De 2007 até o presente momento, o número de americanos com
licença para portar armas cresceu 178% (
fonte,
página 9).
Só no ano passado, foram emitidas mais de 1,7 milhão de
novas licenças, um crescimento de 15,4% num único ano — o maior já
registrado —, totalizando 12,8 milhões de autorizações de porte de armas (fonte, página 6).
Essa estatística despertou a preocupação de diversas
organizações desarmamentistas, que temiam que as armas elevassem as taxas de
homicídio no país.
Mas o que os dados recentes revelaram foi justamente o
contrário: ao mesmo tempo em que o número de cidadãos armados cresceu, a taxa
de crimes violentos despencou no país inteiro.
Segundo estatísticas oficiais do governo, citadas neste estudo do Centro de Pesquisa para a
Prevenção de Crimes, a taxa de crimes violentos caiu 25% no período e a
taxa de homicídios por 100 mil habitantes saiu dos 5,6 para os 4,2, apesar do
crescimento massivo do porte de armas. Os números são os mais baixos desde 1957,
quando a taxa de homicídios atingiu 4,0 por 100 mil habitantes.
Um dado interessante encontrado pelos pesquisadores foi o de
que as mulheres estão se armando mais do que os homens: entre 2007 e 2014, o
número de mulheres com porte de arma cresceu 270%, enquanto entre os homens o
número foi elevado em 156% (fonte, página
10).
Além das mulheres, a população negra também está se armando
mais. Uma análise, citada no estudo, revelou que entre 2012 e 2014, o grupo que
mais mudou de opinião em relação aos benefícios do armamento foram os negros (fonte, página 14).
De acordo com a pesquisa, conduzida pelo Pew Research Center, a proporção de
afro-americanos que responderam que armas contribuem mais para a autodefesa do
que para crimes saltou
dos 29% para 54% — um crescimento de 86% —, no sentido contrário do
estereótipo de que armamentistas são, em geral, brancos. Além de terem se
tornado mais favoráveis, a população negra também tirou mais licenças para
porte de armas (fonte, página 10).
"Mais permissões [para porte de armas] significa que está
ficando mais difícil para os criminosos atacarem as vítimas", afirma John Lott, autor do estudo. "A composição de pessoas
que estão ganhando as novas permissões também está mudando. Estamos vendo um
grande aumento entre minorias e mulheres tirando essa autorização. Ter esses
grupos mais armados contribui muito para reduzir a criminalidade."
Para Lott, além da visão da população sobre o armamento ter
mudado, outro fator que contribuiu para o crescimento do número de licenças
para porte de armas foi a redução do custo dessas licenças, que varia de estado
para estado.
Como destaca o economista, os estados que reduziram o custo
dessa autorização — que varia de US$ 10 a US$ 450 (fonte, páginas 5 e 6) — ou ainda os que já
praticavam preços mais baixos, tiveram maiores crescimentos no número de
cidadãos negros registrando o porte.
Atualmente, 5,2% da população adulta possui licença para
portar armas nos Estados Unidos (fonte, página 4).
Apesar disso, em 5 estados (Alabama, Dakota do Sul, Indiana, Pensilvânia e
Tennessee), a taxa de porte de armas por adulto está acima dos 10% (fonte, página 5).
O gráfico abaixo (fonte,
página 5) mostra a evolução do porte de armas nos EUA em porcentagem da população
adulta (eixo Y, linha contínua) e a evolução da taxa de homicídios por 100 mil
habitantes (também eixo Y, pontos azuis):

Em contraste, no Brasil, apenas 0,00185% da população possui
autorização para portar armas, segundo o
Instituto
Defesa — aqui, a UF com a maior taxa de porte de armas é a do
Distrito Federal, que tem 7,2 vezes mais autorizações para porte que a média
nacional.
O estudo ainda destaca que o policiamento não pode ser
tomado como responsável pela queda na criminalidade: mesmo após isolar dados de
policiamento per capita e de prisões, o crescimento do número de licenças para
porte de armas continuou associado com a redução no número de crimes violentos
e homicídios. (fonte, páginas 4 e 19)
Apesar do alto crescimento nos últimos anos, o número de
licenças para porte de armas emitidas nos Estados Unidos pode diminuir nas
próximas décadas, mas por uma outra razão: atualmente, em 6 estados, o ato de
portar armas visíveis em público não
requer nenhuma autorização. Apesar do número ainda pequeno, a cada ano mais
estados se juntam a esse grupo — em 2010, 3 estados permitiam o porte sem
autorização.
Maine, que no início deste mês anunciou a nova lei, foi o último
estado a entrar para a lista. Com a mudança na legislação, que entra em vigor
em outubro, o estado se junta ao grupo de estados mais liberais em relação ao
porte de armas, ao lado de Alasca, Arizona, Wyoming, Kansas e Vermont. Além
destes, outros cinco estados também possuem uma legislação similar em relação
ao porte sem necessidade de autorização, embora apenas para casos
especiais.
O mapa abaixo mostra a distribuição de assassinatos em massa
praticados com armas de fogo (mass shootings) em cada estado
americano:

Tiroteios em massa
desde 2012. Fonte: Vox.com
Já este mapa mostra o número de
armas de fogo por habitante.

Uma imagem vale mais que mil
palavras. Os estados costeiros, por exemplo, possuem uma taxa de armas de fogo
bem baixa e leis bem restritas com o porte e a posse desses artefatos. Nada
disso impediu que 486
inocentes perdessem a vida entre 2000 e 2013 em assassinatos
em massa praticados com armas de fogo (mass shootings) exatamente
nestes estados.
Por fim, e ironicamente, o controle de armas tem um histórico
racista. Nos Estados Unidos, foi usada por diversos estados como forma de
evitar que os escravos revidassem os abusos de seus senhores. O medo era tão
grande que até cães chegaram a ser considerados uma "arma" e sua posse por
negros, proibida.