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A taxa SELIC - o que é, como funciona e outras considerações (Parte 1)

Vários leitores já nos escreveram pedindo explicações mais detalhadas sobre o que é a taxa SELIC, como ela é determinada, o que ela influencia e por que é importante.

Seu mecanismo de funcionamento é simples, porém a explicação é um tanto longa.  Não obstante, vale a pena fazer um esforço e tentar acompanhar o artigo até o final, para que finalmente não restem dúvidas sobre essa que é considerada a mais importante variável da economia, pois é ela quem baliza o mais importante preço do sistema econômico: o preço do dinheiro.

Prometo ao bondoso leitor me esforçar para deixar o artigo o mais claro, leve e atraente possível.  Até nem farei críticas ao sistema.

OS TÍTULOS DO TESOURO

Toda a encrenca se origina de um fato muito simples: o governo é incapaz de manter um orçamento equilibrado - isto é, o governo é incapaz de gastar apenas aquilo que ele arrecada.

Como sua receita tributária é sempre menor que suas despesas - afinal, vivemos em uma democracia, e quanto mais o partido governante gastar com seus apaniguados e com toda a sua base de apoio, maiores as chances de ele se eternizar no poder -, o governo está sempre precisando arrumar outros meios de financiamento.

E o responsável por conseguir esse financiamento é o Tesouro Nacional.  O Tesouro pode se financiar apenas com a emissão de títulos (ele não tem o poder de imprimir moeda, como tem o Banco Central - que ainda não entrou na história).  Quando a arrecadação de impostos é insuficiente para cobrir os gastos do governo, o Tesouro tem de emitir títulos para conseguir mais dinheiro.

Até aqui tudo bem?

Prosseguindo.  O Tesouro precisa emitir títulos - isto é, precisa se endividar - para conseguir financiamento.  Quem compra esses títulos?  Em sua maioria, bancos (também chamados de 'intermediários financeiros', no jargão politicamente correto).  Entretanto, pessoas físicas como você também podem comprar esses títulos diretamente do Tesouro.  Basta ir aqui e se tornar um parasita, vivendo dos juros pagos pelos impostos arrancados do setor produtivo da sociedade...

Digressões à parte, pessoas físicas comprando títulos ainda representam uma exceção - o grosso dos títulos é de fato comprado pelos bancos.  Mas não é qualquer banco que pode comprar esses títulos diretamente do Tesouro.  Apenas 10 têm esse privilégio (Bradesco, Citibank, Banco Do Brasil, Itaú, Banco Safra, Santander, UBS Pactual, Votorantim e Caixa Econômica Federal).  Esses bancos são chamados de Dealers Primários.

Assim, quando o Tesouro decide emitir títulos, ele vai ao 'mercado primário' e vende esses títulos a esses 10 bancos.

Quais são esses títulos?  Existem seis tipos de títulos, que diferem entre si de acordo com seu tipo de rentabilidade: fixa ou variável (ou pré-fixado e pós-fixado, respectivamente).  Eis a seguir uma especificação mais detalhada de cada um deles:

· LTN - Letras do Tesouro Nacional: títulos com rentabilidade definida (taxa fixa) no momento da compra.  Você sabe de antemão quantos reais vai ganhar.  Forma de pagamento: no vencimento;

· LFT - Letras Financeiras do Tesouro: títulos com rentabilidade diária vinculada à taxa de juros básica da economia (a taxa SELIC).  Forma de pagamento: no vencimento; 

· NTN-C - Notas do Tesouro Nacional - série C: títulos com rentabilidade vinculada à variação do IGP-M, acrescida de juros definidos no momento da compra.  Forma de pagamento: semestralmente (juros) e no vencimento (principal);

· NTN-B - Nota do Tesouro Nacional - série B: título com rentabilidade vinculada à variação do IPCA, acrescida de juros definidos no momento da compra.  Forma de pagamento: semestralmente (juros) e no vencimento (principal);

· NTN-B Principal - Nota do Tesouro Nacional - série B: título com rentabilidade vinculada à variação do IPCA, acrescida de juros definidos no momento da compra. Não há pagamento de juros semestrais. Forma de pagamento: no vencimento (principal);

· NTN-F - Nota do Tesouro Nacional - série F: título com rentabilidade prefixada, definida no momento da compra. Forma de pagamento: semestralmente (juros) e no vencimento (principal).

Alguns detalhes:

Observe que, com exceção da LFT, todos os outros títulos têm seus juros definidos no momento da compra (a única variável é o índice de inflação, utilizado para a correção monetária). 

A LTN, por sua vez, é um título cujo valor de resgate é o seu valor de face (R$1.000 ou um múltiplo de 1.000).  Ou seja, você o compra por um determinado valor (sempre menor que seu valor de face) e, na data de seu vencimento, o Tesouro vai lhe pagar exatamente o valor de face do título (R$1.000 ou seu múltiplo).  Os mais aficionados podem se informar melhor aqui.

Até agora, tudo bem?

Resumindo tudo: o Tesouro emite vários tipos de títulos que são comprados pelos bancos.  Uma vez em posse dos bancos, esses títulos podem ser livremente comercializados entre si (algo que veremos mais à frente), porém eles somente serão resgatados pelo Tesouro (isto é, serão retirados do mercado, após o pagamento do principal e juros) na sua data de vencimento.  Quando esses títulos são leiloados pelo Tesouro, já se sabe de antemão (exceto para as LFTs) quais serão os juros que o Tesouro terá de pagar aos compradores dos títulos. Vale repetir, a única variável será o índice de inflação utilizado em cada título como forma de correção monetária.

O Banco Central não participa dessas vendas no mercado primário (até maio de 2002 ele podia emitir títulos próprios; hoje, não pode mais.  Todos os seus títulos já foram resgatados).  Ele vai atuar apenas no mercado secundário, do qual falaremos adiante.  Além disso, sua atuação não vai alterar o fluxo dos juros pagos pelo Tesouro aos portadores dos títulos (exceto, novamente, no caso das LFTs, cujo rendimento é sim alterado pelas ações do Banco Central).  O fluxo de juros de cada título (exceto para as LFTs) é determinado no leilão primário.  Atuações posteriores do Banco Central não vão gerar alterações no montante de juros pagos aos portadores desses títulos.

Observe que, até agora, o Banco Central não entrou na história.  Apenas o Tesouro e os bancos participaram do esquema.

O COMPULSÓRIO 

Façamos aqui um pequeno porém extremamente importante paralelo.  

A única entidade que goza do monopólio da emissão de moeda é o Banco Central.  Embora seja o Banco Central a única entidade que cria a moeda física (as cédulas e moedinhas metálicas que utilizamos no dia a dia), o sistema bancário é capaz de, literalmente, criar de dinheiro do nada, algo que os economistas chamam de moeda escritural.  Trata-se de dinheiro 'fictício', pois não existe fisicamente.  São apenas números eletrônicos.

Funciona assim: João deposita R$ 10.000 em sua conta-corrente no Banco A.  João pode até achar que esses R$ 10.000 ficarão ali parados, como um carro em um estacionamento pago, mas não ficarão.  Como o sistema bancário é de reservas fracionárias, os bancos mantêm como reservas apenas parte do dinheiro que neles foi depositado.  Assim, o Banco A vai guardar uma parte desse dinheiro (digamos, R$ 3.000) e emprestar o restante (R$ 7.000) para José.  José vai gastar esse dinheiro de alguma forma, e ele (o dinheiro) inevitavelmente acabará sendo depositado em outro banco, o Banco B.  O Banco B vai guardar uma parte desse dinheiro (digamos, R$ 2.100) e emprestar o restante (R$ 4.900) para Antônio, que adotará o mesmo procedimento de José, dando assim continuidade ao ciclo.  Ao mesmo tempo em que o dinheiro de João foi sendo "passado adiante", o próprio João continua tendo acesso integral a esse mesmo dinheiro (que é seu), seja emitindo cheques ou utilizando cartão de débito.  Dessa forma, os R$ 10.000 iniciais se multiplicaram.

A porcentagem que cada banco teve de guardar (no exemplo acima, 30% do valor do depósito) é determinada pelo Banco Central.  Essa porcentagem é chamada de depósito compulsório.  Os bancos são obrigados a depositar essa quantia junto ao Banco Central.  Trata-se de um mecanismo de controle da expansão monetária.  Quanto menor for essa porcentagem, maior será a quantidade de dinheiro que os bancos podem criar via empréstimos.  Os bancos criam dinheiro (eletronicamente) em uma quantia que é inversamente proporcional à taxa do compulsório.  No Brasil, o compulsório está atualmente em 28%, o que significa que os bancos podem criar dinheiro no valor de até 3,6 vezes o total de reservas compulsórias (1/0,28).  Logo, os R$ 10.000 de João acabam virando R$ 36.000.

Caso esse mecanismo ainda não esteja claro, esse texto certamente irá sanar todas as dúvidas remanescentes.  Porém, o essencial desse tópico é entender que os bancos são obrigados a manter no Banco Central, diariamente, uma determinada porcentagem de seus depósitos à vista.

Bom, e daí?  Onde entra a SELIC?  Mais abaixo.

O MERCADO INTERBANCÁRIO

Milhões de operações bancárias são realizadas diariamente em todo o país.  Depósitos, saques e transferências bancárias são as principais. 

Assim, é normal que um determinado banco chegue ao final do dia tendo em suas reservas uma porcentagem menor do que aquela que o Banco Central determina que ele deve ter em relação aos seus depósitos à vista.  Da mesma forma, é normal que um determinado banco chegue ao final do dia tendo em suas reservas uma porcentagem maior do que aquela que o Banco Central determina que ele deve ter em relação aos seus depósitos à vista. 

Por exemplo, peguemos o compulsório vigente no Brasil: 28%.  Se o Banco A, ao final do dia, tiver um total de R$ 100.000 em depósitos à vista, mas suas reservas junto ao Banco Central totalizarem apenas R$ 25.000, então ele terá de conseguir mais R$ 3.000 para "fechar seu balanço".  (Os motivos para ele estar abaixo do limite podem ser vários, principalmente um número de saques maior que o número de depósitos.  Isso, acredite, é extremamente comum).  O Banco A terá duas opções para conseguir esses R$ 3.000:  ele pode recorrer ao próprio Banco Central e pedir um empréstimo (esse empréstimo é chamado de redesconto) ou ele pode pedir emprestado para um outro banco que esteja com excesso de reservas (porque teve um número de depósitos maior do que o de saques).

O mecanismo do redesconto raramente é utilizado, pois os juros são punitivos (justamente para coibir a prática).  Assim, o procedimento mais comum é recorrer ao banco que está com excesso de reservas. 

Esse mercado onde um banco empresta para o outro é chamado de mercado interbancário.  Por lei, o banco que pede emprestado é obrigado a pagar esse empréstimo no dia seguinte.  Assim, se o Banco A tiver de pedir R$ 3.000 emprestados ao Banco B no final de uma segunda-feira, o Banco A é obrigado por lei a pagar principal e juros ao Banco B já na terça-feira. 

E o que é mais importante: como foi explicado lá no início, os bancos possuem títulos que compraram do Tesouro.  Assim, o Banco A, ao pedir R$ 3.000 emprestados para o Banco B, irá dar ao Banco B esses mesmos títulos públicos como garantia (colateral) ao empréstimo.

Em economês, diz-se que esse empréstimo está lastreado em títulos públicos.  Desta forma, o Banco B vai comprar títulos públicos do Banco A, tendo a garantia de que o Banco A vai recomprar esses títulos no dia seguinte, pagando juros.  Como essa operação dura um dia, ela é batizada de overnight - que no economês anglófono significa uma operação financeira com prazo de 24 horas.

O que é realmente importante em tudo isso é a taxa de juros utilizada nesse empréstimo interbancário.  Essa taxa de juros - que um banco cobra do outro no mercado interbancário, para operações de um dia e que possuem lastro em títulos públicos federais - é exatamente a taxa SELIC.

Vou repetir a definição da taxa SELIC, dessa vez utilizando o preguiçoso artifício de recorrer à Wikipédia: a taxa SELIC é a taxa usada para operações de curtíssimo prazo entre os bancos, que, quando querem tomar recursos emprestados de outros bancos por um dia, oferecem títulos públicos como lastro (garantia).

Por exemplo, ontem, dia 4 de agosto, a taxa SELIC foi de 0,032927%. (Você pode acompanhar essas taxas diariamente aqui).  Isso quer dizer que o Banco A teve de pagar ao Banco B, além dos R$3.000, um juro de 0,032927% desse valor - que é igual a R$ 0,99.  Ou seja, em uma operação 100% segura (os títulos são garantidos pelo governo), o Banco B lucrou quase R$ 1 ao emprestar R$ 3.000 por apenas um dia.  (Considerando o volume de empréstimos interbancários que ocorrem diariamente, conclui-se que o negócio não é nada ruim).

Como a taxa SELIC é a taxa de juros para empréstimos de apenas 1 dia, seu valor é pequeno.  Por isso ela é divulgada em termos anuais, tendo como base 252 dias úteis ao ano.  Em termos matemáticos, pegamos o valor da taxa diária, dividimos por 100, somamos um e elevamos o resultado ao expoente 252. 

Fazendo a operação acima para o nosso exemplo, temos que:

(1,00032927)252 = 1,0865 = 8,65%

O que dá uma SELIC anualizada de 8,65%, bem próxima da meta atual do Banco Central, de 8,75%.

Pelo bem da simplificação, utilizamos um exemplo em que havia apenas dois bancos.  É óbvio que, no mundo real, existem vários bancos incorrendo em vários empréstimos mútuos diariamente.  Nesse caso, as taxas variam de um empréstimo para o outro, porém dentro de um intervalo muito pequeno - sendo esse intervalo estritamente controlado pelo Banco Central, como veremos na próxima seção. 

No final do dia, calcula-se a taxa de juros média de todos os empréstimos interbancários.  Essa média é ponderada pelo volume dos negócios que foram realizados nesse mesmo dia. O resultado final será a taxa média SELIC do dia, que normalmente é publicada por volta das 20h00 do próprio dia.  No nosso exemplo, essa taxa média foi de 0,032927%.

Portanto, o que temos até agora: o Tesouro precisa de financiamento.  Ele vende títulos para os bancos.  Esses títulos serão resgatados em uma determinada data.  Simultaneamente, os bancos são obrigados pelo Banco Central a manter um determinado percentual de seus depósitos à vista depositados junto ao Banco Central.  Aqueles que não cumprirem essa meta ao final do dia terão de pedir empréstimos para outro banco que tenha reservas "em excesso".  A taxa de juros desses empréstimos, que têm a duração de 1 dia, é exatamente a taxa SELIC, que é divulgada em termos anualizados.

Ah, sim, o que significa SELIC?  Sistema Especial de Liquidação e de Custódia, que nada mais é do que o sistema informatizado que gerencia todas as operações que envolvem títulos públicos.  Aqui vai um resumo bem básico, porém correto.

AMARRANDO OS PONTOS

Agora só falta amarrarmos as pontas soltas.  Como o Banco Central atua para alterar a SELIC?  Por que ele faz isso?  Quais as consequências?  Qual a relação da SELIC com os juros pagos pelos títulos do Tesouro?  Qual a relação que você como correntista de um banco tem com tudo isso?

Vamos lá.

Existem dois tipos de mercado para os títulos públicos: o primário e o secundário.  O primário é aquele que já foi descrito (bancos selecionados - dealers primários - compram os títulos diretamente do Tesouro); o secundário é aquele que envolve o Banco Central e os bancos (ou qualquer outro agente em posse de títulos públicos).

Quando o Banco Central quer alterar a base monetária - tanto expandi-la quanto contraí-la -, ele precisa realizar aquilo que chamam de operações de mercado aberto (open market), isto é, o Banco Central compra e vende títulos públicos no mercado secundário.  Vale repetir que o Banco Central não emite títulos; ele compra e vende os títulos do Tesouro, que inicialmente estavam em posse dos bancos.

Quando o Banco Central realiza compras no mercado aberto, ele expande a base monetária.  Como?  Grosso modo, ele aperta um botão no computador e acrescenta alguns dígitos na conta (as reservas compulsórias) que o banco que está vendendo os títulos possui junto ao Banco Central.  De onde veio esse dinheiro?  De lugar nenhum.  O Banco Central o criou do nada.  Nenhuma outra conta foi debitada.  A base monetária expandiu magicamente.  Nesse caso, as reservas desse banco aumentaram, o que o permitirá conceder empréstimos a juros menores no mercado interbancário.  Como isso está ocorrendo simultaneamente com vários bancos, os juros do interbancário caem.  Logo, a taxa SELIC caiu.

Quando o Banco Central realiza vendas no mercado aberto, ele contrai a base monetária.  Nesse caso, ele vende para um banco títulos do Tesouro que estavam em sua posse.  Assim, haverá um débito na conta que esse banco comprador tem junto ao Banco Central.  O dinheiro, que é eletrônico, desaparece (é como se a tecla Del fosse apertada).  Portanto, as reservas desse banco diminuíram, o que fará com que ele tenha de pedir empréstimos no mercado interbancário para se manter dentro da porcentagem exigida pelo compulsório.  Como isso está ocorrendo simultaneamente com vários bancos, os juros do interbancário sobem.  Logo, a taxa SELIC subiu.

Já sabemos, portanto, qual o canal de entrada e saída do dinheiro no sistema econômico.  Sabemos também que uma expansão monetária diminui os juros do interbancário (a taxa SELIC), e que uma contração monetária aumenta esses juros.

Até aqui, nada de complicado, certo?

Porém, apenas dizer que expandir ou contrair a base monetária diminui ou aumenta os juros, respectivamente, não é suficiente.  É correto na teoria, porém na prática o Banco Central precisa de instrumentos tangíveis sobre os quais sustentar sua política de determinação de juros.  Por exemplo, se você é o Henrique Meirelles e quer manter a SELIC em 8,75% ao ano, de nada vai adiantar ficar injetando ou retirando dinheiro do mercado, na esperança de que os 8,75% surjam naturalmente.  Você precisa ter uma baliza. 

Por isso, vejamos agora o método operacional do Banco Central.

Os títulos emitidos pelo Tesouro, como mostrado lá no início, podem ser do tipo que promete um único pagamento no vencimento (LTN, LFT e NTN-B Principal), ou do tipo que promete pagamentos múltiplos antes do vencimento e um pagamento no vencimento (NTN-F e NTN-B).  Nesse segundo caso, os títulos são chamados de títulos com cupom.  Os cupons são justamente os pagamentos efetuados pelo Tesouro antes do vencimento do título, sendo que o principal é pago no vencimento.

Por exemplo, imagine que o Tesouro emitiu uma LTN cujo valor de face é R$ 1.000 e seu vencimento se dê em um ano.  O preço de compra desse título vai ser definido pela oferta e demanda.  Suponhamos que o Banco A tenha arrematado o título por R$ 800.  Dali a um ano o Tesouro vai pagar-lhe R$ 1.000.  Sendo assim, esse título está pagando juros de

(1.000 - 800) / 800 = 25% ao ano

Agora suponha que o Banco Central resolveu fazer uma operação de mercado aberto, expandindo a base monetária.  Ele, portanto, vai comprar títulos públicos em posse dos bancos.  Ao fazer isso, está havendo um aumento da demanda por títulos.  Aumento da demanda significa aumento do preço desses títulos.  Assim, um título que foi comprado por R$ 800, agora está sendo negociado a, digamos, R$ 850.  Substitua 800 por 850 na equação acima e você verá que os juros caem para 17,64%.  Ou seja, um aumento da oferta monetária levou a um aumento dos preços dos títulos, o que gerou uma queda dos juros.  Guarde essa regra: se o preço de um título sobe, seus juros caem.

A mesma regra se aplica quando o título é de múltiplos pagamentos.

Por exemplo, imagine que o Tesouro emitiu uma NTN-B prometendo pagamento de cupons de R$ 50 ao ano mais o principal na data do vencimento.  O preço de compra também será definido pela oferta e demanda.  Suponhamos que o Banco A tenha arrematado o título também por R$ 800.  O rendimento atual desse título é a razão entre o cupom e o seu preço.  Portanto, o rendimento inicial será de (50/800) = 6,25%. 

