Os socialistas já
tentaram, e várias vezes, colocar sua ideologia em ação. O socialismo foi
aplicado na União
Soviética, em Cuba,
na China (antes de
Deng), na Coreia do
Norte, no Camboja,
na Etiópia e no Zimbábue
e em vários outros regimes menos famosos.
Em cada caso, sem exceção,
o resultado foi miséria econômica e autoritarismo político.
Mas os socialistas mais obstinados
se recusam aceitar. "Não julgue o comunismo com base apenas nestes resultados!",
dizem eles. "O socialismo verdadeiro simplesmente nunca foi tentado."
O socialismo não funciona, a menos que
seja o socialismo puro
Recentemente, ninguém
menos que Noam Chomsky veio a público dizer que o regime da Venezuela — o
mesmo que implantou controle de preços, estatizações, expropriação de
propriedade privada, generosos programas assistencialistas e planejamento
centralizado (ver aqui)
— não tem absolutamente
nada de socialista:
"Eu nunca descrevi o modelo de capitalismo de estado
de Chávez como 'socialista'; nem sequer insinuei algo tão absurdo assim. O
regime não tinha nada a ver com o socialismo. O capitalismo privado permaneceu
livre ... Os capitalistas continuaram livres para solapar a economia de todas
as maneiras, como por meio de uma maciça exportação de capital."
Portanto, o raciocínio dos
socialistas é o seguinte: o socialismo só irá funcionar se ele for progredindo
até chegar ao ponto do "socialismo total". Qualquer outro arranjo que não seja o
socialismo pleno — no qual não haveria uma única padaria privada — é inaceitável.
Nenhum esforço parcial será suficiente.
E todos os experimentos
socialistas só fracassaram porque alguns elementos do "capitalismo privado"
continuaram funcionando. Enquanto ainda existir qualquer aspecto econômico que
não seja de socialismo pleno, então o regime não é socialista.
Mais ainda: o fracasso das
políticas socialistas do regime venezuelano — tais como a expropriação
de empresas privadas (até mesmo
hotéis) e a expansão de indústrias estatais — deve ser atribuído ao
capitalismo, e não ao socialismo.
Naturalmente, conclui o
raciocínio, se o socialismo pudesse chegar ao seu estágio pleno — com todos os
elementos do capitalismo eliminados — saberíamos que este sim seria o
socialismo de verdade porque estaríamos vivendo em uma sociedade marcada por
uma prosperidade sem precedentes e por uma igualdade total.
Pouco importa que, para
todos os propósitos e intenções, Lenin de fato alcançou a quase completa e
total estatização da economia durante a Guerra Civil da Rússia em 1922. Como as
pessoas começaram a morrer de fome logo em seguida, Lenin recuou e, em vez do
socialismo pleno, adotou o socialismo parcial, sob a sua assim chamada "Nova
Política Econômica".
Este exemplo prático de
Lenin é, claro, firmemente ignorado. E socialistas inflexíveis, como o próprio
Chomsky, vivem repetindo que meras medidas parciais não funcionam para o
socialismo, e que apenas o socialismo total pode funcionar. Qualquer coisa que
não seja socialismo pleno, ao que tudo indica, irá entrar em colapso, como
mostra a Venezuela.
Sim, o governo pode até
estatizar e confiscar várias empresas, fábricas, indústrias e até mesmo pontos
de comércio, como
aconteceu na Venezuela. No entanto, a menos que o estado confisque absolutamente cada lojinha e mercearia,
não há socialismo real.
Consequentemente, não se atreva a culpar o socialismo quando toda a economia,
após todas essas medidas, entrar em colapso. Toda a culpa deve ser atribuída
aos resquícios de capitalismo.
A mesma lógica não precisa ser aplicada
ao liberalismo laissez-faire
Observe, no entanto, que
isso não é um problema quando ocorre na direção oposta. Se pegarmos uma economia que sofre intervenções do estado e
começarmos a introduzir reformas liberais parciais, isso por acaso fará a
economia entrar em colapso?
Certamente não. Com
efeito, a própria análise empírica mostra que, quanto menos relativamente socialista for uma
economia, menor será a
pobreza e maior será a prosperidade.
Historicamente, isso é
óbvio. Os países que adotaram mais cedo o livre comércio, a industrialização, e
as instituições de uma economia de mercado são hoje as economias mais ricas do
mundo. Isso também ocorreu na Europa do pós-guerra, onde as economias
relativamente mais pró-mercado, como as da Alemanha e do Reino Unido, são mais
ricas e têm um padrão de vida maior do que as economias mais socialistas do sul
da Europa, como Grécia e Espanha. Com efeito, isso também vale até mesmo para
os países escandinavos, como a Suécia, que enriqueceram ao longo da história adotando regimes bem
próximos ao laissez-faire.
E tudo isso fica ainda
mais evidente quando comparamos a Europa Ocidental com o Leste Europeu.
Em nenhum destes casos
encontramos uma economia de livre mercado puro ou uma totalmente socialista. O
que observamos, no entanto, é que, quanto mais mercado e menos socialismo há em
um país, maior o padrão
de vida, menor a desigualdade, e muito menos brutal é a pobreza geral.
Dito de outra forma,
naqueles países que se inclinam mais para o mercado, tudo é melhor e mais
desenvolvido.
