mercado interno de seu país. Os exportadores serão os primeiros a receber o "dinheiro novo" criado pelo país emissor, por isso terão um poder de compra maior que os outros habitantes. Os lucros das exportações serão a "maquina de criar dinheiro" dos exportadores. Esse "dinheiro novo" poderá ser usado pelo país que adotou o Currency Board para importar produtos do país emissor, mas quando isso for feito, os preços dos produtos no mercado interno do país emissor já terão subido. Fica mais fácil imaginar isso que descrevi, considerando que quando houve a implantação do Currency Board, foi feita uma paridade de preços no mercado interno do país que o implantou, com os preços do mercado interno do país emissor da moeda.
  • Leandro  10/03/2014 00:41
    Prezado Sérgio, suas observações são corretas, mas suas implicações são perigosas.

    Para começar, em um arranjo com Banco Central, os exportadores também são os primeiros a se beneficiar da expansão monetária feita pelo país importador. Apenas siga o dinheiro. O que acontece se o Fed expandir e os preços nos EUA aumentarem? As pessoas lá irão importar. Quem se beneficia? Os exportadores dos outros países, cujos BCs também expandiram para acompanhar o Fed e, desta forma, mantiveram as taxas de câmbio praticamente inalteradas.

    Apenas veja o que ocorre no arranjo atual, em que os Bancos Centrais praticam guerras cambiais: se o Fed expande, todos os outros BCs ao redor do mundo fazem o mesmo. Há inflação de preços nos EUA, mas a taxa de câmbio fica praticamente a mesma. Os exportadores ficam assim protegidos, mas todo o resto da população que não participa do mercado exportador se estrepa, tendo agora de lidar com preços mais altos tanto no mercado interno quanto para produtos importados.

    Por outro lado, vale ressaltar que, em um arranjo de Currency Board, ao menos as importações não podem ser artificialmente encarecidas por manipulações cambiais.

    De resto, vale ressaltar que absolutamente todo e qualquer arranjo monetário terá um beneficiador. Em um padrão-ouro puro, por exemplo, os donos das minas de ouros serão os maiores vencedores. No atual arranjo, o governo e seus empresários favoritos são os grandes ganhadores. Em um Currency Board, os exportadores podem ser os beneficiados apenas se a taxa de câmbio escolhida lhes for favorável.

    Um arranjo com Banco Central seria superior a um Currency Board apenas se o Banco Central se recusasse a participar das guerras cambiais e deixasse sua taxa de câmbio se valorizar continuamente. O único BC que fez isso foi o Bundesbank. O da Suíça também fez durante algum tempo, mas recapitulou vergonhosamente em 2011.

    Transforme o BACEN em uma cópia do Bundesbank e você terá o meu mais ardoroso apoio.
  • Miron  24/04/2014 04:52
    Leandro, ótimo artigo.
    O problema maior com o Currency Board parece ser a exploração dos brasileiros pelo país emissor da moeda que usamos como reserva.
    Se todos os países do mundo adotassem um CB com o dólar como moeda de reserva, todos os países estariam na prática adotando o dólar. A nossa moeda ser o real não ia significar muita coisa. Seria como se tivéssemos uma única moeda global.
    Acontece que ainda teríamos um único banco central, o FED. O país emissor poderia simplesmente deixar de exportar, seus habitantes poderiam se aposentar, os EUA poderiam ligar a impressora e pagar todo seu consumo com dólar. Todos os países do mundo iam se esforçar pra produzir bens enquanto os EUA iam apenas produzir dólar.
    Mesmo sem CB os EUA ainda tem essa facilidade de poder emitir a moeda aceita globalmente, mas o CB apenas concretiza uma exploração.
  • Leandro  24/04/2014 09:33
    Esse cenário que você descreveu é exatamente o que já vigora hoje em dia ao redor do mundo.

    Os Bancos Centrais do mundo inteiro atuam de forma conjunto para manter suas respectivas moedas desvalorizadas em relação ao dólar. Os BCs fazem isso acumulando dólares em suas reservas internacionais.

    Todos os BCs são mercantilistas e fazem isso para proteger seu setor exportador, à custa do poder de compra do resto da população.

