segunda-feira, 28 set 2015
N.
do E.: o artigo a seguir é um trecho de uma apresentação verbal (ligeiramente
adaptada para a realidade brasileira). Daí
seu tom mais coloquial.
Não são poucas as pessoas que acreditam que o capitalismo de livre
mercado é um arranjo egoísta, sem compaixão para com os pobres e até mesmo
imoral.
Tais pessoas afirmam que o capitalismo de livre
mercado se resume a fomentar a ganância, a ânsia pelo poder e a lascívia
pelo dinheiro. E que tal arranjo é ótimo
apenas para os ricos e péssimo para os pobres.
Mas isso está simplesmente errado.
O livre mercado não apenas
é economicamente superior, como também é moralmente
superior a toda e qualquer outra forma de se organizar o comportamento econômico
dos indivíduos.
E, sucintamente, são dois os motivos:
1) O livre mercado requer ações e interações voluntárias entre os indivíduos.
2) No livre mercado, não há coerção e ninguém é
obrigado a sustentar terceiros. Não há subsídios,
não há tarifas protecionistas, ninguém é impedido de empreender livremente, e não
há barreiras
governamentais à entrada de concorrentes em qualquer setor do mercado (como
ocorre em setores regulados por agências reguladoras).
Em um livre mercado, se eu quero algo de você, então
eu tenho de fazer algo por você.
Um
exemplo rotineiro
Digamos que eu faça uma faxina em sua casa e que, em
troca desse meu serviço, você me dê $ 70.
O que esses $ 70 realmente significam?
Quando vou a uma mercearia e digo que "gostaria de dois
quilos de carne", estou na verdade querendo que milhares de pessoas me sirvam: pecuaristas, cultivadores de soja, caminhoneiros,
açougueiros, empacotadores, funcionários do supermercado etc.
E todas essas pessoas têm de ser pagas por seus
respectivos serviços.
Sendo assim, o dono da mercearia pode me perguntar: "O
que foi que você fez em benefício dos seus semelhantes para ter esse direito de
querer que eles lhe forneçam um quilo de carne?
E eu respondo: "Bom, eu fiz uma faxina na casa de
uma pessoa".
E o dono rebate: "Prove".
E aí então eu mostro para ele meus $ 70.
Pense no dinheiro que você recebeu por seu trabalho
como sendo um "certificado de desempenho".
Ele é a prova de que você serviu a um semelhante. Consequentemente, é ele quem lhe confere a licença
moral para pedir que seus semelhantes lhe sirvam.
Todos
ganham
Várias pessoas acusam o livre mercado de "não ser
moral" porque, segundo elas, tal sistema é um "jogo de soma zero" —
como se fosse um pôquer, no qual, para eu ganhar você necessariamente tem de
perder.
Só que o livre mercado não é um jogo de soma zero,
mas sim um jogo de soma positiva.
Você faz algo positivo para mim — como, por exemplo,
ofertar aqueles dois quilos de carne — e eu, em troca, faço algo positivo para
você, dando-lhe os $ 70.
A minha situação melhorou, pois, para mim, os dois
quilos de carne valem que os $ 70 (se não valessem, eu não estaria incorrendo
nessa troca). E a situação do dono da
mercearia também melhorou, pois ele valoriza os R$ 70 mais do que os dois
quilos de carne (se não valorizasse, não os estaria vendendo).
Nós dois ganhamos.
Quando
não são todos que ganham
Ironicamente, é o governo — e não o livre mercado
— quem cria jogos de soma zero na economia.
Se você utiliza o governo para ganhar subsídios,
para ser protegido por tarifas de importação, para impedir o acesso de
concorrentes ao seu mercado ou para simplesmente ganhar benefícios assistencialistas,
você irá indubitavelmente se beneficiar, mas
à custa de seus semelhantes.
O que é mais moral: requerer que as pessoas sirvam
aos seus semelhantes para terem o direito de reivindicar os bens e serviços que
eles criam, ou não servir aos seus semelhantes e ainda assim reivindicar os
bens e serviços que eles criam?
