INTRODUÇÃO
Este artigo
objetiva enfatizar a importância do capital, da moeda e do tempo na teoria
econômica e, mais especificamente, na macroeconomia. Desde a Teoria Geral de Keynes, dos anos 30 do
século passado, os economistas, infelizmente, abandonaram a Teoria do Capital,
sem colocar outra teoria para substituí-la. Com efeito, os modelos ditos
"macroeconômicos", sejam de viés keynesiano ou neoclássico,
tendem a enfatizar que no curto prazo o estoque de capital de uma economia é
constante, o que os levou ao abandono mencionado. Há, além disso, concepções
distintas sobre o papel da moeda e do fator tempo nessas teorias. Isto tudo
somado, ou seja, o abandono da Teoria do Capital, as visões diferentes da moeda
e as formas como é introduzido o fator tempo, permite-nos estabelecer
comparações teóricas bastante interessantes entre a "mainstream economics" (keynesianos
e neoclássicos) e a Escola Austríaca de Economia, que sempre deu
importância à Teoria do Capital e que possui concepções diferentes a respeito
de como a moeda e o tempo devem ser tratados teoricamente.
As idéias
aqui expostas não são de minha autoria, embora as endosse integralmente, mas do
Prof. Roger Garrison, da Universidade de Auburn, nos Estados Unidos, um
economistas "austríaco" bastante criativo e que tem se dedicado a estudar a
Teoria Austríaca dos Ciclos Econômicos, modernizando-a e procurando compará-la
com as diferentes visões da "mainstream economics". Neste artigo, apenas as
reproduzo e faço alguns comentários adicionais.
Podemos de
início ancorar as proposições macroeconômicas no binômio tempo/moeda. As
doenças macroeconômicas originam-se nas formas especiais de interação, em uma
economia de mercado, desses dois elementos, que constituem a universalidade, ou
os denominadores comuns da Teoria Macroeconômica. O reconhecimento explícito
desse universo proporciona uma comparação bastante rica entre keynesianos
e monetaristas: os primeiros negam a possibilidade de soluções de
mercado para as doenças macroeconômicas, enquanto os segundos tendem a
negar as próprias doenças. A Teoria Austríaca situa-se entre esses dois
extremos.
O UNIVERSO DA TEORIA MACROECONÔMICA
Existe um
"mercado de tempo" e um "mercado de moeda" e esses dois mercados, tanto
isolados conceitualmente como interagindo no mundo real, é que dão origem a
todos os fenômenos que se convencionou chamar de "macroeconômicos". A Escola
Austríaca é a única a reconhecer explicitamente a natureza universal do tempo
na teoria econômica, ao propor que todas as escolhas são feitas com um olho no
futuro e todas as ações humanas são escolhas levadas a efeito no tempo e em
ambiente de incerteza genuína, em que os mercados são considerados como processos
de permanentes descobertas, em procedimentos de erros e tentativas.
Analisar
uma economia de mercado nada mais é do que identificar ações individuais que
originam os fenômenos de mercado, mas sabendo que o tempo, literalmente, é o
meio através do qual essas ações transpiram. A prática comum na microeconomia,
particularmente nas teorias walrasianas de equilíbrio geral, de limitar
os problemas a casos de economias de trocas, não passa de uma tentativa de
abstração do elemento tempo. O sabor macroeconômico distingue-se da análise de
equilíbrio geral pela atenção que procura dispensar ao fator tempo,
associando-o com decisões de produção. Essas considerações com respeito ao
tempo são feitas, na tradição de Chicago, por meio dos conceitos de custos de
informação; na tradição keynesiana, por meio dos conceitos de
viscosidade e de rigidez e, na boa tradição austríaca iniciada por Carl Menger,
pelo conceito de estrutura de capital. As teorias macroeconômicas
alternativas, cada uma à sua maneira, consistem em tentativas de explicação do
comportamento dos indivíduos em seus intuitos de, como o próprio Keynes
escreveu, . . . "defeat
the dark forces of time and ignorance which envelope our future".
