clube   |   doar   |   idiomas
A moeda não é neutra, e o aumento de sua quantidade é o grande gerador da desigualdade
Como o estado e sua política monetária causam as divisões sociais

É importante ressaltar que o fenômeno da desigualdade sempre será natural e inevitável em uma sociedade livre.  

Sempre haverá indivíduos que conseguem gerar muito valor para seus empregadores e sempre haverá indivíduos que geram pouco valor para seus empregadores. E também sempre haverá aqueles que simplesmente não conseguem gerar nenhum valor.

Um executivo bem-sucedido gera muito valor para seus empregadores. Logo, sua remuneração tende a ser alta.  Jogadores de futebol e estrelas da música e do cinema também geram muito valor para seus empregadores (e o que você pensa em particular dessas profissões não interessa ao resto da população, que voluntariamente consome os produtos dessas pessoas), e por isso suas remunerações também são altas. 

Já empregadas domésticas e faxineiras não só não geram tanto valor para seus empregadores (sua função principal é poupar-lhes dos afazeres domésticos), como também atendem a um número extremamente restrito de clientes. Por isso, sua remuneração é menor. 

Não é com esse tipo de desigualdade que devemos nos preocupar, pois ela ocorre de maneira natural e ética. Ninguém está roubando ninguém.

A abordagem, portanto, tem de ser outra. Temos de investigar aquela desigualdade gerada artificialmente por alguma intervenção do estado. Uma coisa é a desigualdade gerada exclusivamente pelo mercado, que premia quem cria valor e pune quem não cria. Outra coisa, totalmente distinta, é a desigualdade gerada pelo estado.

Consequentemente, o ponto de partida para qualquer discussão séria sobre a questão das desigualdades sociais tem necessariamente de começar pela questão do poder de compra de cada indivíduo. 

Logo, e mais especificamente, tem de começar pela questão da moeda.

A não-neutralidade da moeda

Quando a quantidade de moeda na economia é aumentada, esta maior oferta de moeda — tudo o mais constante — faz com que o preço desta moeda (seu poder de compra) caia.

Mudanças na oferta e na demanda de moeda — tudo o mais constante — fazem com que todos os preços e salários subam ou caiam. O poder de compra da unidade monetária é alterado.

Ainda mais importante: as relações entre os preços de cada mercadoria também são alteradas.

Mudanças no poder de compra da moeda nunca ocorrem simultaneamente em todo o mercado. Os preços da mercadorias e dos serviços nunca são afetados igualmente.

O poder de compra da unidade monetária, ao ser alterado, faz com que as relações entre os preços de cada mercadoria não permaneçam constantes entre si.  

E isso faz toda a diferença.

A desigualdade criada pelo estado e pela não-neutralidade da moeda

No atual sistema monetário e bancário, o dinheiro é criado monopolisticamente pelo Banco Central e é em seguida entregue ao sistema bancário. O sistema bancário, por sua vez, por meio da prática das reservas fracionárias, se encarrega de multiplicar este dinheiro (eletronicamente) por meio da expansão do crédito

Falando mais diretamente, o dinheiro criado pelo Banco Central é multiplicado pelo sistema bancário e entra na economia sempre que uma pessoa, uma empresa ou o próprio governo recorre ao sistema bancário para pedir empréstimos.  

Ou seja, o dinheiro entra na economia por meio do endividamento de pessoas, empresas e governos.

Isso gera um aumento da quantidade de dinheiro na economia

Só que, obviamente, este aumento da oferta monetária não acontece de forma uniforme e homogênea. A quantidade de dinheiro não aumenta para todos, na mesma proporção. 

O mecanismo de distribuição

O dinheiro sempre entra, primeiramente, na conta bancária de alguém. Esta pessoa agora possui mais dinheiro. E, dado que os preços dos bens e serviços ainda não se alteraram, ela agora possui um poder de compra mais alto.

Vale repetir: a quantia adicional de dinheiro que entra na economia não vai parar diretamente nos bolsos de todos os indivíduos: sempre haverá aqueles que estão recebendo esse dinheiro antes de todo o resto da população. 

As pessoas que primeiro receberem esse novo dinheiro estão agora em posição privilegiada: elas podem gastar esse dinheiro comprando bens e serviços a preços ainda inalterados. 

Se a quantidade de dinheiro em seu poder aumentou e os preços ainda não se alteraram, então obviamente sua renda aumentou. Essas são as pessoas que ganham com a inflação monetária.

No entanto, à medida que esse dinheiro é gasto e vai perpassando todo o sistema econômico, os preços vão aumentando (afinal, há mais dinheiro na economia). E é aí que começa a haver uma discrepância: os preços vão subindo, mas este novo dinheiro ainda não chegou às mãos de todas as pessoas que compõem a economia. 

Estas últimas são as pessoas que perdem com a inflação.

Somente após esse novo dinheiro ter perpassado toda a economia — fazendo com que os preços em geral tenham subido — é que ele vai chegar àqueles que estão em último na hierarquia social. 

Assim, quando a renda nominal desse grupo subir, os preços há muito já terão subido. 

Logo, houve uma redistribuição de renda: aqueles que receberam primeiro esse novo dinheiro obtiveram ganhos reais. Com uma renda nominal maior, eles puderam comprar bens e serviços a preços ainda inalterados.  

Já aqueles que receberam esse novo dinheiro por último tiveram perdas reais. Adquiriram bens e serviços a preços maiores antes de sua renda ter aumentado. 

Houve uma redistribuição de renda do mais pobre para o mais rico.

Ganhadores e perdedores

Essa expansão da oferta monetária orquestrada pelo Banco Central e pelo sistema bancário de reservas fracionárias (que opera sob proteção e regulação do Banco Central) é o que realmente pressiona a inflação de preços e, por conseguinte, gera um declínio na renda das pessoas em termos reais.

Quando os preços aumentam em decorrência de uma expansão da oferta monetária, os preços dos vários bens e serviços não aumentam com a mesma intensidade, e também não aumentam ao mesmo tempo.

Como consequência, a expansão do crédito cria ganhadores e perdedores. 

Os ganhadores são aqueles que podem utilizar em primeira mão o dinheiro recém-criado, pois, neste momento, os preços de todos os bens e serviços ainda estão inalterados. 

Em decorrência desses gastos possibilitados por esse dinheiro recém-criado, os preços e a renda nominal das pessoas vão gradualmente aumentando à medida que esse dinheiro vai perpassando toda a economia. 

Um grupo bastante beneficiado por uma expansão monetária é aquele que atua no mercado financeiro e imobiliário. O dinheiro recém-criado, se direcionado para a compra de ativos, como ações e imóveis, irá beneficiar enormemente os participantes deste mercado.

Grandes investidores e especuladores em posse deste novo dinheiro adquirem a capacidade de investir mais em ativos tangíveis como ações, imóveis e metais preciosos.  

Quando os preços desses ativos aumentam em decorrência desta expansão da oferta monetária, os detentores destes ativos se beneficiam, uma vez que seus ativos ganham valor.  Logo, os detentores destes ativos se tornam mais ricos ao passo que as pessoas que detêm poucos ativos ou nenhum ativo irão, respectivamente, ganhar menos ou absolutamente nada com estes aumentos de preços. 

Outros grupos beneficiado são os fornecedores de bens e serviços para o governo: empreiteiras que fazem obras públicas, grandes farmacêuticas que vendem remédios para hospitais públicos, e todas as empresas que fornecem materiais para qualquer repartição do governo são os maiores beneficiados quando o governo se endivida para pagar por seus bens e serviços.