    Ou seja, esse seu cenário tenebroso já está ocorrendo atualmente, só que de forma muito pior: com o Currency Board ao menos teríamos o benefício de uma moeda forte e de uma baixa inflação de preços. No modelo atual, temos o ônus de uma moeda fraca e uma alta inflação de preços.

    Simplesmente não há vantagens no atual modelo.

    O único caso de BC que se revelou melhor que um Currency Board foi o Bundesbank pré-euro. Até mesmo o BC suíço capitulou recentemente ao garantir que não deixaria sua moeda se valorizar em relação ao euro.

    Estou totalmente aberto a discussões sobre as desvantagens de um Currency Board; o problema é que simplesmente ainda não vi características no arranjo atual que sejam superiores.
  • Henrique  19/05/2014 18:44
    Gostaria de dizer que estou VICIADO neste site. Ele coloca de forma acessível a leigos como eu a teoria econômica austríaca -- a única a verdadeiramente despertar meu interesse até hoje -- e o mestre Leandro sempre traz precisas análises da conjuntura econômica brasileira, este artigo não poderia ser diferente.

    Meu pai é formado em economia, mas ele é basicamente um economista-matemático, dada sua formação. Apesar de gostar de matemática, não tinha muito encanto pela ciência econômica e resolvi me fazer engenheiro (estou quase lá).

    Tivesse eu tido contato com Mises, Hayek, Rothbard, Böhm-Bawerk e outros antes, talvez minha escolha profissional tivesse sido outra. Os últimos meses, nos quais venho lido os mais variados artigos do IMB, têm sido de um aprendizado fantástico.

    ---

    Eu tenho uma dúvida um pouco mais técnica sobre o funcionamento de um Currency Board.

    Existe alguma metodologia para determinar qual será a taxa de câmbio praticada? Ou atribui-se arbitrariamente:
    A partir de hoje, 1 real equivale a 0,5 dólares!

    E qual é o impacto de uma cotação muito alta ou muito baixa?

    Certamente, uma cotação muito alta dificultaria as exportações e ampliaria as importações, causando déficits primários continuados.

    Como o Currency Board não faz política monetária, como ele conteria esses déficts? Alterar o valor da cotação e fixá-la em outro patamar poderia ser uma solução. Mas isso algo que está nas atribuições de um Currency Board ortodoxo?
  • Leandro  19/05/2014 19:10
    Prezado Henrique, a "metodologia" seria deixar todo o mercado de câmbio funcionando de maneira inteiramente livre por aproximadamente um mês. Não deve haver absolutamente nenhuma restrição ao fluxo de capitais, e nem qualquer resquício de controle de capital.

    Tão logo a taxa de câmbio começar a demonstrar "alguma estabilidade" (sim, isso é bastante subjetivo, mas é tudo o que a teoria tem para oferecer), é chegada a hora da fixação da taxa. No dia escolhido, a taxa daquele dia passa a ser a taxa oficial -- fixa e imutável -- para a conversão. Daí cria-se o Currency Board.

    Ou seja, paradoxalmente, para se fixar a taxa de câmbio, é necessário deixá-la totalmente flutuante por algum tempo.


    Sobre déficits no balanço de pagamentos, o mecanismo de correção é automático. Sob um CB, déficits no balanço de pagamentos geram contração da base monetária. Consequentemente, os bancos restringem o crédito e a taxa de juros do mercado interbancário sobe. Essa contração faz com que os preços no mercado interno caiam. Essa queda de preços tende a estimular as exportações. Ao mesmo tempo, o aumento dos juros tende a atrair capitais estrangeiros. Esses dois fenômenos (aumento das exportações e entrada de capital estrangeiro) revertem o déficit no balanço de pagamentos.

    Grande abraço e muito obrigado pelos elogios.
  • Henrique  19/05/2014 19:45
    De acordo com essa "metodologia" então, uma economia como a brasileira, caso adotasse um currency board fatalmente teria uma moeda mais fraca que o dólar?