Repetindo a mesma operação de mercado aberto acima, o aumento da oferta monetária fará com que o preço desse título suba para, digamos, para R$ 900.  Logo, (50/900) = 5,56%.  O rendimento atual caiu.

Tudo isso foi apenas para mostrar duas regras essenciais: (1) se o preço do título sobe, o juro cai; se o preço cai, o juro sobe. (2) O Banco Central, através de suas manipulações monetárias, pode determinar o preço em que os títulos serão negociados no mercado intermediário.  E isso é importante para entender o resto da explicação.

Entendido isso, podemos ir para os finalmentes.

O Banco Central opera de uma única maneira: qual deve ser a taxa SELIC (vamos nos abster de qualquer crítica ao esoterismo desse método de determinação) e então faz operações diárias de mercado aberto, comprando e vendendo títulos do Tesouro em posse dos bancos, de modo que a taxa de juros do mercado interbancário fique dentro da meta.  Por exemplo, a meta atual é de 8,75%.  Sendo assim, o Banco Central deve fazer as manipulações monetárias (injeções e retiradas) necessárias para manter a taxa do interbancário o mais perto possível da meta.  Atualmente, a taxa está em 8,65%, como mostrado.

Mas como ele se baliza para isso?

Como mostrado nos dois exemplos acima, cada título público tem um preço, uma data de vencimento e uma taxa de juros associada a ele.  Essa taxa de juros é o rendimento do título.  Em economês mais pedante, rendimento também é chamado de yield.  Rendimentos de títulos com vencimento curto (um ano ou menos) são chamados de taxas de juros de curto prazo.  Os rendimentos de títulos de vencimento mais longo são chamados de taxas de juros de longo prazo.

Em qualquer dia, em qualquer momento, é possível observar os rendimentos de títulos de diferentes vencimentos, exatamente como procedemos nos exemplos numéricos acima.  De posse desses dados, é possível representar graficamente como o rendimento depende do vencimento de um título.  Essa relação entre vencimento e rendimento é chamada de curva de rendimento - yield curve ou até mesmo estrutura a termo das taxas de juros.  O termo usado depende exclusivamente da sua vontade de impressionar.  O importante é frisar que, quando os títulos são considerados conjuntamente, cada um com seu rendimento, eles formam uma curva de rendimento.  A figura abaixo mostra um exemplo de uma curva de rendimento.

84_856-alt-curva-de-juros.JPG

E daí?

Quando o Tesouro emite um título, com um dado juro de cupom e um dado prazo de vencimento (ambos definidos pelo Tesouro), os bancos irão comprá-lo pelo preço determinado pela lei da oferta e procura (trata-se de um leilão).  Através de uma operação matemática - que envolve a capitalização dos juros do cupom - é possível determinar o preço ao qual este título será resgatado.  A função que une o preço inicial do título (o preço pelo qual ele foi comprado) a este seu valor de resgate define a sua curva de rendimento.  Vale enfatizar: o valor de resgate é definido e imutável; o que pode mudar é apenas o preço em que esse título será negociado no mercado secundário.  (Apenas a LFT, que é pós-fixada e indexada à SELIC, tem um valor de resgate variável)

E - eis o grande momento! - a tarefa do Banco Central é operar manipulando os preços dos títulos de modo que eles se mantenham sobre sua curva de rendimento.  (Lembre-se do que foi dito acima: o Banco Central, através de suas manipulações monetárias, pode determinar o preço em que os títulos serão negociados no mercado intermediário).

Se a ficha ainda não caiu: manter os preços dos títulos sobre a sua curva de rendimento é o mesmo que manter os juros constantes.  Assim, o Banco Central, através de suas operações de mercado aberto, compra e vende títulos no mercado secundário de modo a fixar o preço de cada título sobre a curva de rendimento dos títulos.  Ao fazer isso, ele está garantindo que os juros de cada título se mantenham constantes (com pequenas variações, é claro).

Atenção: o rendimento de um título não necessariamente será igual ao rendimento de outro título, o que significa que cada papel paga juros distintos.  A questão não é essa.  O que é importante é que o Banco Central é capaz de fazer as manipulações monetárias necessárias para que cada papel seja precificado de modo a se manter sobre a curva de rendimento dos títulos.

São esses papeis que serão utilizados como lastro no mercado interbancário, de modo que a taxa SELIC determinada pelo Banco Central seja mantida.  Afinal, se todos os papeis têm juros constantes - em decorrência das manipulações monetárias do Banco Central -, e esses papeis de juros constantes são utilizados como lastro nos empréstimos interbancário, então resta claro que o Banco Central pode determinar a taxa de juros cobrada no mercado interbancário.  E essa taxa é a taxa SELIC. 

Se ele quiser aumentar a SELIC, ele vai vender títulos em sua posse.  Essa maior oferta irá deprimir os preços dos títulos, fazendo com que os juros aumentem.  Uma vez atingida a nova taxa, ele se limita a manter a nova curva de rendimento dos títulos.  Se ele quiser diminuir a SELIC, ele faz o oposto: compra títulos.  A menor oferta irá aumentar os preços dos títulos, fazendo com que os juros diminuam.  (Porém ele não pode diminuir os juros abruptamente, como quer Heloísa Helena, pois isso depende da confiança dos compradores.  Se eles acharem que uma expansão monetária irá gerar uma grande inflação, ninguém irá comprar os títulos não indexados, o que fará com que seus preços caiam, e os juros subam.  Ou seja: a tentativa de diminuir os juros acabou levando a um aumento).

Vale re-enfatizar: o Banco Central determina uma meta para a taxa SELIC, ele não determina a taxa exata.  É por isso que a taxa SELIC efetiva pode apresentar ligeira diferença da taxa oficial divulgada pelo Banco Central - a taxa efetiva atual é de 8,65% e a meta é de 8,75%.

Outra conclusão importante: ao utilizar essa regra operacional - em que os juros são fixados -, o Banco Central não pode determinar a quantidade exata de moeda que ele quer na economia.  Ele faz as operações de mercado aberto de modo a manter a taxa SELIC constante, mas ele não determina a quantidade específica de moeda para a economia.  Diz-se nesse caso que a moeda é endógena.

CONCLUSÃO

Sei que o final pode ter ficado um pouco pesado, mas creio que a ideia básica foi entendida.  Como disse no início, o funcionamento do processo é simples, porém trabalhoso.

No próximo artigo, além de discutirmos as perguntas feitas lá em cima e que ainda não foram respondidas, vamos também adentrar um terreno bem espinhoso: uma política monetária austera realmente exige juros altos ou é possível ter juros baixos e pouca inflação de preços?  Eis o debate infindável entre keynesianos, monetaristas e austríacos.

Clique aqui para ir para a continuação.


autor

Leandro Roque
é editor e tradutor do site do Instituto Ludwig von Mises Brasil.

  • Juliano Torres  05/08/2009 10:29
    Leandro, excelente artigo! Está claro para qualquer pessoa agora o que é a SELIC e como funciona o nosso sistema monetário. Sei que você não teve pretensão de criticar o sistema nesse artigo, mas a simples leitura faz com que a pessoa veja que tem algo de errado com esse sistema "mágico".
  • Guto de Foz ou David Augusto G C  03/06/2016 19:47
    A pergunta que eu faço é,

    Como crescer sem ajudar esse sistema?

    nao ha possibilidade de entesourar nossas riquezas em nossas casas, e nem entesourar no banco, sem que ele não use as reservas fracionarias para cada deposito que façamos, se eu colocar o dinheiro em produtos e serviços, é a unica saida?


  • Núbia  05/08/2009 11:26
    Apenas um comentário, Le: nos Estados Unidos, o redesconto não é punitivo e é super normal os bancos recorrerem ao FED para fecharem a conta. Já no Brasil, recorrer ao BC é pedir para que o mercado suspeite da liquidez e capacidade de pagamento da instituição. Mas, muito bom o texto, parabéns!
  • Rafael Hotz  05/08/2009 12:48
    mandou bem, só o deslize keynesiano no começo ("o preço do dinheiro.") ficou feio, rs...
  • Leandro Roque  05/08/2009 20:15
    Prezados, obrigado pelas palavras.\n\nSó um detalhe: o redesconto, em todo lugar, é sim um mecanismo de juros arbitrariamente punitivo, inclusive nos EUA. Acontece que, com a crise e a consequente contração do crédito - e com os malucos keynesianos que estão no controle do Fed - aquela instituição adotou o até então inédito recurso de igualar os juros do redesconto aos juros "SELIC" deles (que lá se chama Federal Funds Market Rate).\n\nCom isso, tornou-se comum os bancos recorrerem ao redesconto. Mas, repito, trata-se de algo atípico.
  • Augusto  11/04/2019 14:50
    Leandro,

    Estou realizando uma pesquisa e preciso de dados da estrutura a termo das taxas de juros. Você sabe se os dados relacionados aos bonds de 5 e 10 anos estão disponíveis no site do BACEN? (pesquisei e não encontrei). E se a série história tem início apenas em 2005?

    Obrigado.
  • Leandro  11/04/2019 16:10
    Não, mas você pode encontrar gráficos e valores aqui, tanto para os já vencidos quanto para os vincendos.

    tdcharts.info/titulos

    Ou então aqui (rolar página para baixo até "Histórico de preços e taxas"):

    www.tesouro.gov.br/tesouro-direto-balanco-e-estatisticas
  • Augusto  12/04/2019 17:22

    Leandro,

    Obrigado pelas informações. Vou analisar os dados e procurar entender como obter uma série histórica para uma "taxa de longo prazo para o Brasil".

    Conheci o Instituto Mises Brasil e EA apenas em 2015. Ano passado decidir fazer um mestrado. Como tema de pesquisa, optei por realizar "uma ilustração da TACE para a economia brasileira entre 1995 e 2018". Como nem tudo são flores, devo usar a estatística e a econometria para tal finalidade. Encontrei alguns trabalhos como este artigo de M. A. A. Neira, Philip Bagus, A. R. Ania www.revistas.unam.mx/index.php/rie/article/view/50490.
    a
    Pelas leituras realizadas, a maioria dos autores utilizou a estrutura a termo das taxas de juros. Na verdade, utilizaram a federal funds rate como taxa de juros de mercado e a 10-Year Bond como a taxa natural ou wicksseliana.

    No caso da economia brasileira, a taxa Selic é taxa de mercado. Só tenho dúvidas se devo utilizar a Brazil 5-Year Bond Yield ou a Brazil 10-Year Bond Yield como taxa de juros natural.

    Pelo link do Tesouro Direto que você forneceu, não há dados disponíveis até 2003. O que também restringe o período da pesquisa.

    Obrigado mais uma vez.
  • Frederico Luna  05/08/2009 20:27
    Muito esclarecedor o texto! Parabéns!
  • Roberto Chiocca  06/08/2009 12:08
    Ficou um pouco nebulosa a introduçao da "curva de rendimento" no texto, acredito que não tenha ficado muito bem explicado oque ela significa, nem como os juros não mudam com o preço do titulo mudando.
  • Leandro Roque  06/08/2009 12:35
    Espere aí. Se o preço do título muda, os juros também mudam! Pô, tem dois exemplos matemáticos mostrando isso... O que você pode estar confundindo é o fato de que o fluxo de juros pagos pelo Tesouro sobre um determinado papel não se altera (exceto para as LFT). Afinal, os valores das parcelas que serão pagas são acordados no leilão.
  • Camyla  06/08/2009 12:35
    Excelente artigo, bastante esclarecedor, há tempos procurava esta informação, mas só achava conceitos um tanto abstratos. Com o artigo, consegui esclarecer algumas dúvidas e entender como funciona na prática a Selic e outros aspectos do sistema financeiro. Parabéns.
  • Marco Aurélio  12/08/2009 06:29
    De uma clareza e didatismo excepcionais.\n\nO senhor deveria ser político. Parabéns.
  • Leandro Roque  12/08/2009 20:59
    Prezado Marco Aurélio, obrigado pela gentileza. Porém, parodiando Bruce Willis em Duro de Matar 2: "Não é essa a carona que eu quero!"
  • neusa alves  28/08/2009 20:12
    Ótimo artigo, muito esclarecedor,agora entendi um pouco mais como funciona a Selic e outros instrumentos da política monetária.Aguardo outros artigos.
  • raduán  09/09/2009 04:23
    entendi errado(http://www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro_direto/perfil_investimento.asp) ou no NTN-F, o resgate é o seu valor de face. (como no LTN) grato.
  • raduán  09/09/2009 04:36
    esclarecido já.. interpretei errado.. nada que uma releitura nao resolvesse.. grato.
  • Fabio  21/09/2009 11:07
    Como as pessoas gostam de complicar este tema! Nada como um jeito prático para entender a tx selic. Esta foi a pergunta que eu fiz para meu professor na sala de aula no 5 semestre e ele se negou a responder...acho que não é tão óbvio assim... Obrigado e parabéns pelo artigo!
  • Marcelo  03/02/2010 15:59
    Bem didático.\nSó não gostei da pecha de parasita...\nJá que o governo come tudo, temos que fazer o dinheiro render, ora pois. Nãoéquié? \nEis aí um paradoxo.
  • Antonio Lunes  12/04/2010 09:37
    Otimo artigo.
  • Caio Augusto  19/04/2010 17:35
    Ótimo artigo, Leandro! Um dos melhores que eu já li aqui... você sabe dizer se o mecanismo é semelhante nos Estados Unidos?
  • Leandro  20/04/2010 01:03
    Obrigado, Caio. Sim, nos EUA funciona da mesma forma. Afinal, foi deles que copiamos.

    Abraços
  • Adriano  09/03/2017 17:38
    Leandro, uma duvida de um estrangeiro:

    Como voce explica, o BC utiliza as operacoes de mercado para gerir o SELIC, ou seja o juro overnight, atraves de intervencoes no mercado de titulos de governo.

    Pelo que entendi, isso parece um pouco diferente de outros paises como os Estados Unidos ou a Zona Euro, onde o Fed ou o BCE usam como instrumento principal a taxa de juros para depositos (deposit facility) ou emprestimos (lending facility) para os bancos com prazo overnight, e normalmente nao intervem regularmente no mercado aberto (pelo menos antes da era QE). Como voce menciona, esses dois tendem a ser relativemente distantes um do outro e portanto para os bancos faz mais sentido tratar no mercado interbancario (a taxa LIBOR ou Euribor).

    As operacoes - ativas - de marcado aberto sao usadas precisamente para influenciar a taxa de juros de prazos maiores ao longo do yield curve, ate porque nem todo dia existe vencimento de titulos de tesouro, ou seja o efeito sobre os juros overnight seria apenas indireto.

    O que nao entendi na sua explicacao é como isso funciona no Brasil, ja que voce diz que o BC intervem diariamente no mercado de titulos do tesouro para chegar a certa taxa SELIC.

    Poderia explicar como funciona isso na pratica no Brasil?

    Obrigado!
  • Leandro  10/03/2017 00:48
    "Como voce explica, o BC utiliza as operacoes de mercado para gerir o SELIC, ou seja o juro overnight, atraves de intervencoes no mercado de titulos de governo."

    Correto.

    "Pelo que entendi, isso parece um pouco diferente de outros paises como os Estados Unidos ou a Zona Euro, onde o Fed ou o BCE usam como instrumento principal a taxa de juros para depositos (deposit facility) ou emprestimos (lending facility) para os bancos com prazo overnight[...]"

    Na verdade, o método do BC brasileiro é idêntico ao método que o Fed utilizava até 2008. Com a eclosão da crise financeira, o Fed adotou uma prática totalmente inédita na história do mundo.

    O Fed imprimiu dinheiro (eletrônico) e inundou as reservas bancárias dos bancos. A base monetária explodiu. Isso jogou para quase zero as taxas de juros do mercado interbancário, que é exatamente a taxa básica de juros deles (a Fed Funds Rate).

    Só que, simultaneamente, o Fed passou a pagar juros sobre toda e qualquer quantidade de dinheiro que os bancos voluntariamente deixarem parada neste mercado.

    Ou seja, na prática, o Fed passou a pagar para os bancos não emprestarem esse dinheiro. Portanto, de um lado o Fed explodiu a base monetária; de outro, ele colocou uma rolha no mecanismo de transmissão, fazendo de tudo para impedir que essa explosão da base monetária se transformasse em uma explosão no M1 e no M2. (

    Isso foi uma prática completamente inédita nos anais da política monetária. Nenhum Banco Central jamais havia feito isso na história do mundo. Nenhum manual ou livro-texto de macroeconomia jamais discutiu essa possibilidade.

    Hoje, portanto, o Fed não mais manipula o mercado interbancário (o qual já está saturado de dinheiro). ele apenas paga juros sobre todo e qualquer depósito que os bancos voluntariamente fizerem no Fed.

    Há vários artigos sobre isso no site. Veja o mais recente.

    Já a sua descrição para o BCE está correta. Seu mecanismo de atuação é diferente do mecanismo do BC brasileiro.

    "O que nao entendi na sua explicacao é como isso funciona no Brasil, ja que voce diz que o BC intervem diariamente no mercado de titulos do tesouro para chegar a certa taxa SELIC."

    O BC intervém diariamente no mercado interbancário para manter a taxa de juros deste mercado (a SELIC) próxima da meta. É assim que ele opera, e é isso o que foi dito.
  • Caio  12/06/2010 12:36
    Leandro... Eu gostaria de saber se esse é o único método que o BC utiliza para manipular a taxa de juros?? se existir outro metódo, gostaria de saber qual é o mais utilizado, principalmente em relação ao caso americano: Foi através das operações de "Open Market" que o Fed forçou a taxa de juros pra baixo durante os anos anteriores à crise??

    Abraços!
  • Leandro  13/06/2010 04:08
    Caio, quando se entende que a taxa básica de juros nada mais é que a taxa em que os bancos emprestam entre si no interbancário, fica fácil entender que há três maneiras de manipular essa taxa:

    1) Operação de mercado aberto (Open Market), que é a mais utilizada;

    2) Alteração do compulsório;

    3) Alteração da taxa de redesconto (taxa a que o BC empresta aos bancos para que estes mantenham suas reservas no nível determinado pelo compulsório)

    No caso americano, os juros baixaram majoritariamente por causa de operações de open market -- o Fed injetou grandes quantias de dinheiro após o 11 de setembro, continuou fazendo isso após o início da guerra do Iraque, e só começou a reverter a trajetória por volta de 2005, quando os juros voltaram a subir mais rapidamente. Essa subida de juros estourou a bolha. Não sei se você se lembra, mas foi em julho de 2007 que a coisa realmente começou a ficar feia nas bolsas. A partir daí, os dominós apenas continuaram caindo.
  • Stefan Carrao  16/06/2013 04:37
    Leandro
    Por favor, o que você quer dizer com mercado "intermediário"?
  • Caio  14/06/2010 02:18
    Lembro sim, Leandro... E mais uma vez, muito obrigado!
  • Renato  22/06/2010 22:58
    "Quando o Banco Central realiza compras no mercado aberto, ele expande a base monetária. Como? Grosso modo, ele aperta um botão no computador e acrescenta alguns dígitos na conta (as reservas compulsórias) que o banco que está vendendo os títulos possui junto ao Banco Central. De onde veio esse dinheiro? De lugar nenhum. O Banco Central o criou do nada. Nenhuma outra conta foi debitada. A base monetária expandiu magicamente." Não seria o dinheiro das reservas do banco central utilizada pra isso?? e pq naum??? a minha pergunta é... de onde vem o dinheiro utilizado pelo banco central na negociação de titulos do tesouro no mercado secundario? de acordo com o q li neste trecho foi criado do nada porém o banco central possui reservas... pq naum usa-las?? e quando o banco central vende titulos?? esse dinheiro num eh creditado à conta do banco central?? simplesmente desaparece?? se sim pq??
  • Tiago RC  23/06/2010 09:26
    @Renato,

    As reservas normalmente são de outras moedas ou às vezes commodities, se eu não me engano.