Tal como no
tratamento do fator tempo, a forma como a moeda é introduzida nas diferentes
teorias, seja como um ativo financeiro, seja como um "hedge" contra taxas de
juros que tendem a subir, seja como um meio de troca, explica boa parte das
principais diferenças entre as teorias alternativas. Tempo é meio de ação;
moeda é meio de troca. Os dois, em conjunto, servem para definir a análise
macroeconômica. Se as trocas intertemporais e interpessoais pudessem ser
isoladas em uma economia de mercado, a macroeconomia convencional, como sugere
o Prof. Garrison, seria fortemente redundante. A Teoria do Capital de
Cambridge (que se abstrai das trocas interpessoais) e a Teoria do Equilíbrio
Geral walrasiana (que se abstrai das trocas intertemporais),
resolveriam adequadamente os principais problemas. E é precisamente
essa "interseção" dos mercados de tempo e de
moeda que se constitui na principal questão macroeconômica.
CAPITAL E TEMPO
William
Stanley Jevons já afirmava que uma das maneiras de se concretizar a noção de
"mercado de tempo" consiste em reconhecer o aspecto temporal essencial dos
mercados de bens de capital em sua concepção mais ampla. Menger, como
sabemos, introduziu em seu livro seminal, que deu origem à Escola Austríaca, a
idéia de "bens de várias ordens", em que "ordem" denota uma relação temporal
entre um bem de capital e o eventual bem de consumo que esse bem de capital
contribui para produzir. Por exemplo, se o pão é um bem de consumo e a farinha
um bem utilizado na fabricação de pães, então o primeiro é considerado um bem
de primeira ordem e a segunda um bem de segunda ordem.
Seria bem
interessante se pudéssemos comparar a noção de capital da Escola Austríaca com
alguma visão alternativa formulada por Keynes, mas isto não é possível, porque,
apesar de haver repudiado a contribuição de Böhm-Bawerk, Keynes não a
substituiu por nenhuma outra. Assim, o keynesianismo representa um perigoso
desligamento do pensamento macroeconômico das importantes questões relacionadas
com a Teoria do Capital e representa também, infelizmente, o abandono direto
das abordagens que têm o objetivo de lidar com o fator tempo, caracterizadas
por aquela famosa frase de que "no longo prazo estaremos todos mortos"...
É claro que sua
teoria requer algum tipo de especulação em relação ao futuro, mas, quando o
"espírito animal" dos investidores keynesianos é colocado diante das
"forças obscuras do tempo e da ignorância", estas parecem vencer
sempre. Esta característica da teoria keynesiana (e da
Macroeconomia em geral), deriva diretamente do abandono da Teoria
do Capital utilizada antes de Keynes para incorporar o "mercado de
tempo". Vejamos, agora, o papel da moeda para os austríacos, os keynesianos
e os monetaristas (novos clássicos).
A MOEDA COMO UMA " JUNTA
FROUXA" ("LOOSE JOINT"):
As forças
intertemporais de mercado encontram sua expressão mais direta e concreta nos
mercados de bens de capital. Se estes bens fossem trocados diretamente por bens
de consumo ou por outros bens de capital, a natureza da macroeconomia seria
substancialmente diferente. Mas o fato de que os bens de capital e os bens
correspondentes de consumo são trocados indiretamente via moeda é que
adiciona a outra dimensão essencial. A teoria macroeconômica, então, deve
analisar as implicações das trocas indiretas no contexto de uma economia que
utiliza capital. Em sua "The Pure Theory of Capital", o Prof. Hayek
concebe a moeda como uma "junta frouxa" ("loose joint") dentro de um
sistema de mercado que se auto-equilibra. A moeda é a junta que liga a
capacidade de demanda com o desejo de produzir, o que dá margem para o
entendimento correto da Lei de Say. Dizer que a moeda é uma junta "frouxa" em
uma economia que utiliza capital nos lembra que existe
um lapso de tempo entre a oferta de um dado sortimento de bens de capital e a
demanda subseqüente de bens de consumo. E é esse "lag" que provoca os problemas
macroeconômicos mais comuns, tais como o
conhecido como "sobreinvestimento", que os austríacos chamam de
"maus investimentos" ("malinvestments").