O mesmo vale para todos os empresários agraciados por subsídios estatais.

Finalmente, incorporadas beneficiadas por programas de crédito imobiliário também estão entre os mais explícitos ganhadores.

Já os perdedores desse processo serão aqueles que somente receberão esse dinheiro muito tempo depois de ele ter sido criado e já ter sido gasto pelos seus primeiros usuários.  E

ssas pessoas que recebem esse dinheiro por último, embora tenham agora uma renda monetária maior em termos nominais, tiveram de arcar com preços maiores antes de receberem esse novo dinheiro. Todos os preços da economia já haviam subido antes de esse novo dinheiro chegar a elas.

Assalariados da iniciativa privada que atuam no setor de serviços (os que não são beneficiados por compras governamentais ou por repasses estais), aposentados, pensionistas e quaisquer outros assalariados que não têm reajuste — estes são os grandes perdedores.

E, obviamente, há aquele grupo de pessoas a quem esse novo dinheiro nem sequer chega, como os desempregados e os sem-renda.

Objeções

No entanto, alguns economistas não concordam com isso. 

O argumento deles é o seguinte: em nosso atual sistema monetário, o dinheiro é, como dito anteriormente, produzido na forma de crédito. O Banco Central e os bancos comerciais criam dinheiro ao criarem crédito, ou seja, ao fazerem empréstimos para pessoas, empresas e governos. 

Até aí, tudo certo.

Sendo assim, prosseguem eles, não faz diferença quem recebe esse novo dinheiro primeiro, pois esse beneficiário não estará mais rico do que antes. Afinal, esse novo dinheiro foi emprestado, e não dado. A riqueza bruta do beneficiário aumenta, é verdade, mas sua dívida também aumenta na mesma quantidade.  

Por exemplo, se João pega um empréstimo de $ 1 milhão para comprar um imóvel, sua riqueza líquida não aumentou nenhum centavo. Sua riqueza bruta de fato está maior — aumentou em $ 1 milhão —, mas suas dívidas também aumentaram exatamente no mesmo tanto.

Até aí, de novo, tudo certo.

No entanto, mesmo levando-se em conta a diferença entre riqueza líquida e riqueza bruta, a verdade é que faz sim uma grande diferença o fato de que João comprou o imóvel por meio da criação de dinheiro. E a diferença é que agora ele vive em um imóvel bom e elegante, o qual teria sido vendido para outra pessoa, a um preço menor, caso não tivesse havido essa criação de dinheiro. 

Mais ainda: caso a expansão de crédito continue, João poderá revender seu imóvel a um preço ainda maior, conseguindo assim um belo lucro.

João foi privilegiado pela criação de dinheiro.

Se analisarmos a questão em termos de financiamento de empresas, o impacto é ainda maior. 

Aqui, novamente, é verdade que a criação de dinheiro não necessariamente gera mudanças na riqueza líquida da empresa.  No entanto, a criação de dinheiro influencia o tipo de produto que agora entra no mercado. 

Um empréstimo para uma empresa que fabrica sapatos masculinos de couro permite que ela realize seus projetos.  Por causa desse empréstimo, a empresa agora obtém uma vantagem em relação àquela outra empresa que fabrica, digamos, bolsas femininas de couro. A empresa que fabrica sapatos masculinos de couro poderá agora, por causa do empréstimo, pagar salários mais altos para seus funcionários e preços maiores para seus fornecedores. Consequentemente, ela estará absorvendo mais mão-de-obra e recursos escassos, podendo assim inviabilizar as operações da empresa que fabrica bolsas femininas de couro. Esta terá de pagar preços maiores pelo couro e pela mão-de-obra, mas sem ter o dinheiro adicional para isso.

Consequentemente, a empresa que fabrica sapatos masculinos de couro irá se expandir. Já a empresa que fabrica bolsas femininas de couro irá se estagnar ou até mesmo encolher.

A oferta de sapatos masculinos de couro é melhorada. A oferta de bolsas femininas de couro é degradada.

Portanto, a conclusão anterior se mantém: a criação de dinheiro sempre afeta a distribuição de riqueza e de renda reais. O primeiro usuário do dinheiro recém-criado é o ganhador; o último, o perdedor.

Para concluir

A quantia adicional de dinheiro que entra na economia — via operação conjunta de Banco Central, sistema bancário e governo — não vai parar diretamente nos bolsos de todos os indivíduos. E dentre os beneficiados que recebem primeiramente essa nova quantia, nem todos recebem a mesma quantia e nem todos reagem da mesma forma à mesma quantia que recebem.  

Aqueles primeiros beneficiados têm agora um efetivo em caixa maior do que antes, o que os permite ofertar mais dinheiro no mercado em troca dos bens e serviços que desejam adquirir.

Essa quantia adicional de dinheiro que eles ofertam no mercado pressiona os preços e salários para cima. Mas não são todos os preços e salários que sobem; apenas os desses setores que primeiro receberam o novo dinheiro em troca de seus bens e serviços. E mesmo esses preços e salários que subiram, não sobem no mesmo grau. Se o dinheiro adicional for gasto com obras públicas, apenas os preços de algumas mercadorias e apenas os salários de alguns tipos de trabalho irão subir.

Leva-se tempo até que essa quantia adicional de dinheiro perpasse toda a economia. E, mesmo ao final do processo, os vários bens e serviços da economia não são afetados no mesmo grau. Esse processo de progressiva depreciação monetária alterou a renda e a riqueza dos diferentes grupos sociais.

Aqueles que estão vendendo mercadorias ou serviços cujos preços são os primeiros a subir poderão utilizar seus maiores proventos para adquirir o que quiserem a preços que ainda não se alteraram. Esses são os indivíduos que tiveram um ganho de riqueza. 

Já aqueles que são os últimos a receber esse novo dinheiro estarão vendendo mercadorias ou serviços a preços ainda inalterados. Esses indivíduos não obtiveram nenhum ganho de renda e agora terão de comprar as outras mercadorias e serviços a preços mais altos. Esses são os indivíduos que perderam riqueza.

Enquanto o processo de inflação se mantiver, estará havendo uma alteração contínua na renda e na riqueza dos indivíduos. Quando todas as alterações de preços em decorrência da inflação estiverem consumadas, pode-se dizer que ocorreu uma transferência de riqueza entre os grupos sociais. 

Há agora no sistema econômico uma nova dispersão de riqueza e renda.

Exatamente por tudo isso, a melhor política de redução da desigualdade social é ter uma moeda sólida.

________________________________

Leia também:

A tragédia da inflação brasileira - e se tivéssemos ouvido Mises?


autor

Jörg Guido Hülsmann
é membro sênior do Mises Institute e autor de Mises: The Last Knight of Liberalism e e The Ethics of Money Production.  Ele leciona na França, na Université d'Angers.


  • Antônio  21/12/2021 19:41
    Qual o ponto de vista da EA sobre o efeito da inflação (entendida do modo austríaco, não neoclássico. I.e. -> PM expansionista) no longo prazo na economia, além da resdistribuição de renda?
  • Leandro  21/12/2021 19:47
    Além, obviamente, da inflação de preços, há os ciclos econômicos. Inflação de preços, desigualdade e ciclos econômicos são fenômenos inevitáveis de uma expansão monetária. Varia apenas a intensidade de cada um.