    Mas o banco central brasileiro é o único emissor autorizado de reais, por lei. Ele pode sim criar reais do nada, e destruí-los também. Pelo menos foi bem isso que eu entendi do artigo... quando ele quer comprar títulos, cria dinheiro. Quando vende, tanto faz "destruir" ou guardar num cofre pra não ter gastos de impressão quando for usar de novo, dá na mesma, é dinheiro sendo tirado de circulação. É coerente dizer que ele "destrói" já que no final das contas é tudo informação digital, não devem usar papel pra essas transações.

    E basta ver os gráficos que mostram a base monetária pra ver que ela expande sim... se sempre que eles comprassem títulos usassem uma reserva previamente existente, a base monetária seria constante. Eles criam dinheiro do nada sim.
  • Leandro  23/06/2010 09:54
    Renato, apenas fazendo alguns adendos ao Tiago:

    Em primeiro lugar, é preciso saber o que você quer dizer com 'reservas'. Se for as reservas internacionais, não, o BC não compra títulos públicos com dólares, euros, francos suíços, ienes etc, simplesmente porque de nada adianta injetar essas moedas na economia: não podemos utilizá-las como meio de troca.

    Por outro lado, ele pode vender essas moedas em troca de reais e aí utilizar esses reais para adquirir esses títulos, o que seria um processo não inflacionário. Só que isso não surtiria o efeito desejado sobre a taxa de juros (não está havendo alteração da base monetária) -- e manipular a taxa de juros é justamente a intenção do BC, não se esqueça.

    Quanto à sua pergunta principal (de onde vem o dinheiro utilizado pelo banco central na negociação de títulos do tesouro no mercado secundário?): Ele vem exatamente de onde o texto diz que vem: do nada! O BC simplesmente cria dígitos nas contas desses bancos. É tudo eletrônico. As cifras vêm do éter.

    Se você achou estranho e está surpreso, não se preocupe. Essa é exatamente a reação inicial de todos que passam a pensar nesse assunto (em minha opinião, o mais importante da economia). No íntimo, as pessoas, ao entenderem isso, percebem que estão sendo espoliadas, que o governo está roubando acintosamente poder de compra delas para benefício próprio e do sistema bancário. E as pessoas sempre acham estranho quando descobrem que estão sendo roubadas sem perceber. Daí o seu susto.

    Quando o BC vende títulos, esse mesmo dinheiro eletrônico que ele criou na conta dos bancos (conta essa que os bancos têm junto ao BC, e que se chama compulsório) é simplesmente deletado. De novo, é tudo eletrônico.

    Ademais, não existe algo como "uma conta do banco central". Os bancos têm conta no BC, mas o BC não tem conta com ninguém. Portanto, não faz sentido isso de "creditar na conta do BC". Ele é o senhor do sistema monetário. É ele quem cria a base monetária e a manipula.

    E como o Tiago corretamente apontou, a base monetária está em constante expansão. Portanto, na soma total, o BC adiciona moeda à economia ano após ano. Sempre. Ele sequer mantém um valor constante.
  • Rhyan Fortuna  23/06/2010 20:47
    A criação é sempre eletrônica? Qual a função da casa da moeda? \r
    Quando se diz que a impressora do governo está sendo muito usada, fala-se de dinheiro físico ou eletrônico?
  • Renato  24/06/2010 00:58
    sim... entendi tudo isso e inclusive ja ateh tinha conhecimento dos meio de criação de dinheiro, por isso não me espantei.. o que gostaria de saber é se o dinheiro quando da venda vai pra alguma conta do tesouro ou se ele desaparece de fato

    "...adquirir esses títulos, o que seria um processo não inflacionário. Só que isso não surtiria o efeito desejado sobre a taxa de juros"

    explica melhor isso... no meu entendimento esse dinheiro não estaria a disposição do mercado antes da compra e por isso com a compra aumentaria o volume da moeda o q acarretaria numa mudança na taxa de juros ou eu to deixando de ver alguma coisa???

    Muito grato pelas respostas e parabens principalmente pela rapidez...
  • Leandro  24/06/2010 11:13
    Rhyan, essa operação de compra e venda de títulos, que ocorre instantaneamente, é totalmente realizada por meios eletrônicos.

    Porém, a casa da moeda imprime diariamente. Afinal, a rede bancária precisa manter seus caixas automáticos, que estão espalhados por todo o Brasil, constantemente cheios, bem como é também do BC a incumbência de trocar cédulas desgastadas por cédulas novas.

    Finalmente, e principalmente, sempre tem aqueles clientes (uns chatos) que vão aos bancos sacar grandes quantias de dinheiro. Você, que a julgar pelo sobrenome é um sujeito endinheirado, sabe bem disso: se você chegar no seu banco sem qualquer aviso anterior e pedir para sacar 100 mil da sua conta, o gerente vai te chamar pra tomar um cafezinho, comer um brioche, um caviar e até mesmo uma lagosta. No final, ele vai te convencer a voltar dali a uns dois dias, pois obviamente o banco não vai ter aquela quantia toda em moeda para lhe dar. Ato contínuo, o banco vai informar ao banco central que, por sua vez, dará ordem de impressão de cem mil reais para a casa da moeda, que fica no distrito industrial de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. O dinheiro vai pra São Paulo e é transportado de carro-forte até o seu banco. Em dois dias, você poderá sacar tudo.

    No mais, quando se diz impressora do governo, está-se referindo primordialmente à criação eletrônica de dinheiro. Porém esta sempre acaba gerando a criação física de dinheiro.



    Renato, se o BC vende moeda estrangeira e adquire reais em troca, esses reais que ele adquire estavam na economia. Ele não teve de criá-los. Foi simplesmente uma troca, como se você trocasse figurinhas com seu vizinho. Ao fazer isso, a quantidade total de figurinhas não se altera.

    Após ter vendida moeda estrangeira e adquirido reais em troca, o BC vai (no exemplo dado) simplesmente utilizar esses reais e comprar títulos. Ou seja, os reais saíram de um lugar e foram pra outro. Não houve alteração da quantidade total de moeda. Mas houve, sim, alteração do câmbio. Como houve venda de dólares que até então estavam em posse do BC, a tendência é que haja uma desvalorização do dólar - dólar fica mais barato em relação ao real.

    Por fim, já que você tocou no assunto, vou aproveitar para fazer uma retificação: no processo acima (venda de dólares por reais para a consequente compra de títulos públicos), embora não esteja havendo alteração da quantidade de reais na economia, pode sim haver uma alteração nos juros. Como está havendo uma maior demanda por títulos públicos, os juros tendem a cair.

    Só que os juros cairão ao preço de uma apreciação cambial (desvalorização do dólar), algo que irrita o setor exportador, sempre poderoso.
  • Douglas  04/09/2016 02:07
    Leandro, ali em cima escreveste: "No mais, quando se diz impressora do governo, está-se referindo primordialmente à criação eletrônica de dinheiro. Porém esta sempre acaba gerando a criação física de dinheiro."

    No entanto, segundo entendi, nem sempre a criação eletrônica de dinheiro corresponde à criação física de dinheiro. Ou seja, existe muito mais dinheiro eletrônico do que papel-moeda no Brasil. Correto?
  • Leandro  04/09/2016 15:22
    Correto.

    A questão é: quando o BC cria reservas bancárias, os bancos podem pedir que estas reservas sejam convertidas em papel-moeda, para atender às necessidades de saque dos correntistas.

    Consequentemente, quando há saques, os bancos acionam o Banco Central, pedindo para converter reservas bancárias em cédulas de dinheiro. Ato contínuo, o BC aciona a Casa da Moeda, que então faz o serviço.
  • Caio  26/10/2010 01:33
    Leandro... Ficaria muito grato se você(ou qualquer um que esteja disposto) me explicasse como o nível de gastos do governo e o volume de entrada de moedas extrangeiras no país influenciam a taxa básica de juros.
  • Leandro  26/10/2010 10:52
    Prezado Caio,

    Há duas maneiras de você entender como os gastos do governo elevam a taxa básica de juros.

    1) Primeiro cenário: quando o governo gasta, ele está consumindo bens que estão no mercado. Esse consumo faz com que haja menos bens disponíveis para o restante da população. Essa escassez de bens provocará uma inflação de preços desses bens. E tal inflação de preços fará com que os juros sejam maiores -- ou, ao menos, fará com que o Banco Central pense em elevar os juros para conter essa inflação.

    Esse é um cenário cuja atuação do BACEN não faz muito sentido, pois o culpado dessa carestia são os gastos do governo, e não necessariamente a demanda da população.

    Um cenário em que os gastos do governo são altos e os juros, idem, é o pior dos mundos. As pessoas deixam de consumir por causa dos juros, porém o governo entra em cena e consome o que não está sendo consumido pela população. Isso impede que ela possa usufruir uma maior abundância de bens no futuro, assim como se aproveitar dos preços que consequentemente seriam mais baixos por causa dessa maior oferta.

    E como sempre está havendo déficits orçamentários, o governo ainda recorre à poupança da população para se financiar, o que impede que haja crédito disponível para investimentos privados, intensificando ainda mais a escassez de bens produzidos.

    Logo, o sacrifício que a população faz em decorrência dos juros altos (poupança é igual a sacrifício) é anulado pelos gastos e déficits do governo, o que significa que a população se abstém de consumir e não obtém benefício algum desse esforço. A sensação de privação causada pelo governo é intensificada.

    Comentei melhor essa situação nesse artigo: www.mises.org.br/Article.aspx?id=297



    2) Segundo cenário: como o governo gasta muito, ele raramente consegue se financiar apenas por impostos, o que obriga o Tesouro a vender títulos para obter mais recursos. Essa venda de títulos faz com que os investidores exijam juros mais altos para poder financiar o governo, o que acaba fazendo com que a taxa básica de juros seja mais alta (o artigo explica toda essa sequência de eventos).

    Caso todos os gastos do governo fossem cobertos pelos impostos -- isto é, caso o governo não incorresse em déficits --, então o Tesouro não teria de ficar vendendo papeis, e consequentemente a taxa básica seria menor.


    Esse aumento da taxa básica de juros provoca uma entrada de capitais estrangeiros, que vêm pra cá justamente para comprar títulos e ganhar com esses juros mais altos. Portanto, juros altos atraem capitais estrangeiros e, consequentemente, valorizam o real.
  • Henrique  09/09/2015 20:20
    "Um cenário em que os gastos do governo são altos e os juros, idem, é o pior dos mundos. As pessoas deixam de consumir por causa dos juros, porém o governo entra em cena e consome o que não está sendo consumido pela população. Isso impede que ela possa usufruir uma maior abundância de bens no futuro, assim como se aproveitar dos preços que consequentemente seriam mais baixos por causa dessa maior oferta."

    Bem vindo a 2015
  • Fernando  07/01/2011 16:01
    De tudo que pesquisei na internet, esse artigo é o mais aprofundado sobre funcionamenro bancário e taxa de juros. Leandro Roque, você poderia indicar livros que te ajudaram a ter esse tipo de conhecimento?

    Muito Obrigado
  • Leandro  10/01/2011 12:59
    Prezado Fernando, grato pelo elogio. Bom, por incrível que pareça, as bases de tudo o que foi escrito nesse artigo sobre sistema bancário e taxa de juros pode ser encontrado em qualquer livro-texto de macroeconomia. As partes mais detalhadas de fato exigem um estudo mais aprofundado e eu não saberia indicar livros específicos sobre isso.

    Meu conhecimento veio de leituras dispersas, além de palestras e artigos de autoridades monetárias, além das informações contidas no próprio site do Banco Central.

    É preciso, acima de tudo, ter curiosidade e correr atrás da informação.

    Grande abraço.
  • Giovani  06/08/2014 19:24
    Leandro,

    mas além das leituras, tu és formado em economia?
  • André Ramos  21/01/2011 11:49
    Leandro, parabéns mais uma vez!
    Uma dúvida: quem decide - e com base em que critérios - quem são os "dealers primários"?
  • Leandro  21/01/2011 11:57
    Prezado André, muito agradecido.

    Quem decide é o próprio Banco Central, e com base em critérios que ele próprio define, é claro.

    Veja mais aqui:

    www4.bcb.gov.br/gci/Focus/M20030516-Sele%C3%A7%C3%A3o%20de%20Dealers.pdf

    Abraços!
  • Fernando  22/01/2011 23:50
    Oi Leandro,

    1-Imagine um país sem dinheiro. E a partir desse sistema deveria distribuir dinheiro na economia, como seria feito isso? Do zero.

    2-Imagine um país sem dinheiro. Como seria o SEU sistema monetário do zero? Do seu jeito, como ele seria?

    Muito Obrigado, eu gosto de ler seus escritos.
  • Leandro  27/01/2011 18:28
    Caro Fernando,

    Isso já aconteceu várias vezes na história da humanidade. As pessoas sempre tendem a escolher como dinheiro aquela mercadoria que é a mais comercializável dentre todas. E isso vale tanto para as grandes sociedades quanto para lugares fechados e com poucas pessoas, como penitenciárias.

    Nas sociedades, ouro e prata sempre acabavam se sobressaindo (porém coisas como algodão, tabaco, açúcar, sal, gado, cobre, pregos, cereais, conchas, anzois etc. também já foram utilizadas como dinheiro). Nas penitenciárias, os condenados sempre conseguem desenvolver um comércio interno entre eles, e quase sempre a moeda utilizada como meio de troca é o cigarro. Tudo voluntária e espontaneamente.

    Portanto, essas suas duas perguntas não fazem sentido. O dinheiro (sistema monetário) será escolhido espontaneamente pelas pessoas, que voluntariamente começarão a utilizá-lo. Da mesma forma, como será a distribuição inicial desse dinheiro entre as pessoas é algo impossível de se imaginar ou planejar, a menos que se queira de fato criar uma sociedade totalmente planejada desde o início, com ditadores escolhendo quem vai começar com mais dinheiro e quem vai começar com menos.

    Grande abraço.
  • Marcelo  27/01/2011 18:56
    Leandro, ele não teria confundido "dinheiro" com "papel moeda"? Pois se considerarmos "dinheiro" como o meio de troca mais comum entre as pessoas, é impossível uma sociedade sem "dinheiro", não?

    Abraços.
  • Leandro  27/01/2011 19:18
    É impossível, sim, Marcelo. É o dinheiro que permite a completa divisão do trabalho, que é o que realmente acelera a criação de riqueza.

    Porém, como dito acima e como já explicado por Mises (teorema da regressão), o dinheiro sempre surgirá naturalmente no mercado. E é a partir daí que ele evoluirá até sua presente forma. O dinheiro de papel monopolizado pelo estado só existe e é aceito porque ele começou tendo lastro em commodities (ouro e prata). E se manteve assim até o dia em que tal laço foi totalmente cortado.

    Não fosse esse histórico, uma moeda de papel criada do nada pelo governo jamais seria aceita, simplesmente porque ela não teria qualquer base histórica para ajudar a fazer o cálculo de preços.

    Esqueci de linkar no meu comentário anterior o seguinte artigo, que ajuda a esclarecer essa questão:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=209
  • Fernando  29/01/2011 04:45
    Realmente estou com uma dificuldade tremenda de ver o sistema monetário funcionando, Se vc puder indicar qualquer coisa (video, texto de internet, livro, audio, nome de pessoas) , ou palavras-chave para pesquisa eu realmente ficaria muito agradecido. Dinheiro é uma coisa engraçada, todo mundo quer e ninguém sabe o que é.
  • Fernando  13/02/2011 16:15
    Oi, gostaria de saber onde que o Tesouro Direto entra nessa história, se é no mercado primário unindo investidores de pessoa física com o Tesouro ou se é no mercado secundário no mercado aberto.
    E tendo respondido isso queria saber como isso se relaciona com a seguinte afirmação extraída do site do Tesouro:
    "Ao investir no Tesouro Direto você está, ao mesmo tempo, garantindo seu futuro e fortalecendo a economia do País"
    "haverá um aumento considerável na formação de poupanças de longo prazo".

    Muito Obrigado
  • Leandro  13/02/2011 16:54
    Prezado Fernando, o Tesouro Direto atua no mercado primário.

    Quanto às afirmações extraídas do site do Tesouro, aquela que diz que você está "fortalecendo a economia do País" trata-se de óbvia desinformação governamental; propaganda falsa mesmo. A intenção é dizer que, ao ajudar a financiar a gastança do governo (isto é, ao emprestar dinheiro para o governo cobrir seu déficit), você estará melhorando a economia do país.

    Algo que obviamente não faz sentido, pois você estaria melhorando a economia do país caso estivesse emprestando sua poupança para investimentos privados produtivos, e não para o governo poder pagar seus funcionários e seus grupos de interesse favoritos. Ao emprestar dinheiro para o governo, e consequentemente alimentar sua gastança, você está destruindo a economia do país, pois, dentre vários outros males, os gastos do governo provocam escassez de bens disponíveis para o consumo dos cidadãos comuns, aumentando os preços destes.

    Quanto ao "garantir seu futuro", a ideia é dizer que, ao aplicar em títulos do governo, você terá rendimentos garantidos, o que é verdade -- dado que o governo, que tem o poder da tributação, sempre poderá arrancar dinheiro de terceiros para quitar esse empréstimo que você fez a ele. (Sendo essa outra consequência maléfica dos gastos do governo: a necessidade de maior tributação).

    Quanto à "formação de poupança de longo prazo", você de fato terá mais dinheiro no futuro, como dito acima; mas esse seu dinheiro futuro estará sendo arrancado do setor produtivo da sociedade. Ou seja, a sua melhora financeira se dará por meio da piora de terceiros, que são aqueles que estão sendo tributados para quitar a dívida do governo para com você. Portanto, a sua poupança financeira aumenta; mas a poupança de todo o resto da população diminui.

    Ademais, como dito, o fato de você dar dinheiro para o governo sair gastando significa que haverá menos bens disponíveis para o consumo. E isso por dois motivos:

    1) Ao emprestar para o governo um dinheiro que você poderia emprestar para o setor produtivo, você encarece os juros. Isso impede investimentos que aumentariam a quantidade de bens disponíveis na economia;

    2) Ao dar dinheiro para o governo sair gastando, esse consumo do governo irá reduzir a quantidade de bens disponíveis na economia para o consumo das pessoas, amplificando o problema do item 1.

    Portanto, não há escapatória: financiar o governo de modo algum pode aumentar a poupança da sociedade.

    Logo, o site do Tesouro está mentindo descaradamente -- embora de maneira consciente, pois sua função é despertar algum espírito patriótico nas pessoas e, por meio disso, conseguir dinheiro.
  • Leandro Rousselet  29/03/2012 17:07
    Ola parabens pelo artigo, muito esclarecedor. Mas algumas coisas nao ficaram clara para mim:
    - Depois que o Banco Central compra os titulos publicos dos bancos, o tesouro ainda tem que compra-los do Banco Central na data do vencimento? Pergunto isso pois em caso afirmativo a recompra dos titulos por parte do tesouro iria reduzir a quantidade de moeda na economia, correto?
    - E' possivel, pelo menos em teoria, que o Banco Central numa tentativa de elevar os juros, venda todos os titulos publiicos em sua posse e fique impossibilitado de continuar atuando no mercado com o objetivo de elevar os juros uma vez que esse ja tera se desfeito de todos os titulos em sua posse? Nesse caso, quais seriam as outras alternativas? Elevacao do compulsorio?


    E tambem gostaria de saber se existe alguma leitura recomendada sobre essa questao.

    Obrigado desde ja.
  • Leandro  29/03/2012 17:36
    Xará, obrigado.

    1) Quando os títulos estão em posse do BC, eles continuam coletando juros normalmente. Isso mesmo, o Tesouro coleta impostos e os repassa ao BC. É uma entidade estatal alimentando outra entidade estatal com o nosso dinheiro. Porém, quando um título em posse do BC vence, ele simplesmente rola este título. Como especificado pela Lei de Responsabilidade Fiscal, artigo 39:

    Art. 39. Nas suas relações com ente da Federação, o Banco Central do Brasil está sujeito às vedações constantes do art. 35 e mais às seguintes:

    I - compra de título da dívida, na data de sua colocação no mercado, ressalvado o disposto no § 2o deste artigo;

    § 2o O Banco Central do Brasil só poderá comprar diretamente títulos emitidos pela União para refinanciar a dívida mobiliária federal que estiver vencendo na sua carteira.

