"
Relatório
sugere que quase metade dos empregos nos EUA é vulnerável à automação",
grita uma manchete de jornal.
O
grito de que "os robôs irão roubar nossos empregos!" já pode ser ouvido em
vários países do mundo, principalmente nos mais avançados. No entanto, o que essa preocupação realmente
revela é um medo — e uma incompreensão — do livre mercado.
No
curto prazo, a robótica irá sim gerar um deslocamento nos empregos; no longo
prazo, os padrões de trabalho irão simplesmente mudar. O uso da robótica para aumentar a
produtividade, além de diminuir os custos, funciona basicamente da mesma
maneira que os avanços tecnológicos de épocas passadas, como a implantação da
linha de produção. Tais avanços
melhoraram sobremaneira a qualidade de vida de bilhões de pessoas e criaram
novas formas de emprego que eram inimagináveis à época.
O
avanço tecnológico é um aspecto inerente a um mercado competitivo, no qual
inovadores continuamente se esforçam para gerar mais valor a custos
menores. Empreendedores sempre querem
estar na frente em seu mercado.
Automação, robótica, informatização e sistemas de controle industrial já
se tornaram parte integral desse esforço.
Vários
empregos manuais, que consistiam apenas em repetir mecanicamente uma mesma
tarefa — como as linhas de montagem em fábricas — já foram abolidos e
substituídos por outros, como trabalhos relacionados à tecnologia, à internet e
até mesmo a videogames.
Um
fato alvissareiro é que os robôs de hoje são altamente desenvolvidos e cada vez
menos caros. Tais características fazem deles uma opção
cada vez mais popular. O Banque de
Luxembourg News fez
o seguinte comentário:
O atual custo médio estimado por unidade, de
aproximadamente US$50.000, certamente irá diminuir ainda mais com a chegada dos
robôs de "baixo custo" ao mercado. É o
caso do "Baxter", o robô
humanóide dotado de uma inteligência artificial em contínuo desenvolvimento,
fabricado pela empresa americana Rethink Robotics; e do "Universal 5", da
empresa dinamarquesa Universal
Robots. Ambos custam,
respectivamente, US$ 22.000 e US$ 34.000.
Melhor,
mais rápido e mais barato são características inerentes a uma maior
produtividade.
No
que mais, os robôs irão cada vez mais interagir diretamente com o público em geral.
A indústria de fast
food é um bom exemplo. As pessoas
podem estar acostumadas com caixas automáticos de serviços bancários, mas um
quiosque robotizado que pergunta "Você quer batata fritas como acompanhamento?"
será algo realmente novo.
Comparado
a humanos, robôs são menos custosos para ser empregado — em parte por razões naturais,
em parte por causa das crescentes
regulamentações governamentais.
Dentre
os custos naturais estão o treinamento, as necessidades de segurança, e os
problemas pessoais como contratação, demissão e roubo no local de trabalho. Adicionalmente, os robôs podem também ser
mais produtivos em determinadas funções.
De acordo com este
site, eles "podem fazer um hambúrguer em 10 segundos (360 por hora). Além de mais rápido, também com qualidade
superior. Dado que o restaurante agora
estará com mais recursos livres para gastar em ingredientes melhores, ele
poderá fazer hambúrgueres gourmet a preços de fast food."
Dentre
os custos governamentais estão o salário mínimo, os encargos sociais e
trabalhistas e todos os eventuais processos na Justiça do Trabalho, muito
comuns no setor da gastronomia. Chegará
um momento em que a mão-de-obra humana em restaurantes fará sentido apenas para
preservar um "toque de classe" — ou então para preencher um nicho.
No
entanto, todos os temores de economistas, políticos e trabalhadores de que os
robôs irão destruir os empregos não apenas são exagerados, como ainda revelam
um profundo desconhecimento da história.
Eles deveriam abraçar entusiasmadamente a crescente robotização exatamente porque ela é propícia à
criação de novos empregos. Uma abundante
criação de empregos sempre foi, em todo lugar e em qualquer período da
história, o resultado de avanços tecnológicos que tautologicamente levaram à
destruição de trabalhos obsoletos.
