quarta-feira, 27 abr 2022
Se você é um trabalhador, você é um importador. Nada
pode ser mais básico e direto do que isso. Suas "importações" podem vir do
outro lado da rua ou do outro lado do planeta. O fato é que o seu trabalho é
uma expressão do seu desejo de obter bens e serviços — ou seja, de importar.
Você trabalha em troca de dinheiro para poder
consumir.
Igualmente, se você é um consumidor, você tem
necessariamente de ser um trabalhador. Ou isso, ou você é um privilegiado que
foi presenteado com os frutos de outro trabalhador.
O trabalho é o que possibilita nossa demanda por
bens e serviços. Sem antes ofertarmos um bem ou serviço, não temos como comprar
coisas. Produzimos para demandar. O trabalho é apenas uma demanda disfarçada.
Logo, a única maneira de entendermos "demanda" no mercado
é entendendo a oferta que precede essa demanda. A oferta é a expressão da
demanda e sem ela não há meios de se comprar nada. Nas regiões mais pobres [pense
no interior do Maranhão], os trabalhadores não estão ofertando muito (ao menos,
não para consumidores interessados) e, como consequência, poucos estão ofertando
para eles. Nas regiões mais ricas (pense em Nova York), seus trabalhadores estão
ofertando em grande abundância, e isso explica por que eles são inundados com
todas as farturas produzidas ao redor do mundo.
Onde há muita produção há muita "importação" para
atender as demandas dos produtivos. Sim, a Lei de Say é bem básica.
Nós ofertamos com o intuito de conseguir bens e serviços.
E as pessoas nos ofertam porque ofertamos para elas.
Tudo isso nos leva à pergunta: já que precisamos
ofertar antes para consumir depois, e considerando que nem todo indivíduo é um
empreendedor, o que permitirá às pessoas não-empreendedoras produzir?
Empregos
e salários
Em outras palavras, o que gera os empregos e os
salários das pessoas não-empreendedoras?
A resposta é simples e direta, embora o fenômeno seja
complexo: investimentos.
Todos os empregos são consequência de investimentos.
Não há empregos sem investimentos.
Para que vagas de trabalho sejam criadas, é necessário
que um indivíduo empreendedor — munido de capital próprio ou de capital
emprestado por um capitalista — vislumbre uma oportunidade de lucro em uma
determinada área (uma demanda ainda não atendida) e então direcione capital e
recursos para começar a produzir naquela área.
Investimentos, portanto, são, acima de tudo,
atraídos pela perspectiva de lucros.
Empresas e empreendimentos, obviamente, não existem
para criar empregos. Empregos são apenas a consequência de empreendimentos. O desejo
por retornos da parte do investidor e do empreendedor é o que irá indiretamente
levar à contratação de mão-de-obra. É exatamente essa possibilidade de retorno
(lucro) o que irá estimular aqueles que possuem meios para postergar seu
consumo (capitalistas) a investir esses meios em atividades produtivas. A mão-de-obra
de trabalhadores é contratada para ajudar neste retorno.
Não haveria tal contratação se não houvesse
investimentos e se não houvesse perspectiva de retornos (lucros). Acima de tudo,
não haveria nada disso sem o capital disponibilizado para esses investimentos.
Consequentemente, não haveria empresas, empregos,
salários e progresso. Por
definição.
O que nos leva aos ricos.
O
papel dos ricos
Se você defende os trabalhadores, então você tem de
defender ainda mais os investidores que tornam possíveis a criação de empregos
e salários. E estes investidores, por definição, são aqueles que têm capital
(dinheiro) poupado e disponível para ser investido.
Tais investidores, quase sempre, são aquelas pessoas
rotuladas de "ricos".
Sim, os ricos são essenciais para os salários dos
trabalhadores.
Em termos bem diretos e coloquiais, investimento é
aquilo que é feito com o dinheiro que sobrou após as necessidades básicas da
vida já terem sido compradas. Por isso, os ricos são particularmente cruciais no
que diz respeitos a salários mais altos.
Os ricos, precisamente por serem ricos, são aqueles
que possuem a maior reserva de capital disponível após já terem saciado seus
desejos e necessidades. A menos que enfiem todo o seu dinheiro físico debaixo
do colchão — algo que ninguém mais faz no atual sistema financeiro e monetário
—, os ricos irão necessariamente investi-lo: ou eles irão empreender
diretamente ou irão financiar empreendimentos.
Em ambos os casos, os efeitos são os mesmos em
termos de empregos e salários.
Ao investirem, os ricos possibilitam maior
capacidade produtiva. Com seu capital, eles adquirem (ou permitem que o
empreendedor financie) máquinas, ferramentas, edificações e meios de transporte
(tudo isso bens de capital) que irão tornar o trabalho dos empregados mais
eficiente e produtivo.
Há uma regra econômica básica e direta: quanto
maior a quantidade de bens de capital utilizados por um trabalhador, maior será
sua produtividade.
Um operário americano chega a ganhar até cem vezes
mais que um indiano não porque ele é mais trabalhador ou mesmo mais capacitado,
mas sim porque o americano utiliza cem vezes mais capital físico (máquinas,
ferramentas, instalações industriais, meios de transporte etc.) que seu colega
indiano.
Esse capital físico é o que aumenta a produtividade,
os salários e, consequentemente, o padrão de vida de uma sociedade. Isso merece
ser enfatizado: a acumulação de capital, ao tornar o trabalho humano mais
eficiente e produtivo, é o que permite aumentos salariais para todos.
E o que possibilita esse investimento em capital físico
é o capital financeiro que foi poupado e acumulado. E nisso os mais ricos têm
maior vantagem comparativa que os mais pobres. Por definição.