    Embora aumentos na quantidade de dinheiro não façam a economia crescer, eles alteram a estrutura da mesma; embora variações na oferta monetária não produzam impacto no crescimento agregado da economia, elas certamente afetam a maneira como os recursos da economia são alocados e distribuídos. Ou seja, as variações da oferta monetária determinam como será a estrutura produtiva da economia, mas não o nível da produção. Variações na oferta monetária sempre serão benéficas apenas para o governo e para suas empresas favoritas - como o setor bancário e os grandes industriais amigos do rei (o que inclui empreiteiras e indústrias favoritas) -, que são os primeiros a receber o novo dinheiro criado.
  • Elinaldo Lopes  21/12/2021 21:12
    Sei que talvez seja pedir muito, mas tem como explicar como essa expansão monetária gera ciclos econômicos? Sou novato na EA e gostaria de aprender.

    Obrigado.
  • Leandro  21/12/2021 22:25
    Se a oferta monetária — a quantidade de dinheiro na economia — é abrupta e acentuadamente alterada, todo o processo de cálculo econômico é falsificado.

    Bens e serviços que até então tinham um preço passam a ter outro preço (maior). E isso atrai mais investimentos para estes setores.

    Atividades e ocupações que até então não eram atraentes (por não serem lucrativas) repentinamente se tornam rentáveis.

    Mas a consequência é nefasta.

    Quando o Banco Central atua para reduzir artificialmente os juros, ele provoca uma expansão da oferta monetária. Estes dois fatores (juros menores e expansão monetária) fazem com que aqueles investimentos que antes não eram atraentes repentinamente se tornem promissores. 

    Se os juros dos empréstimos bancários são reduzidos (em decorrência do maior volume de dinheiro que agora pode ser emprestado), aqueles projetos de longo prazo que antes eram inviáveis tornam-se agora — exatamente por causa dos juros mais baixos e do maior volume de dinheiro — aparentemente viáveis. 

    Esses projetos de longo prazo — como, por exemplo, empreendimentos imobiliários, construção de shoppings, fabricação de máquinas, e ampliação da capacidade produtiva das indústrias — são aqueles que demandam mais capital e mais investimentos vultosos. O que antes parecia inviável e extravahente, agora, repentinamente — por causa dos juros menores e do maior volume de dinheiro disponível — parece bem mais acessível.

    Ao mesmo tempo, a expansão do crédito, por gerar um aumento generalizado na quantidade de dinheiro na economia, faz com que a renda nominal das pessoas aumente, o que gera nos empreendedores a crença de que haverá demanda futura para seus investimentos de longo prazo.

    Consequentemente, e de novo, vários projetos e empreendimentos de longo prazo que antes se mostravam desvantajosos e pouco atraentes tornam-se agora aparentemente (muito) sensatos e lucrativos. 

    Ato contínuo, os investimentos começam a surgir mais intensamente na economia.

    Porém, como essa redução nos juros não foi causada por um aumento na poupança (isto é, pela abstenção do consumo), mas sim pela simples manipulação dos juros e pela expansão monetária, não houve uma liberação de recursos de um setor para ser utilizado em outro setor.

    Aí começam os problemas.

    Mais dinheiro entrando economia via financiamentos para investimentos faz aumentar a demanda por mão-de-obra na indústria e na construção civil, mas ao mesmo tempo os setores de serviço e comércio continuam precisando de mão-de-obra e recursos, pois não houve aumento na poupança (abstenção de consumo). Assim, começa a haver uma batalha por mão-de-obra e por recursos. Houvesse poupança genuína, a mão-de-obra de um setor seria liberada para outro setor, e os recursos mais demandados por um setor seriam liberados para outros setores. Mas como não há poupança, esses fatores de produção começam a ser disputados via aumentos salariais e aumentos de preços.

    Assim, ao mesmo tempo em que uma construtora passa a demandar mais engenheiros, arquitetos, mestres-de-obras, corretores, vendedores, relações públicas etc., os setores de serviço e comércio continuam demandando com a mesma intensidade esses profissionais, pois as pessoas não estão poupando, o que significa que o consumo segue aquecido em todos os setores — a redução dos juros, como dito, não veio da poupança, mas sim da criação de dinheiro pelo Banco Central.

    O desemprego cai e os preços e os salários sobem.

    Enquanto estiver havendo essa expansão do dinheiro e do crédito, os números positivos da economia irão durar. A demanda por bens e serviços irá continuar em alta. Os estoques das empresas serão prontamente vendidos. Apartamentos continuarão sendo vendidos na planta. Novos empreendimentos continuarão sendo iniciados. Carros zero continuarão sendo vendidos aceleradamente. Novos restaurantes e novas lojas continuarão sendo abertos. Os preços e os lucros continuarão subindo. Trabalhadores continuarão encontrando empregos a salários nominais cada vez maiores.

    No entanto, tal expansão econômica não pode durar. Em algum momento, essa expansão monetária começará a provocar um aumento generalizado nos preços e nos custos. Consequentemente, os juros bancários também subirão (se os bancos não subirem os juros, receberão de volta uma moeda valendo muito menos do que quando emprestaram).

    Neste ponto, com a subida dos juros, a expansão do crédito é interrompida (ou fortemente reduzida), os juros de longo prazo sobem, a expansão monetária é desacelerada, a renda e a demanda param de crescer, e os investimentos se comprovam sem sustentação, pois não havia poupança real os lastreando.

    Como os preços ainda seguem crescendo (há uma inércia que faz com que eles sigam aumentando por algum tempo mesmo com a oferta monetária já estagnada), e como os consumidores estão mais endividados, sua capacidade de consumo estará afetada. A demanda esperada para os investimentos não se concretiza.

    Vários investimentos feitos, vários bens de capital produzidos durante o período da euforia, bem como vários empreendimentos imobiliários, se tornam ociosos, revelando que sua produção foi um erro e um esbanjamento desnecessário (o que os fez ser distribuídos incorretamente no tempo e no espaço) porque os empreendedores se deixaram enganar pela abundância do crédito, pela facilidade de seus termos e pelos juros artificialmente baixos.

    Vale ressaltar que a expansão monetária não aumenta a produção. A expansão monetária altera a produção. Ela desvirtua a produção. Ela retira recursos de determinados setores e os redireciona para outros setores. Por isso, a teoria dos ciclos econômicos é uma teoria sobre investimentos errôneos e insustentáveis (os malinvestments). Estes investimentos, uma vez descobertos, têm de ser liquidados. Este processo de liquidação é a recessão.

    A economia entra em recessão exatamente porque os fatores de produção foram mal direcionados e os investimentos foram errados. Capital foi imobilizado em investimentos para os quais nunca houve uma demanda genuína (apenas artificial, impulsionada pela expansão monetária e do crédito). Na prática, capital e riqueza foram destruídos. Cimentos, vergalhões, tijolos, britas, areia, azulejos e vários outros recursos escassos foram imobilizados em algo para o qual nunca houve demanda genuína. A sociedade está mais pobre em decorrência desse investimento errôneo. Recursos escassos foram desperdiçados e agora não mais estão disponíveis para serem utilizados em outros setores da economia.

    No geral, a economia está agora com menos capital e menos recursos escassos disponíveis, pois boa parte foi imobilizada em empreendimentos insustentáveis no longo prazo.

    Por tudo isso, criar moeda não tem como criar riqueza nem aumentar produção. Criar moeda apenas desvirtua a produção e mal direciona recursos. Há menos produção em determinados setores e mais produção em outros setores. A produção total não aumenta.

    No final,
    todos estão mais pobres.

