quarta-feira, 27 set 2017
Nota do editor: o artigo abaixo foi originalmente publicado no dia 19 de abril de 2017. Novas tentativas governamentais de regular Uber e Cabify nos obrigam a subi-lo novamente.
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Faz
poucos anos que estamos vivenciando o surgimento de uma nova e inesperada forma
de liberdade de mercado.
Em
nosso mercado extremamente regulado, estático e burocratizado, amarrado por calhamaços
de regras e imposições governamentais, algo belo e inovador surgiu. Por vezes
chamada de "economia digital" ou "economia compartilhada", mas também chamada
pejorativamente de "economia freelancer" ou mesmo "economia dos bicos",
trata-se de um arranjo puramente voluntário
em que aplicativos de smartphone são utilizados para conectar diretamente
produtores e consumidores.
Este
arranjo conseguiu fazer com que bilhões em recursos físicos e humanos até então
ociosos fossem repentinamente transformados em ativos geradores de riqueza,
trazendo grande satisfação ao consumidor. E, inevitavelmente, gerando grande insatisfação
para governos e sindicatos protegidos por eles.
A
principal empresa deste setor é a Uber, que oferece um serviço — em nível global
— de transporte de passageiros que concorre com os taxis. Por meio de seu
aplicativo, qualquer pessoa comum pode transformar seu bem de consumo (automóvel,
que não gera renda) em um bem de capital (que gera renda e aumenta a riqueza). A
Uber faz com que aquele indivíduo que normalmente utilizaria seu carro apenas
para uso pessoal possa agora utilizá-lo de modo a ganhar dinheiro: prestando serviços
para consumidores. A Uber transforma um bem de consumo básico (um carro) em um
bem de capital (um instrumento que gera renda e aumenta a riqueza).
Em
sua folha de pagamento, a empresa possui apenas 7.000 funcionários fixos (que são
aqueles que trabalham nas instalações físicas da empresa), mas ela concede
poder a milhões de motoristas e passageiros.
Assim
como a Uber, há milhares de outros aplicativos, tanto no setor de caronas
(Cabify, Lyft etc.) quanto em várias outras áreas, como AirBnb (que concorre
com as grandes redes hoteleiras), Instacart
(serviço que entrega compras de supermercado em casa em uma hora), Handy (que faz serviços de faxina e afazeres
domésticos sob demanda), Kiva e Give Well (pelos quais você respectivamente
empresta e doa dinheiro aos pobres dos lugares mais pobres do mundo), Kickstarter e Indiegogo (pelos quais você pode tanto financiar
empresas ao redor do mundo como também pode ser financiado, driblando todo o
sistema bancário controlado e regulado pelo estado), e OpenBazaar (pelo qual qualquer indivíduo de
qualquer lugar do mundo pode
virar empreendedor, sem ter de depender de permissões do governo).
Essas
criações são incrivelmente animadoras. Oportunidades econômicas estão sendo
criadas e disponibilizadas para milhões de pessoas, e tais mercados realmente
representam uma esperança para o futuro.
A
grade ironia é que estes aplicativos estão entregando o controle do capital aos
próprios trabalhadores, exatamente como os socialistas dizem que deveria ser. Os
aplicativos geraram uma mudança nas relações de produção, permitindo que cada
vez mais indivíduos se tornassem proprietários dos meios de produção em vez de
ter de trabalhar para terceiros que detêm todo o capital físico necessário para
fazer seu trabalho. Mas tudo isso esta acontecendo por meio de um processo
capitalista.
(Sim,
a Uber é a proprietária da plataforma do software que torna possível a conexão
entre vendedores (motoristas) e compradores, mas os motoristas da Uber detêm
seu próprio capital. Eles são livres para escolher os dias e as horas em que
querem trabalhar.)
Seria
de se imaginar que o surgimento deste tipo mercado — totalmente voluntário — fosse
aclamado com um grande e universal entusiasmo, principalmente pela esquerda
progressista. Mas, obviamente, nenhuma criação tão inovadora quanto essa é
recebida com aplausos ubíquos.