    Uma outra curiosidade que tenho é a seguinte:
    Por que uma economia forte como a do Japão possui uma moeda tão desvalorizada? Qual a vantagem disso?
  • Leandro  19/05/2014 20:18
    "De acordo com essa "metodologia" então, uma economia como a brasileira, caso adotasse um currency board fatalmente teria uma moeda mais fraca que o dólar?"

    Não entendi seu raciocínio. Se a taxa de câmbio fosse fixada hoje, com o dólar a R$ 2,20, amanhã o real poderia ser substituído por outra moeda -- por exemplo, a fênix -- que valeria um dólar. Sendo assim, cada 2,20 reais seria substituído por uma fênix, que seria igual ao dólar.

    "Por que uma economia forte como a do Japão possui uma moeda tão desvalorizada? Qual a vantagem disso?"

    A moeda do Japão é desvalorizada, mas é forte. É importante não confundir esses dois conceitos.

    Em 1972, imediatamente após a dissolução de Bretton Woods e a adoção dos câmbios flutuantes, um dólar comprava 305 ienes. Então o iene começou a se valorizar continuamente até que, em outubro de 2011, um dólar comprava apenas 75 ienes. Aqui o gráfico. Isso dá uma apreciação total de 306%.

    Uma das definições de moeda forte é que sua unidade monetária valha cada vez mais em termos das principais moedas do mundo (a outra definição é que, obviamente, seu poder de compra em território nacional seja relativamente constante).

    O que você pode estar estranhando é o alto valor nominal das cédulas do iene. Isso se deve a uma forte inflação ocorrida na Segunda Guerra Mundial. A moeda do Chile apresenta a mesma característica, pois vivenciou uma hiperinflação na década de 1970. Ambas não foram trocadas desde então, ao contrário da moeda brasileira.

    Vale lembrar que, ao passo que o real é de 1994, o iene é de 1871.
  • Henrique  20/05/2014 15:02
    Não entendi seu raciocínio. Se a taxa de câmbio fosse fixada hoje, com o dólar a R$ 2,20, amanhã o real poderia ser substituído por outra moeda -- por exemplo, a fênix -- que valeria um dólar. Sendo assim, cada 2,20 reais seria substituído por uma fênix, que seria igual ao dólar.

    Sim, claro. Isso eu entendi.

    Meu raciocínio foi o seguinte: caso deixássemos flutuar o Real em relação ao Dólar, dada a conjuntura econômica atual do Brasil, é válido afirmar que a estabilização da cotação Dólar/Real se daria em um valor maior que 1.

    Mas de fato, como você apontou, não faz sentido. Uma vez fixado o câmbio, basta trocar a moeda com valores de face menores.

    Nesse ponto me pergunto: não seria o Euro uma escolha mais sensata que o Dólar no momento atual?
  • Leandro  20/05/2014 15:16
    Em termos puramente anti-inflacionários, sim; mas há outras características a serem consideradas, como por exemplo as transações comerciais. Se o Brasil pratica mais comércio com os EUA do que com a zona do euro, e se o dólar ainda é a moeda internacional de troca, então seria mais sensato escolher o dólar.
  • Henrique  20/05/2014 15:28
    Entendido.

    De fato então, a única coisa que impede um país de adotar um Currency Board é que isso diminui os poderes do governo, que passa a não poder inflacionar a moeda para bancar seus gastos exorbitantes...