Essa imagem
de Hayek nos permite testar a adequação das diversas teorias em que
a moeda desempenha um papel importante. A concepção da moeda como
uma "junta frouxa" sugere que devemos evitar duas construções teóricas polares.
Introduzir a moeda como uma "junta apertada" ("tight joint") é negar o
problema da coordenação intertemporal. Tais modelos simplesmente colocam todas
as trocas, sejam intertemporais ou não, em um contexto de
equilíbrio geral atemporal. Por outro lado, introduzir a moeda como uma "junta
quebrada" ("broken joint") é negar a própria possibilidade de uma solução de
mercado para os problemas de coordenação intertemporal.
Em um mundo
em que a moeda fosse uma "junta quebrada", os preços não transmitiriam as
informações sobre as alocações de recursos desejadas ao longo do tempo,
nem tampouco ajudariam a atualizar essas alocações. Em outras palavras,
os conceitos de moeda como "junta apertada" e "junta frouxa" negam,
respectivamente, o problema macroeconômico central e a sua
solução. A Macroeconomia da "mainstream", a saber, o monetarismo e o keynesianismo,
tendem a adotar uma das duas posições polares e o resultado é que, como uma
primeira aproximação, os problemas macroeconômicos ou são vistos como triviais
ou, então, como insolúveis. Entre essas duas concepções extremas é que está a
noção hayekiana da moeda como uma "junta frouxa", que nos conduz a reconhecer
os problemas e a deixar a
possibilidade de soluções de mercado para
eles como uma questão em aberto.
Notemos,
contudo, que a hipótese de que a moeda é uma "junta apertada" não pode ser
condenada em todos os contextos. Ela nos conduz, por exemplo, às noções
da moeda como um "véu", bem como ao núcleo de verdade contido na Teoria
Quantitativa da Moeda, o de que a inflação é um fenômeno monetário. Mas, ao
mesmo tempo, não podemos nos esquecer da excessiva simplicidade, face ao mundo
real, dessa hipótese.
A
MACROECONOMIA DA "MAINSTREAM"
(a) Embora
Wicksell seja geralmente considerado como tendo sido o primeiro a integrar a
teoria monetária com a teoria do valor, na realidade ele não fez isso. Em
seu modelo, os preços, puxados pelo efeito dos saldos reais, movem-se todos,
para cima ou para baixo. Mesmo quando é reconhecido que alguns
preços podem variar (temporariamente) de maneiras diferentes entre si, o modelo
wickselliano não faz menção a variações correspondentes nas quantidades.
Com isso, não explica as interações entre o mercado de moeda e os mercados de
bens de capital, focalizando apenas as relações entre a quantidade total de
moeda e o nível geral de preços.
(b) Considerações
monetárias e de valor costumam ser segregadas pela hipótese implícita ou
explícita de que a moeda é uma "junta apertada". E é essa segregação entre as
teorias monetária e do valor que costuma levar à substituição da estrutura mengeriana
de produção por algum agregado (PIB), o que significa admitir que, dado o
caráter de "tight joint" da moeda, nada de relevante se passa no setor real da
economia.
(c) Keynes, por
sua vez, descartou a teoria do capital de Böhm-Bawerk sem substituí-la por
outra, alternativa. Assim, seria apenas por "acidente ou desígnio"
(Teoria Geral, ed. de 1964, p. 28), em oposição a uma ordem espontânea, que a
economia poderia atingir a coordenação macroeconômica. Ou seja, com
a hipótese de que a moeda se constitui em uma "junta quebrada", Keynes e os keynesianos
de diversos matizes sempre acabam descartando a solução de mercado para os
problemas macroeconômicos.
(d) Sob
essa perspectiva, a alternativa à teoria macroeconômica oferecida por Mises,
Hayek e por outros austríacos representa um meio termo, ao mesmo tempo
em que é radical, no sentido de ir diretamente à raiz dos problemas.
A TEORIA "MACROECONÔMICA" AUSTRÍACA
Embora os
economistas austríacos rejeitem a macroeconomia, podemos nos valer deste
termo para efeitos de comparação com as teorias macroeconômicas conhecidas.