O
jornal The New York Times,
o grande bastião da esquerda chique, arrogou par si a tarefa de liderar
violentos ataques àquilo que ele chama de "economia dos bicos". A escrita do
jornal segue todas as características do gênero: encontre algo que funciona e
que ainda não está regulado, e exija que o governo faça algo imediatamente. Encontre
algum setor que está em processo de melhorias, e trate-o como algo que o
governo deve esmagar incontinenti. Pouco importa se os consumidores deste serviço
o aprovam e querem que ele continue.
Um
editorial
tão ruim quanto este merece uma resposta detalhada:
Não há utopia em empresas como
Uber, Lyft, Instacart e Handy. Seus trabalhadores são frequentemente
manipulados a trabalhar longas jornadas em troca de baixos salários, ao mesmo
tempo em que estão continuamente à procura de novas corridas e tarefas.
"Utopia"
é um padrão muito alto contra o qual comparar qualquer realidade existente. Qualquer
coisa que seja comparada a uma utopia irá necessariamente perder. O editorial,
portanto, já começa com um erro básico de lógica.
Adicionalmente,
é o ápice da presunção e arrogância presumir que indivíduos estão sendo "manipulados"
pelo fato de terem escolhido trabalhar duro. Várias pessoas, inclusive
jornalistas, apenas almejam o sucesso por meio do trabalho.
Estas empresas descobriram que
podem transformar modernidades e evoluções tecnológicas em antiquadas explorações
trabalhistas — de acordo com várias evidências —, pois seus empregados não usufruem
os mesmos direitos trabalhistas que o resto da população.
Imagine
um motorista da Uber que, sentado no sofá de sua casa assistindo à Netflix por
horas seguidas, repentinamente constata: "Eu poderia estar ganhando dinheiro
transportando pessoas pela cidade, conversando cordialmente com elas,
satisfazendo seus desejos, e até mesmo levando bêbados para casa em segurança. Vou
fazer isso!" E então ele se levanta do sofá e vai trabalhar. (Motorista da Uber
trabalha quando quer).
É
isso que o The New York Times chama
de "exploração trabalhista"
Os trabalhadores dessa "economia
dos bicos" tendem a ser mais pobres e são majoritariamente formados por minorias.
... A maioria disse que o dinheiro que ganham com seu trabalho foi essencial
para suas famílias.
O
Times está condenando a solução e
dizendo que ela é, na verdade, um problema. Pessoas mais pobres e que precisam
de uma segunda fonte de renda agora têm uma, graças à economia digital. Será que
tais pessoas estariam em melhor situação sem esta oportunidade? (Sim, estou
constrangido em ter de recorrer a argumentos tão básicos, mas estou apenas
mantendo o mesmo nível do The New York
Times).
Dado que os trabalhadores destas
empresas que atuam na economia digital são considerados prestadores de serviços
autônomos e independentes, e não empregados fixos, eles não usufruem proteções básicas,
como salário mínimo, [encargos sociais e trabalhistas, no caso do Brasil], e adicional
de horas extras. Isso ajudou a Uber, que surgiu em 2009 e rapidamente chegou a
700.000 motoristas cadastrados e ativos apenas nos EUA. Isso é praticamente o
triplo do número de taxistas e motoristas particulares que havia no país em
2014.
Que
a Uber tenha crescido tão rápido sob este arranjo é um fenômeno particularmente
elucidativo. O mercado de trabalho convencional não mais está funcionando
exatamente por causa destas "proteções básicas" que, na realidade, representam
fardos onerosos que não ajudam nem os patrões e nem os empregados.
Tais
regulações conseguem apenas diminuir a concorrência em cada setor, restringindo
tanto o número de novos empreendedores quanto o de novos empregados. Mas funcionam
como uma ótima reserva de mercado para quem já está estabelecido.
O
sucesso da economia digital é a prova inconteste de que o mercado — ou seja, o
público consumidor — está implorando por menos obstáculos e por fardos menos
onerosos. Quando você obtém sucesso operando sob regime concorrencial, isso é
uma evidência de que você está fazendo bem feito (de novo, peço desculpas ao
leitor por ser obrigado a falar obviedades).
