quarta-feira, 15 set 2021
Como os recursos são alocados? Como empreendedores
sabem o que deve ser produzido e em qual quantidade? Como os consumidores fazem
os empreendedores saber quais são suas demandas?
A resposta é uma só: por meio do sistema de preços.
Não sejamos comedidos com as palavras: se o sistema
de preços houvesse sido meticulosamente inventado pelo homem, seria uma das
mais genais criações da mente humana.
Não houvesse um sistema de preços, simplesmente
ainda estaríamos vivendo em condições de subsistência, com um padrão de vida
baixíssimo. Jamais teríamos vivenciado todos os avanços alimentares, tecnológicos,
medicinais e de conforto que usufruímos hoje.
Entender o sistema de preços é entender como bilhões
de indivíduos completamente estranhos uns aos outros, espalhados pelo globo, falando
dezenas de idiomas diferentes, e cada um preocupado apenas com o bem-estar próprio
e o de sua família, fazem escolhas e agem de uma maneira que torna
completamente possível a nossa atual prosperidade — possibilitando desde a existência
diária de todos os tipos de alimentos
frescos nas gôndolas dos supermercados até a incrível oferta de todos os tipos
de bens de consumo e de serviços à nossa disposição.
Os
preços coordenam tudo
O sistema de preços, quando deixado a funcionar
livremente, é um engenhoso método de comunicação
e coordenação capaz de aprimorar
substantivamente as condições de vida dos seres humanos.
Os preços livremente formados nos informam sobre a
abundância ou escassez de cada bem ou serviço específico, e coordenam como cada
bem e serviço será usado em um dado processo de produção.
Para os consumidores, um aumento nos preços de um produto
sugere que este se tornou mais escasso. Consequentemente, os consumidores irão reduzir
o consumo deste produto em decorrência deste aumento do preço e procurar por
substitutos mais baratos.
Para os produtores, os preços maiores deste produto
informam que pode haver maiores oportunidades de lucro para entrar neste mercado
específico. Estes novos concorrentes irão ou produzir mais deste produto,
aumentando sua oferta, ou produzir bens alternativos para concorrer com o produto
em questão.
Este é o processo de descoberta que define a essência
do mercado. E é este processo, quando deixado a ocorrer livremente, que garante
que os preços estejam sempre em níveis que tendam a equilibrar oferta e demanda.
Naquele que talvez seja o seu mais importante artigo
— O Uso do Conhecimento
na Sociedade —, o economista austríaco Friedrich Hayek explicou
detalhadamente a importância dos preços: eles transmitem todas as informações detalhadas
que diferentes pessoas ao redor do mundo possuem sobre aspectos específicos de
vários mercados.
O mercado — ou seja, a interação voluntária e espontânea
de bilhões de pessoas ao redor do globo — é incrivelmente eficiente em
compilar e extrair informações oriundas de um vasto arranjo de fontes ao redor
do globo. Assim, os preços livremente formados no mercado enviam sinais
importantes tanto para os consumidores quanto para os produtores, gerando assim
uma coordenação espontânea ao redor do globo.
Um carpinteiro no Canadá, por exemplo, não precisa
saber que está havendo uma escassez de aço na China para perceber que seus
materiais estão mais escassos e mais caros do que antes. O preço dos pregos e
parafusos já lhe dirá tudo o que ele precisa saber.
Ou imagine um fabricante de rádio. Para
construir seu produto, ele pode utilizar uma miríade de materiais, desde um
simples plástico até a nobre platina. Como a platina é um metal nobre e
relativamente escasso, seu preço é alto. Esse preço alto está enviando um
sinal inequívoco ao fabricante de rádio: se ele quer usar platina, então é bom
que seja para um motivo muito urgente, pois ele estará retirando recursos de
outras indústrias para as quais a platina é um dos poucos materiais que tornam
seu processo de produção lucrativo.
Esse alto preço da platina, que o fabricante de
rádio certamente não pode pagar, é reflexo do fato de que a platina é
necessitada com mais urgência em outros setores da economia, e a lucratividade
que ela gera para esses setores permite que seus usuários elevem o preço da
platina até o ponto em que passa a não ser vantajoso para o fabricante de rádio
competir por esse recurso escasso.
É claro que o fabricante de rádio não
necessariamente sabe por que o preço da platina é tão alto, ou quais são seus
outros possíveis usos. Tudo o que ele sabe é que a platina é cara — e ele
deve reajustar seu processo de produção de acordo com essa realidade. Ele
terá, então, de utilizar um material como o plástico, cuja maior abundância ou
menor urgência em outros setores torna seu uso mais viável e racional.
Milhões de decisões como essa são feitas
diariamente, desde a fabricação de aviões até a produção de pães. As
decisões são racionalizadas exatamente por causa do sistema de preços, e sem
que os produtores envolvidos nesses processos tenham de saber por que
exatamente as condições econômicas do momento fazem os preços serem como
são.
Se houver gerenciamento, haverá ruptura
Esses exemplos nos mostram como o arranjo é intrincado
e instável demais para ser "gerenciado" ou sofrer uma "sintonia fina".
O
sistema de preços aloca os recursos de forma que eles sejam utilizados da
maneira mais racional possível, de modo a evitar desperdícios e más
alocações. Qualquer controle de preços, por mais trivial que pareça, irá
inevitavelmente perturbar e descoordenar todo esse complexo arranjo.
Conclusão lógica: qualquer intervenção no sistema de
preços irá gerar irracionalidade na produção, desperdícios de recursos e
escassez de bens. Qualquer intervenção no sistema de preços, inclusive no
preço da mão-de-obra ou no preço do dinheiro (juros), também gerará efeitos
disruptivos.
Para ilustrar todo o maravilhoso funcionamento do
sistema de preços, a espetacular coordenação que ele gera e, acima de tudo, os
resultados surpreendentes e inesperados causados por súbitas alterações nos preços
de determinados produtos, não posso fazer mais do que recomendar efusivamente o
vídeo abaixo (de menos de 5 minutos e com legendas em português).
Quem poderia imaginar que o aumento do preço do petróleo
na década de 1970 levaria a um aumento do consumo de chocolates?
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