Eu realmente não gosto de reclamar do governo. Acho
perda de tempo fazê-lo. E também considero
uma estratégia ruim. Estou convencido de que é muito mais proveitoso ignorar
toda a bagunça e imoralidade e se concentrar em coisas melhores e mais
produtivas.
No entanto, e infelizmente, grande parte da humanidade
ainda se encontra emocionalmente acorrentada ao governo, e — a menos que você trabalhe
para o governo e tenha um alto salário, ou seja um grande empresário que
obtenha subsídios e privilégios protecionistas do governo (em ambos os casos, você
se deu bem) — creio ser válido demonstrar o quão danoso é esse relacionamento
com o estado.
Sendo assim, falarei sobre algo que não recordo ter
visto em nenhum outro lugar. Começarei pelo "o quê" e avançarei para o "por
quê".
Observações
Ao longo de muitos anos, observei um certo fenômeno e
de variadas formas distintas. Eis o fenômeno:
Quanto mais o governo está envolvido na vida das
pessoas, piores essas pessoas se tornam.
O exemplo mais premente certamente é o da 'classe'
(ou, talvez, deveria dizer 'classes') dependente do assistencialismo estatal —
pessoas cujas vidas dependem quase que inteiramente do dinheiro repassado pelo
governo. Em praticamente todas as cidades, os piores bairros são aqueles que
têm a maior porcentagem de pessoas dependentes do governo. Sim, alguns
ideólogos linha-dura certamente irão protestar dizendo que primeiro veio a
pobreza e depois, só depois, veio a ajuda do governo. Só que isso nem sempre é verdade, de modo que
tal afirmação serve apenas para ofuscar uma verdade muito mais importante:
tornar adultos dependentes do governo é algo que, inevitavelmente, degrada a moral, a ética e a autoestima
dessas pessoas.
Já que estou falando de minhas observações, acrescento
que, sim, já estive em contato próximo com muitos guetos e com
pessoas permanentemente dependentes do governo durante a minha vida. E já tive
amigos que fugiram de atrozes projetos habitacionais implantados pelo governo.
Portanto, não estou apenas repetindo e reciclando as opiniões de terceiros.
Viver de repasses do governo não é apenas degradante;
quem tenta escapar desse ciclo vicioso é duramente punido. Se você é dependente
do assistencialismo e então começa a trabalhar um pouco, seus
repasses poderão ser cortados drasticamente. Sendo assim, a não ser que você
tenha um emprego realmente bom à vista (e quantas pessoas realmente tem?),
esqueça a possibilidade de abandonar o sistema.
Esse tipo de vida receosa destrói a dignidade, a
autoestima, a capacidade de ter opinião própria, os bons modos e muito mais. Se
você quisesse arruinar um grupo de pessoas, você as tornaria dependentes do
assistencialismo, com aumentos contínuos, porém módicos, no valor das bolsas e
os as aglomeraria em locais de alta densidade — exatamente o que foi feito em
minha cidade na década de 1960, por supostos benfeitores progressistas que
amavam os pobres.
Mas não é somente com os pobres que isso ocorre. Há pessoas de classe média que estão agora
vivendo de assistencialismo ou encostadas no seguro-desemprego. Estas também
estão sendo degradadas. E isso ocorre em
todos os continentes.
Poucos anos atrás, vivi em uma grande cidade
europeia, e era traumatizante ver quantas pessoas totalmente capacitadas não queriam
nem saber de trabalhar, pois já usufruíam benefícios assistencialistas
suficientes para sobreviver. No bairro em que morei, a maioria dos
comerciantes era formada de imigrantes, já que as antigas famílias de
comerciantes nativos haviam fechado suas lojas há um bom tempo.
E viver do assistencialismo realmente degradou os
bons modos. Você dificilmente acreditaria na quantidade de fezes caninas que
emporcalhavam as calçadas. Era difícil caminhar sem ter seu sapato premiado. As
pessoas simplesmente não se importavam em recolhê-las. Adicionalmente, assaltos
e roubos de bicicletas eram coisas endêmicas. E tudo isso em um "bairro decente", em uma
cidade "de primeiro mundo".
Causas
Viver do assistencialismo estatal abole o senso de cooperação em
nossas vidas. Em qualquer tipo de empreendimento, temos de interagir e
cooperar com dezenas de pessoas. Temos de obter informações, adquirir suprimentos
delas, fornecer bens a elas, trabalhar e produzir para satisfazê-las etc.
Elas têm de confiar em nós, e nós temos de confiar nelas. A confiança tem de
ser mútua. Tudo isso ajuda a fortalecer os bons modos, a responsabilidade própria,
a pontualidade, a integridade e a dignidade. Também ajuda a melhorar as
habilidades importantes, como a comunicação e até mesmo a dicção.
Já as pessoas que se refugiam no assistencialismo
ficam de fora dessa integração. Ao contrário, ficam assistindo a reality shows na televisão.
Outro fator relevante é que as pessoas dependentes do
governo não fazem escolhas; as suas vidas são ditadas pelo governo. Esse não é
um comportamento natural do ser humano. Seres humanos não foram desenhados para
funcionar desta maneira. Seres humanos têm de saber escolher e, principalmente,
saber arcar com as consequências de suas escolhas. Daí vem o sentido de
responsabilidade própria. Ser dependente do estado elimina essa possibilidade. Você
vira um autômato. Sua vida perde o sentido. E os humanos simplesmente não podem
prosperar dessa forma.
Fomos criados para realizar e prosperar. Ter as
coisas perpetuamente dadas a nós, sem que tenhamos de nos esforçar para obtê-las,
é algo que nos degrada, e muito. Quando vivemos uma vida de dependência, jamais
aprendemos a superar as nossas limitações, a sermos melhores. Com efeito, nas culturas que prezam a
dependência, tentativas de auto-aperfeiçoamento
são vistas com rancor, causam inveja e são punidas — e, muitas vezes, de forma violenta.
O próprio envolvimento do governo na
"educação" é degradante. Esse é um de meus principais argumentos contra as escolas:
as crianças são forçadas a relacionamentos inescapáveis. E isso degrada as
crianças. Pergunte aos pais que optaram pelo regime de homeschooling;
eles dirão que a maioria dos maus hábitos que seus filhos adotaram são
consequência do período que permaneceram em contato com outras crianças em
escolas públicas. Um arranjo de integração forçada é simplesmente um péssimo
plano para quem deseja saúde e o progresso humano.
No
final
Minha conclusão ao longo
desses vários anos de observação é que, quanto mais o governo se envolve na
vida das pessoas, pior é a conduta que elas adotam e passam a demonstrar
abertamente. A situação é continuamente
degradante. As pessoas perdem a ambição,
perdem a vontade própria, perdem o desejo de se aprimorarem e perdem os bons
modos. (E sei que não estou sozinho nesta opinião).
Existem exceções? Claro, e
provavelmente há milhares. Que bom. Mas, no final, a seguinte afirmação
continua sendo verdadeira:
O assistencialismo do
governo é uma maldição para aqueles que dele dependem. O assistencialismo degrada
as pessoas e as tornam piores, e não melhores.
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