    Se o Tesouro recomprasse o título, de fato haveria uma redução da oferta monetária. Mas isto não seria problema algum, pois o BC poderia imediatamente utilizar este dinheiro para comprar mais títulos em posse do sistema bancário, restabelecendo assim a oferta monetária anterior.


    2) Possível, é. Mas é bastante improvável. Mesmo porque o BC também pode vender outros ativos, como reservas internacionais, ouro ou qualquer outro papel que os bancos aceitem. Ademais, ele pode criar dinheiro quando quiser para adquirir novos títulos em posse dos bancos. Porém, caso este seu cenário extremo de fato ocorresse, e o BC nada mais tivesse para vender, aí sim, sobraria a elevação do compulsório e também da taxa de redesconto.


    3) Bom, eu recomendaria os seguintes artigos:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=311
    www.mises.org.br/Article.aspx?id=961
    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1108
    www.mises.org.br/Article.aspx?id=593
    www.mises.org.br/Article.aspx?id=705


    Abraços!
  • Leandro Rousselet  29/03/2012 18:06
    Ta' legal.. Muito obrigado, acho que entendi. Mas sendo assim toda expansao monetaria esta lastreada por titulos publicos?
    E de novo, considerando um caso de extrema auteridade onde o que o tesouro paga ao Banco Central seja muito maior do que as compras de titulos por parte do Bacen, nao iriamos ter uma constante reducao da oferta monetaria atraves do tempo? Ainda que o Banco Central comprasse novos titulos, uma hora os titulos estariam quase todos fora do mercado. E isso nao seria bastante danoso? Entendo que uma uma reducao da oferta monetaria causada por uma desalavancagem do sistema em funcao de taxas de juros arificialmente baixas e' benefico para economia, mas a principio tambem me parece bastante danoso uma reducao constante da oferta monetaria durante um longo perido.

    Obrigado de novo e parabens pelo trabalho de todos voces do Mises Brasil.
  • Leandro  29/03/2012 19:56
    "Mas sendo assim toda expansao monetaria esta lastreada por titulos publicos?"

    Correto. Toda ela. Por isso que dizem que nosso dinheiro é baseado em dívida. E é verdade.

    "E de novo, considerando um caso de extrema auteridade onde o que o tesouro paga ao Banco Central seja muito maior do que as compras de titulos por parte do Bacen, nao iriamos ter uma constante reducao da oferta monetaria atraves do tempo?"

    Sim, muito embora, como dito acima, não haveria motivo algum para isto ocorrer. O BC rola os títulos vincendos em sua posse.

    "Ainda que o Banco Central comprasse novos titulos, uma hora os titulos estariam quase todos fora do mercado. E isso nao seria bastante danoso?"

    Não entendi muito bem o que você quer dizer com "títulos fora do mercado". Porém, no extremo, se o BC ficar sem títulos, ele perde um terço de sua capacidade de fazer política monetária restritiva. Sobram o compulsório e a taxa de redesconto (embora essa exerça pouca influência).

    Por fim, redução constante da oferta monetária de fato não é algo benéfico para a economia e, por motivos óbvios, não é algo perseguido por nenhum BC como político de longo prazo.

    Grande abraço e obrigado pelos elogios!
  • Pedro Valadares  05/06/2012 12:48
    Leandro, com relação a questão de se é possível haver juros baixos e inflação baixa, infiro, pelas informações que compreendi do texto, que é sim possível. Basta que os juros baixem por conta de uma baixa no oferta de títulos, ou seja, por conta de um orçamento equilibrado do governo.

    quanto menos títulos houver e quão mais confiável for o planejamento orçamentário do governo mais baixo serão os juros, como acontece com a Alemanha, por exemplo.

    Faz sentido?
  • Leandro  05/06/2012 13:15
    Essa é uma das maneiras, Pedro. Mas há outra tão ou mais efetiva quanto: reduzir ao máximo a expansão monetária.

    Algo que muita gente confunde -- especialmente economistas -- é que, no longo prazo, quanto menor o crescimento da quantidade de dinheiro, menores serão as taxas de juros. Pense nos juros como a diferença entre a quantidade de dinheiro que você pega emprestado e a quantidade de dinheiro com o qual você paga o empréstimo. Quanto menor estiver sendo a taxa de crescimento da quantidade de dinheiro, menores terão de ser os juros. Afinal, em uma economia com quantidade de dinheiro fixa, seria irrealista você exigir, por exemplo, juros de 50% ao ano. Sem que tenha havido crescimento na quantidade de dinheiro, o devedor simplesmente não terá como pagar essa quantia. Por outro lado, se a quantidade de dinheiro crescer, por exemplo, 200% em um ano, pagar uma taxa de juros de 50% acaba sendo moleza.

    E o mesmo é válido para a base monetária e a SELIC. Quanto menor for o crescimento das reservas bancárias (que é um componente da base monetária), menor será, no longo prazo, a taxa de juros para empréstimos interbancários, taxa essa que é justamente a SELIC. Um ótimo exemplo prático disso é o Japão, que tem crescimento nulo da base monetária desde 2003, e sua "taxa SELIC" é de zero.

    Outro exemplo eram os juros nominais astronômicos da década de 1980 e primeira metade da década 1990 no Brasil, quando a inflação anual frequentemente ultrapassava os 1.000%.

    Aliás, é justamente isso que está acontecendo atualmente no Brasil. As reservas bancárias (um dos componentes da Base Monetário) vem apresentando um crescimento historicamente baixo. Como consequência, a SELIC também está em níveis historicamente baixos. O BACEN começou a estabilizar a taxa de crescimento da oferta monetária em janeiro de 2011. Ao fazer isto, a reação inicial dos juros foi a de um aumento. Os juros aumentaram por causa desta repentina "secagem" da fonte de dinheiro. Porém, com o tempo, por não mais estar havendo aumento da oferta monetária, as taxas de juros começaram a cair.

    Ou seja, a SELIC começou a subir e subiu até julho de 2011, exatamente como explica a teoria. Passado este período, ela começou a cair e continuará caindo enquanto for mantida a atual política de baixa expansão monetária.

    Por fim, note que Suíça e Japão sempre apresentaram juros nominais irrisórios e inflação de preços quase nulas, justamente porque não há expansão monetária (embora a Suíça tenha ligeiramente revertido esta sua postura quase secular após a crise de 2008).

    Abraços!
  • Stefan Carrão Pinto  24/04/2013 17:04
    Leandro
    Sou advogado, sem nenhum conhecimento de economia, e, mesmo após reler algumas vezes o texto, continuo com dificuldades para entender o processo de balizamento para manipular a taxa de juros interbancários.
    Enfim, não consigo entender a curva de rendimentos (nem mesmo o que significam os eixos horizontal e vertical do gráfico) e a relação entre a taxa de juros (rendimento) do título e a taxa de juros interbancários (Selic).
    Você poderia relevar minha dificuldade e me dar uma explicação mais fundamental?
    Obrigado.
  • Leandro  24/04/2013 17:17
    Prezado Stefan, pode ignorar o gráfico. Ele não é importante para entender o funcionamento da SELIC. Sugiro a primeira parte deste artigo:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1574
  • Stefan Carrao Pinto  24/04/2013 18:32
    Para você ver como eu ando ansioso em beber dessa fonte, eu estava lendo esse artigo que você me recomendou agora, mas interrompi porque ele me levou a outro (www.mises.org.br/Article.aspx?id=1387) que me levou a este aqui. Vou retomar o recomendado.
    Muito obrigado.
  • Allan   04/05/2013 18:43
    Leandro, primeiramente, parabéns por este e por todos os seus artigos. Estou aprendendo muito através dos seus textos. Tenho uma dúvida meio besta, digna de um completo ignorante em economia, mas que vem me intrigando profundamente. Você disse que o BC é capaz de contrair a base monetária da economia simplesmente vendendo títulos públicos no mercado secundário. Porém, estava lendo sobre base monetária e verifiquei que o agregado monetário M2 leva em consideração também títulos do governo em poder do público, segundo li no Wikipédia(pt.wikipedia.org/wiki/Base_monet%C3%A1ria). Ora, se o BC, ao mesmo tempo em que gera um débito nas reservas bancárias, aumenta a quantidade de títulos públicos em posse dos bancos, a base monetária não deveria permanecer inalterada (já que o M2 estaria crescendo, em contrapartida)? Sei que estou provavelmente errado, mas gostaria que você me esclarecesse quanto a essa questão.

    Muito obrigado.
  • Leandro  04/05/2013 19:00
    Prezado Allan, essa definição de M2 está errada. E o próprio artigo da Wikipédia sabe disso. Veja que, mais abaixo, na seção "No Brasil", no sub-item "Conceitos Atuais", a definição correta e atual é apresentada.

    M2 = M1 + depósitos especiais remunerados + depósitos de poupança + títulos emitidos por instituições depositárias

    Obs: os depósitos especiais não existem mais; eles foram criados temporariamente durante o Plano Collor, mas já foram abolidos há muito tempo.

    Já os "títulos emitidos por instituições depositárias" englobam os depósitos a prazo, depósitos de reaplicação automática, as letras de câmbio, as letras imobiliárias e as letras hipotecárias.

    Já a base monetária é apenas o papel-moeda (cédulas e moedas metálicas) emitido mais as reservas bancárias.

    Abraço!
  • Allan  04/05/2013 19:54
    Muito obrigado! Dúvida esclarecida. Sendo o artigo de 2009, confesso que postei meio sem esperança de que fosse responder, haha... Uma última dúvida: essa atitude do BC, de tentar encurtar a base monetária via venda da dívida pública para bancos privados, não seria apenas um paliativo, considerando-se que esses bancos passarão a ter mais dinheiro do que tinham antes tão logo esses papéis sejam resgatados pelo Tesouro? Não sei se fui claro. O que quero dizer é que os bancos a quem o BC vende títulos do governo irão revender esses mesmos títulos no momento oportuno, certo? Portanto, é correto afirmar que esse artifício do BC para manipular a base monetária fracassa totalmente em atingir o seu objetivo, uma vez que as reservas bancárias e consequentemente a oferta de dinheiro na economia CRESCERÃO no longo prazo, em vez de diminuir, com a venda dos papéis?

    Obrigado pela atenção
  • Guilherme  18/05/2013 18:12
    Leandro,

    só mais uma dúvida: e o que seria então o CDI? Por que ele difere da Selic?

    Obrigado.

    Abs,
    Guilherme
  • Conservadorismo  26/05/2013 01:00
    "E o responsável por conseguir esse financiamento é o Tesouro Nacional. O Tesouro pode se financiar apenas com a emissão de títulos (ele não tem o poder de imprimir moeda, como tem o Banco Central - que ainda não entrou na história). Quando a arrecadação de impostos é insuficiente para cobrir os gastos do governo, o Tesouro tem de emitir títulos para conseguir mais dinheir"

    "'Prosseguindo. O Tesouro precisa emitir títulos - isto é, precisa se endividar - para conseguir financiamento. Quem compra esses títulos? Em sua maioria, bancos (também chamados de 'intermediários financeiros', no jargão politicamente correto)."


    Então,a existência de Bancos Públicos é um fator INQUIETANTE para a economia. Isso não deveria ser coibido, já que a instituição governo atua em ambos os elos? Não seria, a grosso modo, como se o governo pudesse injetar, novamente, dinheiro diretamente no sistema? Não seria uma fonte inesgotável de financiamento? Pelo menos, é isso que entendi. Os Bancos privados,em teoria, poderiam deixar de comprar os títulos do governo, ou pelo menos, deixa-los menos atraentes para venda. Por consequência os Bancos Públicos desvirtuam os preços, pois o fator impeditivo do "controle" exercido pelos Bancos Privados é atenuado. Caso esteja errado me corrija.
  • Leandro  26/05/2013 11:08
    Correto. Um dos motivos de o Plano Real ter dado certo foi a privatização dos bancos estatais, que eram genuínas usinas de expansão monetária, pois eram utilizados por seus respectivos governos como fonte fácil e farta de financiamento. Estes bancos operavam praticamente sem lei e sob ordens de seus governos estaduais, criando meios de pagamento a rodo apenas para financiar seus descalabros. Os desvalidos de todo o resto do país pagavam a conta

    Os melhores exemplos eram o Banespa e o BANERJ. A dupla Quércia-Brizola punha fogo nessas instituições, fazendo-as conceder empréstimos para apaniguados políticos, para estatais deficitárias e, principalmente, para seus vorazes governos estaduais, ao mesmo tempo em que esses próprios bancos incorriam em déficits vultosos. E quem socorria esses bancos era o Banco Central, que injetava dinheiro neles sempre que necessário, aditivando a expansão monetária. Não à toa, a inflação só passou a ser menor após esses bancos terem sido tirados da órbita de seus governos estaduais.

    Mas a Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil, o Banco Meridional, o Banco da Amazônia, o Banco do Nordeste, o os bancos estaduais de Santa Catarina, Ceará, Goiás, Pará, Alagoas, Minas Gerais, Mato Grosso, Bahia, Acre e Maranhão não ficavam atrás. Todos aprontavam e recebiam vultosas injeções do Banco Central. Os bancos estaduais não tinham de prestar contas a ninguém. Sua gerência política fazia a farra com os recursos, o Banco Central imprimia o dinheiro para cobrir a farra e o resto da população sofria as consequências da libertinagem.

    Toda esta depravação, felizmente, foi interrompida durante a segunda metade da década de 1990. Sem esta medida, dificilmente a inflação de preços cairia para menos de um dígito.
  • Melanie S.  18/06/2013 17:22
    Nos livros texto de macroeconomia, há menção a duas possibilidades de financiar o déficit do governo. Segundo alguns autores, o Banco Central pode imprimir moeda e comprar títulos do Tesouro ou esse pode vender seus títulos ao setor privado. A primeira forma provoca inflação de preços, mas não endivida o governo, pois ele imprimiu o dinheiro que precisava. A segunda forma endivida o governo, mas não gera pressões de preços (exceto aquelas que foram provocadas quando do excesso de gastos públicos), pois o governo não estará criando moeda.

    Após ler o artigo acima, eu acredito que a primeira forma de financiamento só exista na teoria, confirma? A descrição parece coincidir com aquela, muitas vezes mencionada nesse site, que gera hiperinflação, pois o governo consegue jorrar dinheiro diretamente na economia.

    Também fiquei na dúvida sobre como o governo harmoniza esse processo todo na prática. O governo precisa financiar seu déficit, então o Tesouro emite e vende títulos aos bancos. Essa ação pressiona a taxa de juros para cima. Para manter a SELIC no patamar estipulado pelo COPOM, o BACEN vai e compra os títulos de volta?... aí, aumenta o déficit em ato contínuo? Santa confusão, Batman.

    Estou perdidinha, hahaha.
  • André  20/08/2013 20:24
    O que eu não consigo entender é como os bancos emprestam dinheiro que não existe. De fato, existem os depósitos compulsórios do banco central que separam 30% do valor total de depósito feito por um correntista, para emprestar aos deficitários. Com isso o banco consegue multiplicar o dinheiro, garantindo assim o empréstimo ou o saque dos superavitários!

    Estou errado? Quem puder explicar, agradeço!
  • Leandro  20/08/2013 20:36
    Explicado em detalhes aqui:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1387

    Tenha em mente que:

    1) (quase) tudo são dígitos eletrônicos. Praticamente não há dinheiro físico envolvido;

    2) Bancos criam dígitos eletrônicos do nada. Não apenas eles têm autorização do governo para fazer isso, como também são incentivados por ele a fazer isso.
  • anônimo  11/09/2013 13:19
    Dúvida: por que os bancos e outras empresas são obrigados a seguir a taxa de juros estipulada pelo banco central?
  • Leandro  11/09/2013 13:35
    Ninguém é obrigado a seguir a SELIC. A SELIC é simplesmente a taxa de juros que os bancos cobram entre si quando realizam empréstimos no mercado interbancário. Todas as outras taxas de juros da economia são maiores que a SELIC (exceto a taxa de juros cobrada pelo BNDES quando empresta dinheiro para suas empresas favoritas; esta somos todos nós que pagamos).

    Não há nenhuma obrigação, de nenhuma empresa, de seguir a SELIC. A SELIC é apenas uma espécie de piso. Todas as outras taxas de juros vigentes na economia são maiores (algumas, muito maiores) que a SELIC.
  • anônimo  11/09/2013 19:00
    Entào por que os bancos seguem essa taxa?
  • Leandro  11/09/2013 19:10
    Bancos não "seguem" esta taxa. Esta taxa é resultante da interação entre os bancos no mercado interbancário.

    Leia ao menos a primeira parte deste artigo:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1574
  • Pensador Ancap  12/12/2022 02:06
    Leandro as taxas dos Títulos do Tesouro são menores do que a selic e aumentam quando a mesma sobe e diminui quando a mesma desce de patamar...Por que elas são menores e variam com a selic?
  • Trader  12/12/2022 12:36
    Mas isso não é verdade. Até ocorre em momentos específicos do ciclo econômico (como agora), mas, normalmente, tanto as prefixadas quanto o Tesouro IPCA são maiores que a SELIC (o Tesouro IPCA, obviamente, é maior que a Selic quando se considera a soma do IPCA com a taxa fixa do título).

    No momento, os prefixados estão menores que a SELIC porque todos dão como certo que a SELIC já atingiu o pico, e que, daqui para frente, ela irá cair.

    Consequentemente, as prefixadas, já antecipando este movimento, já estão menores.
  • Pobre Paulista  11/09/2013 15:54
    anon,

    Como o Leandro disse, a selic serve para regular a taxa de juros que os bancos cobram entre si nos ajustes monetários que são realizados no final de cada dia. Não existe a princípio um "Número mágico" para essa taxa, ou seja, a princípio ela flutua livremente, porém o banco central intervém comprando ou vendendo de maneira a forçar que as taxas de juros negociadas fiquem *próximas* à taxa referencial da selic.

    Por isso que, apesar de não haver uma obrigação de se seguir a taxa selic, isso acaba se tornando uma consequência inevitável.
  • anônimo  24/09/2013 12:55
    Se essa taxa influencia só nos ajustes monetários entre os bancos, então porque os ciclos econômicos?
  • Leandro  24/09/2013 13:04
    Porque quanto mais dinheiro o BC injeta nos bancos para reduzir os juros, mais os bancos têm dinheiro para expandir o crédito. É a expansão do crédito, e não o valor dos juros, o que dá toda a sustentação aos ciclos econômicos.

    A expansão do crédito gera um aumento da oferta monetária na economia. Só que este aumento não ocorre de maneira uniforme. Sempre há aqueles setores que recebem esse novo dinheiro antes do resto da economia. E esse dinheiro recém-criado que entra primeiramente em determinados setores da economia altera toda a estrutura de preços da economia; altera todos os preços relativos. Se o dinheiro recém-criado vai primeiramente para o setor imobiliário, por exemplo, a estrutura de preços da economia fica distorcida em relação a este setor, fazendo com que investimentos nesse setor aparentem ser mais vantajosos, mais lucrativos, pois os preços estão sempre subindo.

    O que interessa são as expectativas de lucros. O que afeta uma decisão de planejamento é a expectativa de lucros. E se os lucros propiciados por um investimento forem maiores do que os juros cobrados sobre os empréstimos para esse investimento, tal investimento é vantajoso.