E
as grandes corporações?
Mas e as grandes empresas? Não teriam elas um poder excessivo sobre as
nossas vidas?
Em um mercado protegido e regulado pelo governo,
sim.
O governo — por meio de regulamentações que impõe barreiras
à entrada da concorrência no mercado (vide agências reguladoras), por meio de
subsídios a empresas favoritas, por meio do protecionismo via obstrução de
importações, por meio de altos tributos que impedem que novas empresas surjam e
cresçam — de fato garante que empresas se tornem grandes, permaneçam grandes
e, com isso, tenham enormes e imerecidos poderes sobre nossas vidas.
Já em um livre mercado, isso não tem como ocorrer.
No livre mercado, somos nós, a população consumidora,
quem decide o destino de toda e qualquer empresa com a qual lidamos. O capitalismo de livre mercado irá punir
qualquer empresa que não satisfaça os consumidores ou que não saiba como
utilizar recursos escassos de maneira eficaz.
Empreendimentos, pequenos ou grandes, que queiram
prosperar são rigidamente regulados pelos
consumidores, que voluntariamente votam com seu dinheiro para eleger quem
devem prosperar e quem deve falir.
No livre mercado, são os consumidores, por meio de
suas decisões de comprar ou de se abster de comprar, que decidem qual empresa deve
seguir adiante e se tornar grande e qual empresa deve sumir.
E, novamente, apenas o governo pode desfazer esse
arranjo.
Se uma empresa não é eficiente, não mais está satisfazendo
os consumidores e, por isso, está próxima à bancarrota, o livre mercado está lhe
enviando um recado claro: "Olha só, você já era. Venda seus ativos, seu maquinário e suas instalações
industriais para outras pessoas que sejam capazes de fazer um trabalho melhor".
No entanto, se o governo decide socorrer essa
empresa — seja por meio de ajudas diretas, seja fechando mais o mercado e lhe
garantindo uma reserva de mercado —, o governo está, na prática, revogando o
desejo explícito dos consumidores.
Um governo que socorre ou ajuda empresas falidas está,
na prática, lhes dizendo que elas não mais têm de satisfazer consumidores e
acionistas.
O recado do governo é claro: "Não importa quão ruim
seja o seu produto ou o seu serviço, e não importa quão ineficiente você seja,
nós vamos manter você em atividade e vamos para isso utilizar o dinheiro
confiscado da população".
Auxílios governamentais a empresas — em qualquer
formato — nada mais são do que uma tentativa do governo de revogar um desejo
claramente manifestado pelos consumidores.
Quando o governo socorre ou protege uma indústria,
ele na realidade a está protegendo dos consumidores.
Ao agir assim, o governo retira poder do povo e o
transfere para grandes empresários, grandes sindicatos e, obviamente, para os
políticos cujas campanhas serão financiadas por esses grupos.
Se há um grupo que é realmente prejudicado pela interferência
do governo na economia, esse grupo é fatia trabalhadora e produtiva da população.
Isso é moral?
Conclusão
Um sistema de livre mercado só pode funcionar se você
e eu tivermos o poder de decidir qual empresa deve prosperar e qual empresa
deve falir.
Em um livre mercado, são ambição e o esforço
voluntário dos cidadãos — e não do governo — que conduzem a economia.
[N . do E.: Em uma
economia de mercado, a única maneira de um empreendedor auferir lucros é
servindo bem seus clientes (e mantendo seus custos baixos). Um dos mais belos
aspectos de uma economia de mercado é que ela é capaz de domar as pessoas mais
egoístas, ambiciosas e talentosas da sociedade, fazendo com que seja do
interesse financeiro delas se preocuparem dia e noite com novas maneiras de
agradar terceiros. Empreendedores conduzem a economia de mercado, mas a
concorrência entre empreendedores é o que os mantém honestos.]
Em suma, no livre mercado, as pessoas utilizam o
melhor de suas habilidades para servirem aos seus semelhantes e, com isso,
moldarem seu próprio destino.
Isso sim me soa bem moral.
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