Os
robôs serão, em última instância, os maiores criadores de empregos simplesmente
porque uma automação agressiva liberta o ser humano do fardo de ter de fazer
trabalhos pesados — até então essenciais — e o libera para se aventurar em
novos empreendimentos.
Não
nos esqueçamos de que houve uma época em que praticamente todos os seres
humanos tinham de trabalhar no campo — querendo ou não — apenas para
sobreviver. Para a nossa sorte, a
tecnologia acabou com a necessidade de utilizar seres humanos para fazer
trabalhos agrícolas pesados, e os liberou para ir buscar outras vocações fora
do campo. Foi então começou nosso processo
de enriquecimento e de melhora no padrão de vida.
Com
a massificação da automação e do uso de robôs como mão-de-obra, descobriremos
novas aptidões e novos trabalhos que, no futuro, nos deixarão atônitos ao
percebermos o tanto de energia que gastamos com trabalhos monótonos e
repetitivos no passado. Os "destruidores
de emprego" do passado — como o automóvel (que destruiu empregos no setor de
carroças), o computador (que destruiu empregos no setor de máquinas de
escrever), a luz elétrica (que destruiu empregos no setor de vela) — parecerão
ínfimos em comparação.
O
automóvel, o computador, a luz elétrica, a internet e a mecanização da
agricultura tornaram várias formas de emprego totalmente obsoletas. Não obstante, isso não apenas não empurrou a
humanidade para a pobreza endêmica e para a "fila do pão", como ainda gerou a
criação de maneiras totalmente novas de se ganhar a vida. A automação e a robotização prometem uma
multiplicação de tudo isso.
Para
entender por que isso irá ocorrer, é necessário antes se lembrar de que tudo o
que é poupado no processo de produção se transforma em mais capital disponível
para novas ideias. Se você passa a
utilizar menos mão-de-obra e menos recursos em um determinado processo produtivo,
essa mão-de-obra liberada e esses recursos poupados estão livres para ser
utilizados em outros processos de produção, em novas ideias e em novos
empreendimentos.
Empregos
não são finitos; ao contrário, eles são o resultado de investimentos. Para cada Google, Amazon ou Apple surgidos,
houve dezenas de milhares de tentativas empreendedoriais que fracassaram, mas
que tentaram ser exatamente como uma dessas três gigantes (todas as três
grandes empregadoras). Para que
empreendedores possam fazer grandes tentativas empreendedoriais, eles têm antes
de ter capital e mão-de-obra disponível para fazê-lo. A automação e a robótica geram eficiências
que aumentam os lucros, e isso permitirá um enorme surto de investimentos, os
quais nos brindarão com todos os tipos de novas empresas e de avanços
tecnológicos que criarão novos tipos de empregos hoje inimagináveis.
É
impossível haver empresas e empregos sem que antes tenha havido investimentos. E investidores cujo capital cria empresas e
empregos são atraídos por lucros. Se os
processos produtivos atuais forem automatizados, e com isso pouparem
mão-de-obra e reduzirem custos operacionais, essa automação irá gerar lucros
maciços, os quais poderão ser direcionados e investidos nas empresas e nas
ideias do futuro.
Essa
realidade é frequentemente ignorada por economistas, políticas e
comentaristas. Quase todos analisam o
crescimento econômico através do prisma da criação de empregos. Eles acreditam que é a criação de empregos o
que gera crescimento econômico. Isso
está exatamente ao contrário: se a criação de empregos gerasse crescimento
econômico, então a solução seria simples: abolir todos os tratores, carros,
lâmpadas, serviços bancários e a internet.
Garanto que, se isso fosse feito, todos nós teríamos de trabalhar. E garanto também que nossas vidas seriam
muito mais miseráveis.
A
realidade, no entanto, é que o crescimento econômico é resultado da produção. Crescimento ocorre quando se produz mais com
menos. Apenas pense nos países mais
pobres e mais atrasados do mundo. Ali, praticamente todo mundo
trabalha muito, o dia todo e todos os dias.
