Vou
lhes contar um segredo: sempre que o governo diz ser necessário "estimular a
economia por meio de um aumento nos gastos públicos", o que ele na realidade
está dizendo é que irá aumentar os lucros de alguns empresários privilegiados (ou ineficientes) à
custa dos pagadores de impostos.
Os
keynesianos defensores desta doutrina jamais tiveram a coragem moral de colocar
as coisas desta maneira. Eles sempre
dizem que tudo é apenas uma questão de "criar empregos", de "reaquecer a
economia", de "fomentar o crescimento", de "melhorar o tecido social", ou de "ajudar
os mais desfavorecidos".
Mas
a crua realidade é esta: sempre que você apoiar um aumento nos gastos e um
aumento no déficit orçamentário do governo (esqueça a ficção do "superávit primário",
uma excrescência sem sentido inventada pelo FMI; o que vale é o déficit nominal), você está inevitavelmente defendendo privilégios aos empresários favoritos do
governo. Também está defendendo a socialização dos prejuízos daqueles
empresários
incompetentes que não souberam investir corretamente.
Isso
vale para todo e qualquer tipo de aumento de gastos.
Se o governo disser que irá gastar mais com
assistencialismo, os bancos irão financiar o déficit e os pagadores de impostos
ficarão com os juros.
Se o governo disser que irá gastar mais com saúde, além dos
bancos, as empresas do ramo médico — desde as grandes fornecedoras de
equipamentos caros aos mais simples vendedores de luvas de borracha — também
irão lucrar mais.
Se o governo disser que irá gastar mais com obras e
investimentos públicos, além dos bancos, todas as empreiteiras selecionadas
serão beneficiadas.
Se o governo disser que irá gastar mais com subsídios, além
dos bancos, empresários e pecuaristas serão os privilegiados.
Por
uma questão de justiça, vale dizer que nem todos os keynesianos tentam ocultar
o que é evidente. Um de seus mais
brilhantes representantes, Hyman Minsky, deixou bem claro em que consistia todo
o teatro keynesiano: endividar o contribuinte para engordar o capitalista. Leiam suas palavras em um de seus livros mais
importantes, Estabilizando
uma Economia Instável:
Se o déficit público aumentar quando os
investimentos privados e os lucros estiverem diminuindo, os lucros empresariais
não irão diminuir tanto quanto diminuiriam na ausência deste déficit. Com efeito, o Grande Governo serve para
consolidar os lucros das empresas.
Direto
ao ponto. Sem embustes nem rodeios.
A
verdade é que não há nenhum mistério nisso. E é estranho que poucos abordem as coisas desta maneira. O estado, quando decide "estimular" a
economia por meio de mais gastos, pode fazer duas coisas: ou ele pode contratar
uma empresa privada para fazer algum desatino qualquer (como construir um
estádio de futebol), algo que os consumidores não teriam contratado por si
mesmos, de maneira que estas empresas receberão uma injeção de dinheiro público
na veia; ou ele pode executar seus dispêndios por meio de alguma estatal, o que
inevitavelmente também gerará toda uma série de lucros privados, não apenas em
prol de seus empregados, mas também e principalmente em prol de fornecedores,
clientes etc.
E,
novamente, em ambos os cenários, o déficit do governo será financiado pelos
bancos, e os pagadores de impostos arcarão com os juros.
Não
há escapatória: quando o estado se endivida e gasta, o que em última instância
ele está fazendo é garantindo lucros a seus empresários favoritos, a maioria
deles ineficientes.
Não
há diferença prática entre o estado aumentar seus gastos para "estimular a
economia" e o estado socorrer bancos ou terceirizar a gestão de algum serviço
público para uma empresa privada em regime
de monopólio. Em todos eles está
havendo transferência de recursos públicos para mãos privadas. A única diferença teórica é que, nestes dois
últimos exemplos, vemos com clareza como o dinheiro está sendo transferido dos
pagadores de impostos para alguns capitalistas específicos, ao passo que, com
os estímulos, muitos se limitam a aplaudir sem perceber que eles próprios estão
sendo espoliados.
Por
fim, percebam a ironia das ironias: os maldosos liberais defensores da
contenção dos gastos e do déficit zero são aqueles que, no final, se recusam a
socializar os prejuízos privados e a enriquecer vários torpes capitalistas por
meio da espoliação dos pagadores de impostos, ao passo que os intervencionistas
"defensores do povo" são os principais aliados dos grandes empresários que obtêm
grandes lucros simplesmente porque se beneficiam das consequências do aumento
dos gastos do governo e do déficit público.
Gastos
públicos, lucros privados. É uma lástima
que algumas pessoas ainda não tenham entendido de que lado realmente estão e
quais interesses privados estão defendendo.