Como todo o universo já sabe, o governo venezuelano
arruinou completamente a economia com a adoção de medidas socialistas.
A mistura de hiperinflação (gerada
pela impressão desmedida de dinheiro), controle de preços e estatizações de fábricas e
lojas não apenas não conseguiu gerar oferta abundante de nenhum bem,
como, ao contrário, gerou desabastecimento generalizado — as prateleiras das
lojas e dos supermercados estão vazias e as pessoas de classe média que antes
tinham emprego estão hoje esfomeadas, tendo de literalmente revirar latas de
lixo e matar gatos e pombos nas ruas para ter o que comer. (Veja relatos
completos e apavorantes aqui e aqui)
E então, para tentar "reverter" a fome e a
escassez de comida, o governo venezuelano decretou que os cidadãos venezuelanos
serão compulsoriamente
convocados a trabalhar em fazendas agrícolas estatizadas por pelo menos 60 dias para
reverter a fome que vem castigando o país.
A Anistia Internacional declarou que o decreto
"equivale a trabalho forçado". A diretora da AI para as Américas,
Erika Guevara-Rosas, afirmou que
"tentar abordar a severa falta de alimentos na Venezuela forçando o povo a
trabalhar no campo é como tentar curar uma perna quebrada com um
curativo".
Na verdade, seria mais correto dizer que é como
tentar curar uma perna quebrada com um tiro na cabeça.
Campos de trabalho forçado são uma das consequências
inevitáveis do socialismo. E são um abuso ao direito mais básico do ser
humano, que é o de não ter sua vida, sua liberdade e sua propriedade sobre o
próprio corpo violada.
Talvez você já tenha observado esse padrão: onde
quer que o socialismo seja tentado, as pessoas sofrem. Cada caso de socialismo apresenta suas
peculiaridades porque nenhum regime tirânico se comporta exatamente como os
outros. Mas a raiz do problema é a
mesma: o governo proíbe o povo de ter determinadas propriedades, de acumular
riqueza, de comercializar e de fazer associações voluntárias.
Esse é o cerne do problema da Venezuela.
Mas há outra encrenca.
E
lá vêm eles, de novo
Obviamente, nenhum socialista tem a hombridade de
reconhecer que defendem um sistema que só gera caos e miséria.
Segundo
eles (é sério), "os problemas que hoje atormentam a economia venezuelana
não decorrem de nenhuma falha inerente ao socialismo".
Você já esperava esse comportamento negacionista,
certo? O socialismo parece ser a mais persistente ideologia não-falsificável do
planeta. Socialistas são aquelas pessoas
que juram que a gravidade não existe e que, por isso, vivem pulando com a
esperança de que ascenderão às nuvens a qualquer momento. Embora a ascensão às nuvens nunca aconteça, a
fé de que não existe gravidade permanece inabalável.
O que, afinal, é o socialismo? Não importa como ele seja definido ou descrito,
não importa quantos casos
fracassados você aponte, não importa quão frequentemente suas idéias centrais sejam refutadas, o socialista
se recusa a aceitar responsabilidade.
Sendo assim, peguemos ao menos a definição de
socialismo dada por alguém defende a ideologia.
O Partido Socialista da
Grã-Bretanha fornece esta descrição sucinta para o que é o socialismo:
"livre acesso a todos os bens e serviços".
Que ideia interessante. Então eu quero um Bentley, férias na Europa,
um terno feito sob medida, e cortes de cabelo vitalícios. De graça.
Muito obrigado.
A
incompreensão fundamental — e fatal
A afirmação acima parece confirmar tudo aquilo que
sempre suspeitei a respeito do socialismo.
A ideologia é toda ela baseada em um erro extremamente simples, um erro
tão fundamental ao ponto de negar uma característica básica do mundo: o
socialismo nega a existência e a persistência da escassez.
E o fato é que vivemos em um mundo de escassez. Nada é infinito. Nenhum bem ou serviço é encontrado pronto do
nada, em plena abundância. Todos eles
precisam ser criados e trabalhados. Um
carro não surge do nada. É preciso
trabalhar o aço, o alumínio, a borracha e o plástico que vão formá-lo. E esses quatro componentes também não surgem
do nada. Eles precisam ser extraídos da
natureza ou fabricados sinteticamente. E,
ao serem direcionados para a produção do carro, outros bens que necessitam
desses mesmos componentes deixam de ser fabricados.
Isso é a escassez.
O mesmo é válido para todos os outros bens de
consumo que você possa imaginar, de laptops a aviões, de parafusos a
sanduíches, pizzas, palitos de dente e fio dental. Todos precisam ser produzidos e trabalhados. E todos utilizam recursos escassos, os quais
então deixam de ser utilizados em outros processos de produção.
Socialistas rejeitam este fato de que vivemos em um
mundo de escassez, em que nada é infinito.
Isso significa que os socialistas negam que a questão da produção e da
alocação de recursos sequer seja um problema.
Se você nega esse básico, então não é nada
surpreendente que você não tenha nenhuma consideração pela ciência econômica e
desconsidere que ela seja uma disciplina das ciências sociais.
Só para esclarecer, economistas utilizam o termo
"escassez" de uma maneira peculiar.
Escassez não significa desabastecimento, embora a possibilidade de
desabastecimento — como o que ocorre hoje na Venezuela — seja uma
característica da escassez. E um bem ou
serviço pode ser escasso ainda que exista em abundância.