    Ciclos econômicos, portanto, são um fenômeno tipicamente causado pela manipulação dos juros e pela expansão monetária. É um fenômeno inerente a qualquer arranjo que não tenha uma moeda sólida.
  • Paulo Paniago  25/12/2021 02:11
    Leandro, tem pouco mais de um ano que eu estou lendo esse site, mas mesmo considerando que ultimamente essa tem sido a minha principal fonte de leitura, só agora resolvi fazer meu primeiro comentário. Já tive vontade de fazer várias perguntas antes, não fiz por inércia, mas achei esse cometário tão valioso que isso finalmente me fez sair da apatia. Basicamente, não tenho nada a perguntar ou acrescentar, apenas dizer que esse comentário vale tanto ou talvez mais do que o próprio artigo. Tem tempos que eu queria entender esses ciclos econômicos, mas não achava a explicação em lugar nenhum do site. Até fiz algumas explicações grosseiras para familiares, defendendo que medidas econômicas estatais não criam riqueza, apenas o mercado tem essa capacidade, o melhor que o estado pode fazer é não atrapalhar. Eu dizia algo do tipo "não existe almoço grátis, a conta dessa riqueza artificial chega depois", só que falava isso sem qualquer embasamento. Na minha opinião, acho que esse comentário deveria ser transformado em um novo artigo do site. Obrigado!
  • Leandro  25/12/2021 13:26
    Muito obrigado pelo seu depoimento. Foi um grande estímulo e será um ótimo combustível para seguir adiante.

    Forte abraço!
  • Yuri São Carlense  27/12/2021 15:14
    Só acrescentado um ponto (que já foi abordado pelo Leandro em outras ocasiões):

    Os críticos a teoria dos ciclos econômicos dizem que a visão austríaca erra por enxergar o empresário como um burro e sem nenhum feeling, por acreditar que os juros ficarão naqueles níveis baixos para sempre e fazer seus investimentos e planejamento futuro ingenuamente com base nisso.

    Mas a questão é que se o empresário não investir ele perde fatia de mercado para os concorrentes que estão aproveitando os juros baixos para investirem e ampliarem seus negócios. Se o empresário não investir (mesmo sabendo que aquele momento é apenas um boom de curto prazo causado por juros artificialmente baixos) ele poderá ser expulso do mercado pelo crescimento dos seus concorrentes.
  • Luis  21/12/2021 19:42
    Além dos preços serem subjetivos, cada indivíduo atribui um conjunto diferente de significados e simbolismos (positivos e/ou negativos) ao dinheiro.

    O irônico é que os governos intervencionistas praticam a expansão monetária para estimular a economia e financiar programas assistencialistas, mas a inflação e outras consequências nefastas causadas por essa expansão atingem primariamente os mais pobres que eles dizem querer ajudar.

    A realidade é mais complexa e funciona de forma diferente do que certas pessoas acreditam.
  • Curioso  21/12/2021 19:56
    Quando neokeynesianos e neoclássicos dizem que a moeda é neutra, o que eles querem dizer? E quando os pós-keynesianos dizem que não é neutra?
  • Leandro  21/12/2021 20:12
    Quando eles dizem que a moeda neutra, estão dizendo que, no longo prazo, expansões monetárias não causam crescimento econômico. No início da expansão monetária há crescimento, mas quando a expansão monetária é interrompida, há recessão. Aí, no resultado líquido, não houve crescimento econômico.

    O cerne do raciocínio até está correto, mas além de ignorar a questão da redistribuição de renda às avessas (como explicado no artigo), também ignora como exatamente ocorre a mecânica dos ciclos econômicos. Não é exatamente como eles descrevem.

    Já os pós-keynesianos defendem expansão monetária porque acreditam que ela gera crescimento econômico genuíno, sendo que gera apenas um boom de curto prazo, causado por alterações na estrutura da economia (boom este que será revertido tão logo a inflação de preços leve a um aumento dos juros e uma consequente interrupção da expansão monetária).

    Até onde sei, ignoram completamente a questão da redistribuição de renda às avessas.
  • Alessandro  21/12/2021 19:58
    Tenho algumas dúvidas sobre a Teoria Quantitativa da Moeda e seus erros. Pelo o que eu li, ela enxerga que a oferta de moeda tende a estar em equilíbrio com a procura de moeda. Assim, quando há um aumento artificial na oferta de moeda sem produção de bens, os preços sobem e os indivíduos demandam mais moeda para reagir à alta de preços. Ou seja, primeiro aumenta a quantidade de moeda, os preços sobem e isso força os indivíduos a demandarem mais moeda para comprar os bens que necessitam. Seria isso? Nesse ponto, não seria o contrário? Não seria a queda de procura pela moeda que ocasionaria a alta dos preços, visto que ninguém deseja uma moeda manipulada de maneira irresponsável pelo governo? Existiria ou não essa tendência de oferta e procura de moeda se equilibrarem? Outro ponto interessante é que ela trata da existência de nível de preços, como se todos fossem influenciados da mesma forma pelo aumento da oferta de moeda, algo que Mises refutou. Eu não estou afirmando nada, apenas tenho dúvidas quanto a esses pontos. É importante refutar a Teoria Quantitativa porque os keynesianos utilizam como espantalho para bater em qualquer um que se oponha a eles, quando na verdade desconhecem a teoria austríaca.
  • Leandro  21/12/2021 20:14
    "Assim, quando há um aumento artificial na oferta de moeda sem produção de bens, os preços sobem e os indivíduos demandam mais moeda para reagir à alta de preços."

    Esse é o pulo do gato. Quando os preços aumentam muito, e os indivíduos passam a acreditar que tal aumento continuará aceleradamente no futuro, então a demanda por moeda cai, pois os indivíduos passam a se livrar da moeda com cada vez mais rapidez (pois sabem que ela perderá poder de compra) em troca de qualquer bem ou serviço útil.

    E aí a inflação de preços dispara ainda mais.

    "Ou seja, primeiro aumenta a quantidade de moeda, os preços sobem e isso força os indivíduos a demandarem mais moeda para comprar os bens que necessitam. Seria isso? Nesse ponto, não seria o contrário? Não seria a queda de procura pela moeda que ocasionaria a alta dos preços, visto que ninguém deseja uma moeda manipulada de maneira irresponsável pelo governo?"

    Correto, é o contrário.

    "Existiria ou não essa tendência de oferta e procura de moeda se equilibrarem?"

    Haveria essa tendência apenas quando a oferta de moeda fosse determinada livremente pelo mercado (por exemplo, por meio da extração de ouro do solo para satisfazer uma maior demanda).

    Por outro lado, não há essa tendência quando a oferta é livremente aumentada pelo governo — por exemplo, quando ele incorre em déficits orçamentários ou, mais recentemente, quando ele injeta dinheiro para combater os efeitos de uma pandemia.

    "É importante refutar a Teoria Quantitativa porque os keynesianos utilizam como espantalho para bater em qualquer um que se oponha a eles, quando na verdade desconhecem a teoria austríaca."

    A TQM está correta apenas quando diz que aumento da oferta monetária, tudo o mais constante, gera preços maiores. Mas é só. Não há "nível geral de preços" e nem muito menos os preços "sobem igualmente".

    Artigo sobre a relação entre preços e oferta monetária:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=2663
  • Imperion turbo nuclear quântico com equio  21/12/2021 22:07
    O erro dos quantitativos da moeda é que se a demanda por moeda sobe, eles acham que o governo deve imprimir mais moeda pra atender essa demanda. Isso deriva do "erro" da maioria achar que inflação gera crescimento, e que se a moeda tem demanda, mas está sumindo de circulação porque as pessoas estão fazendo poupança, o governo tem que intervir pra continuar circulando.

