quinta-feira, 23 dez 2021
Uma das mais desafiadoras e importantes tarefas de
um professor de economia é ensinar aos alunos o quão pouco nós sabemos sobre o mundo.
Meu grande amigo e colega, o doutor Thomas
Sowell, costuma dizer que "É necessário ter um conhecimento considerável para
se dar conta de quão grande é a sua própria ignorância".
Já o economista austríaco, e ganhador do prêmio Nobel,
Friedrich
August von Hayek alertou: "A curiosa tarefa da economia é demonstrar aos
homens o quão pouco eles realmente sabem sobre aquilo que eles imaginam poder
planejar".
O fato de que somos extremamente ignorantes sobre
como o mundo funciona é algo ignorado pelas elites políticas e progressistas
que juram saber o que é melhor para nós mesmos e que, por isso, querem
controlar nossas vidas.
Vejamos alguns exemplos que, embora rotineiros e
triviais, mostram toda a complexidade do mundo.
Café
da manhã, almoço e supermercado
Um supermercado tradicional e bem estocado possui
entre 40.000 e 50.000 itens diferentes. Um supermercado de uma grande rede,
como o Walmart, possui aproximadamente 120.000 itens distintos.
Agora, imagine que toda a economia tenha sido
estatizada e que o governo tenha nomeado você para a tarefa de produzir e abastecer
este supermercado com apenas um item: maçãs.
Toda a cadeia de produção de maçãs, agora estatizada,
está sob seu comando. Sendo assim, você não pode simplesmente comprar maçãs no
atacado. Já que tudo é do governo, não há mercado para os produtos. Logo, não há
preços.
Consequentemente, você terá de descobrir todos os
insumos necessários para cultivar maçãs, colhê-las e transportá-las ao
supermercado. Você é o responsável por todas as etapas de produção e distribuição
de maçãs. Vejamos apenas algumas etapas.
Você precisará de caixotes de madeira para
transportar as maçãs. Contabilize todos os insumos necessários para produzir esses
caixotes. Você precisa, obviamente, de madeira. Mas, para obter a madeira, será
necessária uma serra elétrica para cortar as árvores. A serra elétrica é feita
de aço, o que significa que minério de ferro terá de ser extraído das minas. Para
isso, máquinas e equipamentos pesados de mineração serão necessários. Eles terão
de ser fabricados. E não se esqueça de que todos os trabalhadores necessitam de
roupas e sapatos.
A lista completa de insumos e matérias-primas necessários para simplesmente levar maçãs ao mercado é incontável. Com efeito, deve ser impossível
precisar um número exato. Esqueça um item — como velas de ignição ou correia
do alternador — e você provavelmente não conseguirá levar maçãs ao
supermercado. Imagine, então, todos os outros alimentos. (É por isso que o povo passa fome em economias socialistas).
A tarefa de abastecer um supermercado com maçãs,
algo que o mercado faz diariamente sem necessitar de nenhum comitê de
planejamento central dando ordens, é bem menos complexa do que gerenciar todo o
sistema de saúde de um país inteiro. E, no entanto, o governo se arvora a
capacidade de fazer este último.
A beleza de toda a alocação de bens e serviços feita
pelo mercado, em contraste às ordens do governo, é que nenhuma pessoa precisa
saber de tudo o que é necessário para levar maçãs ao seu supermercado. O sistema
de preços se encarrega de tudo.
O sistema de preços, quando deixado a funcionar
livremente, é um engenhoso método de comunicação e coordenação capaz
de aprimorar substantivamente as condições de vida dos seres humanos. Entender
o sistema de preços é entender como bilhões de indivíduos completamente
estranhos uns aos outros, espalhados pelo globo, falando dezenas de idiomas
diferentes, e cada um preocupado apenas com o bem-estar próprio e o de sua
família, fazem escolhas e agem de uma maneira que torna completamente possível
a nossa atual prosperidade — possibilitando desde a existência diária de
todos os tipos de alimentos frescos nas gôndolas dos supermercados até a
incrível oferta de todos os tipos de bens de consumo e de serviços à nossa
disposição.
O livre mercado, em conjunto com o livre comércio e o
livre sistema de preços, nos torna mais ricos ao economizar a quantidade de
conhecimento ou de informação necessários para produzir bens e serviços.
Agora, pense no café da manhã. Suponha que você e sua
mulher tenham comido bacon e ovos. Você tomou café e sua mulher, pó de cacau. O
preço total deve ter ficado em torno de $25 a $30. Agora, quanto será que teria
custado tudo se, em vez de depender da ganância de terceiros, você fosse autônomo
e produzisse seu próprio café da manhã?
Você sabe criar porcos? Você sabe abatê-los? Você sabe
como transformar o porco em bacon? E os ovos? Você precisa entender de galinhas. Você precisa criar galinhas. Você sabe como alimentar porcos e galinhas? Adicionalmente,
você teria um grande problema com o café e o cacau, pois seu cultivo não pode
ocorrer em qualquer lugar. Depende de clima e solo.
O que é realmente garantido é que seu café da manhã
seria muito mais caro do que no arranjo em que você depende dos benefícios trazidos
pelas habilidades de terceiros, algo que só ocorre quando há divisão do trabalho
e livre comércio.
Por fim, pense em uma metrópole, como Nova York,
Londres ou São Paulo. Hoje, em cada uma delas, aproximadamente 10 milhões de
pessoas irão almoçar (ou já almoçaram). Decidir a variedade de alimentos e a quantidade exata de
comida disponíveis no lugar certo e na hora certa para fazer com que tudo
funcione fluentemente é um problema de impressionante complexidade, o qual se
torna ainda mais complicado pelo fato de que, normalmente, várias pessoas se
decidem apenas no último minuto sobre onde irão comer e o quê.
Quem estará no controle supremo deste arranjo? Será que
há um comissário ou mesmo um comitê central em cada uma destas metrópoles coordenando
tudo isso? Há um ser tão onisciente capaz de tamanha façanha? Você seria capaz
de coordenar todo este arranjo? Com efeito, por que um sistema tão crucial
quanto este não é subsidiado? Como ele pode ser tão pouco regulado e funcionar tão
bem?
Ainda mais importante: você confiaria em um político
para tal tarefa? Se você não confia em um político para coordenar seu almoço,
por que confiaria a ele o controle da educação de seus filhos, dos hospitais
que você utiliza e das estradas nas quais você viaja?
Conclusão
O ponto principal é que cada um de nós é extremamente
ignorante quanto ao mundo em que vivemos. E não há absolutamente nada de errado
com essa ignorância. A estupidez está, aí sim, em acreditarmos que políticos podem
nos proporcionar uma vida melhor do que aquela obtida por meio de transações pacíficas e
voluntárias — coordenada pelo sistema de preços — com outras pessoas de qualquer
lugar da terra.