    Há vários artigos sobre isso no site. É o básico do básico.
  • anônimo  24/09/2013 13:51
    Obrigado, agora ficou esclarecido.
  • jany  11/09/2013 14:52
    Tem algum artigo aqui no site que fale sobre a TR, já procurei na internet mas não consegui entender quem e como a calcula... sei apenas que ela vai auxiliar no endividamento maior daqueles que possuem contratos com a CEF e houve um tempo em que muitos acreditavam que ela se manteria zerada por longos anos (coisa de PT).
  • Leandro  11/09/2013 15:11
    Não há muito o que dizer. A TR -- Taxa Referencial -- nada mais é do que a taxa média mensal dos CDBs prefixados de 30 dias das 30 maiores instituições financeiras do país. Só isso.

    Explicando melhor: pega-se os CDB das 30 maiores instituições financeiras do país, com prazo de 30 dias, e calcula-se a sua média mensal (trata-se de uma média ponderada, na qual as duas maiores e as duas menores taxas médias são eliminadas). Pronto.

    Sobre este valor é aplicado um redutor que torna a correção menor, deixando-a mais compatível com os juros do Sistema Financeiro da Habitação. É tudo intervenção pura. E feita diariamente.
  • Gabriel Passos  03/03/2014 18:10
    Qual é a relação do aumento e da diminuição da Selic com a entrada e a saída de dólares do Brasil?
  • Leandro  03/03/2014 18:24
    Em tese, quanto mais alta a SELIC, maior a atratividade de dólares (juros mais altos atraem mais capital estrangeiro especulativo).

    Mas tal relação nem sempre é direta. Por exemplo, se a SELIC subir menos do que havia sido previsto, pode haver uma saída de dólares, pois os especuladores podem achar que a autoridade monetária não está levando muito a sério seu dever de manter o poder de compra da moeda. Neste caso, devido às expectativas de maior desvalorização do real, se os especuladores mantivessem seu dinheiro aqui eles perderiam ao futuramente fazer a conversão de reais para dólares a uma taxa de câmbio mais depreciada.
  • Emerson Luis, um Psicologo  15/03/2014 19:14

    Bem explicado. Mas pode-se pensar se toda essa complexidade é realmente necessária e se não poderia ser mais simples. É uma sequência infindável de construtos abstratos alicerçados em outros construtos abstratos.
  • Carlos Marcelo  18/04/2014 22:59
    Eu lembrei que algum texto do IMB sobre a SELIC falava sobre algo como "acomodação creditícia", mas não achei nesse artigo. Vocês lembram em qual se falava sobre isso?
  • Felipe  02/07/2014 20:45
    Leandro,

    Por que o BACEN não simplesmente "obriga" os bancos que estão com saldo negativo a emprestarem dinheiro do BACEN (como o redesconto) à um juros estipulado por eles (que seria da SELIC)?
  • Leandro  02/07/2014 21:50
    Não entendi.
  • Bruno  04/08/2014 18:15
    Como a SELIC influencia o leilão do mercado primário? Parece que quanto maior é a SELIC, menor é o valor dos títulos que o Tesouro vende no mercado primário. Mas não entendi como essa relação ocorre.


  • Leandro  04/08/2014 19:56
    Quanto menos você pagar por algo e quanto mais receber em retorno, maiores estarão sendo os juros pagos para você. Mais vantajoso será aquele investimento.

    Logo, quanto maior a SELIC, maiores os ganhos para cada real investido em títulos públicos.

    Não sei se dá pra ser mais claro do que isso.
  • Bruno  04/08/2014 20:50
    Acho que você entendeu mal a minha pergunta ou eu a elaborei de forma ininteligível. Sua resposta fez eu me sentir como um chipanzé e não corresponde à duvida que tentei exprimir.

    Eu quero entender a relação da SELIC vigente durante um leilão do Tesouro, com o valor dos juros que o mercado primário aceitará receber como rentabilidade. Um exemplo ilustrativo não condizente com a realidade, para facilitar:

    Hoje, 04/08/2014, às 9:00 o BC decretou que a taxa SELIC fosse 1%. Hoje, 04/08/2014, às 15:00 o Tesouro Nacional realizou um leilão de títulos e conseguiu vender uma LTN cujo valor de face é de 1000 reais por 950 reais, sendo que a taxa SELIC se manteve a mesma durante a realização do leilão.

    Amanha, 05/08/2014, às 9:00 o BC decretará que a taxa SELIC seja 300%. Amanha, 05/08/2014, às 15:00 o Tesouro Nacional realizará um leilão de títulos e conseguirá vender uma LTN cujo valor de face é de 1000 reais por 600 reais, sendo que a taxa SELIC se manterá a mesma durante a realização do leilão.

    Ou seja, quanto maior a SELIC maior será a exigência do mercado primário em receber maiores rentabilidades(juros) nos títulos que ainda serão leiloados.

    Em suma, como a SELIC influência a disposição do mercado primário em receber determinada rentabilidade nos títulos, sendo quanto maior a SELIC, maior a exigência do mercado primário em receber maiores rentabilidades?

    Essa relação torna-se óbvia aqui:

    www.tradingeconomics.com/charts/united-states-government-bond-yield.png?s=usgg10yr&d1=19710101&d2=20141231&URL2=/united-states/interest-rate&type=line&title=UNITED%20STATES%20GOVERNMENT%20BOND%20YIELD%20|%20%20UNITED%20STATES%20INTEREST%20RATE

    www.tradingeconomics.com/charts/united-kingdom-government-bond-yield.png?s=gukg10&d1=19800101&d2=20141231&URL2=/united-kingdom/interest-rate&type=line&title=UNITED%20KINGDOM%20GOVERNMENT%20BOND%20YIELD%20|%20%20UNITED%20KINGDOM%20INTEREST%20RATE

    Quero entender como essa dependência se dá.

    Obrigado.




  • Leandro  04/08/2014 22:16
    A dependência é simples. Se a SELIC está em 11% e o BC decreta que amanhã ela passará a ser de apenas 1%, isso significa que o valor dos títulos em posse dos bancos aumentou subitamente. Isso significa que o BC agora está pagando muito dinheiro por esses títulos.

    Ato contínuo, os bancos irão vender seus títulos para o BC, que agora está pagando caro por esses títulos. Todos os bancos que têm títulos públicos irão vender estes títulos para o BC e, no processo, auferirão lucros exorbitantes. Da mesma maneira, nenhum banco irá querer comprar títulos do BC, pois estes agora ficaram muito caros. Logo, a base monetária vai explodir.

    Neste cenário de SELIC a 1%, não faz sentido o Tesouro fazer leilões de títulos públicos a juros maiores que 1%; o Tesouro não precisaria cobrar pouco pelos seus títulos, pois agora eles ficaram bem mais caros. (Ele até poderia fazer isso, mas seria uma burrice extremada).

    Para ficar mais claro, em vez de raciocinar em cima de títulos públicos, raciocinemos em cima de dólares. Hoje o dólar está a R$2,25. Imagine que o BC diga que, amanhã, irá comprar e vender dólar a R$10 (que é o equivalente ao que ocorreria com os preços dos títulos caso houvesse uma redução brusca da SELIC). O que aconteceria?

    Ora, todos os bancos iriam vender dólares para o BC, e ninguém iria comprar dólares dele. A quantidade de reais em posse dos bancos iria explodir.

    Nesse cenário, se o Tesouro quisesse fazer um leilão de dólares -- que, nesse exemplo, está fazendo o papel de títulos públicos --, ele não precisaria vender dólares por menos do que R$9,99. Basta apenas que ele não venda a R$10,01, pois aí os bancos prefeririam comprar do BC, que vende por R$10.

    Observe que, a partir do momento em que uma agência com poder de criar dinheiro do nada (o BC) estipula o valor pelo qual irá comprar ou vender um determinado bem (títulos públicos ou dólares), este preço passa a estar travado. Não tem como você vender esse bem por um valor maior do que o estipulado pelo BC, e não tem como você comprar por um valor menor.

    Se o BC se dispõe a pagar R$10 pelo dólar, não tem como você comprar dólares por R$9,99 (pois quem tem dólares irá preferir vendê-lo ao BC por R$10), e não tem como você vender dólares a R$10,01 (pois o comprador preferirá comprar do BC por R$10).

    O raciocínio com os títulos públicos, cujo preço é estipulado pelo BC via SELIC, é idêntico.

    Por outro lado, suponha agora que a SELIC é de 11% e o BC decreta que, amanhã, ela será de 300%.

    O que ocorrerá? Faça o exercício mental e você verá que o raciocínio será rigorosamente o mesmo, só que com efeitos contrários: os bancos comprarão títulos do BC (que agora estão baratinhos), os bancos não venderão nenhum título ao BC (pois tomariam prejuízo se fizessem isso, dado que compraram títulos a preços mais altos do que os agora vigentes), a base monetária irá se contrair, e o Tesouro terá de leiloar títulos baratinhos, pois o preço baixo dos títulos está "travado" pelo BC.
  • Luciano  01/11/2014 01:05
    "Quando o Banco Central realiza compras no mercado aberto, ele expande a base monetária. Como? Grosso modo, ele aperta um botão no computador e acrescenta alguns dígitos na conta (as reservas compulsórias) que o banco que está vendendo os títulos possui junto ao Banco Central. De onde veio esse dinheiro? De lugar nenhum. O Banco Central o criou do nada. Nenhuma outra conta foi debitada. A base monetária expandiu magicamente. Nesse caso, as reservas desse banco aumentaram, o que o permitirá conceder empréstimos a juros menores no mercado interbancário. Como isso está ocorrendo simultaneamente com vários bancos, os juros do interbancário caem. Logo, a taxa SELIC caiu."

    Como ele aumenta as reservas compulsorias do banco? Elas não são reservas "físicas", ao passo que o banco não cria depósitos do nada?
  • pensador esclarecido  04/12/2014 18:34
    Resumo da ópera: Governo gastador e irresponsável é gerador de crises...
    GOVERNO SÉRIO E RESPONSÁVEL GERA PROSPERIDADE PARA TODOS...
    O cerne da crise e o causador de ciclos econômicos é a politica fiscal,a política monetária ou uma combinação das duas a causa de de tantas crises.
  • Carlos Garcia  16/12/2014 15:22
    Primeiro, não sei ao certo se este é o melhor artigo para postar essa dúvida.

    Recentemente as negociações de letras do tesouro nacional foram suspensas devido a "alta volatilidade"
    www.infomoney.com.br/onde-investir/renda-fixa/noticia/3753265/tesouro-direto-volta-ser-negociado-apos-suspensao
    Gostaria de entender melhor o porquê. Ao meu ver, se os preços despencam, significa que:

    (a) a oferta está alta. Neste caso suponho que seriam os títulos que não estão em posse dos bancos que estavam se acumulando e agora seus donos estão tentando realizar lucros em massa . Entendo que para manter os juros baixos o bc iria pagar caro por títulos em posse dos bancos. Como o preço caiu, suponho que os titulos disponíveis não estejam, em sua maioria, com bancos.

    (b) a demanda esta baixa (bc não estaria comprando tanto, o que acho improvável, dada a atual política de baixos juros do governo. a não ser que eles trnham mudado isso). Ou então que o bc ja tenha atingido sua meta para a SELIC, e que agora não tem mais interesse em comprar mais. Por isso os preços baixos.

    Não acompanho de perto essas negociações. Apenas queria entender como a atual política monetária conseguiu causar uma bagunça tão grande no mercado da dívida do próprio governo.
  • ronaldo  16/12/2014 16:10
    Os títulos pos fixados como LTN tem um Valor Futuro fixo, de R$1000. A pegadinha esta aí, quando o governo aumenta os juros ou ocorre perturbações nos juros futuros, o Valor Presente desse titulo cai, o contrario também, se os juros caem o valor presente desses títulos sobem fortemente. Por isso é possível lucrar muita grana no curto prazo com rentabilidades absurdas

    investidorderisco.blogspot.com/2012/05/tesouro-direto-renda-variavel.html

    Quando ha muitas pertubacoes geopolíticas e economicas, é normal essa suspensao
  • Leandro  16/12/2014 16:48
    Pelo que entendi, os preços despencaram porque, neste momento de alta incerteza, com o BC da Rússia tendo elevado os juros de 10,5% para 17% e mesmo assim o rublo se esfacelando, os investidores não viam os títulos brasileiros como seguros o bastante, e começaram a exigir juros maiores. A taxa subiu 0,8 ponto percentual.

    Aí o leilão foi interrompido.
  • Carlos Garcia  16/12/2014 17:08
    Interessante. Não tinha pensado nessa possibilidade, de que investidores demandando juros maiores acabariam fazendo essa pressão. Lembrei agora de um dos artigos que li no livro Making Economic Sense (Rothbard) aonde ele explica que a política monetária de manter juros artificialmente baixos funciona em duas "etapas":
    Primeiro, a lógica a que já estamos habituados. Expansão monetária leva a diminuição dos juros (ou vice-versa), causando inflação como um "efeito colateral".
    Depois vem naturalmente a segunda fase, que depende da percepção da inflação pelos investidores (incluindo aqui os próprios bancos, que "investem" na forma de empréstimos). Devido à expectativa de inflação futura, os juros naturalmente tendem a subir (ainda que moderadamrnte), mesmo que a política monetária do governo não seja exatamente essa.

    obs.: meu captcha
  • anônimo  20/12/2014 21:59
    Uma coisa que eu não entendi: os títulos que o BC compra/vende não são resgatados no final? Esse mecanismo não compensa a oferta monetária? Digo, se o banco central comprou um titulo do banco x, o banco x não irá devolver o empréstimo depois?
  • Leandro  21/12/2014 03:09
    "Uma coisa que eu não entendi: os títulos que o BC compra/vende não são resgatados no final?"

    Se for uma operação compromissada (em que há compromisso de recompra ou de revenda), sim. Se não, então o BC fica com o título pelo tempo que quiser. Enquanto isso, ele coleta juros sobre esses títulos, juros esses que continuam sendo normalmente pagos pelo Tesouro (ou seja, por nós).

    "Esse mecanismo não compensa a oferta monetária?"

    Afeta apenas as reservas bancárias.

    "Digo, se o banco central comprou um titulo do banco x, o banco x não irá devolver o empréstimo depois?"

    Só se a operação for do tipo compromissada. Se não for, então o banco simplesmente vendeu um título pro BC.
  • Mayko  20/01/2015 00:04
    Uma dúvida ainda permanece. Nesta parte do artigo: "Por exemplo, peguemos o compulsório vigente no Brasil: 28%. Se o Banco A, ao final do dia, tiver um total de R$ 100.000 em depósitos à vista, mas suas reservas junto ao Banco Central totalizarem apenas R$ 25.000, então ele terá de conseguir mais R$ 3.000 para "fechar seu balanço". "

    Você cita que ele pode usar o redesconto, ou pegar empréstimo com outra instituição financeira. Eu não sei se este pensamento meu é correto, mas certamente o banco A em questão deve possuir alguma conta financeira que pode se dar ao luxo de tirar alguns milhares de reais e depositar nesta conta do compulsório, não? Afinal, os bancos tem lucro e devem ter alguma conta própria onde guardam estes volumosos lucros.

    Meu pensamento é semelhante a uma pessoa física que possui reservas financeiras na poupança e precisa cobrir uma compra de 3 mil reais que a esposa gastou indo ao shopping. Ele não precisa pedir empréstimo para pagar o rombo causado pela esposa, ele retira das reservas financeiras que ele juntou com o tempo.

    No caso, o banco retiraria da conta de reserva dele que deve estar em algum lugar(no caso, no próprio banco central mesmo) e colocar na conta de compulsório. Assim, ele não precisará fazer um empréstimo. Desculpe a ignorância, mas existe algo de errado no meu pensamento?
  • Hugo  17/02/2015 01:09
    Leandro qual seria um bom link para se acompanhar a evolução da curva de juros?
  • Ed  08/03/2015 17:45
    Por que, quando o BACEN quer aumentar a SELIC, os bancos compram os títulos que ele vende?

    Há alguma vantagem específica para os bancos realizarem essa compra ao invés de comprar títulos diretamente do governo?
  • Harris  08/03/2015 20:19
    Quando o BC aumenta os juros, isso significa que ele passa a vender títulos a preços mais baixos (logo, os juros são mais altos). Logo, mais rentabilidade para o banco que comprar esses papeis.

    E isso, por sua vez, significa que o Tesouro não conseguirá vender títulos a juros menores que os estipulados pelo BC. Por que você compraria títulos que pagam juros de, digamos, 12%, se você pode comprar do BC a juros de 12,75%?

    Quando o BC eleva os juros, ninguém consegue vender papeis a juros menores que aqueles que o BC estipulou. É um controle de preços.
  • pensador barato  04/04/2015 19:22
    Leandro roque,gostaria que você me esclarecesse uma dúvida,nesses leilões entre o tesouro nacional e os dealers podemos trabalhar com a seguinte hipótese.O dealer x vai comprar R$1.000.000.000,00 em títulos no dia 06|04|2015 mas o mesmo dealer x na mesma data tem a receber do tesouro nacional o valor de R$400.000.000,00 de títulos comprados no passado,então esse dealer x vai pagar só a diferença devolvendo os títulos antigos como pagamento,é isso ou estou enganado...
  • Hugo  11/07/2015 00:25
    Leandro gostaria de perguntar algumas coisas sobre a SELIC e os agregados monetários:

    1- No caso da SELIC ela tem sua meta definida pelo COPOM,com o BACEN depois fazendo suas operações OM para aproximar a taxa efetiva da meta,porém o que vejo é que sempre a meta dos juros fica um pouco maior que a SELIC efetivada no mercado interbancário. Já que há essa regra de juros maiores acarretarem queda de preço de títulos e vice versa e a meta da SELIC é tomada como base na emissão de títulos públicos no mercado primário e a efetiva é no secundário,então a SELIC efetiva se encontrando menor que a meta seria sinal de que ainda sim o BACEN está injetando dinheiro no interbancário?

    2- Na determinação do compulsório dos depósitos à vista há um percentual obrigatório de reservas bancárias + encaixes dos bancos,porém vejo que na base monetária só está especificado as reservas bancárias,e analisando a BM e o M1 há os componentes "papel moeda emitido" e "papel moeda em poder do público",sendo que sempre há uma diferença entre esses 2 componentes (sempre o PME é maior). Os tais encaixes bancários estão nessa diferença dos 2 itens?
  • Leandro  11/07/2015 02:51
    1- O BACEN está continuamente injetando dinheiro no mercado interbancário. Para comprovar isso, basta você ver seu balancete (lado dos ativos: aumento dos títulos públicos + aumento das reservas internacionais).

    Houve apenas um momento em que o BACEN se conteve e de fato não fez (ou fez pouquíssimas) injeções no mercado interbancário: de meados de 2003 ao final de 2005. E foi exatamente nesse período que as expectativas de inflação foram quebradas, o IPCA desacelerou fortemente, e o real se valorizou acentuadamente perante todas as outras moedas do mundo.

    2- Correto.
  • Morete  05/08/2015 14:40
    Quando o Banco Central realiza vendas no mercado aberto, ele contrai a base monetária. Nesse caso, ele vende para um banco títulos do Tesouro que estavam em sua posse. Assim, haverá um débito na conta que esse banco comprador tem junto ao Banco Central.

    Leandro, os bancos são obrigados a comprar estes títulos? Pode ocorrer algum caso em que o BACEN não consiga vende-los?

    Abraços,
  • Leandro  05/08/2015 15:32
    "os bancos são obrigados a comprar estes títulos?"

    Não.

    "Pode ocorrer algum caso em que o BACEN não consiga vende-los?"

    Se isso não acontecer, os juros sobem.

    No entanto, isso nunca foi um problema. Comprar títulos do governo é o investimento mais seguro que existe, e os juros são muito bons. A alternativa a isso seria os bancos ficarem com reservas ociosas, que não rendem juros nenhum.

    Não querer comprar esses títulos seria insensato.
  • Felipe Brandão  30/11/2015 03:38
    Não são obrigados, mas "são"... Na prática, com o acordo da Basiléia, os bancos compram diversos títulos do governo pois podem mante-los em seus ativos sem qualquer aumento de capital regulatório (pois os títulos públicos não afetam o RWA do banco, afinal, são tidos como sem risco).
  • Morete  26/08/2015 16:11
    Leandro, outra pergunta.