    Quanto mais eu leio sobre o assunto, mais me aproximo de uma conclusão: vivemos na Matrix!!!
  • Carlos Prado  19/05/2014 20:10
    Leandro, currency boards trazem sempre muitas dúvidas para os leigos. Minha dúvida é quanto esta "alguma estabilidade". Há algum problema, a curto ou a longo prazo, para a economia caso a taxa de conversão não seja bem escolhida? Se escolhida muito abaixo ou muito acima de um "range ideal", se é que há um, haverá alguma distorção nas relações comerciais internacionais? Se houver, estas distorções tendem a serem corrigidas por algum mecanismo de feedback negativo e a economia s e ajusta de alguma forma à taxa fixada?
  • Leandro  19/05/2014 20:26
    Steve Hanke, que é a sumidade no assunto, sempre recomenda: na dúvida, escolha o valor que seja mais desvalorizado. Isso tenderia a evitar todos os problemas que você mencionou. Vale dizer que, de todos os CBs operantes hoje, nenhum sofre desses problemas.
  • Hugo  13/10/2014 17:15
    Leandro,a insolvência de boa parte do sistema bancário e a enorme necessidade de capitalização do mesmo logo após o começo do Plano Real poderia ser considerado mais um fator de pressão altista sobre a SELIC na época?
  • Gustavo  07/07/2015 12:14
    Dúvidas de leigo: Qual a principal diferença entre o câmbio fixo e o atrelado? Por que há tanta confusão entre os dois? E um regime de câmbio fixo não exigiria uma maior intervenção do Estado, o que iria de encontro a outros princípios da Escola Austríaca? E o câmbio flexível não seria mais capaz de "amortizar" os impactos externos nas economias que o adotam?

    Tenho começado a estudar a pouco sobre os regimes de câmbio, então realmente sou leigo no assunto. Já li bastante sobre a Escola Austríaca, mas meu conhecimento na área do câmbio ainda é pequeno.
  • Leandro  07/07/2015 12:41
    "Qual a principal diferença entre o câmbio fixo e o atrelado? Por que há tanta confusão entre os dois?"

    Atrelar o câmbio significa fazer o que o Banco Central do Brasil fez na primeira fase do real: permitir que a moeda flutue dentro de bandas estreitas. Desde a implantação do real, o câmbio nunca foi fixo; ele flutuava dentro de bandas pré-estabelecidas, as quais aumentavam ao longo do tempo.

    Veja o gráfico:

    www.tradingeconomics.com/embed/?s=usdbrl&d1=19950101&d2=19981231&h=300&w=600&ref=/brazil/currency

    Já câmbio fixo é, como o próprio nome diz, um câmbio de valor imutável. Tal arranjo só é possível sob um Currency Board.

    "E um regime de câmbio fixo não exigiria uma maior intervenção do Estado, o que iria de encontro a outros princípios da Escola Austríaca?"

    Câmbio atrelado é intervencionista, pois exige que o Banco Central faça, diariamente, intervenções no mercado cambial para manter a moeda no valor desejado.

    Já câmbio fixo sob um Currency Board é um arranjo de livre mercado: não há autoridade monetária fazendo intervenções; há apenas uma agência de conversão (o Currency Board) que, na prática, funciona única e exclusivamente como uma casa de câmbio. Nesse arranjo, a moeda de um país se torna um mero substituto de uma moeda estrangeira.

    Neste sistema, a moeda nacional é totalmente ancorada a uma moeda estrangeira (por exemplo, X reais são equivalentes a 1 dólar, sempre), e a variação da base monetária nacional se dá de acordo com o saldo do balanço de pagamentos (saldo da quantidade de moeda estrangeira que entra e sai da economia nacional).

    Neste sistema, em teoria, não deve haver um banco central e, consequentemente, não há nenhuma política monetária. A base monetária do país tem de ser idêntica à quantidade de reservas internacionais (no caso, a moeda adotada como âncora), e varia de acordo com a quantidade de moeda que entra e sai da economia em decorrência das transações internacionais do país. Quando há um superávit nas transações internacionais, a base monetária aumenta; quando há um déficit, diminui.

    Quando a base monetária nacional é idêntica à quantidade de reservas internacionais, é impossível haver um ataque especulativo, pois seria impossível exaurir as reservas internacionais (a moeda nacional teria de ser toda mandada pra fora, algo por definição impossível).

    Observe que, neste sistema, a base monetária de um país varia da mesma maneira que a base monetária de Minas Gerais varia quando seus habitantes transacionam, por exemplo, com os habitantes de Goiás.