O ponto
significativo que ressalta a moeda como uma "junta frouxa" é o da
complementaridade intertemporal entre as diversas ordens de bens de
capital. Por exemplo, a ocorrência de um excesso de bens de ordens elevadas
(bens de capital), que será removido no futuro através do surgimento de bens de
ordens inferiores (por exemplo, cimento para ser usado na indústria de
construção civil), não é visto imediatamente como um excesso. Essa percepção
depende das projeções empresariais sobre a demanda futura e essa previsão só
poderá ser considerada errada quando ocorrer um excesso nos estágios
subseqüentes de produção. Na literatura austríaca, esse excesso se revelará na
forma de escassez relativa de bens de capital necessários para completar o
processo de produção. Esse cenário particular enfatiza a noção de
complementaridade intertemporal entre as diferentes ordens de bens de capital e
o ponto significante é que os excessos de oferta e de demanda, uma vez
revelados, não podem ser remediados de uma forma simples: os ajustamentos
envolvem reestruturações fundamentais nos processos econômicos de produção.
O caráter
de "frouxidão" ("looseness") da junta monetária é responsável por um montante
de descoordenação intertemporal não percebida, durante algum tempo, o que gera
"sobreinvestimentos" em alguns bens de capital e "subinvestimentos" em
outros. Assim, não existe surpresa no fato
de que o processo de mercado, ao corrigir essas descoordenações, não o
faça instantaneamente e sem dor. A frouxidão da junta monetária, que
provoca a descoordenação, prescreve um remédio doloroso e de efeito lento. A
Teoria Hayekiana é consistente com a visão da chamada Escola da "Public
Choice" das decisões políticas, com a noção de ciclos econômicos políticos e
com a análise friedmaniana da curva de Phillips de curto prazo e de
longo prazo.
ALGUNS AVANÇOS NA "MAINSTREAM ECONOMICS"
Sugere-nos
o velho bom senso que as fronteiras da macroeconomia devem estar entre as duas
posições extremas, em algum ponto entre o curto e o longo prazo. Este é o
horizonte temporal relevante, porque é nele que os problemas econômicos
efetivamente se manifestam. Há algum tempo têm sido feitas algumas tentativas
na literatura no sentido de tentar capturar esse horizonte de tempo relevante;
e elas diferem na medida em que partem de pontos de partida diametralmente
diferentes. Em particular, vejamos os pontos de vista de David Laidler e de
Paul Davidson - um monetarista e um keynesiano -, o que nos
facilitará a comparar a "mainstream" com a teoria austríaca.
Laidler percebeu
corretamente a importância do tempo e da moeda, mas, como parte da tradição de
longo prazo da Teoria Quantitativa da Moeda, sua
análise revela a necessidade de "encurtar o longo prazo"
e o meio que utiliza para isso é o mercado de informações. A
hipótese de que existem custos para obter informações representa sua tentativa
de capturar, pelo menos parcialmente, a dimensão temporal e a interação entre o
mercado de informações e o mercado monetário, traduzindo o que ele chama de "a
nova microeconomia". O problema com esse tipo de "approach" é que a incerteza,
na visão dos economistas austríacos, é uma "proxy" fraca para a variável
tempo.
O trabalho de
Davidson representa a contrapartida keynesiana da análise de Laidler;
este precisava encurtar o longo prazo, enquanto Davidson, trabalhando na
tradição keynesiana, sentiu a necessidade de criar uma junta onde ela
não existia, ou seja, percebeu que precisava alongar o curto prazo. E o
instrumento de que se utilizou foi o dos contratos de salários nominais
("money-wage contracts" ). Assim, enquanto Laidler buscou capturar o tempo
através do mercado de informações, Davidson o fez por meio do mercado de
trabalho a termo. Sua análise padece do mesmo problema apresentado pela de
Laidler, porque o mercado a termo de mão de obra, tal como o mercado de
informações de Laidler, são apenas duas dentre as inúmeras maneiras
de realização das trocas intertemporais. Embora essas tentativas representem
esforços de incorporar corretamente as relações entre tempo e moeda, o que as
torna incompletas é que ambas carecem de uma Teoria do Capital, que nada mais é
do que uma teoria geral a respeito da natureza das relações intertemporais que
caracterizam a economia e de como essas relações podem ser afetadas por
mudanças paramétricas ou de política econômica. Portanto, a teoria do
"money-wage contract" é o meio que Davidson usa para se aventurar no conceito
de tempo relevante (para encontrar Laidler, que se aventurou partindo do
outro extremo), mas sem ter de lidar com os problemas básicos com que a Teoria
do Capital se defronta.