Já nos países mais ricos e avançados, e que adotaram as automações do
passado, as crianças são livres para usufruir sua infância, os mais velhos são
capazes de desfrutar sua aposentadoria, e os pais podem dedicar mais tempo à
criação de seus filhos. Tudo isso se
deve aos avanços tecnológicos ocorridos ao longo de décadas e que reduziram a
necessidade de trabalho braçal. Essa
mecanização inundou o mundo com mais abundância em troca de menos
trabalho. A automação e a robótica farão o mesmo.
E,
como também mostra a história, a inovação é, em si mesma, a criadora de novas
formas de trabalho. Se você duvida
disso, apenas pense na internet. Vinte
anos atrás, a maioria de nós praticamente desconsiderava essa invenção; hoje,
em 2015, milhões de pessoas ao redor do globo têm um emprego que está
diretamente relacionado a isso que era irrelevante em 1995. E milhões mais têm um emprego relacionado ao crescimento da internet. Uma visita a Seattle e ao Vale do Silício
mostra bem isso.
A
automação e a robotização criarão vários tipos de empregos direitos e
indiretos, e a produção em abundância possibilitada pelo trabalho mecanizado
permitirá que os recursos poupados sejam direcionados e investidos na medicina,
nos sistemas de transporte e em novos conceitos empresariais, gerando cruciais
inovações. A tecnologia de hoje, que já
é impressionante, parecerá arcaica em comparação.
Talvez
o principal erro de raciocínio daqueles que condenam a automação e a robótica é
o de pressupor que a natureza do trabalho é estática. Eles acreditam que não haverá nenhum
substituto para aquele emprego que se tornou obsoleto pelo progresso. Não há dúvidas de que havia carroceiros no
século XIX que, para manter seus empregos no século XX, queriam abolir os
automóveis. No futuro, as pessoas farão
a mesma analogia com a robótica.
Embora
o automóvel tenha destruído vários empregos, a prosperidade que se seguiu à sua
produção em massa mostra claramente que os empregos destruídos foram
substituídos por outros bem melhores. É
assim que funciona uma economia moderna, dinâmica e avançada. Mudanças constantes e contínuas. É em países pobres que a natureza do trabalho
é estática. Nos países ricos, as pessoas
estão constantemente inovando e abolindo os trabalhos pesados do passado em
prol de formas mais prósperas e mais inovadoras de trabalho, que são menos
exaustivas e, ainda melhor, consomem menos horas de nossas vidas.
Os
desejos do ser humano são, por definição, ilimitados; e, enquanto o capitalismo
ainda não houver encontrado uma maneira de satisfazer todos os desejos e de
curar todas as doenças — ou seja, nunca —, sempre haverá capital buscando
novas possibilidades de investimentos e soluções. A definição de "trabalho" é um conceito
histórico e, com a abolição das formas mais exaustivas pela automação, a
genialidade do ser humano será liberada para se concentrar em uma infinidade de
desejos e necessidades ainda não atendidos pelo mercado. Entre as maiores enfermidades, aquele flagelo
que é o câncer será atacado por investimentos exponenciais, em conjunto com as
mentes bem-remuneradas por esses investimentos.
Se
o temor é de que o futuro será cada vez mais automatizado e robotizado, então
temos realmente de nos exultar com esse prospecto. A mão-de-obra que será poupada por esse
avanço tecnológica irá nos presentear com uma explosão de investimento que irá
realmente transformar nossas vidas e nossos empregos para melhor. O futuro poderia vir mais rápido.
Não dá para esperar muito.
A automação e a robótica serão os maiores criadores de emprego da história.
__________________________
Leia também:
Automação versus empregos — como ter uma carreira para a vida inteira
__________________________
Autores:
Wendy
McElroy é escritora, conferencista, articulista freelancer, editora do ifeminists.com, e membro do Independent Institute.
John Tamny é o editor do site Real Clear Markets e contribui para
a revista Forbes.