Em número crescente, trabalhadores
e agências reguladoras do governo estão reagindo.
Acione
o seu decodificador: na frase acima, o termo "trabalhadores" significa "sindicatos",
cujo único interesse é fechar o mercado de trabalho em benefício próprio e à
custa de todos os outros trabalhadores não-sindicalizados. Sindicatos cartelizam
o mercado de trabalho ao estipular valores salariais mínimos para suas
respectivas profissões, proibindo todos os não-sindicalizados de trabalhar por
valores menores do que o estipulado pelo sindicato. (Pela terceira vez, peço
desculpas por ter de repetir obviedades).
Quanto
às agências reguladoras do governo, é óbvio que elas estão preparadas e ávidas
para destruir qualquer coisa que prospere no mercado sem sua permissão. É para
isso que elas existem. Este sempre foi o seu histórico.
Porém, até o momento, a experiência
com estas empresas mostra que, sem as proteções legais e as normas éticas que
outrora eram amplamente aceitas, os trabalhadores descobrirão que a economia do
futuro será um lugar ainda mais inóspito.
Olha
só: se o Times está dizendo que Uber, Lyft, Instacart, Handy e todas as
milhares de outras empresas da economia compartilhada irão se dar mal no
mercado e serão substituídas por algo diferente, ótimo. Deixe o mercado (os
consumidores) determinar os ganhadores e os perdedores. Se os trabalhadores
encontrarem opções melhores, eles irão naturalmente em direção a elas.
No
entanto, e até o momento, tudo indica que o campo gravitacional tanto no
mercado de trabalho quanto no mercado consumidor está indo para a direção oposta:
para arranjos que transferem direitos de propriedade e de escolha para os
trabalhadores, e contornando barreiras governamentais.
O
mercado já está falando, gritando, berrando: vamos tentar algo diferente.
O
que a mídia progressista está realmente exigindo é que haja mais decretos e regulamentações
que esmaguem empresas inovadoras. Não podemos deixar que isso seja
bem-sucedido.
Conclusão
Há
um motivo por que as inovações quase sempre se concentram nos setores de alta
tecnologia: este é um setor (ainda) relativamente pouco regulado. Burocratas,
por definição, são lentos e tendem à inércia. Eles não conseguem criar
regulações na mesma velocidade que o mercado cria inovações. Havendo pouca
regulação, há poucas barreiras artificiais ao empreendedorismo, aos
investimentos e às descobertas. O grande beneficiado acaba sendo o consumidor.
Já
os outros setores da economia — mais antigos e, por isso, mais regulados — seguem
engessados. Raramente surgirão inovações dali. O estado impede.
Toda
a nossa esperança de uma contínua melhoria em nosso bem-estar virá do setor
tecnológico. E é este que o estado agora quer regular com mais intensidade. Burocratas
podem não ser rápidos o bastante para perceber o que realmente está acontecendo
em termos de evolução tecnológica; mas, eventualmente, eles podem recorrer ao
poder da caneta tentar abolir tudo. Eles detêm todo o poder destruidor do
governo.
É imperativo oferecermos resistência.
Nota do IMB (de Adriano
Gianturco)
No
Brasil, nos últimos 3 anos, a economia piorou, o desemprego aumentou, a dívida
pública disparou, e os preços subiram quase
30%. No setor de transportes, os preços das passagens de avião subiram, o
número de voos diminuiu (a oferta de vôos voltou
ao patamar de 2010) e a passagem de ônibus aumentou.
Tudo piorou e encareceu.
As
únicas coisas que melhoraram, e muito, foram a sua mobilidade e a sua liberdade
de escolha, graças a Uber e Cabify. E os preços caíram. Hoje, você se locomove
nas grandes cidades pagando bem menos do que pagava há 3 anos (mesmo com a
inflação de preços chegando a quase 30% neste período).
O
que então o estado decidiu fazer? A única coisa que ele sabe fazer: usar seu
poder destrutivo para tentar abolir esta melhoria e, com isso, piorar a nossa
vida. Querem
agora proibir Uber e Cabify.