    Saiu agora pouco, uma matéria no Valor, informando que o "Estoque de crédito bancário ultrapassa 3 trilhões em julho".

    1° - Este estoque de crédito seriam reservas que os bancos possuem para emprestar, porém não estão emprestando?

    2° - Se a resposta acima for sim, faz sentido os bancos recorrerem ao mercado interbancário quando se tem tanto estoque de crédito?

    Link da matéria: www.valor.com.br/financas/4196712/estoque-de-credito-bancario-ultrapassa-r-3-trilhoes-em-julho
  • Leandro  26/08/2015 16:35
    Não. Esse estoque é o saldo de tudo o que os bancos já emprestaram (dinheiro que eles criaram na forma de empréstimos).

    É a soma das linhas vermelha e azul do primeiro gráfico deste artigo:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=2155
  • Morete  26/08/2015 16:49
    Obrigado Leandro. Agora sim faz sentido.
    O triste é que fiz exatamente a mesma pergunta para um professor de macro e ele me respondeu que SIM, que este era o total de crédito que poderia ser emprestado e não esta sendo. E ainda me disse que Keynes foi deturpado no Brasil... ??????
  • Henrique  09/09/2015 20:56
    Estou relendo este artigo pela (sei lá) 10ª vez e sempre surge uma nova dúvida.

    Temos aquele racional que coloca preço e yield de um título público como inversamente proporcionais, o qual é válido somente para pré-fixados.

    Disso, infiro eu que é só através de títulos pré-fixados que o governo consegue fazer política monetária. Estou correto?

    Se o governo emitisse apenas títulos pós-fixados, ele perderia automaticamente o poder sobre a taxa de juros, certo?

    Se minhas inferências estão corretas, por que cargas d'água o governo emite títulos pós-fixados?
  • Leandro  09/09/2015 21:57
    "Temos aquele racional que coloca preço e yield de um título público como inversamente proporcionais, o qual é válido somente para pré-fixados."

    Não. É válido também para pós-fixados, como os títulos indexados ao IGP-M e ao IPCA (ou seja, todos os outros exceto as LFTs)

    Se você tem um desses títulos, a taxa de juros foi definida no momento do leilão e depende diretamente da SELIC. (Já o valor do IGP-M e do IPCA será pago no momento do resgate). Sendo assim, se a SELIC sobe, o valor desses títulos no mercado cai, e vice-versa.

    "Disso, infiro eu que é só através de títulos pré-fixados que o governo consegue fazer política monetária. Estou correto?"

    Não entendi a lógica. Para fazer política monetária, o BC só precisa comprar e vender ativos. Quaisquer ativos. Só isso. Havendo títulos a serem vendidos para os bancos ou atraentes para serem comprados pelos bancos, haverá política monetária.

    "Se o governo emitisse apenas títulos pós-fixados, ele perderia automaticamente o poder sobre a taxa de juros, certo?"

    A taxa de juros de curto prazo, que é a SELIC, é definida no mercado interbancário, sobre o qual o BACEN tem total influência por meio de suas contínuas injeções de dinheiro. Caso houvesse apenas títulos pós-fixados, estes ainda poderiam ser vendidos e comprados pelo BACEN.

    "Se minhas inferências estão corretas, por que cargas d'água o governo emite títulos pós-fixados?"

    Falta de confiança. Só pode se dar ao luxo de vender títulos pré-fixados governos que atual em uma economia totalmente previsível e arrumada, como a suíça e a alemã, por exemplo.
  • Henrique  10/09/2015 18:34
    Certo, mas então como funciona o mecanismo de controle de juros nos casos das NTNs vinculadas à inflação e das LFTs?

    No caso dos pré-fixados, ok, eu entendi que o controle da taxa de juros é feito através do mecanismo de oferta e demanda. O BC vende títulos (aumentando a oferta), os preços caem, logo, os juros sobem e vice-versa.

    Agora no caso das NTNs e das LFTs, até onde eu me recordo (corrija-me se estiver errado), funciona um pouco diferente:

    Ao invés de comprar um título com um valor definido de face com um deságio, compra-se o título e recebe-se o valor nominal + juros no vencimento. É isso?

    Pensando especificamente nas LFTs, que pagam a SELIC, como o governo controla a SELIC a partir de títulos que são baseados na própria SELIC?

    No caso das NTNs vinculadas aos índices de preços, parece mais confuso ainda, visto que os juros no final dependem de uma variável sobre a qual o governo se quer tem controle absoluto.

    Como funciona a marcação a mercado nesses casos?

  • Leandro  10/09/2015 20:27
    "Certo, mas então como funciona o mecanismo de controle de juros nos casos das NTNs vinculadas à inflação e das LFTs?"

    NTNs: no leilão.

    LFT: SELIC

    "No caso dos pré-fixados, ok, eu entendi que o controle da taxa de juros é feito através do mecanismo de oferta e demanda. O BC vende títulos (aumentando a oferta), os preços caem, logo, os juros sobem e vice-versa."

    Atente para os detalhes: o BC vende ativos (no caso, títulos), os bancos compram esses ativos, as reservas bancárias diminuem (na prática, o BC, por meio de um simples toque no computador, deleta dígitos eletrônicos das reservas bancárias), os juros do interbancário sobem. Esse juro do interbancário é a SELIC.

    A partir daí, todas as taxas de juros dos outros títulos vão se formando.

    "Agora no caso das NTNs e das LFTs, até onde eu me recordo (corrija-me se estiver errado), funciona um pouco diferente: Ao invés de comprar um título com um valor definido de face com um deságio, compra-se o título e recebe-se o valor nominal + juros no vencimento. É isso?"

    Sim, com o detalhe de que algumas NTNs também pagam juros semestrais.

    "Pensando especificamente nas LFTs, que pagam a SELIC, como o governo controla a SELIC a partir de títulos que são baseados na própria SELIC?"

    De novo: o governo define a SELIC por meio de operação de mercado aberto, injetando e tirando dinheiro do mercado interbancário. Essa taxa de juros do mercado interbancário é a SELIC. A partir daí, todas as outras taxas de juros vão se formando.

    "No caso das NTNs vinculadas aos índices de preços, parece mais confuso ainda, visto que os juros no final dependem de uma variável sobre a qual o governo se quer tem controle absoluto."

    Não. Os juros desses títulos são definidos no momento do leilão. Consequentemente, esses títulos pagarão os juros pré-acordados mais o índice de preços.

    Quais são esses juros? Atualmente estão por volta de 7,5%. Ou seja, o retorno total é de 7,5 + 9,5 (IPCA) = 17%. Confira aqui nesta tabela:

    www.tesouro.fazenda.gov.br/tesouro-direto-rentabilidade-acumulada
  • Gustavo  10/09/2015 23:30
    O que achei estranho é como o BC sabe quais titulos serão usados como lastro e em qual quantidade. Por exemplo, se num dia todos os bancos resolverem usar titulos com a rentabilidade muito diferente da Selic, a Selic poderá sair da banda de variação desejada neste dia.

    Somente bancos podem participar dos leilões primarios para comprar titulos? Ou seja, sempre que o Tesouro emite um titulo a quantidade de dinheiro na economia aumenta pois os bancos sempre utilizam reservas fracionarias para comprar?

    Grande abraço!
  • Leandro  11/09/2015 01:33
    "O que achei estranho é como o BC sabe quais titulos serão usados como lastro e em qual quantidade."

    Não entendi. Não é o tipo de título que irá determinar a SELIC, mas sim o dinheiro que o BC cria e destrói no mercado interbancário.

    "Por exemplo, se num dia todos os bancos resolverem usar titulos com a rentabilidade muito diferente da Selic, a Selic poderá sair da banda de variação desejada neste dia."

    De novo, é imaterial. O BC controla a SELIC por meio de injeções de dinheiro no mercado interbancário. Ele cria dinheiro nas reservas bancárias ao comprar ativos e ele deleta dinheiro das reservas bancárias ao vender ativos. Essa criação e destruição de dinheiro no mercado interbancário é o que determina o valor da SELIC.

    Qual título os bancos irão vender para o BC é imaterial. É o ato de compra e venda o que irá determinar a oferta de dinheiro no interbancário, e consequentemente o valor da SELIC.

    Não tem disso de "os bancos resolverem usar títulos com a rentabilidade muito diferente da Selic". Por que eles fariam isso? Com qual finalidade?

    No extremo, se um banco malvadão falar que só vai emprestar no interbancário a um juro muito acima da SELIC, então o outro banco que está necessitando do empréstimo simplesmente irá vender títulos para o BC e conseguir dinheiro de que necessita. O banco malvadão, ao agir assim, deixou de ganhar dinheiro com o empréstimo. Não é bom negócio.

    "Somente bancos podem participar dos leilões primarios para comprar titulos?"

    Na prática, sim.

    www.tesouro.fazenda.gov.br/leiloes

    "Ou seja, sempre que o Tesouro emite um titulo a quantidade de dinheiro na economia aumenta pois os bancos sempre utilizam reservas fracionarias para comprar?"

    Correto.
  • Alexandro Zambrana  04/10/2015 12:16
    Leandro, excelente artigo, parabéns pelo seu trabalho!

    Uma dúvida: O controle da SELIC através de operações de compra e venda de títulos no mercado aberto pelo BC pressupõe que os bancos sempre estejam dispostos a negociar estes títulos com o BC. Qual é a garantia que o BC tem de que isso ocorra? É possível que os bancos, em alguma manobra conjunta, boicotem a tentativa do BC de alcançar uma meta estabelecida?

    Obrigado.
  • Antônio  04/10/2015 14:35
    Não. O BC tem o poder de criar dinheiro para comprar os títulos que quiser por um preço que deixe os juros onde ele quer, desta maneira inundando o mercado interbancário. Qual banco vai recusar dinheiro fresco do BC, o qual lhes rende um belo lucro?
  • Alexandro Zambrana  05/10/2015 18:14
    Ok, para vender é óbvio, mas não ficou claro qual a garantia que o BC tem de que os bancos vão comprar os títulos que estão com ele
  • Tombini   05/10/2015 19:41
    Aí é mais fácil ainda: o BC vende os títulos a preços muito menores que o valor de face, de modo que o banco que os adquirir irá colher belos lucros a risco zero. Vida mais fácil não há.
  • F. Brasil  05/10/2015 01:37
    Quando o BC compra títulos expandindo a base monetária e, consequentemente, diminuindo a SELIC, isso não pode gerar inflação de preços?

    Se sim, como o BC faria para aumentar a SELIC sem expandir a base monetária?
  • Rodrigo Pereira Herrmann  05/10/2015 15:50
    A Selic é a taxa do interbancário. Ela sobe naturalmente à medida que os bancos emprestam e as disponibilidades diminuem (se tem menos dinheiro disponível, mais caro eles irão cobrar pra emprestar uns aos outros).

    Acontece que o BCB, quando isso acontece e para fazer política monetária, entra no mercado secundário comprando títulos para repor liquidez no sistema (acrescentando dígitos em Reservas Bancárias), estabilizando/reduzindo a taxa do interbancário (pois houve aumento de disponibilidades). Ao fazer isso ele permite e icentiva a expansão permanente do crédito/empréstimos, e consequentemente a inflação monetária.
  • Marcelo  14/11/2015 01:26
    Não entendi muito bem como funciona o lastro de operações overnight. Vou tentar explicar minha dúvida com um exemplo prático:

    O Banco do Brasil precisa de R$100,00 para cumprir o compulsório. Então ele pega esses R$100,00 com o Itaú e usa como lastro uma LTN que possui o valor atual de R$100,00 que está atualmente rendendo 16%. Mas os juros interbancários atuais são de 14,25%.

    Se o Banco do Brasil não pagar, ele perde o título e o título vai para o Itaú ou o título é liquidado para que o pagamento seja efetuado?

    O que determina os juros de cada operação overnight é a rentabilidade do título usado como lastro? Se sim, como tal taxa de 14,25% é obtida se praticamente nenhum título rende exatamente isso?


  • Henrique  14/11/2015 18:27
    Você está trocando as bolas, amigo.

    O rendimento dos títulos do governo em NADA tem a ver com o mecanismo que determina a taxa SELIC.

    A taxa overnight é a taxa que o Itaú irá cobrar do BB para emprestar os R$ 100. Como o BB tem a obrigação de recomprar o título no dia seguinte, o Itaú nem tem tempo de auferir os juros daquele papel que obteve em garantia.

    Att,
  • luiz  26/03/2016 11:45
    Como assim não tem a ver?
  • peruibiza  21/11/2015 14:45
    Caro Leandro, parabéns pelo didático texto. Não sou economista e tenho certa dificuldade de entender alguns processos. Diga-me se estou errado: se os Bancos são remunerados pela taxa SELIC em relação aos Depósitos Compulsórios, fica claro que quanto mais dinheiro os Bancos emprestarem para o Governo fechar as contas, melhor para o setor bancário, daí o lucro exorbitante mesmo em época de tempestade. O Governo tem lastro. Corrija-me se estiver errado: não seria mais correto a remuneração destes Depósitos Compulsórios seguirem o índice da inflação, assim como as Cadernetas de Poupança de todos nós mortais?
    É muito estranho, para não dizer outra coisa, que os Bancos financiam campanhas eleitorais, já no poder o presidente e a equipe econômica tendem a facilitar o lucro dos Bancos, devolvendo o favor do apoio financeiro nas eleições... Mais que um círculo vicioso, uma pressão para que haja inflação alta... Os Bancos acenam com mais dinheiro, como agiotas fazem no nosso dia a dia, ainda mais porque sabem que o Governo gastão tem da onde tirar (impostos) e a remuneração é extraordinária.
    Uma outra pergunta: porque não se pega parte das reservas em dólar que temos com a finalidade de amortizar parte desta dívida pública?
    Esta amortização vai diminuir o montante da dívida e consequente gasto com juros. Se reduzirem a remuneração também, em vez da SELIC, pelo índice da inflação, teríamos um grande ganho e com certeza não haveria necessidade de CPMF e outros impostos, para cobrir o rombo anunciado para 2016.
    Mais uma dúvida: 500 empresas, maiores devedoras da União, devem em conjunto 400 bilhões de reais. Dívida referente a sonegação, impostos, multas, etc. Não seria interessante chamar estas empresas e propor um deságio para pagamento à vista destas pendência. Se eu devesse hoje, como pessoa física, 10 mil reais à Receita Federal e ela me chama-se para um acordo, dando uns 30 % de desconto do total devido, eu toparia no ato. No caso da União, 30% de 400 bilhões de reais é igual a 120 bilhões de reais, entraria no caixa da União 280 bilhões de reais (é só um exemplo), equivalente a 5 anos de rombo no orçamento.
    Desculpe eu "alugar" você caro Leandro. Um abraço!
  • Henrique  21/11/2015 17:25
    Não sou o Leandro, mas essa eu sei responder.

    Primeiro, os depósitos compulsórios nem sempre são remunerados pela SELIC.

    O compulsório relativo a depósitos à vista não recebem remuneração alguma. O relativo à caderneta de poupança recebe a mesma taxa na qual a instituição remunera o correntista (0,5% + TR a.m.). É somente no relativo a depósitos a prazo que se remunera pela SELIC.

    Vale ressaltar que o compulsório para depósitos a prazo costuma ser bem menor que para depósitos à vista (hoje cerca de 20% contra 45%).

    Sobre a inflação, não é do interesse dos bancos privados uma disparada nos preços. Isso se deve ao fato de que o banco normalmente possui ativos (dinheiro a receber) de prazo mais longo que os passivos (dinheiro a pagar).

    Quando se tem alta inflação, o tempo é inimigo do dinheiro. Dessa forma, os bancos teriam prejuízo ao ver o valor real dos seus empréstimos a receber virarem pó.

    O grande problema brasileiro é que o crédito se tornou estatizado. BB + CEF + BNDES juntos detém mais de 50% da carteira de crédito no país. Esses bancos estão mais preocupados em promover a agenda do governo do que com os próprios lucros.
  • Thiago  28/11/2015 19:56
    Caso a taxa do depósito compulsório seja elevada, mas a SELIC permaneça a mesma, é correto afirmar que o BC teria que comprar ativos dos bancos para que a SELIC não fuja do valor estipulado? Isso quer dizer que elevar o compulsório é, de certa maneira, inútil?
  • Felipe Brandão  30/11/2015 03:30
    Muito Bom Leandro! Acho que vale ressaltar apenas que o compulsório serve para todos os tipos de depósitos (à vista, a termo e poupança), embora tenha taxas diferentes para cada um dependendo de como o governo quer que os bancos emprestem seu dinheiro.
  • antonio carneiro  23/02/2016 03:52
    Então os juros dos títulos são proporcionais à taxa SELIC? Porque o BC comprando títulos, as reservas dos bancos aumentam e a Taxa SELIC cai, assim como os juros caem; e o caso oposto também seria verdadeiro. E quais são as consequências dessa proporcionalidade? Se isso estiver errado acho que confundi as coisas...
  • Gabriel  29/02/2016 20:08
    Uma dúvida que tenho é porque a taca SELIC utilizada pela Receita Federal é diferente da taxa SELIC emitida pelo Banco Central.

    www.bcb.gov.br/?SELICACUMUL

    idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/tributaria/pagamentos-e-parcelamentos/taxa-de-juros-selic#taxaselic
  • Leonardo  17/07/2016 12:40
    Leandro, você tem bibliografia a indicar sobre o assunto desse artigo? Se houver algo específico de operações de mercado aberto no Brasil, melhor ainda.
  • Pedro  21/07/2016 02:28
    Olá, Leandro! Muito esclarecedor o seu artigo!

    No entanto, ainda tenho algumas dúvidas. Ficaria muito agradecido se alguém pudesse esclarecê-las.


    Primeiro, o Tesouro Nacional emite seus títulos. Após, esses títulos são negociados com os "dealers" primários, que os compram, não é? Nesse específico momento, haveria uma redução da base monetária, ou o dinheiro adquirido pelo Tesouro com a venda dos títulos simplesmente vai ser usado nos diversos gastos que o Estado tem, de modo que a operação seja neutra em termos de política monetária?

    Segundo, pelo que entendi o dinheiro é criado quando o Banco Central compra Títulos do Tesouro Nacional? Esse seria o único mecanismo de criação de dinheiro no nosso país?

    Obrigado.
  • Leandro  21/07/2016 12:05
    "Nesse específico momento, haveria uma redução da base monetária,"

    No exato segundo da compra, sim. As reservas bancárias (o dinheiro que os bancos têm depositado junto ao BC) caem.

    No entanto, como o BC trabalha com uma meta para a SELIC, e como a SELIC é a taxa de juros no mercado interbancário, tão logo essas reservas diminuem, a SELIC sobe. Para evitar essa subida, o BC injeta dinheiro no interbancário (comprando outros títulos em posse dos bancos).

    No final, as reservas bancárias ficam na mesma, mas a quantidade de dinheiro na economia aumentará tão logo o governo gaste esse dinheiro que arrecadou dos bancos.

    "ou o dinheiro adquirido pelo Tesouro com a venda dos títulos simplesmente vai ser usado nos diversos gastos que o Estado tem, de modo que a operação seja neutra em termos de política monetária?"

    Vale repetir: assim que o governo gastar esse dinheiro, a quantidade total de dinheiro circulante na economia aumentou. Já a base monetária pode ou não ter se alterado. (Tudo vai depender de em quanto se alteraram as reservas bancárias: elas podem ter ficado na mesma, aumentado um pouco ou diminuído um pouco).

    "Segundo, pelo que entendi o dinheiro é criado quando o Banco Central compra Títulos do Tesouro Nacional?"

    Complementando: quando o BC compra títulos do Tesouro que estão em posse do sistema bancário. Oficialmente, o BC não pode comprar títulos diretamente do Tesouro Nacional.

    "Esse seria o único mecanismo de criação de dinheiro no nosso país?"

    Os bancos, ao concederem empréstimos, também criam dinheiro (exclusivamente eletrônico). Mas só o fazem porque contam com o apoio do BC, que prontamente restituirá suas reservas.
  • Arthur Mendonça  02/09/2016 12:53
    Artigo sensacional, Leandro!

