quarta-feira, 28 jun 2017
A libertação do indivíduo em relação à destituição e
às incertezas da agricultura de subsistência é uma das maiores façanhas do
mundo moderno. Cada vez mais pessoas têm uma expectativa de vida maior e vivem
com mais saúde e com mais conforto em relação a qualquer outro período da
história humana.
Reconhecer o enorme e positivo efeito desta transformação
gradual é de suprema importância não apenas para contrabalançar o crescente
pessimismo que nos acomete, como também para não nos esquecermos jamais do
arranjo que permitiu a ocorrência deste fenômeno.
Entendendo
a pobreza de maneira errada
O Banco Mundial recentemente relatou que as
amenidades básicas para se ter uma vida digna estão disponíveis para os mais
pobres do planeta em um volume jamais visto em toda a história da humanidade. E
por uma grande margem. Em
1820, aproximadamente 95% da população mundial vivia na pobreza, com uma
estimativa de que 85% vivia na pobreza "abjeta". Em 2015, menos
de 10% da humanidade continua a viver em tais circunstâncias.
Não obstante sua drástica redução, a maioria das
pessoas está totalmente alheia ao fato de que a pobreza extrema vem caindo ao
longo do tempo. Por exemplo, em
uma recente pesquisa, apenas 5% dos americanos sabiam que a pobreza extrema
global havia sido reduzida à metade nos últimos 20 anos. Já nada menos que dois
terços dos pesquisados disseram acreditar que ela havia dobrado ao longo deste período.
Se as pessoas estivessem mais cientes do nosso
impressionante progresso na redução da pobreza global, talvez seríamos menos
pessimistas quanto à atual situação ou quanto às perspectivas para o futuro.
Comecemos com este famoso gráfico em forma de
"bastão de hockey", do projeto Our World in Data,
sobre a prosperidade humana. Ele mostra a criação
de riqueza. Ele mostra a evolução do PIB real per capita para vários países
e para o mundo, desde o ano 1.000.

Gráfico 1: evolução do PIB real per
capita para vários países e para o mundo, desde o ano 1.000
Observe que o ponto de virada coincide exatamente
com a Revolução Industrial. A adoção de bens de capital movimentados por
motores a vapor em conjunto com outras tecnologias que ajudaram a aumentar a
produtividade desencadearam uma revolução no bem-estar humano ao redor do
globo.
Desde então, a mente humana em conjunto com a maior
oferta de mão-de-obra disponibilizada pelo crescimento populacional criou o motor a
vapor, o tear têxtil automático, a linha de montagem, a orquestra sinfônica, a
ferrovia, a empresa, a imprensa a vapor, o papel barato, a alfabetização
universal, o aço barato, a placa de vidro barata, a universidade moderna, o
jornal moderno, a água limpa, o concreto armado, a luz elétrica, o elevador, o
automóvel, o petróleo, o plástico, meio milhão de novos livros em inglês por
ano, o milho híbrido, a penicilina, o avião, o ar urbano limpo, direitos civis,
o transplante cardíaco e o computador.
Novas fontes de energia foram dominadas e novos e
mais modernos computadores entraram em cena. Hoje, computadores ao redor do
mundo estão conectados entre si pela internet e se tornaram tão pequenos ao
ponto de caber em nosso bolso. Temos literalmente acesso a todo o conhecimento
do mundo na palma de nossa mão. Bens, serviços e idéias cruzam o globo,
possibilitados por um aumento da produtividade humana totalmente impensável há
50 anos.
E isso elevou imensamente nossa riqueza.
Mas e quanto à pobreza?
Como mostra o próximo gráfico, também do projeto Our World in Data,
a pobreza extrema está em declínio ao mesmo tempo em que a população mundial
está aumentando.
A área vermelha mostra o número de pessoas ao redor
mundo vivendo na pobreza extrema; a área verde mostra o número de pessoas ao
redor do mundo fora da extrema pobreza. ('Extrema pobreza' é definida como um
nível de consumo diário menor que US$ 1,90 por dia, com o valor já ajustado
para a inflação e para as diferentes realidades de preço de cada país).

Gráfico 2: a área vermelha mostra o
número de pessoas ao redor mundo vivendo na pobreza extrema; a área verde
mostra o número de pessoas ao redor do mundo que não estão na extrema pobreza.
Observe que a redução da pobreza extrema em escala
global é recente. Vale lembrar que o modo padrão durante a maior parte da
história humana sempre foi a pobreza. Com efeito, a pobreza sempre foi a norma
e a condição natural e permanente do homem ao longo da história do mundo. E
esta se manifestava em conjunto com todos os seus problemas.
