Suíça e Cingapura são duas das economias mais ricas
do planeta em termos per capita. Em 2016, a renda per capita da Suíça foi de 58.600
dólares (em termos de paridade do poder de compra), ao
passo que a de Cingapura chegou a impressionantes 85.200 dólares.
Para se ter uma ideia, a da Finlândia foi de 41.120 dólares,
a da Dinamarca foi de 45.700 dólares,
a da Alemanha foi de 46.900 dólares,
e a da Suécia foi de 47.900 dólares.
À exceção da Alemanha, que possui 81,4 milhões de
habitantes, todos os demais países acima têm um número populacional semelhante.
A Suíça tem 8,2 milhões de habitantes. Cingapura tem 5,6 milhões. Dinamarca,
5,7 milhões. Finlândia, 5,5 milhões. Suécia, 10,1 milhões.
E, ainda assim, Suíça e Cingapura vencem com folga
em termos de riqueza per capita.
E por que faço esta introdução? Porque virou rotina
social-democratas e intervencionistas de todos os tipos dizerem que os exemplos
de Suíça e Cingapura não servem a ninguém porque a riqueza destes dois países
se deve essencialmente a seu "hipertrofiado setor financeiro". Segundo tais
pessoas, ambos os países seriam apenas um receptáculo fiscal de todo o capital
estrangeiro; meras caixas-fortes para onde os magnatas do resto do mundo enviam
seu dinheiro para fugir do fisco de seus respectivos países.
Consequentemente, sempre segundo tais pessoas, ambos
os países apresentam bons números apenas por causa desta peculiaridade, de modo
que suas economias reais são inexistentes. Suíça e Cingapura seriam apenas os
banqueiros do mundo, e não exemplos a serem copiados de economias reais
produtivas e competitivas.
De um lado, até é verdade que o peso do setor
financeiro na Suíça e em Cingapura seja superior aos de Finlândia, Suécia,
Dinamarca e Alemanha. No entanto, não é substantivamente superior de modo a
explicar as significativas diferenças de renda per capita entre ambos os grupos
de países: afinal, o setor financeiro suíço representa apenas 9,5% de sua
economia, e o de Cingapura, 13,7%.

Agora vem o mais importante: se, de um lado,
mantivermos constante a atividade dos outros setores econômicos e, de outro,
aumentarmos o tamanho do setor financeiro de Finlândia, Suécia, Dinamarca e
Alemanha até que tenham, em relação ao PIB, o mesmo peso do suíço, a renda per
capita da Finlândia subiria para 44.250 dólares, a da Dinamarca iria para
49.400 dólares, a da Alemanha, para 50.000 dólares, e a da Suécia, para 50.800 dólares.
Ou seja, as diferenças de renda per capita em
relação à Suíça (58.600 dólares) continuariam notáveis.
Se fizermos o mesmo para Cingapura, a renda per
capita da Finlândia subiria para 46.300 dólares, a da Dinamarca iria para
51.800 dólares, a da Alemanha, para 52.500 dólares, e a da Suécia, para 53.250 dólares.
Ou seja, se estes países adotassem o mesmo peso do setor financeiro de
Cingapura, eles não apenas continuariam muito longe da renda per capita de
Cingapura (85.200 dólares), como ainda nem sequer alcançariam a Suíça.

Logo, parece óbvio que as economias de Suíça e
Cingapura são muito mais que seus respectivos setores financeiros. Suas
economias reais existem e são complexas e gigantescas.
Não em vão, os maiores setores de ambas as economias
são o industrial (que opera sem nenhum
protecionismo; a tarifa de importação é zero para Suíça
e Cingapura)
e o comercial, muito à frente do setor financeiro.


