segunda-feira, 19 dez 2016
Nota
do editor
O governo Dilma quis estimular o consumismo da população
na crença de que isso aumentaria o crescimento econômico.
Para isso, no início de 2012, o governo brasileiro
declarou guerra
aos bancos privados que não baixassem os juros, e utilizou os bancos
estatais para fornecer empréstimos a juros baixos,
ampliando dessa forma a expansão do crédito. O consumismo e o endividamento
passaram a ser explicitamente estimulados pelo governo, com a crença de que
ambos eram os motores do crescimento econômico.
Para liberar mais dinheiro para o consumo das
pessoas, o governo também congelou o preço da gasolina — obrigando a Petrobras
a vender às distribuidoras gasolina
abaixo do preço pelo qual ela foi importada — e, na base da canetada,
decidiu diminuir as tarifas de energia elétrica (revogando de
maneira unilateral os contratos de concessão das empresas de geração e
transmissão de energia com o intuito de fazer novos contratos e impor tarifas
menores).
E, para estimular ainda mais os efeitos do
consumismo, o governo adotou uma política econômica
totalmente heterodoxa, aumentando os gastos do governo e os déficits orçamentários.
Para completar o populismo, o governo também optou
por fazer concessões de aeroportos e poços de petróleo seguindo um modelo que tabelava
o lucro permitido e impunha regulamentações esdrúxulas.
As primeiras medidas, de fato, impulsionaram o
consumo e o endividamento da população. Mas todas elas, em conjunto, geraram um
efeito deletério: aumento acelerado dos preços e dos custos de produção, e,
principalmente, das incertezas econômicas.
A leniência para com
a inflação, a maquiagem das
contas públicas e os crescentes déficits
orçamentários do governo — que geraram a perspectiva de aumentos de impostos
no futuro — só fizeram piorar o ambiente de negócios no Brasil. Tudo isso em
conjunto com as quebras de contrato feitas pelo governo — como no caso do
setor elétrico — deixaram claro que era extremamente arriscado investir a
longo prazo no Brasil.
Como consequência, os investimentos desabaram.
As políticas do governo Dilma, em suma, estimularam
o consumismo e, ao mesmo tempo, desestimularam a produção. É lógico que não tinha
como dar certo.
Inexplicavelmente, e não obstante todos os exemplos
práticos em contrário, ainda existem economistas adeptos da teoria de que tudo
o que governo precisa fazer para impulsionar a economia é estimular o consumo.
Esse artigo explica por que tal ideia é
completamente insensata.
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Chuck Noland está sozinho naquela ilha do Pacífico. Já
se passaram vários dias desde o fatídico acidente aéreo que o levou até ali.
Noland já comprovou que está em uma ilha completamente deserta. Sua única companhia
é "Wilson",
uma bola de vôlei com um rosto pintado à mão por Noland para que ele não se
sinta sozinho.
No filme protagonizado por Tom Hanks, Noland trabalha
para a empresa internacional FedEx.
O avião em que ele estava sofre um acidente grave e Noland vai parar em uma
ilha deserta no meio do Oceano Pacífico. Subitamente jogado nesta situação,
este náufrago tem de aprender a sobreviver sob as mais adversas, imprevisíveis
e inclementes condições, enfrentando as intempéries de natureza.
Mais ainda: ele tem de se virar para encontrar
alimentos e outros elementos da natureza que o permitam construir um teto para
se abrigar do frio da noite e da insolação do dia. Nada surge pronto. Tudo tem
de ser trabalhado e produzido.
Náufrago,
lançado no final de 2000, arrecadou US$ 430 milhões e foi um grande sucesso
comercial. Não obstante, além de seu êxito de bilheteria, o filme também fornece
uma lição básica de economia, lição essa que, curiosamente, muitos analistas e políticos
ignoram completamente sempre que lançam suas propostas.
A lição de economia do nosso herói é que, para
consumir algo, este algo tem antes de ser produzido. Na ilha deserta, Chuck Noland tem de comer. Para comer,
ele tem antes de pescar. Para pescar, ele tem de aprender a
pescar. Se ele não pescar, não terá produzido nada. Como resultado, não terá
nada para consumir.
Caso Noland estivesse com uma valise cheia de dólares
ou de ouro, nenhuma diferença faria. Caso Noland estivesse em companhia de
outras pessoas, e todas elas estivessem apenas pensando em como gastar esse
dinheiro, não haveria nenhuma melhora em termos de bem-estar. Aquela valise com
dinheiro, por si só, não teria absolutamente nenhuma serventia em fazer surgir
bens e serviços. Estes continuariam tendo de ser trabalhados e produzidos.
Embora ambientado em uma ilha deserta, o filme
mostra uma realidade exatamente igual à do nosso mundo: só conseguimos
satisfazer nossas necessidades se antes produzirmos algo.
Quando vamos ao supermercado, compramos provisões e
insumos que utilizaremos para cozinhar. Só que, para que possamos fazer essas
compras no supermercado, temos de pagar a conta. E, para podermos pagar a
conta, temos de ter uma renda. E, para termos essa renda, tivemos antes de
oferecer um produto ou serviço no mercado.
Na economia de hoje, não há consumo sem renda. Porém,
não há renda se antes não houver produção.