Por exemplo, só porque os supermercados estão
repletos de alimentos, ou só porque startups de internet estão implorando para
que você baixe aplicativos, isso não significa que vivemos em uma era
pós-escassez. Não existe pós-escassez nesta vida.
Enquanto houver uma disputa para controlar algo,
esse algo é um bem escasso.
Digamos que você está dividindo uma pizza com seus
amigos. E sempre que você pega uma
fatia, surge magicamente outra fatia no lugar daquela. A pizza magicamente se auto-reproduz. Em algum momento, tão logo você percebe este
fenômeno, seu comportamento começa a se alterar. Não mais existe rivalidade a respeito dos
pedaços de pizza. Seu controle sobre um
pedaço da pizza não afeta o controle de outra pessoa sobre aquele mesmo pedaço. Nesse caso, a pizza realmente se tornou um
bem não-escasso.
A escassez é inerente à natureza de um bem. Se você consegue imaginar pessoas tendo algum
tipo de discussão para decidir quem controla ou consome esse bem, então ele é
escasso.
E lutar por "propriedade intelectual" não conta,
pois o que isso realmente envolve é uma disputa para decidir se alguém pode
utilizar seus recursos escassos (drive de computador, cordas do violão, papel e
caneta etc.) para reproduzir padrões (software, músicas, idéias etc.). Mais sobre isso abaixo.
Até mesmo bens abundantes podem ser escassos. Pense em uma caçada a ovos de páscoa em que
há 100.000 ovos espalhados por um quintal.
As crianças ainda assim irão correr e batalhar para coletá-los. Os ovos, por mais abundantes que sejam, ainda
possuem as características da escassez.
Não
pode haver propriedade coletiva de bens escassos
Eis o ponto chave: enquanto um bem for escasso, não é
possível haver acesso coletivo livre e ilimitado a esse bem. Qualquer que seja este bem, ele será
sobreutilizado, exaurido e, por fim, sumirá completamente após a última luta
corporal pela última migalha restante — que é o que está acontecendo na Venezuela.
Ou seja, é impossível haver socialismo em um arranjo
em que os bens e serviços são escassos.
Sob a realidade da escassez, bens e serviços têm de ser alocados
racionalmente. Em um arranjo de mercado,
o sistema de preços livres coordena essa alocação, direcionando recursos escassos
para aqueles setores mais demandados pelos consumidores. A alternativa a esse arranjo é quando bens e
serviços são alocados de acordo com decisões arbitrárias, as quais são
implantadas por meio da força e da ameaça de violência.
É nisso que sempre consistiu o socialismo. E tem de ser assim por um motivo simples: o
socialismo não lida com a realidade. O
socialismo é a negação da realidade.
E o que é que não possui a característica de
escassez? Pense em qualquer bem ou
serviço sobre o qual não haja nenhuma disputa para controlá-lo ou
consumi-lo. Você pode consumi-lo e outra
pessoa também, até o infinito. Essa
última palavra é essencial. Para que um
bem possa ser considerado não-escasso, não pode haver limites à sua
reprodutibilidade.
O ar pode ser considerado um bem não-escasso? Nem sempre, como você bem sabe caso já tenha
ficado preso dentro de um elevador lotado.
E a água? Também não. Por isso o mercado de água engarrafada é tão
grande. Água e ar são como todas as
outras coisas no mundo físico: sujeitos a limitações. Por isso, têm de ser alocados.
Por outro lado, digamos que você ouça uma canção
pegajosa como "Happy". Você pega o ritmo, memoriza a letra, canta o
dia inteiro e ainda a compartilha com seus amigos. Ao fazer isso, você não está subtraindo nada
do original. Da mesma maneira, você pode
observar um quadro, se lembrar dele e reproduzi-lo. O quadro original continua existindo normalmente. Nada foi subtraído. O mesmo vale para as
ideias deste artigo. Você pode pegá-las
e reproduzi-las. E eu não posso impedir
você, a menos que eu agrida ou ameace agredir sua integridade física (que
também é um bem escasso), ou peça para alguém fazer isso em meu lugar (o
governo, por exemplo).
Em todos esses bens, a porção relativa às idéias é não-escassa, de modo que elas,
as idéias, não precisam ser precificadas e não precisam ter dono para ser
alocadas.
Deixando essa questão da propriedade intelectual de
lado [leia tudo sobre o assunto aqui], socialistas
parecem não conseguir entender nem mesmo o primeiro ponto: não há um Jardim do
Éden na terra, em que tudo está disponível na mais ilimitada abundância.
Tudo o que a humanidade pode fazer é batalhar para
fazer com que mais bens e serviços sejam continuamente criados, trabalhados,
produzidos e ofertados para o maior número possível de pessoas. E ela pode fazer isso por meio das transações
comerciais que ocorrem sob um regime de divisão do trabalho, propriedade
privada e livre formação de preços. E
sempre lembrado que é
impossível haver livre formação de preços sem propriedade privada. E, sem preços, não há alocação racional de
recursos escassos.
Este arranjo é simplesmente o mercado. E ele é baseado na noção de que deve haver
propriedade privada sobre todas as coisas escassas — exatamente a
característica que os socialistas querem banir.
E então eles olham para a Venezuela e pensam: minha
nossa, parece que algo está dando errado! O que
quer que seja, não pode
ser o socialismo!
Mas quer saber? O socialismo é sim a
causa. Ele é o problema. E qual o problema do socialismo? Ele não faz o mais mínimo sentido no mundo
real.