segunda-feira, 7 abr 2014
Os
últimos relatos detalhando todas as lambanças e maracutaias que ocorreram
dentro da Petrobras não devem surpreender aquelas pessoas que realmente
entendem que, em uma empresa que tem como maior acionista o Tesouro nacional, a
rede de incentivos funciona de maneira um tanto distinta. Em última instância, eventuais maus negócios e seus subsequentes
prejuízos ou descapitalizações serão prontamente cobertos pela viúva — ou seja, por nós, pagadores
de impostos, ainda que de modos rocambolescos e indiretos.
O
imbróglio mais famoso do momento é o da compra da refinaria de Pasedena, no
Texas, em 2006. A Petrobras pagou US$
360 milhões por 50% da refinaria (US$ 190 milhões pelos papéis e US$ 170
milhões pelo petróleo que estava em Pasadena). O valor é muito superior ao que
havia sido pago apenas um ano antes pela Astra Oil, da Bélgica, por 100% da
refinaria: US$ 42,5 milhões.
Mas
a coisa piora: um desentendimento ocorrido em 2008 entre a Petrobras e a Astra
Oil acionou uma cláusula contratual (no jargão técnico conhecida como Put
Option) que obrigou a estatal brasileira a comprar toda a fatia que pertencia à
empresa belga. E, como se não bastasse,
havia também uma segunda cláusula contratual, conhecida como Marlim. A Put Option estipulava que, em caso de desavença
entre os sócios, a outra parte seria obrigada a adquirir o restante das ações. Já
a Marlim garantia à sócia da Petrobras, a belga Astra Oil, um lucro de 6,9% ao
ano.
Consequentemente,
a aquisição da refinaria de Pasadena acabou custando US$ 1,18 bilhão à estatal,
um valor mais de 27 vezes maior do que aquele que a Astra teve de desembolsar.
Quem
presidia o Conselho de Administração da estatal e que deu aval a toda essa
operação, ignorando a possibilidade de acionamento dessas cláusulas
contratuais, era Dilma Rousseff.
Outra
figura que ficou famosa é o ex-diretor de Refino e Abastecimento da Petrobras,
Paulo Roberto Costa, que foi apontado como um dos responsáveis por elaborar o
resumo técnico da operação de 2006, e que não teria informado ao conselho de
administração da estatal (presidido por Dilma) sobre a existência das cláusulas
Put Option e Marlim.
No
entanto, apesar de ele ter participado diretamente da compra da refinaria de
Pasadena, ele foi preso por um motivo não-relacionado a essa negociação: ele
foi acusado de participar em um esquema de lavagem de dinheiro e de fazer
intermediação em vendas irregulares de glicerina de uso industrial. Essa operação ficou popularmente conhecida
como "Operação Lava-Jato"
Mas
tudo isso é apenas a ponta do iceberg.
Há muito mais.
Há
indícios de que a empresa holandesa SBM Offshore, que fornece plataformas
marítimas flutuantes, pagou
propina a funcionários graúdos da Petrobras para que estes escolhessem a
empresa holandesa como fornecedora — a qual, por sua vez, cobraria preços
muito maiores pelos produtos fornecidos.
Isso ocorreu entre os anos de 2005 e 2012.
Há
denúncias de que plataformas estariam sendo lançadas ao mar sem
equipamentos primordiais de segurança.
Há
indícios de superfaturamento
na construção de refinarias.
Há
o fato de que a Petrobras perdoou
um calote da Venezuela, abrindo mão de penalidades que exigiriam da
Venezuela o pagamento de uma dívida contraída pelo Brasil para as obras na
refinaria Abreu Lima, em PE. O acordo feito entre Lula e
Hugo Chávez deixou o Brasil com a missão de garantir, sozinho, investimentos de
US$ 20 bi.
Há
o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, Comperj, que foi orçado em US$ 6,5
bilhões e que, até o momento, já
custou mais de US$ 13,5 bilhões.
E,
para coroar, descobriu-se
recentemente que, nos últimos três anos, a Petrobras fechou R$ 90 bilhões
em contratos sem fazer licitação, o que equivale a mais de 28% de tudo o que a
estatal gastou entre 2011 e 2013. Segundo
a reportagem, as "modalidades normalmente adotadas pela administração pública,
como concorrência e tomada de preços, representam menos de 1% dos contratos da
Petrobras. Em 71% dos casos, a forma de
controle é mais branda, como carta-convite."
A
Petrobras dispensa licitação até para a contratação de mão-de-obra
terceirizada.
E
por que se preocuparia com isso? Boa
parte do dinheiro que for mal gasto será reposto por nós.