    Os quantitativos seguem essa retórica de dizer que inflação gera crescimento pra dar pano pro governo imprimir, e que se a moeda começar a sumir tem que imprimir. E tudo é um gancho pra se seguir o sistema de impressão de moeda.

    Pra você refutá-los, tem que bater na tecla: "inflação não gera crescimento econômico". Mostre que mais dinheiro no mercado, mas com a mesma quantidade de bens e serviços, só pode gerar aumento de preços.
  • anônimo  21/12/2021 20:31
    O Real começou a esfacelar desde 2003 e agora com esse governo atual a tendência é extinguir o poder de compra. Pergunto a vocês qual dos candidatos poderia reverter a situação?
  • Felipe  22/12/2021 00:17
    Uma versão tupiniquim do Ronald Reagan, em conjunto com uma cópia brasileira do Robert Rubin para o Ministério da Economia.
  • Thiago Rodrigo Maia dos Santos  21/12/2021 21:01
    Se já estamos ferrados com Ciro Guedes, o Mula quer nos presentear com algo "pior"...

    o Lula declarou a correligionários que escolherá para o cargo de Ministro de Economia um político e não um especialista no ramo. Segundo o aliado próximo ao ex-presidente, ele mantém essa convicção. E o que Lula pretende com a nomeação de um político e não de um economista para a pasta? Responde o aliado: "Evitar o fiscalismo e o burocratismo. E ter alguém que, acima de tudo, compreenda a política e a concilie com a economia". Isso significaria que a responsabilidade fiscal não seria uma preocupação de um eventual governo Lula? "Não", responde o aliado. "Mas os conceitos de controle de gestão e disciplina fiscal não serão os que estão aí." Lula pretende usar o mês de janeiro para "submergir".... -noticias.uol.com.br/colunas/thais-oyama/2021/12/21/lula-ja-analisa-governabilidade-impeachment-e-ministro-da-economia.htm?cmpid=copiaecola
  • Natan  21/12/2021 22:27
    Tenho duas questões, se alguém puder me esclarecer:

    1 - E se os empréstimos que "criam" dinheiro fossem feitos só para pessoas de baixa renda, ou que essas pessoas fossem as únicas que recebessem repasses diretamente do sistema bancário. Essa seria uma distribuição de renda dos mais ricos para os mais pobres, seria interessante esse arranjo ? Não discuto a parte ética.

    2 - A segunda pergunta guarda relação com a primeira. Se a inflação fosse realizada de forma uniforme, quero dizer, se todas as pessoas recebessem quantias adicionais em suas contas criadas do nada, isso quer dizer que os preços se reajustariam de forma uniforme. Sendo assim, pode-se dizer que o grande mal da inflação é na verdade a distorção da contabilidade produtiva, e não o aumento de preços por si apenas ?
  • Rafael  21/12/2021 23:11
    "E se os empréstimos que "criam" dinheiro fossem feitos só para pessoas de baixa renda"

    Aí eu confesso curiosidade em como elas iriam pagá-los.

    Dado que pessoas de baixa renda pedem empréstimos majoritariamente com o intuito de consumir -- e não de investir e criar um fluxo de renda --, rapidamente haveria calotes em massa.

    "Se a inflação fosse realizada de forma uniforme, quero dizer, se todas as pessoas recebessem quantias adicionais em suas contas criadas do nada, isso quer dizer que os preços se reajustariam de forma uniforme."

    Não. Pois a propensão a gastar não é a mesma para todos os indivíduos. Há aqueles que gastariam imediatamente, e há aqueles que poupariam. E sempre haverá um volume maior de dinheiro sendo direcionado para um determinado setor da economia, e um volume menor sendo direcionado para os outros setores da economia. Logo, não haveria reajuste uniforme de preços. Sempre haverá distorções nos preços relativos.

    "Sendo assim, pode-se dizer que o grande mal da inflação é na verdade a distorção da contabilidade produtiva, e não o aumento de preços por si apenas?"

    Exato! E são essas distorções que geram investimentos errôneos em determinados setores. E é isso o que leva às recessões.
  • Yuri  21/12/2021 23:14
    Sobre os pobres serem os primeiros a receber um dinheiro recém-criado, isso foi exatamente o que aconteceu, de maneira excepcional, com o Auxílio Brasil em 2020 durante a pandemia.

    O Orçamento de Guerra foi instituído exatamente para isso, e todo o gasto foi pago com dinheiro impresso.

    O resultado não parece ter sido muito bom para os pobres, dado que alimentos e combustíveis explodiram.
  • Pedro Paulo  21/12/2021 23:25
    "Sendo assim, pode-se dizer que o grande mal da inflação é na verdade a distorção da contabilidade produtiva, e não o aumento de preços por si apenas?"

    Exato, o que muda são os preços relativos dos bens econômicos, pouco importando qual o número que representa o preço. A consequência disso vai além do descrito no texto: Isso ainda cria um falso sinal ao mercado de que aqueles produtos são demandados, e com isso direcionam investimentos adicionais à este setor.

    Sendo a demanda completamente artificial, tais investimentos não terão lucro - ao contrário, darão enormes prejuízos - gerando um duplo efeito negativo: Além da quebra em si, deve-se lembrar que o capital aplicado neste empreendimento poderia (na verdade, deveria) ter sido aplicado em alguma outra coisa para qual houvesse demanda real.

    Daí a importância de, numa crise econômica, deixar as empresas quebrarem: Isso agiliza a reorganização do capital produtivo. Empreendimentos quebrados devem liberar imediatamente o capital para que novos empreendimentos sejam feitos.

    Porém, nada disso é possível de ser feito num cenário onde os preços relativos dos bens econômicos não espelhem as vontades da população.
  • Imperion  21/12/2021 23:09
    Moeda não é neutra:

    Supomos que exista um país de três pessoas.

    1) o produtor de cerveja ( bem e serviço) com uma cerveja pra vender. Essa cerveja é o único bem ou serviço em circulação nesse tempo.

    2) o futuro comprador que, com seu esforço, tem dez reais pra gastar (oferta monetária). Ele tem em sua posse o dinheiro dessa nação (10 reecas), mas ganhou trabalhando. Ignoremos como ele fez pra ter todo a oferta monetária em mãos.

    3) o governo. Ele não trabalha, nem produz.

    O produtor e o que tem dinheiro vão fazer uma troca, o dinheiro pelo bem ou serviço. Ninguém vai sair no prejuízo. O preço da cerveja é 10 reecas porque é a divisão de toda oferta monetária por toda a oferta de bens ou serviços da nação no momento (10 reecas por 1 unidade). Isso é igual ao preço de 1 cerveja por dez reais.

    Lei da oferta e demanda. Produtores e consumidores fazem isso: trocam bens por dinheiro e dinheiro por bens e serviços. É o normal de qualquer economia.

    Aí entra em cena o governo. Não produz nada, só gasta e tem em mãos o privilégio de fabricar dinheiro e obrigar os outros dois a aceitar. O governo então imprime mais dez reais e vai ao bar e compra a cerveja. O dono recebe os dez. O governo fica com o bem ou serviço (cerveja).

    Como a oferta monetária era 10 e o governo imprimiu mais 10, agora o dinheiro em circulação é 20.

    Mas tem apenas uma cerveja como bem ou serviço. Pela lei da oferta e procura agora a cerveja custa 20.