    Apenas algumas dúvidas ainda circulam para mim, visto que é um tema não muito fácil de entender para mim, cisto ser da área jurídica e apenas um simpatizante das ciências econômicas, hehe.

    Resumindo, os bancos primários compram títulos da dívida do governo, para que este se sustente, para posteriormente restituir os bancos. Os banco também criam dinheiro do nada, na forma de empréstimos para as pessoas como eu e você. Até aí tudo bem.

    Quando ocorrerem este maior número de saques em relação aos depósitos pelas pessoas, diminuindo por ventura as reservas à vista que os bancos possuem, por que de fato eles teriam que recorrer ao sistema interbancário? Eles não poderiam simplesmente criar dinheiro novamente e adicionar a suas reservas, como fazem quando emprestam? Esta seria minha primeira ponderação duvidosa.

    Segundo, existe de fato algum limite de dinheiro jorrado na economia pelos bancos?
  • Leandro  02/09/2016 15:35
    "Quando ocorrer este maior número de saques em relação aos depósitos pelas pessoas, [...], por que [os bancos] não poderiam simplesmente criar dinheiro novamente e adicionar a suas reservas, como fazem quando emprestam?"

    Bancos podem criar dígitos para conceder empréstimos, mas eles não podem criar dígitos para aumentar suas reservas.

    Quando um banco concede um empréstimo, cria-se um ativo e um passivo. O ativo é o "empréstimo a ser quitado"; o passivo é o dinheiro que ele criou na conta do emprestador.

    Quando o emprestador saca esse dinheiro e o gasta, o dinheiro vai parar em outro banco. Ato contínuo, o banco que criou o dinheiro tem de repassar reservas para o banco que recebeu o dinheiro.

    Ou seja, nesse momento o banco fica com um "empréstimo a ser quitado" em seu ativo e com menos dinheiro em suas reservas bancárias (que também são um ativo).

    Não há como ele criar dinheiro em suas reservas (ativo). Quem faz isso é o Banco Central por meio da compra de títulos públicos em posse dos bancos. É nisso que se resume a política monetária.

    "existe de fato algum limite de dinheiro jorrado na economia pelos bancos?"

    Sim. O limite é determinado por quanto o Banco Central está disposto a continuar expandindo o crédito.

    Por exemplo, se o BC estipular que não mais irá injetar dinheiro no mercado interbancário, a capacidade dos bancos de expandir o crédito ficará severamente limitada, por todos os motivos descritos no artigo.

    Obrigado pelas palavras e grande abraço!
  • Arthur Mendonca  02/09/2016 15:58
    Quando o emprestador saca esse dinheiro e o gasta, o dinheiro vai parar em outro banco. Ato contínuo, o banco que criou o dinheiro tem de repassar reservas para o banco que recebeu o dinheiro.

    Por que o banco A tem de repassar suas reservas para o outro banco B? Após a pessoa que sacou já ter gasto essa quantia e consequentemente tendo depositado em conta do banco B, por que o banco A teria que repassar novamente para o banco B?

    Evidente que o sacador tem que pagar de volta e quitar sua dívida com o banco A, mas o que justifica o banco A repassar reservas para o banco B?

    O termo "criar" não estaria errado? Porque se ele adiciona estes dígitos na conta da pessoa que pediu o empréstimo, retirando de suas reservas, como que ele criou dígitos do nada para emprestar?

    Obrigado.
  • Leandro  02/09/2016 16:57
    Arthur, são exatamente as reservas que representam o dinheiro transferido.

    Suponha que você seja cliente do Itaú, e eu, do Bradesco.

    Você paga por um serviço meu com um cheque do Itaú. Eu levo esse cheque para o Bradesco e o deposito em minha conta. Por enquanto, o Bradesco não recebeu dinheiro nenhum. Ele está em posse apenas de uma "ordem de pagamento" (cheque) emitida pelo Itaú.

    Ao final do dia, quando ocorrem as compensações bancárias, aí sim é que o Itaú irá repassar ao Bradesco, em dinheiro, o valor nominal do cheque. E esse transferência é feita via reservas bancárias.

    Seja por meio de cheque ou de cartão de débito, o princípio é o mesmo: as transações só se efetivam quando há a transferência das reservas bancárias.


    P.S.1: agora, pode ser que eu tenha entendido errado, e você esteja utilizando dinheiro em espécie no seu exemplo, e não dígitos eletrônicos. Bom, aí, obviamente, o dinheiro em espécie já foi sacado do Itaú por você e entregue a mim. A partir do momento em que você sacou o dinheiro em espécie do Itaú, este banco já saiu da jogada.

    P.S.2: sobre os detalhes da criação de dinheiro pelos bancos, veja este artigo.
  • Arthur Mendonça  02/09/2016 19:41
    Entendi. Interessante.

    E uma última pergunta, nobre Leandro, já que os bancos criam esses dígitos do éter e os transferem na forma de empréstimo para as pessoas, que nada mais é, no fim das contas, um repasse para a conta em outro banco, destinatária dos gastos feitos com esse empréstimo.
    Caso ocorra a inadimplência, por que os bancos se descapitalizam?

    O banco cria o dinheiro do nada, e esse dinheiro não entrou em suas reservas como deveria, no vencimento da dívida. Que diferença isto fez, já que este dinheiro nem existia para começo de história?
  • Leandro  02/09/2016 21:02
    "já que os bancos criam esses dígitos do éter e os transferem na forma de empréstimo para as pessoas, que nada mais é, no fim das contas, um repasse para a conta em outro banco, destinatária dos gastos feitos com esse empréstimo."

    Neste ponto, o banco que criou o empréstimo perdeu reservas.

    Se o seu banco lhe concedeu um empréstimo de $ 1.000.000, tão logo você gaste esse dinheiro, seu banco repassará este montante para o outro banco que eventualmente receber o seu cheque.

    Aí, no balancete do seu banco banco, ocorreram dois fenômenos no lado dos ativos:

    1) A quantidade de reservas diminuiu em $ 1.000.000

    2) Criou-se a rubrica "empréstimos a receber", no valor de $ 1.000.000 mais juros.

    Já no lado do passivo, não houve alteração.

    Até esse momento, o patrimônio líquido (capital) do banco (ativo menos passivo) não se alterou.

    "Caso ocorra a inadimplência, por que os bancos se descapitalizam?"

    Se houver calote, aquela rubrica "empréstimos a receber" cai a zero. E, como o banco já perdeu reservas de $ 1.000.000, então seu passivo foi, na prática, decrescido em $ 1.000.000.

    O banco perdeu $ 1.000.000 em reservas e não recebeu nada em troca.

    Consequentemente, seu patrimônio líquido (capital) diminuiu $ 1.000.000. Quanto mais calotes o banco levar, mais descapitalizado ele ficará.
  • Douglas  03/09/2016 16:58
    O BC de fato cria dinheiro quando compra títulos? Mas o que acontece com o dinheiro que o BC recebe quando vende títulos? Não seria este o dinheiro utilizado na compra dos títulos?
  • Leandro  03/09/2016 19:34
    "O BC de fato cria dinheiro quando compra títulos?"

    Sim. Ele acrescenta dígitos eletrônicos às reservas bancárias.

    "Mas o que acontece com o dinheiro que o BC recebe quando vende títulos?"

    Quando o BC vende títulos para os bancos, os bancos compram esses títulos utilizando os dígitos eletrônicos em suas reservas. Como esses dígitos eletrônicos estão depositados no BC, tais dígitos simplesmente são deletados.

    Os bancos ficam com os títulos e, em troca, perdem dinheiro das reservas.
  • Gold Currency  03/09/2016 19:45
    Leandro, quando os bancos (dealers primários) compram os títulos emitidos pelo Tesouro, eles criam e repassam dígitos (através do sistema de reservas fracionárias) da mesma maneira que quando concedem um empréstimo?
  • Leandro  03/09/2016 19:49
    Eis a sequência:

    1) O Tesouro emite títulos;

    2) Esses títulos são majoritariamente comprados pelos bancos:

    3) Como os bancos compram? Eles utilizam o dinheiro que está em suas "reservas bancárias", que nada mais é do uma conta-corrente que os bancos têm junto ao Banco Central.

    4) Ato contínuo, a quantidade de dinheiro nas reservas bancárias cai.

    5) Essa queda nas reservas bancárias pressiona a SELIC para cima (a SELIC nada mais é do que a taxa de juros que os bancos cobram entre si para fazer empréstimos no mercado interbancário).

    6) Como o Banco Central trabalha com uma meta estipulada para a SELIC -- o que significa que ele não pode deixar que ela saia da meta --, ele tem de injetar dinheiro no mercado interbancário para impedir que a SELIC suba.

    7) Ou seja, no cômputo final, houve criação de dinheiro. Dinheiro que estava nas reservas bancárias entrou na economia, e essa redução nas reservas bancárias foi contrabalançada por novas injeções de dinheiro criado do nada pelo Banco Central.
  • Marconi  04/09/2016 01:57
    Pelo que entendo funciona da seguinte forma:
    O governo quer grana, entao ele imprime dinheiro, gera hiperinflação e morre.
    Depois, pra evitar outro desastre, ele cria um mecanismo de criar dinheiro segundo a demanda por ele, por dívida. Ai os governos/bancos criam dívida atrás de dívidas, gera hiperinflação e morre.
    Entao o novo governo/bancos criam um sistema em que o dinheiro continua sendo gerado pelas dívidas, mas com a quantidade de dinheiro na economia sendo controlada pelos bancos. O BC não pode comprar títulos direto do tesouro, só compra com os bancos intermediando. E os bancos decidem pra quem emprestar e quanto. Como não é do interesse dos banqueiros gerar hiperinflação e morrer, já que nesse arranjo eles dominam o dinheiro e, portanto, o mundo, então, espera-se, que nunca mais haja hiperinflação de novo.
    Aparentemente a situação mundial, EUA, é de dinheiro "gigantesco", muito mais que suficiente pra destruir o dólar, está parado nos bancos americanos. Portanto, a selic deles não existe mais e os juros que tanto se falam do FED subir ou descer é os juros que o FED decide pagar pelo dinheiro dos bancos q lá estão depositados. A tendencia é de juros negativos cada vez mais e mais e o fim do dinheiro em espécie. Ufa! Me empolguei rsrs
  • Mau  17/10/2016 15:56
    Leandro, repito aqui meus comentários em cada matéria que leio: teus textos são fantásticos.

    Fiquei com uma dúvida: as NTN pagam juros + inflação, cujos valores variam conforme a demanda pelos títulos nas operações do BC. Nos teus exemplos, juros+inflação=6.25% e depois 5.56%. O que não ficou claro é se esta variação impacta no valor da inflação. Parece bobo perguntar isso, porque de certo modo você mostra que somente os juros variam. Mas como nós vemos a inflação aumentar, os juros destes títulos deveriam cair proporcionalmente, se distanciando da meta da SELIC. A solução para aumentar estes juros é negociá-los a valores cada vez menores? Se assim for, todos perdem dinheiro - bancos e união.
  • Vinícius  21/10/2016 13:15
    Leandro, parabéns pelo artigo!
    Gostaria de saber o seguinte: Imagine uma situação em que investidores passem a demandar títulos do governo,logo, o preço de negociação dos papéis tende a subir.Essa alta nos preços e,consequentemente,queda nos juros poderia fazer com que a selic over se descolasse da selic meta?
    Obrigado!!!
  • Ron Paul  06/03/2017 20:41
    Leandro, seu texto é simplesmente o melhor no assunto. Esse é o conhecimento que realmente precisamos levar as pessoas na esperança de um dia lutarmos contra o sistema financeiro internacional que é uma grande fraude que tira de quem sua para pessoas que roubam essa riqueza gerada.

    Tenho pesquisado, mas não encontro a resposta. Como funcionava antes da instituição do BC em 64? O Tesouro era a autoridade monetária?

    Muito obrigado!
  • Dilson Funaro  06/03/2017 22:53
    Não sou o Leandro(e também estou aguardando ansiosamente uma resposta dele), mas a autoridade monetária do Brasil antes e até mesmo depois de 64 era o Banco do Brasil. O BC só virou um BC clássico depois de 1994, com a implementação do Plano Real e o saneamento dos bancos estaduais.

    O Banco Central até 1994 era um mero fomentador dos bancos públicos, mesmo após o fim da Conta-Movimento, ele estava lá pra cobrir os rombos da devassidão dos bancos públicos. De nada adiantava a política monetária já que esses bancos jorravam dinheiro na economia.

    Aliás, no cerne do BC, o Conselho Monetário Nacional era composto por ministros gastões, entidades sindicais, empresários protecionistas... era tão cômico(e trágico) que o BC tinha uma secretaria de fomento agrícola(!!!!!!)

    Como Gustavo Franco bem definiu, o Banco Central estava mais para uma ''Assembleia Sindical da Moeda e do Crédito''
  • Leandro  06/03/2017 23:47
    Até 1923 era o Banco do Brasil o emissor de moeda. Era ele quem dava crédito fácil aos amigos do rei. Mesma função tinha o Banco dos Estados Unidos do Brasil, o que nos remonta ao encilhamento de Rui Barbosa.

    De 1923 até janeiro de 1965 foi o Tesouro Nacional quem assumiu essa função, com o papel da "autoridade monetária" cabendo à SUMOC (Superintendência da Moeda e do Crédito) a partir de 1945. Era ela quem fazia, digamos assim, a política monetária.

    E de 1965 até hoje, quem faz isso tudo é o Banco Central. Só que até a década de 1980 vigorou a famosa "Conta Movimento" do Banco do Brasil: o Tesouro sacava livremente dinheiro do Banco do Brasil, e o Banco do Brasil subsequentemente repunha seu caixa "sacando" dinheiro do Banco Central (o BACEN, obviamente, criava dinheiro do nada e o repassava ao BB).

    O governo sacava dinheiro diretamente do Banco do Brasil (para cobrir absolutamente qualquer gasto que quisesse) e o Banco do Brasil sacava esse dinheiro livremente do Banco Central. Ou seja, na prática, o BACEN monetizava o Tesouro.


    P.S.: as colocações do "Dilson Funaro" acima foram muito boas.
  • Alexandre Tadeu  10/04/2017 20:42
    Leandro, há algum artigo no Mises Brasil que explique a visão austríaca sobre moeda exógena e endógena? Seria de grande valor entender o ponto de vista dos austríacos sobre a questão.
  • Leandro   10/04/2017 22:31
    O sistema bancário cria moeda endogenamente. Mas ele só é capaz de fazer isso continuamente porque há um Banco Central lhe fornecendo moeda exogenamente.

    O que faz o Banco Central? Ele protege o sistema bancário formando um cartel bancário que impede que os bancos concorram entre si e que permite que os bancos operem reservas fracionárias sem riscos de insolvência. Para aumentar o risco moral, o Banco Central garante socorrer os bancos em época de turbulência.

    Esse arranjo é fácil de entender.

    Os bancos operam com reservas fracionárias, o que significa que eles emprestam mais dinheiro do que o total que foi depositado neles. Falando mais popularmente, os bancos têm o poder de criar dinheiro. Esse dinheiro que os bancos criam do nada é um dinheiro eletrônico para o qual não há correspondente em papel-moeda físico. Trata-se do dinheiro que você utiliza como pagamento através de cheques ou cartão de débito, mas que não possui um correspondente valor em dinheiro físico dentro dos cofres dos bancos.

    Na ausência de um Banco Central, esse cenário de reservas fracionárias seria arriscado: poderia ocorrer uma expansão descoordenada do crédito. Os bancos mais expansionistas — aqueles que criam e emprestam mais dinheiro — correriam o risco de perder reservas para os bancos menos expansionistas. Se o Itaú criar mais dinheiro eletrônico que o Bradesco, esses dígitos eletrônicos do Itaú inevitavelmente cairão na conta de um correntista do Bradesco. Ato contínuo, o Bradesco exigirá, no fim do dia, que o Itaú faça a compensação desse crédito, enviando-lhe a correspondente quantia em dinheiro físico (nesse caso, cédulas e moedas metálicas), fazendo com que o Itaú perca reservas.

    No extremo, caso o Itaú houvesse expandido o crédito e o Bradesco tivesse adotado uma postura conservadora, o Itaú poderia ficar sem reservas, indo à falência.

    É nesse ponto que entra o Banco Central. Por meio de suas injeções de dinheiro no mercado interbancário, ele pode "supervisionar e controlar" a expansão do crédito — ou, falando mais diretamente, ele irá harmonizar essa expansão, estimulando os bancos a criarem dinheiro concomitantemente e no mesmo ritmo.

    Se todos os bancos expandirem o crédito na mesma velocidade, então não haverá o risco de um banco ir à falência porque criou mais dinheiro que outro banco. Quando os bancos expandem o crédito simultaneamente, a quantidade de dígitos eletrônicos do banco A que vai parar na conta do banco B é praticamente a mesma que vai de B para A, de modo que, no momento da compensação, se cancelam.

    Tal arranjo permite que os bancos mantenham em suas reservas menos dinheiro do que manteriam caso não houvesse um banco central. Em outras palavras, tal arranjo aumenta a capacidade dos bancos de criar dinheiro do nada, aumentando consequentemente seus lucros. E o melhor de tudo: lucros altos e sem risco de insolvência.

    É por isso que os bancos defendem a existência do Banco Central. É o Banco Central quem forma e coordena esse cartel. Sem um Banco Central, não haveria essa expansão coordenada do crédito, pois sempre haveria o risco de um banco furar o acordo, sair do cartel, exigir a compensação dos dígitos eletrônicos e, com isso, levar os concorrentes à falência. Para que haja coordenação, os bancos precisam de um cartel. E para coordenar esse cartel, para disciplinar os bancos "rebeldes", é preciso um Banco Central.

    Um Banco Central, portanto, permite que os bancos expandam o crédito sem o risco de se tornarem insolventes, aumentando sobremaneira os lucros deste setor. E com um benefício adicional: caso haja alguma corrida bancária, ou caso algum banco se torne insolvente porque fez maus empréstimos, o Banco Central sempre poderá criar dinheiro para socorrer este banco.

    Essa garantia de proteção estimula os bancos a expandirem ainda mais o crédito, medida essa que gera os ciclos econômicos, os quais destroem capital e riqueza da economia e fazem com que, no longo prazo, a sociedade esteja menos rica do que poderia ser.

    Dois artigos sobre isso:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1966

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1015
  • alerj  31/10/2017 12:20
    Leandro

    Nas operações de compra de títulos, o BC pode criar dinheiro do nada para pagar os títulos e assim aumentar até infinito a taxa de juros, pois não tem limitações financeiras.

    Porém, na venda de títulos, o BC só pode vender os títulos q possui em sua carteira. E essa quantidade é limitada e não infinita.

    Isso não é um limitador para que o BC diminua os juros ? Isso já aconteceu ? Como o BC resolve isso?

    Att, Alerj
  • Leandro  31/10/2017 12:48
    Você trocou as bolas. Nas operações de compra de títulos pelo BC, os juros diminuem, pois o BC cria dinheiro para dar aos bancos.

    Já nas operações de venda de títulos pelo BC, os juros aumentam, pois o BC recolhe dinheiro dos bancos.

    Dito isso, há uma provisão específica na Lei de Responsabilidade Fiscal (Portaria nº 241, de 4 de junho de 2009) que diz que, sempre que o BC estiver com poucos títulos públicos em sua carteira (menos de R$ 20 bilhões), comprometendo assim sua capacidade de fazer política monetária, o Tesouro pode criar esses títulos e repassá-los ao BC sem nenhuma contrapartida financeira.
  • Rafa  03/11/2017 15:29
    Boa tarde Leandro, sou totalmente leiga em assuntos econômicos, e acabei chegando ao seu site porque tenho algumas dúvidas em relação à taxa selic. Estou efetuando a compra de um terreno parcelado (uma entrada e mais 50 parcelas) e o vendedor propôs que incidam sobre as parcelas a correção da selic. Pareceu-me, pelo valor anual, ser um bom negócio. É isso mesmo? Uma outra dúvida: no caso do uso da selic para correção da parcela, caso haja proposição do pagamento de, por exemplo, dez parcelas de uma vez, o valor será o da parcela inicial ou da parcela acrescida de selic?
  • Leandro  03/11/2017 22:14
    "Estou efetuando a compra de um terreno parcelado (uma entrada e mais 50 parcelas) e o vendedor propôs que incidam sobre as parcelas a correção da selic. Pareceu-me, pelo valor anual, ser um bom negócio. É isso mesmo?"

