Um fabricante nacional de roupas quer vender um
terno por $200. Mas ele não consegue vender por esse preço porque os
consumidores podem comprar um terno praticamente idêntico produzido por uma manufatura
estrangeira por $160.
Sendo assim, ele tem duas opções: ou ele aprimora
seu processo de produção, cortando custos e aumentando sua eficiência, ou ele recorre
ao governo e faz lobby para encarecer artificialmente o preço do terno estrangeiro.
A segunda opção é sempre a mais fácil e, logo, a
preferida.
Ato contínuo, o governo, muito comovido com a situação
deste fabricante nacional, impõe uma tarifa de 35% sobre os ternos
estrangeiros, o que eleva seu preço para $216.
O que acontecerá com suas chances de agora conseguir
vender seu terno por $ 200? Exato, aumentarão enormemente.
Mais: quem realmente arcará com o fardo da tarifa? Correto
de novo: o consumidor, que agora pagará $40 a mais por um terno. (Encarecimento
de 25%).
Pior ainda: gastando mais com ternos, estes
consumidores terão menos dinheiro para gastar em outras áreas da economia. O que
acontecerá com as receitas destes setores? E com os empregos? Isso mesmo,
acertou de novo.
O
aço de Trump
Na quinta-feira, 1º de março, o governo Trump anunciou
planos de impor uma tarifa de importação de 25% sobre o aço e outra de 10%
sobre o alumínio.
Obviamente, o efeito mais imediato destas tarifas —
aliás, esta é exatamente a intenção — é encarecer artificialmente o preço do aço
e do alumínio importados, tornando assim o produto nacional mais competitivo.
Isso, em tese, seria bom para as indústrias americanas
produtoras de aço e alumínio, que agora voltariam a ter uma fatia de mercado. Igualmente,
os trabalhadores deste setor, agora protegidos da concorrência externa, também poderão
manter seus empregos.
Mas aí surge o primeiro problema: há aproximadamente
200.000
de trabalhadores nas indústrias de aço, alumínio e ferro. E há nada menos
que 6,5
milhões de trabalhadores empregados em indústrias que utilizam aço e
alumínio como matéria-prima para seus produtos — empresas que fabricam de
tudo, desde caminhões, automóveis e maquinários pesados até latas de cerveja e
aramados para galinheiro.
Essas empresas terão de arcar com preços maiores
para suas matérias-primas, o que obviamente afetará sua lucratividade e,
consequentemente, o próprio emprego de seus trabalhadores.
Acima de tudo, os 154
milhões de americanos que trabalham e consomem serão os grandes atingidos,
pois agora todos os produtos que utilizam aço e alumínio em sua composição terão
sua produção encarecida, o que significa que ao menos uma parte deste
encarecimento será repassada aos preços.
Portanto, logo de partida, já se vê que a ideia de
aumentar tarifas para proteger empregos em um setor específico irá,
inevitavelmente, afetar empregos em vários outros setores, além do próprio bem-estar
de toda a população. Serão 200.000
beneficiados contra 154 milhões prejudicados. O público verá as pessoas
empregadas nas siderúrgicas graças às tarifas de importação, mas não verá as
pessoas demitidas (ou que não mais conseguirão empregos) em todas as outras indústrias
que utilizam aço e alumínio como matéria-prima.
No final, uma tarifa de importação nada mais é do
que uma política intervencionista cujo objetivo supremo é criar escassez artificial com o objetivo de beneficiar
exclusivamente uma ínfima minoria de empresários e empregados de um setor
específico em detrimento de todo o resto da população empreendedora e
consumidora.
Nada
de novo - Bush e Obama já estiveram lá
Em março de 2002, o então presidente George W. Bush impôs
uma
tarifa de 30% sobre o aço chinês. O objetivo, obviamente, era proteger
empregos no setor siderúrgico.
Só que havia um problema: o número de trabalhadores que
utilizam aço como matéria-prima é
muito maior do que aqueles que produzem
aço.
Os resultados dessa tarifa foram caóticos, embora
totalmente previsíveis pela teoria econômica.
Segundo uma extensa
pesquisa realizada por um conglomerado de indústrias de bens de consumo, as
tarifas contra a China aumentaram os preços do aço (óbvio) e, como consequência,
eliminaram 200.000 empregos naqueles setores que compram aço para usar em seus
processos de produção.
À época, esses 200.000 empregos eliminados da
economia eram mais do que o número total
de pessoas que trabalhavam nas siderúrgicas, e representaram US$ 4 bilhões
em salários perdidos.
