quarta-feira, 12 nov 2014
O
PIB é o número que os mercados financeiros e os analistas econômicos esperam
com mais ansiedade do que qualquer outro.
Trata-se daquela que é tida como a mais importante medida do sucesso de
uma economia. O mercado de ações, o
mercado de câmbio e o mercado de títulos dependem desse número, assim como
presidentes e primeiros-ministros.
O
PIB é a régua com a qual mensuramos as economias.
O
problema é que, por si só, ele é inútil.
Os problemas
Este
ano, o PIB fez um importante aniversário: são 80 anos sendo o principal mensurador de sucesso
econômico. A medição do PIB foi criada a
pedido do então presidente americano Franklin Delano Roosevelt na década de
1930, quando ele decidiu que, como todo intervencionista, necessitava saber em
mais detalhes o que estava ocorrendo com a economia americana para que pudesse
intervir mais decididamente.
O
PIB é uma mera tentativa de somar todas as atividades que ocorrem dentro de um
país para então colocar um número preciso no valor total da produção. Mas esse cálculo possui vários críticos e
detratores.
Por
exemplo, o PIB não mensura trabalhos domésticos. Gastos governamentais — algo que destrói riqueza em vez de criar —
estimulam os números do PIB. A mera
reconstrução de estruturas destruídas por terremotos, furacões ou enchentes,
algo que simplesmente leva o país de volta para o ponto em que ele estava antes
do desastre, é tomado como parte do crescimento do PIB. O desperdício do dinheiro arrancado à força
do setor produtivo da sociedade com o pagamento de inúteis operações e
burocracias governamentais, algo que em nada contribui para o bem-estar da
população, também contribui para o crescimento do PIB.
Ainda
assim, o PIB vem sendo encarado como a melhor ferramenta disponível para
mensurar como está indo a população de um país.
Se o PIB sobe, a população está enriquecendo. Se o PIB cai, a população está empobrecendo.
O número que realmente importa
Mesmo
desconsiderando os problemas listados acima, e aceitando — para o bem do
debate — que o PIB é a melhor ferramenta de que dispomos para mensurar as
economias, o fato é que, por si só, o PIB é um número inútil.
E
é inútil simplesmente porque ele não leva em consideração as mudanças demográficas. O
PIB desconsidera alterações na quantidade de pessoas que estão vivendo dentro
de um determinado país. E o número de
pessoas que vive dentro de um país — ou, mais ainda, a alteração do número de
pessoas que vive dentro de um país — é o mais importante determinante do seu
crescimento econômico.
Com
efeito, o indicador que realmente importa é o PIB per capita. É ele quem
indica se os indivíduos — em vez do "país", que é um conceito totalmente
abstrato — estão enriquecendo ou empobrecendo.
Se um país estiver vivenciando rápidas mudanças em seus níveis
populacionais, um eventual aumento do PIB pode não ser tão bom quanto
aparenta.
Matematicamente,
o PIB de um país representa o valor total de tudo aquilo que foi produzido por
todos os seus habitantes. Sendo assim,
se o número de habitantes de um país estiver crescendo, o número de pessoas
trabalhando, produzindo e consumindo também irá crescer. Logo, o PIB terá naturalmente de
crescer.
É
aí que surgem alguns detalhe que o PIB, por si só, não captura. Por exemplo, é possível que um rápido aumento
populacional eleve o PIB total e, ainda assim, deixe a população geral mais
pobre. Inversamente, uma diminuição na
população pode reduzir o PIB total e, ainda assim, deixar as pessoas mais
ricas.
Daí
a importância do PIB per capita: ele mensura a evolução da riqueza de cada indivíduo do país, o que o torna um
indicador mais acurado da real situação da economia de cada nação.
Tão
logo você passa a considerar o PIB per capita — e o Banco Mundial
fornece os números de todos os países desde a década de 1980 —, grande
parte daquilo que você imaginava saber sobre a economia global se comprova
incorreto.
Por
exemplo, o Japão — cuja demografia está estagnada — vem apresentando um
desempenho bastante decente ao longo das últimas décadas. Já o Reino Unido, que vem apresentando PIBs
auspiciosos, está bem pior do que os números indicam, e ainda não recuperou
seus níveis de riqueza vigentes antes da crise financeira.
Durante
muito tempo, os países desenvolvidos apresentavam comportamentos demográficos
muito similares, de modo que apenas o PIB já era suficiente para indicar quem
estava indo melhor e quem estava indo pior.
Hoje, no entanto, as demografias desses países divergem
dramaticamente.
Japão,
Alemanha e Itália possuem populações que estão ou encolhendo ou prestes a
começar a encolher. Já Estados Unidos, Reino
Unido e França têm populações em crescimento.
À medida que essas divergências forem se tornando mais pronunciadas, os
PIBs de cada um desses países se tornarão cada vez mais inúteis — e o PIB per
capita será a única medida relevante.
O
gráfico a seguir mostra a taxa de crescimento do PIB per capita, desde 2005,
para Japão (cinza escuro), Reino Unido (cinza claro), Estados Unidos (laranja),
China (azul), Brasil (roxo), e para o mundo (vermelho).