    A SELIC hoje está em 7,25% ao ano. Isso equivale a 0,6% ao mês. Se ele realmente está cobrando esta taxa ao mês, então, a princípio, é um ótimo negócio. Porém, se a SELIC subir muito no futuro, a coisa pode complicar (entretanto, não há essa perspectiva por ora).

    Apenas certifique-se de que é isso mesmo.

    Para saber o valor de sua prestação, vá ao link abaixo e coloque 0,6% em "Taxa de juros mensal"; depois coloque 50 em "Nº. de meses"; e, finalmente, coloque o valor do terreno em "Valor financiado" (o valor financiado não inclui o valor da entrada).

    Aí você saberá quanto pagará mensalmente.

    Para dar uma ideia, se você está financiando e R$ 1.000.000 em 50 prestações de 0,6% ao mês, você pagará ao mês (mantendo-se a SELIC constante) R$ 23.209,32.

    "no caso do uso da selic para correção da parcela, caso haja proposição do pagamento de, por exemplo, dez parcelas de uma vez, o valor será o da parcela inicial ou da parcela acrescida de selic?"

    Ao pagar 10 parcelas de uma vez, você estará antecipando juros ao financiador. Sendo assim, o valor das parcelas restantes terá de ser menor que a SELIC. Dado que seu financiador recebeu uma parte do dinheiro antes do prazo, então as parcelas restantes terão de ser menores. Certifique-se de ler com cuidado o contrato e veja se há essa cláusula.
  • Felipe Dias  20/12/2017 00:08
    Obrigado pelo artigo, realmente muito esclarecedor!

    END THE FED !
  • Fernando  21/12/2017 00:50
    Apenas uma dúvida: Os juros dos empréstimos no mercado interbancário são pagos pelo Tesouro então? Pois pelo que entendi, uma vez que o Banco B compra títulos públicos do Banco A, ele lucrará exatamente os juros diários que iriam para A caso este não tivesse vendido seus títulos, certo? Logo seria de sua responsabilidade apenas pagar exatamente a quantia que pegou emprestado, ou ele tem que pagar juros sobre o empréstimo mesmo B já recebendo estes mesmos juros por conta dos títulos?
    Abraços e parabéns pelo excelente texto.
  • Paulo  10/10/2018 18:36
    Leandro,

    Por que os juros dos títulos públicos são aqueles utilizados para os empréstimos interbancários? Isso significa dizer que, no caso de um dado banco não pagar o empréstimo tomado de outro, o credor será compensado com rendimento de juros do título que ele recebeu como lastro?
  • Leonardo  07/01/2019 20:38
    Fiquei com essa dúvida também, ou seja, como se operacionaliza, na prática, essa manipulação monetária para manter os títulos sobre a curva de rendimentos.
  • Smith  18/10/2018 00:53
    Leandro, fiquei numa dúvida. O texto explica que quando o Bacen faz manipulações na base monetária, ele altera o rendimento dos títulos que giram no mercado interbancário, fazendo com que os títulos tenham um rendimento constante e quase equivalente para se aproximar da meta que a Copom estabeleceu como SELIC.

    A minha dúvida seria se o rendimento dos títulos que giram no mercado interbancário, possuem o mesmo rendimento dos títulos que investidores adquiriram via Tesouro Direto.
  • Pereira  21/10/2018 00:33
    Meu brodinho, muito top o artigo!
  • Leonardo  07/01/2019 20:37
    Leandro,

    1) Como acontece de fato uma operação de mercado aberto? Um banco com excesso de reserva "compra" títulos de um banco com poucas reservas e os revende no dia seguinte por um preço que reflete a cotação daqueles títulos no dia da liquidação? Como esses preços são oscilantes, como é possível que a diferença no preço no momento da "compra" e da "venda", que representa os juros, seja estável o suficiente para sempre refletir a meta para a SELIC definida pelo COPOM? Uma última pergunta, os preços dos títulos envolvidos na transação guardam estrita equivalência com os montantes emprestados?

    2) Este questionamento talvez tenha a ver com o anterior, mas exigiria uma explicação em separado. No seu texto, você diz que a atuação do Banco Central no mercado secundário de títulos públicos é uma baliza para que o órgão consiga perseguir a meta SELIC. Não ficou claro como ele faz isso, entretanto. Você afirma que o Banco Central tenta manter os preços dos títulos na curva de rendimentos. O que isso significa? Como controlar os preços dos títulos equivaleria a manipular a taxa de juros interbancária? A relação não é intuitiva.

    3) Nos manuais de Macroeconomia, lemos sempre que o Banco Central compra ou vende títulos dos bancos para aumentar ou diminuir a base monetária. No entanto, nunca encontrei a explicação da lógica econômica por trás dessas operações. O que leva um banco a querer comprar ou vender títulos do Banco central? Por que isso sempre seria vantajoso para eles? O mercado secundário é, no fim, um monopólio controlado pelo BC em que a única forma de os bancos ganharem dinheiro seria "alugando" os títulos, em operações compromissadas, até sua maturação?
  • Trader  07/01/2019 21:23
    1) Mercado aberto não é um banco comprando de outro banco. Isso é mercado interbancário. Mercado aberto é o Banco Central criando dinheiro para comprar títulos em posse dos bancos (ou enxugando dinheiro ao vender títulos para os bancos). O artigo explica isso claramente.

    O BC pratica essas operações de mercado aberto exatamente para manter a SELIC (que é a taxa do interbancário) dentro da meta. O BC injeta dinheiro quando a taxa está tendendo a subir e retira dinheiro quando a taxa está tendendo a cair.

    2) Explicado acima.

    3) O que leva um banco a querer negociar títulos com o Banco Central é a realização de lucro. Se o BC se oferece a comprar um título por um preço maior do que o banco pagou, isso é lucrativo. Se o BC se oferece para vender ao banco um título por um preço menor do que o seu atual valor de face, isso é lucrativo.

    Recomendo:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1966
  • Leonardo Miranda  07/01/2019 22:47
    Agradeço pela resposta, mas ela é muito simples para o que foi questionado. Como você coloca, parece que os preços de mercado balizam a decisão dos bancos para vender ou comprar do Banco Central, quando, na verdade, este determina monopolisticamente esses mesmos preços com o seu poder de oferta ou demanda praticamente infinito.

    Ou seja, não haverá incentivo para ninguém comprar ou vender no mercado secundário por preços diferentes dos praticados pelo Banco Central. Ainda em outras palavras, ninguém praticará uma SELIC diferente daquela resultante das intervenções do BC. A questão que eu pus, assim como outros leitores antes de mim, é a relação entre os preços dos títulos e a taxa de juros interbancária. Esse é o famoso "pulo do gato" que não é muito bem explorado no texto.

    Considerando que o BC pratica política monetária por operações compromissadas, como ele consegue manter os preços dos títulos de forma que, nas inúmeras transações que realiza com os bancos, a diferença dos preços na venda ou compra dos títulos e, depois, da recompra ou revenda destes, reflita sempre a meta para a SELIC? É essa a questão.
  • Guilherme  07/01/2019 23:56
    "[O BC] determina monopolisticamente esses mesmos preços com o seu poder de oferta ou demanda praticamente infinito."

    Correto.

    "Ou seja, não haverá incentivo para ninguém comprar ou vender no mercado secundário por preços diferentes dos praticados pelo Banco Central."

    Correto, e é exatamente daí que advém seu poder de atuação e de (teoricamente) colocar a SELIC onde quiser.

    "Considerando que o BC pratica política monetária por operações compromissadas, como ele consegue manter os preços dos títulos de forma que, nas inúmeras transações que realiza com os bancos, a diferença dos preços na venda ou compra dos títulos e, depois, da recompra ou revenda destes, reflita sempre a meta para a SELIC? É essa a questão."

    O BC determina apenas a taxa SELIC. Ele não determina nenhuma das outras taxas de juros da economia. Ele não tem esse poder. Ele pode até tentar afetá-las, mas não pode determiná-las. Ele não pode determinar os juros das LTNs e das NTN-Bs. Ele determina apenas a SELIC.

    Eis um artigo que fala exatamente sobre isso.

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=2213
  • Leonardo  10/01/2019 01:01
    Guilherme , obrigado pela resposta. Mas você se contradiz: se você concorda que o BC pode manipular os preços dos títulos, você é obrigado a aceitar que ele controla a curva de rendimento desses mesmos papéis. A razão é simples, preço e juros são inversamente proporcionais. Se o Banco Central aumenta a oferta de determinado título, deprimindo seu preço, ele está aumentando os juros desse papel. E vice-versa.

    Veja o que o autor do texto diz:

    E - eis o grande momento! - a tarefa do Banco Central é operar manipulando os preços dos títulos de modo que eles se mantenham sobre sua curva de rendimento. (Lembre-se do que foi dito acima: o Banco Central, através de suas manipulações monetárias, pode determinar o preço em que os títulos serão negociados no mercado intermediário).

    Se a ficha ainda não caiu: manter os preços dos títulos sobre a sua curva de rendimento é o mesmo que manter os juros constantes. Assim, o Banco Central, através de suas operações de mercado aberto, compra e vende títulos no mercado secundário de modo a fixar o preço de cada título sobre a curva de rendimento dos títulos. Ao fazer isso, ele está garantindo que os juros de cada título se mantenham constantes (com pequenas variações, é claro).

    Atenção: o rendimento de um título não necessariamente será igual ao rendimento de outro título, o que significa que cada papel paga juros distintos. A questão não é essa. O que é importante é que o Banco Central é capaz de fazer as manipulações monetárias necessárias para que cada papel seja precificado de modo a se manter sobre a curva de rendimento dos títulos.


    Não fica muito claro o que o autor quer dizer com " O que é importante é que o Banco Central é capaz de fazer as manipulações monetárias necessárias para que cada papel seja precificado de modo a se manter sobre a curva de rendimento dos títulos". Qual é a essa curva de rendimento? É uma média dos rendimentos de todos os títulos? Que relação tem essa curva com a própria SELIC?
  • alerj  23/01/2019 11:40
    Leandro

    Tudo isso que vc explicou tem como base a existência de títulos públicos previamente emitidos pelo Tesouro.

    Num cenário hipotético em que um governo não emitisse títulos públicos para financiar sua dívida, como funcionaria o mercado de juros ?

    Att, Alerj
  • anônimo  23/01/2019 12:49
    Aí o Banco Central poderia continuar tentando manipular o mercado de juros de curto prazo via compulsório ou janela de redesconto (para esta, os bancos teriam de fornecer como colateral outros ativos que não títulos públicos).

    Entretanto, o BC perderia a capacidade de tentar manipular os juros de longo prazo, que ficariam totalmente a cargo do mercado.

    De certa maneira, isso já é o que ocorre hoje: os juros de longo prazo (acima de um ano) são definidos muito mais pela interação dos agentes nos mercados DI do que pelo Banco Central, embora este tenha o poder de afetar as expectativas. No entanto, se o BC perder a capacidade de emitir dinheiro, aí sim a formação dos juros de longo prazo ficará totalmente a cargo do mercado.

    Em suma: o mercado de juros continuaria funcionando normalmente, com a diferença de que não mais seria afetado pelo BC.
  • Sérgio  06/05/2019 20:42
    Deixa eu ver se eu entendí: Quando o Banco Central deseja realizar uma política monetária expansionista (ou seja, aumentar a quantidade de moeda na economia), ele COMPRA títulos dos bancos comerciais, em troca desses títulos, os bancos recebem moeda, elevando assim a quantidade de moeda da economia. Quando o Banco Central deseja fazer uma política monetária contracionista (diminuir a quantidade de moeda), ele VENDE títulos públicos para os bancos, retirando moeda de circulação.

    Ou seja, uma política contracionista/deflacionária, aumentaria o endividamento do governo? Suponhamos que o Banco Central vende títulos do Tesouro Nacional para aumentar o poder de compra da moeda, isso aumentaria a dívida pública?
  • Alexandre  07/05/2019 20:00
    Não aumenta a dívida pública, pois estes títulos já foram lançados e já estavam no mercado. Eles apenas mudaram de mãos.
  • um dois  23/07/2019 20:03
    Essa seria a hora de baixar a selic?
    Considerando que o juros dos títulos públicos está baixo e que a inflação também está relativamente baixa?
    Ou um baixa da selic ainda seria artificial como a que a Dilma fez?
  • mauricio  08/01/2021 02:20
    Outra conclusão importante: ao utilizar essa regra operacional - em que os juros são fixados -, o Banco Central não pode determinar a quantidade exata de moeda que ele quer na economia. Ele faz as operações de mercado aberto de modo a manter a taxa SELIC constante, mas ele não determina a quantidade específica de moeda para a economia. Diz-se nesse caso que a moeda é endógena.

    E qual seria a política no caso de moeda exógena?
  • Trader  08/01/2021 05:19
    Uma moeda exógena seria aquela que está inteiramente sob o controle de uma autoridade monetária e/ou de um emissor licenciado.

    No mundo atual, uma moeda genuinamente exógena só seria possível se todo o sistema bancário fosse proibido de criar moeda escritural via reservas fracionadas — ou seja, o sistema bancário teria de ter 100% de reservas — e toda a moeda da economia fosse criada exclusivamente pelo Banco Central, segundo seus próprios caprichos.

    A proposta de Milton Friedman, em que o BC criaria base monetária a uma taxa fixa por ano (enter 2% e 5%) é a que mais se aproxima disso, mas como ele não defendia a abolição das reservas fracionárias, então até mesmo esse modelo não seria totalmente exógeno.

    No mundo atual, dado que há reservas fracionárias, o M1 cresce de acordo também com a demanda por empréstimos de pessoas e empresas. Tudo o mais constante, um aumento dos pedidos de empréstimos bancários (os quais criam moeda e reduzem reservas bancárias) tende a pressionar os juros para cima. Como, porém, o BC tem de manter a taxa básica de juros estável, ele cria moeda e repassa aos bancos. No final, a oferta monetária (M1) aumentou, e a base monetária (sob controle do BC) também aumentou.

    Ou seja, a moeda — embora em última instância tenha sido expandida pelo BC — cresceu endogenamente, de acordo com a demanda por ela. O BC, ao acomodar a demanda por crédito expandindo a base monetária, permitiu essa expansão.
  • Pensador Libertário  26/01/2021 17:32
    A menor oferta irá aumentar os preços dos títulos, fazendo com que os juros diminuam. (Porém ele não pode diminuir os juros abruptamente, como quer Heloísa Helena, pois isso depende da confiança dos compradores. Se eles acharem que uma expansão monetária irá gerar uma grande inflação, ninguém irá comprar os títulos não indexados, o que fará com que seus preços caiam, e os juros subam. Ou seja: a tentativa de diminuir os juros acabou levando a um aumento).

    O Banco Central em conjunto com o Tesouro Nacional(Duopólio escandaloso e lesivo aos nossos bolsos,principalmente dos assalariados e pensionistas do INSS)dependem da confiança dos compradores de títulos devido serem eles(Os compradores)agentes econômicos serem prudentes e só compram os títulos do Tesouro olhando a conjuntura.Se o Bacen em conluio com o Tesouro e o governante de plantão(Imagina Heloísa Helena nesta condição.Misericórdia)tentarem fazer alguma manobra marota e tentarem empurrar títulos pré-fixados ao mercado em quantidade maior do que o mesmo pretende absorver,tal operação irá encalhar estes títulos,visto a demanda ser maior por títulos pós-fixados em detrimento dos títulos pré-fixados e como o Tesouro Nacional lança títulos pré e pós-fixado juntos,sempre procurando adequar a oferta com a demanda pelos mesmos,ou seja eles nunca são lançados isoladamente,dai os juros dependerem da confiança dos compradores,onde a canetada decretada pelo governante de plantão sera inócua.Mercado é mais esperto do que todos nós juntos,como diz Buffet,"o senhor mercado tem problemas emocionais incuráveis",não tentem engana-lo,o mercado é implacável.
  • WMZ  05/03/2021 01:41
    Eu não entendi uma coisa: Por que em vez de emitir títulos, para que estes sejam comprados pelos bancos com a intenção de enxugar a base monetária, o governo simplesmente não taxa os bancos?

    Os bancos possuem 1,2 tri. O governo quer que a base caia para 800 bi. Por que em vez de emitir 400 bi em títulos (que renderão juros) o governo simplesmente não taxa 400 bi (agregadamente)?

    O efeito é o mesmo. No primeiro, o governo precisou de 400 bi e conseguiu por meio da arrecadação de títulos. No segundo, o governo precisou de 400 bi e conseguiu por meio da tributação. A diferença é que no primeiro teremos os rentistas e no segundo não.

    Se ele quiser fazer o contrário, é só taxar negativamente os bancos.
  • Trader  05/03/2021 02:48
    Você confundiu tudo.

    1) O governo não emite títulos para enxugar a base. Não existe nada disso.

    2) Quem emite títulos é o Tesouro, e ele o faz com uma única intenção: levantar dinheiro para cobrir o déficit. Quando o Tesouro gasta mais do que arrecada e incorre em déficit, ele emite títulos (se endivida) para arrecadar a diferença. E só.

    3) Esses títulos que o Tesouro emite são comprados pelos bancos.

    4) O Banco Central, por sua vez, não emite título nenhum. Ele simplesmente compra os títulos do Tesouro que já estão em posse dos bancos. E depois vende de novo esses títulos. Ele compra para expandir a base monetária. E vende para enxugar a base monetária. E só.

    5) Controlar a base monetária é função do BC, que não emite título. Quem emite título é o Tesouro, que não tem a função de controlar a base monetária.

    Portanto, o que você descreveu não faz sentido. O Tesouro não "emite títulos para que estes sejam comprados pelos bancos com a intenção de enxugar a base monetária".

    Ademais, pegando o seu próprio exemplo, se o BC quiser enxugar tantos bilhões sem ter de mexer com títulos, basta ele aumentar o compulsório. Simples e direto, e sem haver tributação.

    P.S.: sempre lembrando que se o Tesouro fosse tributar banco com o intuito de enxugar a base monetária, de nada adiantaria, pois o Tesouro iria gastar esse dinheiro e ele voltaria para a economia.
  • Felipe  18/12/2021 23:05
    Conforme o artigo, normalmente a taxa de juros no interbancário se aproxima bastante da taxa SELIC.

    Dito isso, por que tamanha disparidade entre a taxa de juros no interbancário e a SELIC? Por exemplo, a taxa do interbancário está em aproximadamente 3,74 % anuais (ou em outra periodicidade?), ao passo que a SELIC tem a meta de 9,25 % anuais.
  • Trader  19/12/2021 00:41
    O CDI está em 9,14%. E anda pari-passu com a Selic.

    No acumulado dos últimos 12 meses — ou seja, quanto Selic e CDI renderam nos últimos 12 meses —, ambas as taxas acumulam uma média de 0,33% ao mês, o que dá 4% ao ano.

    Ou seja, quem aplicou no CDI ou na Selic nos últimos 12 meses (quando a Selic ainda estava em 2% ao ano), ganhou 4% neste período.

    ibb.co/1zCJjJ8
  • Felipe  19/12/2021 03:43
    Esses 4 % são justamente o cálculo dos últimos doze meses. Acho que agora entendi. O chamado "deposit interest rate" que há para o Brasil, ele englobaria o que exatamente? Qualquer tipo de depósito? Dá para ver que houve uma época em que a taxa era de quase 60.000 %...

    Agora não entendo como que no Equador a taxa interbancária é de 1 % em média, ao mesmo tempo em que a taxa básica é de 9,33 %.


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