Solução
Os
problemas de um setor petrolífero nas mãos do estado são óbvios demais: ele
gera muito dinheiro para políticos, burocratas, empreiteiras ligadas a políticos, corruptores, sindicatos e demais
apaniguados. Isso é tentador. A teoria diz que toda e qualquer
gerência governamental sobre uma atividade econômica sempre estará subordinada
a ineficiências criadas por conchavos políticos, a esquemas de propina em
licitações, a loteamentos de cargos para apadrinhados políticos e a monumentais
desvios de verba. No setor petrolífero, Venezuela, Nigéria e todos os
países do Oriente Médio comprovam essa teoria.
Um
setor ser gerido pelo governo significa apenas que ele opera sem precisar se
sujeitar ao mecanismo de lucros e prejuízos. Todos os eventuais déficits
operacionais gerados pela corrupção serão cobertos ou pelo Tesouro ou pelo aumento dos preços dos combustíveis nas bombas. O interesse do consumidor é a
última variável a ser considerada.
No setor petrolífero brasileiro, o dinheiro é retirado do subsolo e despejado
no buraco sem fundo da burocracia, da corrupção, dos privilégios e das
mamatas. Todos os governos estaduais e todos os políticos do país querem
uma fatia deste dinheiro para subsidiar suas burocracias e programas estatais
preferidos. Consequentemente, em todos os setores em que esse dinheiro é
gasto, ele é desperdiçado. Como é economicamente impossível o governo
produzir algo de real valor, ele na prática apenas consome os ativos e a
riqueza do país.
Caso
o setor petrolífero estivesse sob o controle de empresas privadas, todo o
dinheiro retirado do subsolo seria de propriedade destas empresas e de seus
acionistas. Sim, haveria impostos sobre esse dinheiro. Mas a maior
parte dele ainda iria para mãos privadas. É assim nos EUA e em vários
países da Europa. Tal arranjo mantém o dinheiro longe das mãos do governo
e dos demais parasitas, e garante que a produção e a distribuição sempre
ocorrerão estritamente de acordo com interesses de mercado, e não de acordo com
conveniências políticas.
Sendo
assim, qual a maneira efetiva de se desestatizar o setor petrolífero do Brasil?
Legalizando a concorrência. Para isso, bastaria o estado se retirar do
setor petrolífero, deixando a Petrobras à sorte de seus próprios funcionários,
que agora não contariam com nenhum monopólio, nenhuma proteção e nenhuma
subvenção. O estado não venderia nada para ninguém. Apenas sairia
de cena, aboliria a ANP e nada faria para impedir a chegada concorrência
estrangeira.
A
Petrobras é do povo? Então, nada mais coerente do que colocar este mantra
em prática: após a retirada do governo do setor petrolífero, cada brasileiro
receberia uma ação da Petrobras que estava em posse do governo. E
só. Ato contínuo, cada brasileiro decidirá o que fazer com esta
ação. Se quiser vendê-la, que fique à vontade. Se quiser mantê-la,
boa sorte. Se quiser comprar ações das outras empresas petrolíferas que
agora estarão livres para vir operar aqui, sem os onerosos fardos da
regulamentação da ANP, que o faça. Se a maioria dos acionistas
brasileiros quiser vender suas ações para investidores estrangeiros, quem irá
questionar a divina voz do povo? Se o povo é sábio o bastante para votar,
então certamente também é sábio o bastante para gerenciar as ações da
Petrobras.
O
objetivo supremo é fazer com que o dinheiro do petróleo vá para as mãos do
povo, e não para o bolso de políticos e burocratas. É assim que acontece
em outros países, principalmente nos EUA, onde não há autossuficiência e a
gasolina é bem mais barata que a nossa.
Conclusão
É
claro que isso nunca será feito. Isso significaria capitalismo
genuíno. Significaria cidadãos privados participando ativamente da
riqueza gerada pela indústria petrolífera, e se beneficiando dela — algo
proibido em arranjos socialistas como o que vigora no Brasil.
Sem
o estado participando ativamente do setor petrolífero, não mais seria possível
ocorrer as manipulações, as indicações políticas e os jogos de favorecimento a
companheiros no alto comando da Petrobras.
Mas
nenhum governo de nenhum partido fará esse tipo de reforma. Imaginar que
políticos irão voluntariamente abrir mão dos privilégios gerados pela Petrobras
é tão lógico quanto imaginar que cupins irão voluntariamente abdicar da
madeira.
O
governo é naturalmente formado por insaciáveis praticantes da espoliação
pública. Tais pessoas não apenas querem utilizar o dinheiro do petróleo
para financiar seus próprios projetos eleitoreiros, como também querem ter o
governo subsidiando esses seus buracos sem fundo. Só nos resta aguentar.