Porém, desde 1970, tem havido um rápido crescimento
no número de pessoas vivendo acima da linha de pobreza extrema e uma drástica redução
no número de pessoas vivendo abaixo dele. Em 1970, aproximadamente 60% dos 3,7
bilhões de habitantes deste planeta ainda estavam relegados à pobreza extrema. Hoje,
esta cifra está abaixo de 9%.
E é importante ressaltar novamente: a pobreza
extrema está em declínio ao mesmo tempo em que a população mundial está aumentando.
Hoje, uma pessoa sai da pobreza extrema a cada
segundo, graças a melhores sistemas econômicos, a um maior conhecimento
adquirido, e a melhores e mais baratas tecnologias, as quais já chegam a quase
todas as áreas do globo. Apenas no ano passado, mais de 32 milhões de pessoas
escaparam da pobreza, reduzindo a porcentagem da população mundial que vive
abaixo da linha internacional da pobreza extrema de 9,2% para 8,7%. A ONU
estima que outros 79 milhões de pessoas passarão
para cima da linha da pobreza extrema até 2020.
Quanto
menos livres, mais pobres
O World Poverty
Clock fornece uma contagem em tempo real do número de pessoas que saíram da
pobreza hoje. O portal também informa as diferentes taxas de progresso de cada
país, mostrando quais são aqueles que estão a caminho de eliminar a pobreza
extrema até 2030.
As taxas de aprimoramento variam por país. Algumas nações
desenvolvidas já eliminaram completamente esta forma de destituição extrema, ao
passo que outros países, como Índia e China, estão vivenciando rápidas melhorias.
A África continua uma área com um decepcionante e instável
progresso. Alguns países, como Mauritânia e Etiópia, estão no caminho de
cumprir o objetivo de eliminar a pobreza extrema até 2030. Infelizmente, vários
outros países do continente, como a República Democrática do Congo, estão indo
na direção oposta, com mais pessoas caindo para a pobreza extrema a cada dia.
Mas eis a constatação importante: a expansão da
liberdade econômica coincidiu com a impressionante redução na pobreza extrema
global. Aqueles países que mais abraçaram a liberdade econômica foram os que
mais vivenciaram uma substantiva redução na porcentagem de pessoas vivendo em destituição.
Como mostra o índice Economic Freedom of the
World (Liberdade Econômica do Mundo), os países mais economicamente livres
têm os menores níveis de pobreza, ao passo que, nos países menos economicamente
livres, altos níveis de pobreza persistem.
No eixo Y, a taxa de pobreza. No eixo X, o
agrupamento de países de acordo com sua liberdade econômica. Quanto mais à
direita, maior a liberdade econômica. Em cada agrupamento há o percentual de
pobreza extrema (extreme) e de
pobreza moderada (moderate)
Gráfico 3: Liberdade econômica e taxas
de pobreza extrema e pobreza moderada. No eixo Y, a taxa de pobreza. No eixo X, o agrupamento de países de
acordo com sua liberdade econômica. Quanto mais à direita, maior a liberdade econômica.
Em cada agrupamento há o percentual de pobreza extrema (extreme) e de pobreza moderada (moderate). Fonte: Cato Institute et al., "Economic Freedom of the World: 2016 Report."
As evidências são
explícitas: para reduzir a pobreza é necessário ter liberdade econômica.
Muitos ainda estão na pobreza
Esta contínua ascensão
social e consequente fuga da pobreza representa, de certa forma, a mais
importante história que está ocorrendo no mundo, e é a responsável por gerar os
maiores benefícios líquidos para o maior número de pessoas na história moderna.
Mas os países ainda têm
muito a melhorar. Ainda há aprimoramentos substantivos a serem feitos, principalmente
na esfera política, de modo que problemas importantes ainda resistem. Mesmo com
todo este progresso, vários países estão indo na direção errada, reduzindo o
escopo da liberdade econômica e, consequentemente, criando consequências
adversas. A se manter as taxas atuais, mais de 5% da população mundial
continuará vivendo na pobreza extrema em 2030. É uma porcentagem menor que a
atual, mas ainda assim muito alta.
A drástica e rápida redução
no número de pessoas vivendo na pobreza extrema ao redor do mundo é algo a ser
celebrado, e ressalta quão importante é continuar difundindo as medidas que
permitem que essa grande fuga continue ocorrendo. Instituições estáveis e
políticas sensatas são cruciais. Estimular um mercado mais livre e as
liberdades pessoais permite às pessoas alcançarem níveis de prosperidade até então
inimagináveis há apenas alguns anos.
Como diz Deirdre McCloskey,
o segredo está no crescimento
econômico gerado por transações econômicas voluntárias em um arcabouço
econômico livre. Alguns ousam
chamar esse arranjo de capitalismo.