quarta-feira, 28 set 2022
No
infindável debate sobre reajustes salariais, alguns argumentam que um salário
mínimo mais alto fornece um estímulo à economia como um todo. Igualmente, sindicatos alegam que sua política
de pressionar patrões a elevar continuamente os salários é benéfica para toda a
economia.
Se
trabalhadores receberem salários maiores, segue a lógica, irá haver mais
dinheiro para gastar, e o aumento do gasto irá turbinar todo o comércio e
indústria do país, gerando mais emprego e mais renda para todos, como se fosse
um moto-perpétuo.
(Ainda
sobre isso, é bastante comum ouvir a imprensa hilariamente dizendo que um
aumento do salário mínimo "irá injetar mais dinheiro" na economia — como se
empresas e empregadores fossem um Banco Central com capacidade de criar
dinheiro do nada e colocar esse dinheiro para circular na economia).
Quando
não estão apelando à luta
de classes, à teoria
da exploração e à mais-valia,
sindicalistas e sociólogos defensores de aumentos salariais forçados recorrem à
simplória frase de que "Quando há mais dinheiro nas mãos do povo, isso estimula
todos os setores da economia".
Já
outros ao menos reconhecem que aumentos salariais forçados geram desemprego
para os menos qualificados, aqueles cuja produtividade e valor gerado para
o empregador são menores que o valor do novo salário estipulado ou pelo governo
ou pelos sindicatos. Ainda assim, tais
pessoas afirmam que "o benefício para aqueles que receberam o aumento salarial
e o benefício para a economia trazido pelo aumento no consumo superam as perdas
marginais de empregos".
Mas
o fato é que um salário mínimo maior ou aumentos salariais impostos por
sindicatos não têm como ajudar a economia.
Eles representam custos adicionais à produção.
Pelo
bem do debate, vamos aqui ignorar a perda de empregos gerada por aumentos
salariais que superam a produtividade do empregado. Por mais óbvio que seja o fato de que você não
irá pagar R$ 2.498 (salário mínimo
mais encargos sociais e trabalhistas) para quem produz menos que isso,
deixemos de lado esse detalhe.
Deixemos
de lado também o fato de que um eventual aumento no consumo por aqueles que
mantêm os seus empregos e agora recebem salários maiores será, pelo menos
parcialmente, contrabalançado pela diminuição do consumo daqueles que perderam
seus empregos e daqueles que deixaram de ser contratados por causa desse maior
custo trabalhista.
Vamos
aqui nos concentrar apenas na afirmação de que há um aumento do consumo por
aqueles que agora, por imposição do governo e de sindicatos, recebem salários maiores.
O
eventual aumento do consumo dessas pessoas equivale um maior consumo geral?
Não,
não equivale.
Esse
dinheiro adicional que essas pessoas estão recebendo tem de estar vindo de
algum lugar.
Para
começar, os salários mais altos que agora os empregadores são obrigados a pagar
representam um custo de produção maior. Elevar
custos de produção é algo que, por definição, não pode ser benéfico para uma
economia. Trata-se de um dinheiro que empreendedores
poderiam utilizar de outra maneira, seja na ampliação de seus investimentos,
seja na reposição de seus estoques, seja na manutenção de seus equipamentos e instalações,
seja na aquisição de melhore equipamentos, seja na expansão de seus negócios,
seja até mesmo no salário de um trabalhador adicional.
Mais
gastos salariais impostos por governo ou sindicato significam mais custos
operacionais. Mais custos operacionais significam menos lucros líquidos. Menos
lucros líquidos significam menos investimentos e menos contratações. Menos
investimentos significam redução da oferta de bens e serviços disponíveis.
Menos bens e serviços disponíveis significam aumento de preços. Aumento de
preços significa que eventuais aumentos salariais de nada adiantaram.
Igualmente, menos contratações significam mais desemprego. E agora os
desempregados estão em um ambiente com mais inflação de preços, pois a oferta
de bens e serviços foi reduzida.
Normalmente,
a réplica ao raciocínio acima é que o empregador que não concedesse aumentos
salariais forçados iria apenas simplesmente embolsar os lucros, sendo ele o
único privilegiado. Outro erro.
Mesmo
que o empregador apenas mantivesse o dinheiro como lucro, ele não iria
colocá-lo debaixo de um colchão; ele iria investir, de alguma forma, ou numa
conta bancária ou em ações de uma empresa. Nesse caso, o banco normalmente iria
emprestar o dinheiro a alguém que iria ou investi-lo ou gastá-lo. Igualmente, o vendedor de ações iria gastar
esse dinheiro de alguma outra forma. Independentemente do que será feito, o
fato é que o dinheiro seria gasto. E aumentar
o gasto é exatamente o que querem os defensores de aumentos salariais forçados.
Por
isso, aumentos salariais estipulados por governo e sindicatos não aumentam o consumo geral: apenas
mudam quem gasta o dinheiro e no que ele é gasto.
Na
melhor das hipóteses, o maior consumo se dá à custa da redução do lucro das
empresas. Lucro esse que poderia ser
reinvestido na compra de bens de capital modernos, que aumentariam a
produtividade dos trabalhadores, e, consequentemente, seus salários.
A
crença que aumentos forçados nos salários aumentam o consumo total é um claro
exemplo do erro que Frédéric Bastiat aponta em seu ensaio "O que se vê e o que não
se vê." O erro aqui é ver apenas o aumento no consumo pelos
assalariados que recebem um salário maior, e ignorar a diminuição do consumo e do investimento dos empregadores que têm de
pagar salários maiores. O ultimo fenômeno anula completamente o primeiro.
Conclusão
Mesmo
que nenhum trabalhador seja demitido, aumentar forçosamente os salários ainda
assim causa uma perda geral para a economia, pois se está aumentando os custos
de produção. Custos de produção artificialmente
maiores geram redução na produção.
Suponha,
por exemplo, que um poderoso sindicato estipule uma elevação salarial. Suponha também que, quando o salário é elevado,
um empregador não demita nenhum funcionário menos produtivo e capacitado. Seu agora maior custo com esses funcionários
pouco produtivos ocorre em detrimento de novos investimentos que poderiam ter
sido feitos. Um dinheiro que poderia ter sido gasto na troca de equipamentos e
maquinários antigos agora é gasto com salários.
Embora
o gasto total na economia tenha se
mantido igual, a produção total irá diminuir,
pois os empregados agora têm de trabalhar com equipamentos antigos em vez de
novos, sendo portanto incapazes de produzir mais. O aumento do salário resultou
em menos bens e serviços disponíveis para as pessoas.
Salários
artificialmente maiores em conjunto com uma menor oferta de bens e serviços significam
preços mais altos e, consequentemente, juros maiores.
Não
existe mágica em economia. O que permite
aumentos salariais é uma maior produtividade. E maior produtividade só é possível quando há bens de capital que tornam
o trabalho humano mais eficiente e produtivo.
Salários
maiores estipulados arbitrariamente por governos e sindicatos não têm como melhorar
a economia.
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