Com efeito, Suíça e Cingapura estão entre os maiores
exportadores de mercadorias do mundo (estou desconsiderando totalmente a
exportação de serviços, para assim excluir a influência do setor financeiro).
Apenas Cingapura, por exemplo, exporta mais
materiais eletrônicos em relação ao seu PIB (38,5%
do PIB) do que exportam, em relação a qualquer produto, Finlândia,
Suécia,
Dinamarca
ou Alemanha.
E, evidentemente, tão proeminente competitividade
também se reflete em um enorme superávit no setor externo (balança comercial e
conta-corrente): de 11,9% do PIB para a Suíça e de 19% do PIB para Cingapura).
O país que mais se aproxima é a Alemanha, com 8,4% do PIB.
Causas
Definitivamente, a prosperidade de Suíça e Cingapura
não gira em torno de — e nem muito menos está ligada exclusivamente ao — seu
setor financeiro. Muito pelo contrário: ambos os países possuem economias reais
extraordinariamente desenvolvidas, modernas e competitivas.
As razões que explicam este impressionante
desenvolvimento são as mesmas que, historicamente, explicam o crescimento de
qualquer outra economia: segurança jurídica e institucional, respeito à
propriedade privada, população produtiva, baixos impostos, livre comércio com
os estrangeiros, abertura total a investimentos estrangeiros, poucas regulações,
facilidade de empreender, e leis confiáveis e estáveis.
E, acima de tudo, estabilidade monetária e moeda
forte: o franco suíço
e o dólar de Cingapura
estão entre as moedas mais estáveis do mundo; elas continuamente se apreciam em
relação ao dólar (vide os links anteriores). Consequentemente, ambos os países apresentaram
as mais
baixas taxas
de inflação das últimas décadas.
Nada fomenta mais investimentos do que segurança jurídica,
moeda estável e baixos impostos e regulações. Quando a moeda é estável, quando há
segurança jurídica, quando há facilidade de se empreender e quando há a
garantia de que os frutos do seu empreendimento poderão ficar com você, investidores
de todo o mudo têm mais incentivos para se arriscar e financiar ideias novas e
ousadas, e mais disponibilidade para financiar a criação de uma riqueza que
ainda não existe. O investimento em tecnologia é maior. O
investimento em soluções ousadas para a saúde é maior. O investimento em
infraestrutura é maior. O investimento em ideias para o bem-estar de todos
é maior.
Além de ser o meio de troca, a moeda é a unidade de
conta que permite o cálculo de custos de todos os empreendimentos e investimentos.
Se essa unidade de conta é instável — isto é, se seu poder de compra cai
contínua e rapidamente, principalmente em termos das outras moedas estrangeiras
—, não há incentivos para se fazer investimentos. Logo, não há como haver grande
progresso.
Com efeito, todas estas características constituem
exatamente os principais pontos fortes para que estes dois países tenham se
convertido nos refúgios prediletos da poupança global: estas economias são ricas
e prósperas não porque seu setor financeiro é hipertorfiado; seu setor
financeiro é pujante porque estas economias são ricas e prósperas.
E elas são ricas e prósperas, e seu setor financeiro
é pujante, exatamente porque estes países respeitam a propriedade privada
(inclusive a moeda) muito mais do que qualquer outra região do planeta.
Conclusão
Por tudo isso, Suíça e Cingapura — dois países culturalmente
muito diferentes, mas com resultados econômicos muito semelhantes —
proporcionam, sim, lições valiosas para todos os países do mundo: quem quer
mais crescimento e mais prosperidade deve apostar — exatamente como vem fazendo a Irlanda
— em menores impostos, regulações e burocracia, maior segurança jurídica, mais
estabilidade monetária, e livre comércio pleno.
Tal arranjo sempre estimula a livre concorrência, a qual
leva ao aumento da produção e da oferta de bens e serviços, gerando todo um
aumento no padrão de vida da população.
Realmente, não é necessário muito mais do que isso
para multiplicar o bem-estar de todos os cidadãos.
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Leituras
complementares e imprescindíveis:
Lee Kuan Yew, o homem
responsável pelo que Cingapura tem de melhor e de pior
Você sabe quem é o
presidente da Suíça?
Se o objetivo é limitar os
gastos do governo, há um exemplo prático a ser copiado: a Suíça
Como ocorreu o milagre
econômico de Hong Kong - da pobreza à prosperidade
O crescimento econômico é
fácil e natural - basta o governo permitir