    Para que tal sistema funcione plenamente, uma Caixa de Conversão (o Currency Board) é criada com a única missão de trocar moeda nacional (que ela própria emite) por moeda estrangeira, e vice versa. Por exemplo: suponhamos que em 1994 o Brasil tivesse adotado um Currency Board seguindo a paridade R$ 1 = US$ 1. Neste caso, partindo-se do princípio de que a quantidade de dólares em posse da Caixa de Conversão fosse igual ou maior do que a base monetária em reais (tal princípio é pré-requisito indispensável para o bom funcionamento do sistema), a Caixa estabeleceria que sempre trocaria, sem custo e sem demora, 1 real por 1 dólar e 1 dólar por real. Ao determinar isso, a taxa de câmbio estaria "fixa" em 1 real pra 1 dólar.

    (Se você quisesse vender 1 dólar por um valor maior do que 1 real para outra pessoa, esta preferiria simplesmente ir à Caixa de Conversão e lá trocar 1 real por um dólar. Ou seja, tal artifício é totalmente eficaz em realmente fixar a taxa de câmbio. E como a quantidade de dólares é, por definição, superior à quantidade de reais, é impossível haver qualquer ataque especulativo.)

    Não vou me esticar aqui em mais detalhes técnicos sobre este sistema, porém é fato que ele seria bastante superior, para um dado país, ao arranjo de câmbio flutuante, pois traria estabilidade de longo prazo para os investimentos, acabaria com as especulações e tiraria completamente das autoridades políticas do país a capacidade de fazer politica monetária.

    "E o câmbio flexível não seria mais capaz de "amortizar" os impactos externos nas economias que o adotam?"

    Câmbio flexível funciona bem para economias já desenvolvidas e estáveis. Em países ainda em desenvolvimento e com governos avacalhados, o câmbio não flutua; ele afunda. E, junto com ele, vai o poder de compra da população.

    Veja, por exemplo, o que aconteceu na Argentina: tão logo os idiotas liberaram o câmbio, o dólar pulou de 1 para 4 pesos em seis meses (o que significa que o peso perdeu 75% do seu poder de compra). Como consequência, 57,5% da população foi para a pobreza, famílias inteiras de classe média ficaram destituídas, e havia quem não conseguia sequer comprar leire.

    Isso é "amortizar os impactos externos"? Eu passo.
  • Gustavo  07/07/2015 12:58
    Valeu! Realmente, não havia pensado no câmbio fixo dessa forma, a princípio achava que tal regime demandaria mais intervenção estatal e acabaria por trazer mais prejuízos. Mas me surgiu outra pergunta: Você diria que o câmbio atrelado é melhor - ou menos pior - que um regime de câmbio realmente flutuante, onde não há sistema de banda cambiais e afins?
  • Leandro  07/07/2015 15:17
    Em Cingapura, o câmbio atrelado funciona bem. Na América Latina, o câmbio flutuante é uma desgraça.
  • Rodrigo Pereira Herrmann  07/07/2015 14:14
    Leandro,

    e neste arranjo de CB, nunca há expansão da base monetária com relação à variação do Produto? numa hipótese de o saldo do BP ser constantemente zero/neutro, mas com aumento do produto interno, também nunca haverá aumento da base monetária?

  • Leandro  07/07/2015 15:23
    Da base monetária, não (muito embora este seu cenário de BP = zero é irreal). Mas haverá expansão da oferta monetária, pois os bancos continuam livres para expandir o crédito e, com isso, criar meios de pagamento (M1, M2, M3 e M4).

    Mesmo nesse caso extremo, se um banco emprestar muito, ficar muito alavancado e precisar de mais reservas, ele tem três opções:

    1) Pede emprestado para outro banco;

    2) Eleva os juros que ele paga para seus correntistas (como forma de atrair novos depósitos, e também de dissuadir que seus correntistas saquem dinheiro).

    3) Atrai dólares de investidores estrangeiros (os quais, estes sim, podem ser levados ao Currency Board e convertidos em moeda nacional, aumentando a base monetária).

    E, caso todos os bancos estejam alavancados -- o que seria raro em um cenário no qual não há um emprestador de última instância, mas que pode acontecer --, aí sobram apenas as opções 2 e 3.