O
Japão é o exemplo mais significativo porque é o país que apresenta as mais
dramáticas tendências demográficas. Após
chegar ao ápice de 128 milhões de pessoas alguns anos atrás, a população
japonesa está hoje encolhendo, e rapidamente começará a encolher a um ritmo de
um milhão de pessoas por ano.
Por
isso, seu desempenho em termos de PIB per capita não é nada mau — ainda mais
quando se considera todas as notícias de jornal dizendo que o PIB do país está
estagnado há décadas.
Agora,
vejamos a evolução do PIB per capita dos países dos BRICS. Brasil (vermelho), China (cinza escuro),
Índia (cinza claro), Rússia (laranja), África do Sul (azul).

A
China cresce robustamente mesmo em termos per capita. A Índia também consegue se manter. É também possível entender o recente desânimo
com o Brasil.
Agora,
vejamos a evolução do PIB per capita dos cinco países economicamente mais
livres do mundo de acordo com a Heritage Foundation: Hong Kong (vermelho),
Cingapura (cinza escuro), Austrália (cinza claro), Nova Zelândia (laranja), Suíça
(azul).

Austrália
e Nova Zelândia são os países que apresentam os desempenhos mais estáveis e
consistentes. Destaque também para a
Suíça, que, mesmo já sendo um país extremamente rico, ainda consegue manter uma
decente taxa de crescimento da riqueza per capita.
Por
fim, vejamos agora um gráfico contendo países ricos e de comportamento
demográfico divergentes: Estados Unidos (vermelho), Japão (cinza escuro),
Alemanha (cinza claro)m Itália (laranja), França (azul), Reino Unido (roxo).

Ou
seja, se analisarmos o crescimento do PIB per capita de cada país — em vez de
olharmos apenas os tradicionais números do crescimento do PIB —, o desempenho
do Japão está longe de ser o pior do G7.
De acordo com os dados do Banco Mundial, essa dúbia honra cabe à Itália. O país está ainda pior do que os números do
PIB indicam. A França também não faz
inveja a ninguém.
Já
a Alemanha apresentou um incrível fôlego até o ano passado.
O
Reino Unido, por sua vez, vivencia uma situação interessante. Seus recém-divulgados números do PIB foram
surpreendentemente fortes, e este ano o país apresenta uma das mais aceleradas
economias do G-7. Segundo os números do
PIB, em julho deste ano, o Reino Unido finalmente retornou aos níveis vigentes
em 2008, antes da crise.
Mas
a situação em termos per capita é outra.
A população do Reino Unido é uma das que mais cresce em toda a Europa,
majoritariamente por causa de seus altos níveis de imigração. Atualmente, o país tem 2,7 milhões a mais de
pessoas do que tinha há seis anos. Sendo
assim, é compreensível que seu PIB tenha crescido, e também é compreensível que
seu PIB per capita ainda esteja
significativamente abaixo de onde estava em 2008.
E,
como mostra o gráfico, o crescimento do PIB
per capita tem sido bem menos extasiante do que os números do PIB sugerem.
Conclusão
No
mundo atual, países com economias similares estão em caminhos fragorosamente
divergentes em termos demográficos. O
Japão é o exemplo mais extremo, com sua população em rápido declínio. Em um futuro próximo, Alemanha, Itália e
Espanha também estarão no mesmo barco. A
Alemanha apresentou um ótimo desempenho nos últimos anos, mas sua população já
chegou ao ápice e já se estima que, ao final desta década, entrará em declínio
(a população da Alemanha cairá para 50 milhões até 2050, menor do que a Reino
Unido).
Consequentemente,
é de se esperar que o PIB da Alemanha comece a sofrer. A China se juntará a esses países no devido
tempo. A Rússia também. E, assim como o Japão, o PIB, por si só, fará
a situação parecer pior do que realmente é.
Outros
países apresentarão uma situação oposta.
O Reino Unido, como vimos, deverá apresentar bons números de PIB por
causa de seu crescimento demográfico. O
mesmo deverá ocorrer com a França. E com
ainda mais intensidade com os EUA.
Por
que isso é extremamente importante?
Porque investidores estão olhando para um número grande e importante
que, na realidade, não reflete o verdadeiro estado de uma economia. Minha sugestão: ignore os números do PIB e
concentre-se no PIB per capita. Esse indicador diz com muito mais acurácia
qual país está realmente indo bem.