Eis um exemplo prático: fábricas que produzem chips de
computador em volume suficiente para fazer seus preços caírem para centavos por
gigabyte requerem um custo bilionário. Eu não teria como construí-las. E eu
valho muito menos sem um computador, o qual tornou as coisas
incomensuravelmente mais eficientes. Por isso, minha eterna gratidão àqueles
que utilizaram sua poupança para financiar e construir as fábricas e fabricar
os chips e os computadores que tornam meu trabalho muito mais
eficiente e produtivo do que seria sem estes chips e
monitores.
E os exemplos são infinitos, e valem para todas as
classes sociais. Por exemplo, quanto vale um garçom sem um restaurante? Quanto
vale um operário sem as instalações e as máquinas da fábrica em que trabalha? O
que seria do funcionário de uma loja sem a loja, sem um computador, e sem
um scanner de preços? Quanto vale um caminhoneiro sem um caminhão
ou um tratorista sem um trator? Quanto vale um jogador de futebol, âncoras de
jornal e artistas sem a TV?
A loja em que o vendedor trabalha, bem como o caixa
e os scanners que ele usa; os escritórios e os estúdios de televisão onde o
eletricista, os atores e os jornalistas trabalham; os restaurantes e as
indústrias de caminhão e tratores que criam os bens que cada trabalhador usa
diariamente em seu trabalho; as fábricas de televisores e de cabos que colocam
jogadores, atores e âncoras de notícias na televisão — tudo só existe em decorrência
do investimento de pessoas ricas. Ou, no mínimo, certamente mais ricas do que você.
De minha parte, eu gostaria de facilitar as
coisas para os ricos — pois isso me tornaria ainda mais valioso para os
consumidores dos meus serviços, aumentando meus rendimentos.
O que nos leva a outro ponto crucial: os ricos
deveriam poder ficar com uma fatia muito maior de seus ganhos. Com efeito, eles
deveriam ficar com 100% dos seus ganhos.
O
problema em tributar os ricos
Para ser bem direto, não é possível ter salários altos
e crescentes sem antes reduzir o fardo imposto sobre aqueles que são mais
capazes de poupar e investir: os ricos.
Os efeitos da tributação sobre um rico empreendedor
são diretos. Com uma fatia maior de seus ganhos confiscada pelo governo, ele
terá menos capacidade para investir e ampliar sua capacidade produtiva. O
processo de formação de capital será diretamente afetado.
Menos capacidade de investimento significa menor
produção, menos contratação de mão-de-obra e, consequentemente, menor oferta de
bens e serviços no futuro. Significa também menos compras de ferramentas,
equipamentos e, principalmente, do treinamento contínuo necessário para
aumentar a produtividade — diminuindo assim a oferta de bens e serviços que de
outra forma seriam disponibilizados a terceiros.
Quando o governo tributa a renda e os lucros, ele
apenas faz com que o dinheiro que seria utilizado para ampliar e aprimorar os
processos produtivos seja agora direcionado para o mero consumismo do governo,
ficando sob os caprichos de seus burocratas, obstruindo a formação de capital.
Ao contrário do que muitos imaginam, o dinheiro dos
ricos não fica parado dentro de uma gaveta. Em nosso atual
sistema monetário e financeiro, todo o dinheiro está inevitavelmente ou em
algum depósito bancário (de onde será emprestado) ou em algum fundo de
investimento (de onde será investido). Se o governo tributar esse
dinheiro, fará apenas que o dinheiro que antes era direcionado para
determinados setores (garantindo emprego e renda) ou investido diretamente em
coisas produtivas seja direcionado para burocratas e para toda a máquina
estatal. Isso é uma simples e direta destruição de capital.
Por tudo isso, impostos sobre os mais ricos são um
grande obstáculo aos investimentos produtivos, à formação de capital e ao
simples bem-estar de terceiros. É deste dinheiro que vem a poupança necessária
para os investimentos produtivos.
A
caça aos ricos é uma caça ao seu padrão de vida
Vale ressaltar algo óbvio: toda e qualquer pessoa em
posse de muito dinheiro investe. Tais pessoas, por definição, vivem muito
abaixo das suas condições (afinal, elas não gastaram todo o seu dinheiro), o
que significa que elas investem "as sobras".
Sendo assim, será que são realmente apenas elas que
se beneficiam de seu capital? É claro que não. São as pessoas comuns que se
beneficiam com os bilhões que acabam sendo investidos em fábricas de microchip,
em fábricas que produzem carros, em meios de transporte, em instalações
hoteleiras, em parques temáticos, em hospitais, em siderúrgicas, em companhias
aéreas, em pecuaristas e no agronegócio, em fabricantes de alimentos, em
empacotadoras de alimentos, em cervejarias, em todas as fábricas e indústrias,
em todo o setor atacadista, varejista e provedor de serviços.
Quando empreendedores e investidores podem manter
seus ganhos e reinvesti-los, todos nós ficamos mais ricos — incluindo aqueles
de nós que ganhamos a vida usando caminhões e computadores.
Por isso, qualquer redução de impostos que de fato diminua
a quantidade de dinheiro que os ricos devem entregar a políticos tem de ser
defendida. O fato de que os ricos não têm como gastar todo o dinheiro que ficar
com eles é o que irá estimular o progresso. Os ricos são os que mais possuem a
capacidade de investir vultosamente, e os trabalhadores irão se beneficiar
disso.
No final, empregos, salários e bem-estar estão relacionados
a um aumento da produtividade. Mas não há aumento da produtividade sem
investimentos. E os ricos são aqueles que mais possuem meios para investir.
Conclusão
Baixas alíquotas de impostos sobre aqueles de rendimento elevado são desejáveis não porque eles precisam do dinheiro, mas sim porque nós precisamos — sob a forma de capital.
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