CONCLUSÕES
Reconhecer
que os conceitos de tempo e de moeda devem ser centrais na teoria macroeconômica
é definir o domínio da macroeconomia como sendo a interação
entre o "mercado de tempo" e o "mercado de moeda". Esta concepção da
macroeconomia permite comparar as visões da "mainstream" e mostrar como elas
lidam indiretamente com o elemento tempo, por não incorporarem uma Teoria do
Capital. A inadequação dessas teorias sugere que o remédio apropriado parece
ser o dos austríacos e que as duas visões da "mainstream" poderiam estar
mais próximas a partir de uma reincorporação da Teoria do Capital na
macroeconomia, por representar o tratamento correto do elemento tempo e, assim,
contribuir para um entendimento mais adequado do mundo real, que, no final das
contas, deve ser a preocupação principal dos economistas.
A economia
real pode ser adequadamente definida, de acordo com a visão austríaca,
como "ação humana ao longo do tempo sob condições de incerteza genuína (ou
seja, não probabilística)"; o tempo é um fluxo permanente de novas
experiências, ou seja, de ações sucessivas sempre praticadas com o objetivo de
aumentar a satisfação individual, fluxo esse que não está no tempo (isto
é, no eixo newtoniano do tempo), mas que é o próprio tempo. Portanto, o
tempo deve ser necessariamente dinâmico, porque permite associar a memória,
vale dizer, o conhecimento adquirido nos mercados e que é permanentemente
rarefeito, com a percepção que cada indivíduo forma da realidade e suas
consequentes ações e a moeda é o meio de troca, aquele que é usado em todas as
transações econômicas.
''Quando a
moeda "entra" na economia ela não o faz por igual, digamos, uma cédula de 50
reais por cada metro quadrado do país: ela "entra" em determinados setores da
estrutura de produção e a partir daí vai se espalhando, o que, por si só, é um
argumento contrário ao princípio da neutralidade da moeda, segundo o
qual variações nesta não produziriam efeitos sobre o setor real da economia,
mas apenas sobre os preços. Na verdade, justamente porque a moeda, ao "entrar"
na economia, o faz, para usamos a imagem de Hayek, como um fluxo de mel sendo
despejado em um pires, os preços relativos - formados ao longo da estrutura de
capital (ou, em linguagem moderna, na cadeia produtiva) -, necessariamente
precisam se alterar, o que provoca efeitos sobre o setor real da economia.
Somente após todas as mudanças nos preços relativos acontecerem é que o
montículo central de "mel" termina de se assentar, tornando a superfície plana,
tal como a teoria monetarista sugere.
Por
exemplo, se a "nova" moeda cai primeiro em mãos de pessoas muito pobres,
provavelmente elas irão utilizá-la para comprar alimentos e roupas, o que
aumentará a demanda por esses produtos e tenderá a elevar os seus preços em
relação, digamos, aos preços de automóveis. Os vendedores de alimentos e
roupas, por sua vez, ao receberem dinheiro pelas suas maiores vendas, comprarão
mais de seus fornecedores e assim por diante, até que a moeda "nova" se espalhe
por toda a estrutura de produção. Esta é uma das vantagens que a Teoria do
Capital proporciona, integrada com a Teoria Monetária.
Diante de todas
essas considerações, parece claro que os economistas deveriam ter acesso, desde
os cursos de graduação, aos ensinamentos da Escola Austríaca, que oferece
"insights" muito interessantes para uma compreensão adequada dos fenômenos
econômicos do mundo real. Na pior das hipóteses, tais ensinamentos servem sem dúvida
para auxiliar a comparar as metodologias utilizadas pelos teóricos das diversas
escolas econômicas.