    Resultados:
    O governo ganhou uma cerveja inteira somente imprimindo 10 reis num papel. E como ele foi o primeiro a gastar esse papel, foi privilegiado em uma cerveja inteira sem fazer nada em troca. Não produziu nada para o produtor e para o outro consumidor. Baita negócio.

    O produtor da cerveja tomou prejuízo em meia cerveja, pois vendeu uma cerveja por dez, que agora vale vinte (tem 10 reais em mãos).

    O consumidor que tinha os outros dez, pra comprar outra cerveja futuramente, vai ter que desembolsar mais 10 ( visto que a cerveja, bem ou serviço dobrou de preço). Vai ter que trabalhar pra ganhar de novo o dinheiro em circulação pra conseguir comprar. Seu prejuízo é de meia cerveja. Antes com 10 reais ele comprava uma inteira; agora só compra meia.

    Nessa economia de agora há o dobro de dinheiro em circulação, com capacidade de produção inalterada. O preço dos bens e serviços só pode dobrar.

    Para o governo, os políticos e os outros privilegiados que recebem primeiro o dinheiro que sai das prensas é um bom negócio. É igual a fabricar dinheiro falso, com a diferença que esse dinheiro tem circulação forçada e ele se dilui junto ao dinheiro em circulação, pois todos são obrigados a aceitar.

    Então o prejuízo é dividido por todos os outros: produtores normais e consumidores, menos os privilegiados que recebem a primeira leva de dinheiro emitido.

    Para manter esse esquema de impressão, para o setor politico ( governo ) ganhar, o setor não politico tem que perder. Consumidores e produtores têm que ficar mais pobres pra acomodar mais dinheiro impresso.

    O trabalhador tem que trabalhar o dobro pra ganhar o suficiente pra igualar a expansão que foi de 100 por cento de uma vez. E o produtor de bem ou serviço ( cerveja), para continuar produzindo seu bem ou serviço, vai ter que gastar o dobro.

    O governo age assim como parasita: obtém bem ou serviço apenas escrevendo um número num papel e obrigando todos a aceitar.

    Não tem como a moeda ser neutra. Ela é a ferramenta de troca dos setores genuínos da economia. Sem o governo imprimindo, o produtor iriaa com o dinheiro comprar mais insumos pra produzir mais cerveja. E aquele que gastou o dinheiro iria se esforçar para ganhar o dinheiro normal (num sistema fechado desse, pra ele ganhar dinheiro ele tem que produzir os tais insumos e depois vender para o produtor de cerveja; e ao vender, ele recupera o dinheiro para no futuro comprar mais cerveja. Isto é, ambos produzem algo e trocam entre si, no caso um produz insumo e o outro produz o serviço de transformar o insumo no produto final, usando o dinheiro como meio de troca para as operações).
  • Analista de Risco  22/12/2021 17:45
    Esse exemplo simples mostra como impressão monetária não passa de uma forma de tributação.

    O resultado é equivalente (em valores monetários) a um imposto de 50% dos bens da parcela produtiva.
    Toma-se meia cerveja do produtor, toma-se 5 reais do comprador. No fim, ambos estão mais pobres e o governo mais "rico".
    E há quem diga que imprimir dinheiro, ou seja, aumentar a tributação, é benéfico à economia...
  • Artista Estatizado  22/12/2021 23:18
    Ao explicar esse tema, eu costumo perguntar:

    O que aconteceria se você falsificasse R$ 1.000,00 por mês e nunca fosse pego? Quem sai perdendo?

    Quando toma-se dinheiro de alguém, é fácil saber quem perdeu. Mas e no caso de falsificação de dinheiro?

    Resposta: todos aqueles que tem renda ou poupança em reais perderiam, pois a moeda perde valor (inflação). É exatamente isso que o governo faz

    É claro que apenas R$ 1.000,00 gerariam um incremento da inflação ínfimo. Mas e os bilhões que o governo imprime? Está aí a razão da continua perda de valor do dinheiro.
  • Fernando Silva Bastos  21/12/2021 23:33
    Olá. Estive pensando no caso do Minha Casa Minha Vida. O governo não acabou prejudicando as pessoas ao fornecer subsidios à compra da casa própria? Pois os preços dos imóveis se multiplicaram, e o pessoal que entrou no programa acabou pagando juros por trinta anos. No final daria para comprar duas casas se bobear, e quem agora quiser poupar para comprar uma casa não vai conseguir nunca, dados os preços absurdos. De que adianta isso?
    Lembro-me que no fim da década de 90 um indivíduo da classe C trabalhava por menos de um ano e podia comprar um terreno, trabalhava mais dois anos e terminava a casa, isso sendo uma casa com ótimo acabamento e bem localizada. Quer dizer, esse programa MCMV só fez inflar os preços, todos acabam pagando muito caro no final, inclusive o pequeno poupador, que para ter a segurança da casa própria acaba tendo que assumir financiamento.
    Gostaria de saber a opinião de vocês, se faz sentido este raciocínio.
  • Luan  21/12/2021 23:40
  • Luis  21/12/2021 23:36
    Seria correto afirmar que:

    1 - Quem tem maior flexibilidade para reajustar seus preços seria menos prejudicado por esse efeito, por exemplo, um feirante que tem a possibilidade de reajustar seus preços em tempo real, conforme a demanda, seria menos prejudicado que um trabalhador ou uma empresa de locação de imóveis que reajustam seus preços apenas ao final do ano?

    2 - Dado que a pressão nos preços dos imóveis causada pelo dinheiro novo vindo dos empréstimos e a desvalorização da moeda são, no geral, menores que a taxa de juros cobrada nos empréstimos, que mais ganha com a criação de dinheiro são os próprios bancos?
  • Juliano  21/12/2021 23:50
    1 - Em tese sim, mas feirante trabalha em um setor altamente concorrencial. A margem da manobra dele é bem baixa.

    2- Sim. E ganham duplamente, pois, em caso de calote, assumem o controle dos ativos, agora mais valorizados.
  • Caio  21/12/2021 23:38
    Estou com uma duvida sobre a teoria austríaca dos ciclos econômicos, já compreendi como ela distorce a economia, os investimentos, porem, qual seria o efeito dela na dívida de um governo?Há alguma efeito no calculo utilizado "pib x divida" de forma negativa? Isso é, se a expansão monetária aumenta artificialmente o PIB, e talvez aumente a arrecadação do governo no curto prazo, isso deve alterar a forma como um governo gasta, para pior, estou certo?Não li nada a respeito, só estou tentando ver se meu pensamento tem respaldo
  • Leandro  21/12/2021 23:47
    Correto. E muito bom o seu insight.

    Sim, a expansão do crédito, ao aumentar a quantidade de dinheiro na economia, aumenta a arrecadação do governo e, consequentemente, permite que o governo aumente seus gastos. À medida que os gastos do governo aumentam, o tamanho do governo aumenta.

    E não pára por aí.

    À medida que o tamanho do governo aumenta, o número de leis, regras e regulamentações que ele cria também aumenta. À medida que o número de leis, regras e regulamentações aumenta, o número de transgressões e violações involuntárias também aumenta.

    À medida que o número de violações e transgressões aumenta, o número de cidadãos "criminosos" também aumenta, o que gera a necessidade de mais agentes estatais para regulamentar, fiscalizar, repreender e, em última instância, encarcerar os "transgressores".

    À medida que aumenta o número de funcionários do governo, aumenta também o controle e a influência do governo sobre todo o mercado.