    Essa sua pergunta foi boa porque ela mostra como que, em um cenário de Currency Board, os bancos têm necessariamente de ser mais prudentes, e podem inclusive remunerar melhor seus correntistas, pois não há tabelamento de juros (como há em um cenário com Banco Central).
  • Matheus Ben Hur  19/09/2016 18:29
    Leandro,

    Sobre o Currency Board, como as políticas monetárias do país de origem da moeda de referência poderiam afetar a economia interna? Ou não afetaria?

  • Auxiliar  19/09/2016 18:41
    Respondido em detalhes aqui:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=2196
  • 4lex5andro  09/02/2017 17:30
    Um editorial do caderno de economia do Folha de Sp.

    >> "Convém atentar para algumas implicações desse sistema. A adoção de um CB implica que o estoque de moeda local será maior ou menor dependendo dos agentes trazerem mais ou menos dólares para a economia. Neste sentido, o CB não é suficiente para evitar que ocorram aumentos ou quedas no nível de preços.

    Se, por alguma razão, houver uma grande entrada de capitais externos, haverá uma expansão da moeda que, se não for absorvida pelos agentes, pode aumentar o nível de preços. Arma-se um mecanismo de ajustes tal como no sistema-ouro do fim do século 19.
    Mas o mundo abandonou o sistema-ouro pelos problemas que ele apresentava. Existem períodos em que os preços podem subir ou cair significativamente e a correção subsequente pode ser prolongada.

    O Brasil, no período citado (meados do século 19 ao começo do século 20), não esteve livre de grandes flutuações cambiais ou de preços, quer por fatores externos, quer por fatores internos (como a crise do encilhamento).
    Há outras implicações. A mais importante delas é que o governo deixa de ter a possibilidade de se financiar junto ao Banco Central, se precisar. Tal sistema só funciona se o governo mantiver o Orçamento Público em grande equilíbrio.

    Ademais, ao adotar uma caixa de moeda, o governo abre mão da possibilidade de desvalorizar a taxa de câmbio. Assim, se houver um choque externo ou um fator que abale a confiança dos investidores e cause fuga de capitais, só resta o caminho da recessão para ajustar a economia, porque a taxa de câmbio não pode ser alterada.

    Resumindo, o "currency board" é uma autoridade muito mais simples que um Banco Central, que age como emprestador de última instância, inspeciona o funcionamento das instituições financeiras e age soberanamente em relação à moeda do país." <<

    Esse viés dominante nas autoridades de economia do Brasil (inclusive nas Fea da Usp e Unicamp) serve pra explicar por que ajustes na economia mesmo necessários, tão difíceis de serem implementados no país.
  • Mr Richards  09/02/2017 19:04
    Tudo o que eles não querem. HAHA
  • 4lex5andro  09/02/2017 19:54
    Frisando pequenos trechos do próprio artigo mostra como o IMB tem acertado em seus editoriais.

    " [....] é que o GOVERNO DEIXA DE ter a possibilidade de SE FINANCIAR JUNTO AO BANCO CENTRAL, se precisar. Tal sistema só funciona SE O GOVERNO MANTIVER O ORÇAMENTO PÚBLICO EM GRANDE EQUILÍBRIO.

    Ademais, ao adotar uma caixa de moeda, o governo abre mão da possibilidade de DESVALORIZAR A TAXA DE CÂMBIO. [....] "

    Só um detalhe não mencionado; o artigo citado é de 1995!

    Início do plano Real e ainda não existia a lei de Responsabilidade Fiscal, e já era constatado o desinteresse do próprio estado em ser menos perdulário e conter seus déficit.

  • Dúvida  29/01/2018 02:31
    Algumas coisas ainda não ficaram esclarecidas pra mim.

    1 - Ao trocar a moeda nacional (parte da Base Monetária) por dólares, o que a Agencia de Conversão faz com a moeda recebida? No caso o Real...ela simplesmente o apaga?