Isso também é válido para
a Ásia. Coréia do Sul
e Japão estão longe
de ser economias puramente de livre mercado. As economias de ambos os países são
caracterizadas por uma grande variedade de restrições comerciais, ligações
corporativistas entre governo e grandes empresas, e um maciço aparato
regulatório. No entanto, Coreia do Norte e Vietnã, que são muito mais pobres,
sempre tiveram uma participação estatal muito
maior na economia — com o governo sendo o proprietário de várias empresas
no Vietnã e de todas na Coreia do Norte — e um setor privado muito menor em
relação aos do Japão e da Coreia do Sul.
E, ainda assim, pela
lógica dos socialistas, o problema com a Coreia do Norte e com o Vietnã é que
eles não têm socialismo pleno. Se tais países ao menos pudessem se livrar dos
poucos capitalistas que, como disse Chomsky, "ainda estão livres para solapar a
economia", então a Coreia do Norte finalmente irá se tornar próspera, e o
Vietnã passará a rivalizar com o Japão em termos de produtividade e riqueza.
É claro que isso é um
contra-senso total. Se a Coreia do Norte quiser ter menos pessoas passando
forme, ela tem reduzir substantivamente o socialismo em sua economia, como fez
a Coreia do Sul.
Mesmo reformas incompletas e parciais
funcionam em economias de mercado
Ao contrário do
socialismo, reformas de mercado não
precisam ser totais, completas ou utópicas para que seus benefícios sejam
reconhecidos.
É por isso que defensores
de uma economia de mercado não precisam dizer que "as reformas de mercado não
funcionaram no País X porque aquele país nunca alcançou o estágio do
capitalismo pleno, puro e verdadeiro! Se ao menos todos os socialistas tivessem
sido liquidados e todas as políticas remotamente semelhantes ao socialismo
tivessem sido abolidas, aí sim o verdadeiro capitalismo seria adotado!"
Isso nunca precisará ser
dito porque até mesmo
medidas parciais em direção a uma maior liberdade de mercado melhoram a
economia e o padrão de vida.
Vimos isso na Alemanha
Ocidental após a Segunda Guerra Mundial com as reformas efetuadas por
Ludwig Erhard, as quais levaram a um período de acelerado crescimento
econômico, mesmo com as reformas tendo sido apenas parciais. Ao abolir os
controles de preços e outras restrições impostas pelo governo à economia, a
Alemanha decolou ao passo que outras economias mais socialistas — como a do Reino Unido à
época — ficaram estagnadas. Já a Alemanha Oriental,
socialista, viu seu padrão
de vida encolher ao longo deste mesmo período de tempo.
A Alemanha Ocidental não
adotou um capitalismo "puro e pleno". Os alemães adotaram um arranjo economia
relativamente mais laissez-faire que o resto da Europa. E a economia cresceu
forte. Com efeito, as reformas de mercado feitas pelo governo da Alemanha
Ocidental ocorreram quase que por acidente. E, ainda assim, chamamos
os resultados de "o
milagre alemão".
Outro exemplo moderno é a
América Latina. Quando olhamos para a região como um todo, vemos seguidas vezes
que os regimes que adotaram reformas pró-mercado até mesmo parciais e
incompletas — como Chile, Peru e Colômbia — são os países que vivenciaram as
maiores taxas de crescimento econômico da última década.
Enquanto isso, aqueles países
que mais entusiasmadamente adotaram a "onda vermelha" — cujos governantes eram
aliados do chavismo e seu bolivarianismo — tiveram as piores taxas de
crescimento (2014-2015):
[N. do E.: sobre Equador e
Bolívia, que utilizam, respectivamente, o dólar e uma moeda atrelada ao dólar (na
prática, refutando a própria retórica anti-imperialismo) e dão bastante
liberdade para o mercado informal, veja aqui).
Mas qual é a desculpa para
a falta de crescimento econômico na Argentina, no Brasil e na Venezuela? Todos esses
países, na última década, adotaram o populismo econômico: mais ativismo
estatal, mais regulação estatal, mais intervenções estatais, e mais controle
estatal sobre a economia. Logo, por que estes países não ultrapassaram os
outros países latino-americanos mais voltados para o mercado?
De acordo com a lógica socialista,
o verdadeiro problema é que nenhum destes países adotou o socialismo total.
Isso é muito gostoso: toda
vez que algumas reformas socialistas são tentadas — e fracassam —, a ideologia
já tem uma justificativa pronta: o socialismo só irá funcionar quando for implantado por completo.
Agora, apenas imagine qual
seria a situação da humanidade se o mesmo raciocínio fosse válido para uma
economia de mercado. Dado que nenhuma ideologia jamais será implantada por
completo, isso significa que a humanidade estaria condenada a viver para
sempre na mais abjeta e sórdida pobreza.
Felizmente, reformas de
mercado meramente parciais e casuais já conseguem melhorar nossa situação. Infelizmente, governos estão sempre
comprometidos em nos empurrar para a direção errada, com sua manipulação da moeda e do crédito, seus controles
de preços, e suas crescentes regulações e tributações.
Os ataques aos mercados são
contínuos e generalizados. Felizmente, todo o necessário para melhorar a situação
novamente é um movimento de contra-reação que leve a economia de volta em direção
a mercados mais livres.
Todos faríamos bem em
estudar e aprender as lições do Leste Europeu, da Alemanha Ocidental, da
América Latina e de todos os outros regimes que, de forma relutante ou
voluntária, saíram da frente e deixaram o mercado funcionar com mais liberdade.
Os socialistas podem
continuar sonhando com a maneira como seu prometido paraíso será realizado no
dia em que o socialismo pleno e puro for alcançado. Enquanto isso, na vida
real, a economia de mercado continuará aprimorando a situação e o padrão de
vida de bilhões de pessoas.