segunda-feira, 19 jun 2017
As oficinas de aprendizes surgiram pela primeira vez
no fim da Idade Média. Eram uma oportunidade para que os jovens da época,
normalmente entre 10 e 15 anos de idade, adquirissem habilidades manuais e
conhecimentos práticos trabalhando diretamente sob o comando de um mestre artesão.
Esses adolescentes aprendizes chegavam à maturidade
imersos em autênticas experiências de trabalho, rodeados por mentores adultos. Isso
rapidamente os preparava e capacitava para assumir responsabilidades profissionais,
fazendo com que se tornassem adultos mais precocemente.
Em pouco tempo, deixavam de ser adolescentes e se
tornavam adultos com responsabilidades e deveres.
O termo "adolescência" advém do latim "adolescere",
um termo surgido no século XV cujo significado era 'crescer' ou 'tornar-se maduro'.
Mas foi apenas em 1904 que G. Stanley Hall, o primeiro presidente da Associação
Americana de Psicologia, cunhou o termo "adolescência" para identificar uma
fase distinta e separada do desenvolvimento humano.
A expansão da escola obrigatória, em conjunto com
uma variedade de leis que proíbem o trabalho infantil, acabou por
artificialmente ampliar a duração da infância e da adolescência, levando ao
surgimento do estereótipo do "típico adolescente" imaturo, sem a necessidade de
assumir deveres e responsabilidades, o qual persiste até hoje.
Adolescentes
são mais capazes do que permitimos
A adolescência se tornou um conceito social. A
maioria das pesquisas sobre a adolescência — frequentemente abordadas em
termos patológicos — começou na década de 1940. Desde então, intensificou-se a
ideia de que a adolescência é uma fase intermediária entre a infância e a vida
adulta, durante a qual o jovem está liberado de assumir deveres e responsabilidades
profissionais, tendo apenas a obrigação de estudar (em escolas cujos currículos
são determinados pelo governo) e uma maior liberdade para se comportar de
maneira errática.
Compulsoriamente removidos das experiências práticas
da vida real, e confinados a um ambiente restritivo e artificial imposto pelo sistema
escolar massificado, não é de se surpreender que os adolescentes de hoje
demonstrem apatia, angústia, ansiedade e raiva. E, acima de tudo, um grande
despreparo técnico e profissional.
Porém, historicamente, não é assim que os
adolescentes sempre se comportaram. Tampouco é assim que eles se comportam hoje
em algumas partes do mundo.
Como escreveu
o psicólogo Dr. Robert Epstein, autor do livro The
Case Against Adolescence:
A
confusão social e emocional vivenciada por vários jovens do mundo ocidental é
um fenômeno inteiramente criado pela cultura moderna. Nós criamos este fenômeno
ao infantilizarmos nossos jovens isolando-os dos adultos e do mundo adulto.
O
atual sistema escolar compulsório e massificado, bem como as restrições ao
trabalho infantil — uma criação da era da Revolução Industrial —, não mais são
apropriados para o mundo moderno. As clássicas fábricas exploradoras não mais
existem e hoje temos a capacidade de fornecer educação de qualidade em nível individual,
sem a necessidade de um currículo compulsório ditado pelo estado.
Adolescentes
são jovens adultos inerentemente capazes. Para desfazer o estrago que fizemos,
seria necessário estabelecer sistemas baseados na competência que dêem a estes
jovens as oportunidades e os incentivos para se juntarem ao mundo adulto o mais
rapidamente possível.
O impacto do sistema escolar compulsório e
massificado sobre os adolescentes pode ser ainda mais severo. Forçadamente isolados
do autêntico mundo adulto (com o qual, inevitavelmente, terão de interagir no
futuro), superprotegidos e cada vez mais despreparados para as responsabilidades
da vida, vários adolescentes acabam por se rebelar e adotar comportamentos
autodestrutivos, que vão desde a raiva e a angústia até o vício em substâncias e
o suicídio.
Como acrescentou o doutor Epstein:
Devido
aos imperativos evolucionários estabelecidos há milhares de anos, o principal desejo
de um adolescente continua sendo o de se tornar produtivo e independente. Todos
nós, como indivíduos, inevitavelmente aspiramos a isso. Mas se, após a puberdade,
continuarmos agindo como se os jovens ainda fossem crianças indefesas, estaremos
dificultando enormemente a concretização deste desejo. E
isso lhes causará grandes agonias.
Uma
solução
Se o objetivo é conectar os adolescentes às experiências
práticas e autênticas do mundo real, então acabar com o modelo de escola
compulsória (e de currículo estabelecido pelo governo) e retornar aos sistemas
de aprendizagem profissional seria uma abordagem valiosa e já testada e
aprovada pelo tempo.
Estágios e programas de aprendizado profissional são
valiosos em qualquer etapa da vida, principalmente quando se está na faculdade.
Porém, permitir que eles ocorram já em idade escolar é essencial. Jovens que estão
no ensino médio anseiam por experiências reais e significativas que levem à aquisição
de habilidades e conhecimentos práticos. Permitir que, em vez da escola compulsória
e controlada pelo governo, eles possam frequentar programas de aprendizado
profissional, adquirindo desde cedo valiosas habilidades e conhecimentos
práticos, não apenas pode atacar o crescente problema da confusão social e
emocional que acomete os adolescentes, como também pode abrir um caminho para
uma carreira de sucesso e de satisfação pessoal.
Para isso, revogar as leis que obrigam a presença em
escolas e que proíbem o trabalho infantil seria crucial.
Integração por meio do aprendizado
No prefácio do seu livro The Means to Grow Up: Reinventing
Apprenticeship as a Developmental Support in Adolescence ('Os meios
para o crescimento: reinventando o aprendizado como um suporte para o
desenvolvimento na adolescência'), o doutor Robert Halpern afirma:
As
experiências dos jovens com o aprendizado profissional não apenas estabelecem os
pilares para sua vida profissional, como também, em vários casos, facilitam e
clarificam enormemente a escolha de seus cursos universitários. E isso ocorre
para todas as classes sociais.
Aquilo
que, à primeira vista, parece uma estratégia para aprofundar as desigualdades
sociais — universidades e uma adolescência ampliada para os jovens mais
abastados, e cursos profissionais e um empurrão prematuro para o mundo adulto
para os menos abastados — é exatamente um meio para atacá-la.
Programas de aprendizado geram uma situação de ganho
mútuo para os jovens aprendizes e para os empregadores que os contratam e os
treinam. Os adolescentes adquirem habilidades práticas e benéficas, o que os
leva para o autêntico mundo adulto; já os empregadores terão mão-de-obra
capacitada e produtiva.
Adolescentes não são seres inerentemente problemáticos.
Um século atrás, o grande anseio de um adolescente era se tornar um adulto responsável,
respeitado e independente. Tal anseio foi destruído pelas regulamentações
estatais sobre o mercado de trabalho e pelo sequestro educacional promovido
pelo estado. As consequências não foram nada positivas para juventude.
Por isso, o segredo para se resolver este desvio é
simplesmente fornecer apoio ao desenvolvimento natural do indivíduo jovem. E
isso deve ser feito libertando-o de ambientes institucionais restritivos e
artificiais e permitindo que ele siga caminhos mais relevantes para a maturidade
e a vida adulta.
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