    2 - Supondo que o Real seja atrelado ao dólar. E supondo que o FED faça uma lambança e acaba por inflar fortemente sua Base Monetária, obviamente o dólar perderá seu valor e com isso o Real se valorizará, mas para manter o valor estipulado, o BACEN terá de aumentar também sua BM para atrelar ao valor que foi decidido (semelhante ao mecanismo Franco suiço ao Euro a pouco tempo). Isso seria um regime cambial atrelado.
    Já no Currency Board não existe política monetária, mas supondo que novamente o FED faça tal lambança e acaba desvalorizando o dólar. Mesmo após isso o Real deve manter seu valor inicialmente estipulado? Se sim, isso não seria desvantajoso para o Brasil? Pois supondo que o cambio esteja valendo 2 dólares a cada Real, e como o FED fez tal lambança, 2 dólares acaba por na valer nada la, mas aqui ele acaba valendo a mesma coisa...ja que não mudou o seu valor, por ser um cambio fixo.
  • ?   31/01/2018 10:17
    Leandro, poderia detalhar melhor como os juros da janela de redesconto são formados?

    Pelo o que eu entendi os nossos juros são definidos pelo COPOM em meta, e essa meta tende a se aproximar no mercado interbancário pela quantidade de dígitos eletrônicos que se injeta ou que se contrai pela compra e venda de títulos pelo BACEN.

    A taxa de redesconto seria o juro só que cobrado pelo BACEN após este fazer um empréstimo - que é apenas dessa forma em grande parte dos Bacos Centrais na Europa como você cita. Mas como tais juros são estipulados? E por quê são piores para os bancos?
  • anônimo  26/12/2018 06:08
    Texto excepcional.
  • Mamede Ximenes  16/07/2020 01:10
    "É imprescindível que não subestimemos a capacidade dos governantes de destruir a economia em prol da politicagem."
  • Felipe  26/08/2020 19:54
    Esse artigo continua mais atual do que nunca.

    Vale notar que o centro da meta (os 4%) só foi respeitado em quatro anos: 2007 e 2009 no governo Lula e 2017 e 2018 no governo Temer. Aliás, o IPCA no governo Temer ficou mais controlado do que no primeiro ano do governo Bolsonaro. Detalhe que 2018 teve eleição e greve dos caminhoneiros. Ué, o governo atual não era o "novo governo ultraliberal que iria vender a Amazônia para os Estados Unidos"?

    Leandro, você poderia me explicar o que seria essa janela de redesconto aplicada em outros BCs? Até hoje só o BCB e o Fed fazem esse regime de metas de inflação e mercado aberto?

    PS: Bolsonaro, chama o Ilan Goldfajn para o BCB e o Gustavo Franco para o Ministério da Economia.
  • Felipe  02/03/2021 03:30
    "Quando Miller foi retirado, Paul Volcker assumiu o comando e disse que essa prática de determinar uma meta para a taxa de juros não mais seria a política do Fed, e passou a controlar diretamente o crescimento da base monetária e dos agregados monetários, desconsiderando totalmente as taxas de juros resultantes, as quais passaram a flutuar alucinadamente. De início, isso aniquilou a inflação de preços, que caiu de 15% em 1980 para 2,5% em 1983."

    Nesse caso, como o Federal Reserve System controlava os agregados monetários?
  • Breno  30/01/2023 02:45
    Leandro. Acha que essa história de moeda comum pode colocar as reservas internacionais em risco, botar o Brasil em uma crise cambial e provocar um ataque especulativo?
  • Leandro  30/01/2023 18:26
    Subscrevo cada linha do que foi dito aqui:

    twitter.com/leiatheinvestor/status/1619759290591608833/photo/1
  • Breno  30/01/2023 22:09
    Certo. Só uma dúvida: Esse crédito que o Brasil daria à Argentina consistiria em parte das reservas internacionais?
  • Felipe  30/01/2023 22:09
    Essa ideia é tão idiota que eu acho que nem o Lula leva a sério. Bolívia também tem um problemão com reservas internacionais.
  • Revoltado  31/01/2023 15:56
    Progresisstas dizem que a criação da moeda única por aqui é "fake-news". Pessoalmente até torço para aqui eles estejam certos. Imagino o desnível econômico entre Brasil e Argentina (apenas entre esses dois) com grande parte do ônus recaindo sobre o lado de cá da fronteira. Algo talvez pior do que a Alemanha, carregando o euro nos ombros, e isto sendo um país infinitamente mais rico (o mais da Europa, inclusive).


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