    Como ainda hoje apontou um leitor aqui, todos os estados brasileiros bateram recorde de arrecadação e estão nadando no dinheiro.

    www.poder360.com.br/economia/21-estados-e-df-registram-alta-no-superavit-primario/

    Óbvio: com uma expansão monetária de 50% em 12 meses, a alta na arrecadação era totalmente esperada.
  • Desesperado  22/12/2021 03:29
    Pessoal, estou com medo, Lula tem chances mesmo? Acima de 50% de chance de ser eleito?

    Se isso acontecer, o que vocês irão fazer? Tenho Loja, comércio... Estou louco so de pensar
  • Pobre Mineiro  22/12/2021 09:15
    Você tem loja, comércio no Brasil ?.
    Você não está louco só de pensar, você é louco.
    Já tive negócios aí no Brasil e sei o que é, sei como o ambiente brasileiro é hostil aos geradores de valor...

    Mas agora indo direto ao ponto; eu na sua situação venderia tudo e procuraria outro país para viver.
    (qualquer decisão que você tomar é da sua responsabilidade, apenas estou dando a minha opinião subjetiva)

    Não procuraria países "da moda", como EUA, Canadá, Europa Ocidental, Austrália, Nova Zelândia, etc... pois não me rastejaria para estes estados mendigando algum visto, seja de trabalho ou negócios; para mim o tempo desses países citados já está no fim. América Latina nem pensar, África e Oriente Médio também não. (apesar de que já estou começando a acreditar mais na África do que na América Latina, Oriente Médio é por causa do meu "pre"conceito contra muçulmanos)

    Eu sondaria o leste europeu e a Ásia. (aliás, eu já sondei. Estou morando na China nesse momento)
    Estou aqui apenas citando o que eu subjetivamente acho a respeito do mundo atual em termos da situação no futuro.

    Acredito que um jovem brasileiro mediano, recém formado, já esteja sacrificando o seu futuro ficando no Brasil, e a troco de nada.
  • Hilton  18/03/2022 22:05
    Prezado! A escassez de moeda circulando causa um efeito tão ruim quanto o excesso; a concentração do meio circulante também causa efeito desastroso.
    Sua visão é parcial, sou vê um lado dos muitos lados. Economia não se resume a geradores de dinheiro. Um professor jamais ganhará como um executivo contudo gera valor imensurável. Sem os garis as cidades entram em colapso. Sem enfermeiras os hospitais não funcionam e por aí seguem aos milhares. Cada indivíduo gera uma riqueza necessária. Sua tese é conservadora de remunerar o resultado em vez da utilidade do trabalho.
    Não são as pessoas que existem para o trabalho. É o trabalho que existe por causa e pelas pessoas. A valorização do trabalho deveria ser a regra social e não a régua da conquista de dinheiro.
  • Paris  18/03/2022 23:57
    Prezado, todos os seus lugares-comuns foram abordados e respondidos aqui:

    Por que lixeiros e professores ganham menos que artistas e grandes jogadores de futebol
  • Felipe  22/12/2021 12:54
    Acho pouco provável. Se ele se aliar com o Alckmin como presidente e o Lula como vice, que seria o melhor cenário para eles, mesmo assim seria ruim: Alckmin não tem o mínimo carisma, é água sem sal. Ele só ganhou aqui no estado de São Paulo porque não tinha nada melhor. Haja vista o fiasco de votos que ele teve em 2018. Claro, muitos otários vão se enganar por eles ainda.

    Essas pesquisas eleitorais sendo feitas com tanta antecedência mostram apenas o desespero deles.
  • Jairdeladomelhorqptras  22/12/2021 12:57
    Caro desesperado,

    Se Vc. não pode abandonar o Brasil , o melhor a fazer é tranquilizar-se; cuidar do seu negócio .
    Na realidade não existe maneira de visualizar o futuro. Não perca o sono. Só para te acalmar, parece-me que quem fez as reformas na Nova Zelândia foi um partido de esquerda (a conferir esta informação). E o primeiro governo Lula foi bem moderado.
    O governo do Temer (quem diria?) também não foi tão ruim assim. Impossível prever. O melhor a fazer é cuidarmos dos nossos negócios e relaxar.
    Abraços
  • capitalista chinês  22/12/2021 14:13
    existe contexto.

    Na alemanha, suécia, dinamarca etc, existem vários partidos de esquerda que tem um mínimo de noção de controle fiscal e monetário. Isso é cultural e vem antes da ideologia. São dois elementos que já são suficientes para manter o país minimamente estável, apesar das tolices políticas.

    Na América Latina, porém, a única cultura que existe é da pilhagem e espoliação. Esquerda e direita são apenas rótulos e faces de uma mesma moeda, pois no final das contas, tudo converge para o estatismo, talvez diferindo apenas na velocidade, mas nunca na finalidade.

    O futuro do Brasil é ruim, seja quem for o vencedor das eleições, e a preocupação é real. As reformas que já deveriam ter sido executadas há 20 anos sequer são discutidas atualmente no debate geral, com exceção deste fórum, naturalmente.

    Temer foi uma luz de esperança. Parecia que as coisas iam se acertar e estavam indo bem, mesmo a imprensa tacando pedra no telhado de vidro do Temer. Dai, entra o Bolsonaro e a sua "nova política".

    Tudo mudou para nada mudar, inclusive ele conseguiu a proeza de remoralizar a esquerda no Brasil.

    Dilma abriu as portas para o liberalismo no Brasil. Bolsonaro a fechou.
  • Ex-microempresario  22/12/2021 14:44
    Como eu já falei por aqui, eu fechei minha empresa, vendi o terreno e virei rentista. Estou vivendo com bem menos dinheiro do que antes, mas não esquento a cabeça com os achacadores do governo nem com os descerebrados que são a maioria da mão-de-obra do país. Uns dois ou três ex-concorrentes meus já me disseram que se receberem uma proposta fazem a mesma coisa.
  • anônimo  22/12/2021 16:15
    A algum tempo atras alguém aqui postou um link sobre um ranking de paises com mais milionários / bilionários ligados ao governo.

    Alguem se lembra desse ranking e onde posso achá-lo? passei a manha procurando sem sucesso

    Obrigado
  • anônimo  23/12/2021 03:25
    Nao era nao, se nao me engano era um site em ingles com esse ranking.

    Mas consegui achar mais ou menos oq eu procurava nesse artigo, brigadao
  • Gredson  23/12/2021 15:46
    Elon Musk ri de ter que pagar imposto após governo imprimir dinheiro
    Situação complicada e um dilema: porque pagar imposto se o governo imprime dinheiro quando quer? livecoins.com.br/elon-musk-ri-de-ter-que-pagar-imposto-apos-governo-imprimir-dinheiro/

    Eu me lembro que foi publicado aqui no Instituto um artigo sobre isso. Os burocratas admitiram que o imposto servia para controle do consumo e como engenharia social. Alguém lembra o nome desse artigo?

