sexta-feira, 22 0aio 2015
Todas
aquelas pessoas que falam com assombrosa desenvoltura sobre redistribuição de
renda normalmente agem como se os indivíduos de uma sociedade fossem meros
objetos inertes, os quais podem ser comandados e controlados como peças em um
tabuleiro de xadrez, com o objetivo de servirem de peões para a realização de algum
projeto grandioso.
Porém,
se considerarmos que os seres humanos são dotados de livre-arbítrio e têm respostas
instintivas e particulares a toda e qualquer política adotada pelo governo, então
simplesmente não faz sentido pressupor que as políticas do governo terão o
efeito pretendido.
A
história do século XX está repleta de exemplos de países que
se propuseram a redistribuir riqueza e acabaram redistribuindo pobreza. Os
países comunistas foram um exemplo clássico, mas não são de modo algum o único
exemplo.
De
acordo com a teoria defendida pelos adeptos da redistribuição de renda, confiscar
a riqueza das pessoas mais bem-sucedidas e redistribuí-la para os mais
pobres fará com que toda a sociedade se torne mais próspera. Entretanto, quando a União Soviética confiscou a riqueza de
fazendeiros bem-sucedidos, os alimentos se tornaram escassos e o resultado foi
a inanição. Sob o regime de Stalin, durante
a década de 1930, o número
de mortos de fome foi praticamente igual ao número de mortos
no Holocausto de Hitler na década de 1940.
Por
que isso acontece? Realmente, não é nada
complicado. No mundo real, só é possível confiscar a riqueza que já
existe em um dado momento. Não é
possível confiscar a riqueza futura; e é menos provável que essa riqueza futura
seja produzida quando as pessoas se derem conta de que ela também será
confiscada.
Os
agricultores da União Soviética, tão logo perceberam que o governo iria confiscar
uma grande parte da colheita futura, simplesmente reduziram a quantidade de
tempo e esforço investidos no cultivo de suas plantações. Eles passaram a abater e a comer animais ainda
jovens, os quais, em circunstâncias normais, seriam mantidos e alimentados até
se tornarem prontos para a venda.
Na indústria,
no comércio e nos serviços, as pessoas também não são objetos inertes. Os
industriais, por exemplo, e ao contrário dos agricultores, não estão amarrados
ao solo de nenhum país. O russo Igor
Sikorsky, pioneiro da aviação de seu país, pôde levar a sua experiência para os
EUA e, com isso, produzir seus aviões e helicópteros a milhares de quilômetros
de distância de sua terra natal. Os financistas
são ainda menos amarrados à sua terra, especialmente hoje, quando vastas somas
de dinheiro podem ser enviadas eletronicamente, a um simples toque no
computador, a qualquer parte do mundo.
No
que mais, se as políticas confiscatórias podem produzir repercussões
contraproducentes em uma ditadura, elas são ainda mais difíceis de lograr
algum êxito em uma democracia.
Uma
ditadura pode repentinamente se apossar do que quiser. Já uma democracia — pelo menos nas mais
avançadas, nas quais as instituições são fortes — exige que primeiro haja
discussões e debates públicos. Aqueles
que sabem que serão o alvo preferencial dos futuros confiscos podem imaginar o
que está por vir e, consequentemente, agir de acordo — normalmente, enviando
seu dinheiro para o exterior ou simplesmente saindo do país.
Entre
os ativos mais valiosos de qualquer país estão o conhecimento, as habilidades
práticas e a experiência produtiva — aquilo que os economistas chamam de
"capital humano". Quando pessoas
bem-sucedidas e com um grande capital humano deixam o país — seja
voluntariamente, seja por causa de governos hostis ou por causa de multidões bárbaras
que foram intelectualmente excitadas por demagogos que exploram a inveja —, haverá
um estrago duradouro na economia desse país.
As
políticas confiscatórias de Fidel Castro fizeram com que vários
cubanos bem-sucedidos fugissem para a Flórida, vários deles deixando
grande parte da sua riqueza física para trás. Mesmo refugiados e completamente destituídos,
eles cresceram e voltaram a prosperar na Flórida, tornando-se uma das
comunidades mais ricas daquele estado. Já
a riqueza que eles deixaram para trás em Cuba não impediu que as
pessoas de lá se tornassem indigentes no governo de Fidel. A riqueza duradoura que os refugiados
levaram consigo era o seu capital humano.
A riqueza material que ficou para trás foi consumida e não foi
replicada.
Todos
nós já ouvimos o velho ditado que diz que dar a um homem um peixe irá alimentá-lo
por apenas um dia, ao passo que ensiná-lo a pescar irá alimentá-lo por toda a
vida. Os partidários da redistribuição
querem dar a cada indivíduo um peixe para assim deixá-lo dependente do governo,
sempre à espera de mais peixes no futuro.
Se
esses "redistribucionistas" realmente fossem sérios, o que eles iriam
querer distribuir seria a capacidade de pescar, ou a capacidade de ser
produtivo de outras maneiras. O
conhecimento é uma das poucas coisas que podem ser distribuídas para todas as
pessoas sem que isso reduza o montante detido por algumas.
Isso
serviria perfeitamente aos interesses dos pobres. Mas não serviria aos interesses de políticos
que querem exercer o poder, e que recorrem à redistribuição para obter os votos
de pessoas que maliciosamente se tornaram dependentes deles.
Para
as várias pessoas que não querem pensar mais detidamente,
a redistribuição é uma política humana e decente. E gera muitos votos.