Eis as conclusões
do estudo:
- 200.000 americanos perderam seus empregos em decorrência
do aumento dos preços do aço em 2002. Esses empregos perdidos representaram
aproximadamente US$ 4 bilhões (US$ 5,5 bilhões em valores atualizados) em salários
perdidos de fevereiro a novembro de 2002.
- Um em cada quatro (50.000) destes empregos
perdidos foi nos setores de produção de metais, de maquinários, de equipamentos
e de transportes, bem como no de peças de reposição.
- O número de empregos eliminados cresceu
continuamente ao longo de 2002, chegando a um pico de 202.000 empregos em
novembro.
- O número de americanos que perderam seus empregos
em 2002 em decorrência do encarecimento do aço foi maior que o número total de
empregos nas próprias siderúrgicas (187.500 americanos estavam empregados nas
siderurgias americanas em dezembro de 2002).
- Clientes que consumiam produtos fabricados com aço
americano trocaram de produtos e passaram a consumir mais estrangeiros, uma vez
que o aço americano, protegido da concorrência, tornou esses produtos menos confiáveis
e mais caros. Algumas empresas, incapazes de aumentar seus preços em decorrência
do maior custo do aço, tiveram elas próprias de absorver todo o aumento de
custos de produção, o que as deixou em situação financeira precária.
Felizmente, em dezembro de 2003, Bush teve um
lampejo de bom senso e aboliu essa tarifa, a qual só causou estragos à
economia. Não coincidentemente, a recuperação econômica veio
em 2004.
Entra em cena Obama, que aparentemente não aprendeu nada com seu antecessor.
Em 2009, ele impôs uma tarifa
de 35% sobre pneus chineses. O motivo foi o mesmo de sempre: as fabricantes
americanas estavam reclamando de "concorrência desleal" dos chineses.
Em janeiro de 2012, o próprio Obama se gabou dizendo
que "mais de 1.000 americanos têm um emprego hoje porque interrompemos esse
surto de pneus chineses". Estima-se que 1.200
empregos na indústria americana de pneus foram protegidos por essa tarifa.
Mas, como sempre na economia, há o que se vê e o que
não se vê.
De acordo com este completo e aprofundado estudo do Peterson
Institute for International Economics (reconhecido até mesmo por fontes
de esquerda),
essas tarifas obrigaram os americanos a pagar US$ 1,1 bilhão a mais por pneus
americanos.
Ou seja: embora 1.200 empregos tenham sido
protegidos na indústria americana de pneus, o custo por emprego mantido foi de
impressionantes US$ 900.000 naquele ano.
Mais ainda: segundo o Bureau of Labor Statistics [o IBGE americano], o salário médio
anual de pessoas que trabalhavam na indústria de pneus era de US$ 40.070.
E piora: como os consumidores americanos tiveram de
pagar US$ 1,1 bilhão a mais em pneus, eles não puderam usar esse dinheiro para
comprar bens e serviços de outros setores. Consequência? Aproximadamente 4.000
americanos (3.731,
para ser mais exato) perderam seus empregos nestes setores.
Ou seja: 1.200 empregos salvos a um astronômico custo
de US$ 900.000 por emprego versus 3.731 empregos destruídos pela tarifa.
E um adendo: a maior parte do US$ 1,1 bilhão a mais
que os americanos pagaram em decorrência dos pneus mais caros não se traduziu
em aumentos salariais para os trabalhadores da indústria de pneus. Segundo o
estudo do Peterson Institute, apenas 5% deste valor foi para o bolso dos
empregados.
Os 95% restantes viraram bônus corporativos.
Tarifas servem para isso mesmo.
Assim com Bush, Obama também acabou tendo um lampejo
de bom senso, e seu governo aboliu a tarifa em 2012.
Conclusão
Tentar salvar empregos impondo tarifas e limitando
as escolhas dos consumidores acaba simplesmente destruindo ainda mais empregos. O resto da população paga preços maiores por tudo, e empregos são perdidos em outros setores.
E se você levar em consideração que outros países podem,
em retaliação, impor tarifas sobre todos os seus produtos, o desemprego tenderá
a ser várias vezes maior.
Encarecer artificialmente os bens importados de outro país nada mais é do que um presente para lobistas poderosos, à custa de toda a população.
No final, tarifas de importação fazem exatamente o que
prometem: protegem os produtores domésticos (uma ínfima minoria), blindando-os da
concorrência e permitindo que eles elevem preços e sejam mais ineficientes sem serem punidos pelos consumidores, que agora não mais podem recorrer à concorrência estrangeira.
Como diz o ditado: sim, tarifas protecionistas protegem as
empresas nacionais. Protegem de quem? Dos consumidores.