segunda-feira, 26 jan 2015
Observação: este artigo foi originalmente publicado no dia 26 de janeiro de 2015. Por causa da veloz depreciação do real ocorrida desde então, estou sendo obrigado a atualizar os gráficos hoje, dia 11 de agosto.
A
melhor maneira de aferir a saúde de uma moeda é analisando a evolução de sua
taxa de câmbio em relação às outras moedas do mundo.
A
taxa de câmbio é um preço formado instantaneamente pela interação voluntária de
bilhões de agentes econômicos ao redor do mundo. Se esses bilhões de agentes econômicos acreditam
que a inflação de preços no seu país será baixa, sua moeda irá se
valorizar. Se eles acreditam que a
inflação está alta ou que ela será alta, sua moeda irá se desvalorizar.
Grosso
modo, a taxa de câmbio representa, em tempo real, a razão entre o nível geral
de preços vigente em dois países distintos.
A taxa de câmbio entre dois países é igual à razão de seus níveis de
preços relativos.
Sendo
assim, a evolução da taxa de câmbio é uma narrativa da evolução do poder de
compra atual de sua moeda em relação a todas as outras.
A
conclusão, portanto, é que com a taxa de câmbio não há segredo: se ela está se
desvalorizando por muito tempo, então é porque o país está em rota
inflacionária. Se ela está se
valorizando com o tempo, então é porque o país está em rota sadia.
Não
há mensurador mais confiável e mais acurado do que esse.
E
qual foi o histórico do real durante os quatro anos do governo Dilma? De maneira simples e educada, pavoroso.
O
real não só apanhou de todas as moedas tradicionais (dólar americano, euro,
franco suíço, libra esterlina, dólar australiano, dólar canadense, dólar
neozelandês, dólar de Cingapura e renminbi chinês), como também conseguiu
apanhar de portentos como o guarani paraguaio, o novo sol peruano, o peso
uruguaio, o boliviano, o baht tailandês e o gourde haitiano (sério).
Naturalmente,
o real também apanhou do peso mexicano, do peso colombiano e do peso chileno.
Como
consolo, fomos melhores que o peso argentino e que o rublo russo (mas só na
prorrogação).
Veja
a carnificina.
(Obs:
quando uma unidade de moeda estrangeira é maior que 1 real, a cotação se dá em
termos de moeda estrangeira por real; quando 1 real é maior que uma unidade da
moeda estrangeira, a cotação se dá em termos de real por moeda estrangeira).

Gráfico 1: evolução da taxa de câmbio do
dólar americano em relação ao real. De
31 de dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o dólar se apreciou 102% em
relação ao real.

Gráfico 2: evolução da taxa de câmbio do franco
suíço em relação ao real. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o franco se apreciou 98% em relação
ao real.

Gráfico 3: evolução da taxa de câmbio do
euro em relação ao real. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o euro se apreciou 70% em relação ao
real.

Gráfico 4: evolução da taxa de câmbio da
libra esterlina em relação ao real. De
31 de dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, a libra se apreciou 105% em
relação ao real.

Gráfico 5: evolução da taxa de câmbio do
dólar canadense em relação ao real. De
31 de dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o dólar canadense se apreciou 57% em relação ao real.

Gráfico 6: evolução da taxa de câmbio do dólar
australiano em relação ao real. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o dólar australiano se apreciou 50%
em relação ao real.

Gráfico 7: evolução da taxa de câmbio do
dólar neozelandês em relação ao real. De
31 de dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o dólar neozelandês se apreciou 79% em relação ao real.

Gráfico 8: evolução da taxa de câmbio do
dólar de Cingapura em relação ao real.
De 31 de dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o dólar de Cingapura
se apreciou 90% em relação ao real.

Gráfico 9: evolução da taxa de câmbio do
real em relação ao renminbi chinês. De 31
de dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o real se desvalorizou 54% em
relação ao renminbi.

Gráfico 10: evolução da taxa de câmbio do real
em relação ao peso mexicano. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o real se desvalorizou 35% em relação
ao peso mexicano.

Gráfico 11: evolução da taxa de câmbio do real
em relação ao peso colombiano. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o real se desvalorizou 26% em relação
ao peso colombiano.

Gráfico 12: evolução da taxa de câmbio do real
em relação ao peso chileno. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o real se desvalorizou 29% em relação
ao peso chileno.
Agora o massacre se torna mais humilhante:

Gráfico 13: evolução da taxa de câmbio do
real em relação ao boliviano. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o real se desvalorizou 51% em relação
ao boliviano.

Gráfico 14: evolução da taxa de câmbio do
real em relação ao sol peruano. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o real se desvalorizou 43% em relação
ao sol peruano.

Gráfico 15: evolução da taxa de câmbio do real
em relação ao gourde haitiano. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o real se desvalorizou 35% em relação
ao gourde haitiano.