  • Gredson  23/12/2021 16:58
    Obrigado, Leitor Antigo.
  • Estado máximo, cidadão mínimo.  23/12/2021 21:46
    Usando armas como analogia: um assalariado teria a posse de um revólver .38 com três ou quatro munições e poderia usá-lo durante alguns dias do mês apenas. O estado teria tanques, caças supersônicos e milhares de soldados com fuzis, podendo mobilizar todos eles a qualquer momento.
  • Ronaldo da Silva Alves  23/12/2021 21:36
    Para reflexão do Leandro em seus sábios artigos e demais leitores. Em Itabira, MG, onde moro a prefeitura aprovou uma projeto na câmara onde os funcionários municipais da Secretaria de Fazenda ganharão bônus se cumprirem metas de arrecadação !!!! Sem dúvida nenhuma, isto é, um estímulo a EXTORSÃO ao cidadão que efetivamente trabalha. Por que não uma lei que reduz a carga tributária ? Enquanto mais entra nos cofres públicos , pior serão o uso destes recursos.
  • Realista  24/12/2021 01:04
    Fique esperto e vá sonegar. Chorar não adianta.
  • Lee Bertharian  25/12/2021 19:17
    "Por que não uma lei que reduz a carga tributária?"
    Pelo mesmo motivo que a natureza não criou um "calor frio" ou uma "água seca"... Não é natural que uma entidade poderosa crie algo que não seja em benefício próprio.
    Você achava que o Estado existia para proteção dos indivíduos? Tá na hora de se aprofundar na Escola Austríaca...
  • Paulo  26/12/2021 01:00
    Recentemente eu li um artigo sobre teoria da criação de crédito pelos bancos, diferenciando-se da teoria das reservas fracionárias e da teoria da intermediação financeira.. Esse aqui


    Apesar de não parecer influenciar muito sobre a teoria da não neutralidade, pode ser que tenha alguma influencia nas analises de ciclos econômicos. (Ao invés do crédito expandir por reservas fracionárias, ele expande simplesmente adicionando digitos nas contas)

    O que acham?
  • anônimo  27/12/2021 05:04
    Sim, eles o fazem coletivamente no sistema de reservas fracionárias.
    Já na teoria da criação de crédito. A coisa é mais individual e direta.

    "De acordo com a teoria da reserva fracionária do sistema bancário, os bancos individuais são meros intermediários financeiros que não podem criar dinheiro, mas coletivamente acabam criando dinheiro por meio da interação sistêmica. Uma terceira teoria sustenta que cada banco individual tem o poder de criar dinheiro "do nada" e o faz quando estende crédito (a teoria de criação de crédito do sistema bancário)"..

  • Felipe  26/12/2021 18:01
    Leandro, o Brasil receberá vários turistas vindos do Paraguai nesse fim de ano. Falando nisso, isso pode fortalecer o real ou faz pouca diferença?
  • Leandro  26/12/2021 23:39
    Nenhuma. Moeda estrangeira trocada em casa de câmbio local não define a cotação do mercado forex. É o mercado forex que define a cotação das casas de câmbio locais.
  • Felipe  26/12/2021 23:48
    Pessoas, comecei a ver o Roda Viva com o Mercadante (de 2003, esse aqui). É bom sempre ver coisas históricas.

    O interessante é que logo no começo falaram da tentativa de o governo fazer uma reforma tributária (que pelo jeito não passou), mostrando aqueles mesmos problemas que vemos hoje, com governos preocupados em não perder a sua fatia de coleta de impostos.

    O próprio Mercadante falou da gravidade que estava a dívida do governo na época e da importância do superávit primário. Chama a atenção que um jornalista (que foi o Clóvis Rossi, que hoje não está mais vivo) perguntou sobre o que o Mercadante faria ali no lugar do Palocci, e então o Aloizio deu uma longa resposta, falando do problema da crise cambial em 2002 e afins, e falando de que depois houve um aumento nas exportações. Aí o Clóvis falou que isso foi graças ao real desvalorizado, e então o Mercadante disse que esse aumento nas exportações veio junto com a apreciação do real. Não dá nem para não falar de que a entrevista teve muita interrupção...

    Foi dito então que no primeiro governo FHC, a taxa de câmbio era artificial e isso descapitalizou a agricultura (queria saber essas estatísticas). E então, tempos depois, ao responder sobre a questão dos juros altos à época, Mercadante falou que a desvalorização abrupta no câmbio é que gera pressões inflacionárias, e os juros refletem os riscos fiscais.

    Segundo ele, com a inflação de preços caindo, é possível então reduzir os juros de maneira sustentada.

    É impressão minha ou o Mercadante está falando coisas que keynesianos hoje no governo Bolsonaro ainda não entenderam?

    A Unicamp sempre foi keynesiana na parte econômica?

    Será que um dia será possível encher as universidades brasileiras de professores que sejam realmente da Escola Austríaca?
  • Leandro  27/12/2021 00:00
    Na verdade ele estava apenas dizendo coisas auto-evidentes. E como era ele quem estava no governo, ele não podia se dar ao luxo de fazer proselitismo e nem demagogia. Ele tinha de falar o óbvio para explicar a situação ruim do momento.

    Estivesse ele na oposição, é certeza absoluta que ele faria demagogia para tentar explicar os juros da época.

    Tal comportamento, aliás, é regra entre políticos. Essa entrevista de Ciro Gomes, de setembro de 1995, quando ele ainda estava no PSDB, foi muito boa.

    Com zero demagogia, ele explicou por que os juros tinham de ser altos e não podiam cair. E ainda deu a definição correta de "neoliberalismo". E, de quebra, brigou com o Luis Nassif ao vivo, dizendo (corretamente) que ele não entendia nada de economia.

    Ou seja, o exato oposto do Ciro de hoje.

    E por que ele falou verdades em 1995 e só fala baboseira hoje? Porque em 1995 ele era situação, e não podia se dar ao luxo de fazer proselitismo e demagogia para explicar a realidade econômica do momento (como Mercadante em 2003).

  • Felipe  27/12/2021 01:09
    E isso está sendo feito por integrantes do próprio governo Bolsonaro? Não vi nenhum falar da expansão monetária com causadora da inflação de preços, nem da alta cambial. O máximo que se fala é dos lockdowns. De fato os trancamentos causaram um problema de oferta, mas os problemas de demanda foram causados pelo aumento da quantidade de dinheiro na economia.

    Política é pura falsidade, os brasileiros estão certos quando eles dizem não confiar na política e no governo: nessa pesquisa do Our World in Data, apenas 14,5 % dos brasileiros confia no governo federal.

    Não sei como que tem liberal que ainda tem fé num "estado que funcione" e com "políticos que pensam no bem público".
  • capitalista chinês  27/12/2021 14:20
    pior é o liberal que defende estado mínimo (saúde, educação, justiça e segurança); áreas das quais o estado oferece os piores serviços
  • Estado máximo, cidadão mínimo.  27/12/2021 06:48
    Ééé, Seu Ciro... Quem te viu, quem te vê... De "babá" do plano real para o bravateiro de hoje...
  • Felipe  30/01/2023 12:06
    Vi ontem todo o Roda Viva dele. Era outro Ciro Gomes. Eu até esqueci dessa definição que ele falou do neoliberalismo.

    Notório ver o baixo nível de conhecimento em ciência econômica dos entrevistadores, além de muitas interrupções. Hoje o Roda Viva então, piorou ainda mais. Tarcísio tem que privatizar a TV Cultura.

    Além disso, também assisti ao Roda Viva do FHC de 1999 e lembrei de você, porque ele disse que não queria que os juros fossem muito restritivos, ao passo que o Gustavo Franco dizia que isso poderia durar um pouco mais. É aquilo que discutimos um tempo atrás, porque eles não queriam que fosse muito restritivo. Se fossem mais restritivos nos juros, o arranjo de câmbio atrelado duraria mais, porque a base monetária ia crescer menos (ou até a cair). É provável que isso está acontecendo na Bolívia, a despeito de lá, em tese, o banco central apenas controlar a taxa de câmbio e não a taxa de juros. O governo, que já é impopular, corre sérios riscos.


Envie-nos seu comentário inteligente e educado:
Nome
Email
Comentário
Comentários serão exibidos após aprovação do moderador.