Consequentemente, é impossível estimular compras no
supermercado, de maneira contínua, se os consumidores não houverem antes
produzido algo.
Igualmente, é impossível estimular compras no
supermercado se os produtores de alimentos não tiverem antes produzido esses
alimentos que estão sendo vendidos no supermercado.
No extremo, se o governo simplesmente criasse
dinheiro e repassasse para esses consumidores, o problema da produção de
alimentos continuaria inatacado. Quem irá produzir alimentos se o governo está
dando dinheiro para as pessoas e essas pessoas nada têm de produzir em troca? O
eventual produtor de alimentos passaria a ser um escravo: ele produz alimentos
e, em troca, nada tem para consumir, pois as outras pessoas não estão produzindo
mais nada. Elas estão apenas consumindo seus alimentos e não estão oferecendo em
troca nenhum bem ou serviço.
Desnecessário também enfatizar que esta política de
estímulo ao consumo irá inevitavelmente impulsionar a carestia: muitas pessoas
querendo consumir, poucas pessoas efetivamente produzindo. No final, termos
apenas preços mais altos e redução total da produção.
Por isso, chama a atenção que políticos, analistas e
até mesmo economistas ainda insistam, com tanta ênfase, na necessidade de "estimular
o consumo".
A única maneira sensata de estimular o consumo é aumentando
a renda das pessoas. Mas a renda das pessoas só é aumentada se elas aumentarem
sua produção. Ou, no mínimo, se aumentarem o valor agregado desta produção.
Se eu vendo dez garrafas de vinho por mês e quero
ter "mais dinheiro no bolso", terei apenas duas alternativas: ou eu vendo mais
garrafas de vinho, ou eu passo a produzi-las de maneira mais eficiente
(reduzindo custos), da maneira a aumentar meu lucro líquido por cada garrafa
vendida.
Se o governo estimular o consumo da população facilitando
o crédito para as pessoas (leia-se: aumentando o endividamento das pessoas), a
medida é claramente autoabortiva. Afinal, como essas pessoas — que não estão aumentando sua produção —
irão quitar essa dívida?
Se um indivíduo aumenta seu endividamento, mas não aumenta
sua renda (ou seja, sua produção), ele não tem como quitar essa dívida. (Até porque,
caso as pessoas estivessem aumentando sua produção, então elas, por definição, não
precisariam de crédito artificial para aumentar seu consumo). No cômputo final,
esse endividamento visando ao consumo não gera aumento da produção.
Além do estímulo ao endividamento, há vários economistas
que também defendem a ideia de que o governo deve fazer uma redistribuição de
renda para permitir o consumo dos mais pobres. Também neste caso o problema da produção
segue impávido. Mais ainda: o próprio consumo, por definição, não será
estimulado.
Afinal, se o dinheiro é extraído de uma fatia da população
e repassado a outra fatia, isso não gera um aumento líquido do consumo. João poderá
consumir mais graças aos $ 100 que recebeu do governo, mas Pedro consumirá
menos porque agora tem $ 100 a menos por causa do aumento dos impostos.
O mais irônico de tudo é que mesmo estes economistas
que querem estimular o consumo por meio da redistribuição de renda partem do princípio
de que já houve uma produção prévia. Do contrário, nada haveria a ser
consumido. Portanto, eles até entendem a teoria; apenas não conseguem levá-la
adiante até suas conclusões inevitáveis.
Conclusão
Quem defende políticas de estímulo ao consumo está
querendo comer um bolo sem antes tê-lo manufaturado.
Por definição, nunca há um "problema de demanda". Demandar
é algo que ocorre naturalmente; demandar é intrínseco ao ser humano. A partir
do momento em que você sai da cama até o momento em que você vai dormir você
está demandando coisas. Demandar coisas é o impulso mais natural do ser humano.
É impossível viver sem demandar. Por isso, a ideia de que é necessário
"estimular a demanda" é completamente ilógica. A demanda é algo que
ocorre naturalmente pelo simples fato de sermos humanos.
O problema não é e nem nunca foi "estimular
a demanda". O grande problema sempre foi criar a oferta.
De nada adianta haver demanda se não houver oferta.
É exatamente a oferta o que sacia a demanda. E simplesmente demandar algo não
fará com que, magicamente, a oferta deste algo aconteça.
Para entender este básico nem sequer é necessário ler
tratados de economia. Apenas vejam o exemplo de Chuck Noland no filme Náufrago e perguntem a si próprio: há ali
um problema de demanda ou de oferta? Como a personagem pode aumentar seu
consumo? Se ele tivesse uma valise cheia de dinheiro, haveria aumento de seu
consumo?
Eis o fato incontornável: não é possível aumentar o
consumo sem antes haver um aumento da produção. E para que haja um aumento da produção
é necessário um ambiente que seja propício à produção. Em nossa economia real,
eis o que estimularia uma maior produção: redução da burocracia, redução das regulamentações,
redução das incertezas
geradas pelo governo, redução dos impostos, redução dos gastos públicos
e, principalmente, maior
poupança.
Exatamente o contrário do que propõem vários políticos
demagogos e demais "especialistas" no assunto.
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Leia
também:
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