Gráfico 16: evolução da taxa de câmbio do real
em relação ao guarani paraguaio. De 31
de dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o real se desvalorizou 45% em
relação ao guarani paraguaio.

Gráfico 17: evolução da taxa de câmbio do real
em relação ao peso uruguaio. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o real se desvalorizou 29% em relação
ao peso uruguaio.

Gráfico 18: evolução da taxa de câmbio do real
em relação ao baht tailandês. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o real se desvalorizou 43% em relação
ao baht.
A consolação

Gráfico 19: evolução da taxa de câmbio do real
em relação ao peso argentino. De 31 de
dezembro de 2010 a 11 de agosto de 2015, o real se valorizou 14% em relação ao
peso argentino. E, mesmo assim, toda a valorização do real ocorreu em 2014,
quando a Argentina decretou moratória.

Gráfico 20: evolução da taxa de câmbio do real em relação ao rublo russo. De 31 de dezembro de 2010 a 13 de março de 2015, o real se valorizou 1,5% em relação ao rublo. E, mesmo assim, toda a
valorização do real ocorreu apenas em dezembro de 2014, quando o rublo se
esfacelou no mercado mundial. De 2011 a meados de 2014, o real se desvalorizou
em relação ao rublo.
Conclusão
Nossa
moeda está sendo impiedosamente esfacelada em decorrência das políticas
monetária e fiscal do governo, perdendo poder de compra em relação até mesmo à
moeda do Haiti.
Em
julho de 2011, o dólar custava R$1,54.
Quem ganhava R$ 3.000 naquela época tinha um salário equivalente a US$
1.948. Hoje, com o dólar a aproximadamente R$ 3,50, essa
mesma pessoa teria de estar ganhando R$ 6.818 (aumento de 127%) apenas para
voltar ao valor nominal em dólares de 2011.
Da mesma forma, um salário mínimo em meados de 2011 valia US$ 353. Hoje vale apenas US$ 225.
O
povo está sendo enganado direitinho.
Enquanto
isso, economistas desenvolvimentistas continuam batendo bumbo para a destruição do poder de compra da moeda e seguem
dizendo que o país precisa é de um câmbio ainda mais desvalorizado, pois, segundo eles, o câmbio está "apreciado
demais" e isso está "prejudicando a indústria".
Segundo esses magos, a desvalorização do câmbio é o segredo para impulsionar a indústria e o setor exportador brasileiro.
Tudo indica que eles habitam outra dimensão. Senão, como explicar o fato de que a desindustrialização no Brasil chegou ao auge, e as exportações caíram, justamente no período em que a moeda mais se desvalorizou? Eles parecem não perceber — ou fingem ignorar — que a desindustrialização está ocorrendo é
justamente agora, quando temos uma moeda fraca, inflação alta, e as maiores tarifas
protecionistas da história do real.
Eles
também ignoram que o que acaba com a indústria, como explicado em detalhes aqui,
é a inflação de preços e de custos, gerada justamente pela desvalorização da moeda. É a inflação de preços e de custos o que desorganiza todo o planejamento
de uma indústria e falsifica toda a sua contabilidade de custos, e não uma (fictícia) taxa de câmbio
valorizada.
Uma
taxa de câmbio valorizada, aliás, ajuda
as indústrias mais competentes. Qualquer
indústria exportadora tem também de importar
máquinas e bens de capital de qualidade, além de peças de reposição, para
produzir seus bens exportáveis (pergunte isso a qualquer mineradora ou
siderúrgica). Se isso puder ser feito a
um custo baixo (permitido por uma moeda forte), tanto melhor.
Uma
moeda forte permite que as indústrias comprem bens de capital, máquinas e
equipamentos de qualidade a preços baixos.
Isso as deixaria mais produtivas, aumentaria a qualidade dos seus
produtos, e faria com que eles fossem mais demandados lá fora.
(Nos
primeiros anos do Plano Real, a moeda era muito mais forte do que é hoje, e não
houve nenhuma desindustrialização; ao contrário, houve modernização do parque
industrial).
Nenhum
país que tem moeda fraca e inflação alta produz bens de qualidade que sejam
altamente demandados pelo comércio mundial.
Todos os bens de qualidade são produzidos em países com inflação baixa e
moeda forte. Apenas olhe a qualidade dos
produtos alemães, suíços, japoneses, americanos, coreanos, canadenses,
cingapurianos etc.
Se
moeda forte fosse empecilho para a indústria, todos esses países seriam hoje
terra arrasada. No entanto, são nações
fortemente exportadoras. Moeda forte e
muita exportação.
Essa
destruição do poder de compra da nossa moeda tem de acabar. A carestia que estamos vivenciando hoje não
será resolvida enquanto o real não voltar a se fortalecer. É impossível ter uma carestia minimamente
tolerável se a sua moeda é gerenciada por incompetentes e perde poder de compra até mesmo em relação à moeda do
Haiti.