quarta-feira, 16 dez 2009
Nota
do IMB: o artigo a seguir faz parte do concurso de artigos promovidos pelo
Instituto Mises Brasil (leia mais aqui). As
opiniões contidas nele não necessariamente representam as visões do Instituto e
são de inteira responsabilidade de seu autor.
A conferência sobre o clima em
Copenhague já começou. E aí? Está cheio de esperança por um mundo carbon-free? Se
você é um economista liberal, como eu, ou um amante da liberdade em geral, deve
estar é muito apreensivo com o que aqueles burocratas vão inventar para
aumentar seu poder e piorar nossa vida. Contudo, devo confessar, nutro no fundo
da minha alma a singela esperança de que, como costuma acontecer nessas
reuniões, cada um defenda o seu e no final nada mude. De minha parte, só queria
que os ecochatos poupassem o meu ar. E não estou sozinho. É notório que entre
os economistas o discurso ambientalista encontra resistência. Não nos dando por satisfeitos em louvar
a ganância e oprimir os pobres, fazemos questão de um mundo poluído e desértico.
Ciência lúgubre mesmo. Querem saber,
na realidade, por que os economistas não aceitam o aquecimento global? É por
causa de seu olhar cortante, que vê muito além do lado puramente científico do
debate.
O principal motivo para o
ceticismo dos economistas (dignos do nome) é a desconfiança instintiva das
soluções governamentais para problemas sociais. Quando se fala em aquecimento
global, qual a opinião sorrateira que fica sempre à espreita? "O Estado é a
solução". Mas o economista sabe bem como funciona, e de que é composto, o
Estado. Sem ilusões: os políticos não têm mais conhecimento e nem melhores
intenções do que o resto da sociedade; via de regra, têm menos e piores -
governador Arruda que o diga. Quando encontram um jeito de aumentar seu poder
sobre a vida alheia, pode apostar que as belas justificativas surgirão.
É natural que aqueles que mais
valorizam a liberdade não vejam com bons olhos o alarmismo verde, que, como
todos os pânicos generalizados, resultará em crescimento estatal. Também é
natural que estejam mais propensos a considerar o outro lado da questão: os
cientistas céticos e as pesquisas dissidentes que são discretamente limados do
debate público por seus resultados politicamente indesejáveis. É uma postura
saudável.
Entretanto, essa sã desconfiança
não deve nos levar a rejeitar a priori todo problema ambiental como se se
tratasse necessariamente de fraude motivada politicamente. O meio-ambiente deve
sim nos preocupar, e sua destruição ou degradação é um mal que todos - até mesmo
um economista liberal - querem evitar. Seu olhar frio e penetrante, insensível
à demagógica indignação moral dos medalhões da política, talvez não dê respostas,
mas certamente suscita perguntas importantes - e, nem preciso dizer,
inconvenientíssimas - que, no entusiasmo do momento, não são feitas.
Não estou falando das questões
propriamente científicas (existe aquecimento global? Ele é causado pelo
homem?); embora nem nessas haja o consenso que alguns fazem parecer. Também
haveria muito o que falar sobre como a tentação do financiamento público viesa
os interesses dos pesquisadores. Mas as perguntas que tenho em mente são outras:
referem-se às conseqüências práticas das descobertas científicas.
Primeira: as conseqüências do aquecimento global serão negativas ou
positivas? Atentem para o que os alarmistas escondem: se há mais mortes de
calor ou de doenças ligadas ao calor, há menos mortes de frio e de doenças
ligadas ao frio. Se há terras que deixarão de ser cultiváveis, outras passarão
a sê-lo (imaginem o potencial agrícola do Canadá, da Groenlândia, da Rússia).
Concedo: dado que nosso modo de vida está adaptado à temperatura atual, é
previsível que qualquer mudança de temperatura, para mais ou para menos, traga
mais custos do que benefícios no curto prazo. No longo, a coisa muda: via de
regra, mais calor aumenta a quantidade e a diversidade da vida na terra, como
também torna mais fácil a vida humana. O esfriamento global (como se temia e se
alardeava poucas décadas atrás) seria muito mais perigoso do que o aquecimento.
Depois de um período de adaptação pode ser que a humanidade esteja em melhores
condições do que estava antes. Quem disse que as temperaturas atuais são as
melhores possíveis?
Segunda: a prevenção em larga escala vale a pena? Mesmo que as
conseqüências negativas superem as positivas, não se segue necessariamente que
medidas devam ser tomadas para evitar o aquecimento global. Falta comparar
custo e benefício, um raciocínio fundamental para qualquer tomada de decisão e
que tem sido inexplicavelmente ignorado. Qual o ganho esperado de se cortar
radicalmente as emissões de carbono, com perdas brutais de produtividade e
qualidade de vida no presente? Se for, digamos, atrasar em míseros dois anos o
aquecimento global, valerá a pena? O ambientalista Bjorn Lomborg tem feito
sucesso mostrando exatamente isso: pelos próprios modelos do IPCC, as soluções
propostas a custos altíssimos têm resultados minúsculos. Não seria melhor
deixar as pessoas se adaptarem gradualmente à nova situação, a custos muito
menores, poupando assim recursos para outros fins?
O mar subiu bastante desde o
século XIX até o presente, e não foi nada catastrófico, devido à adaptação
gradual. A previsão de 50 cm a mais no nível do mar, ou temperatura 1 grau
Celsius mais alta, daqui a 100 anos (um futuro francamente inimaginável, a
começar em termos tecnológicos) não deve nos colocar em estado de pânico, e sim
nos levar a pensar, inteligentemente, em como minimizar os custos e aproveitar
as oportunidades da nova condição.
Não há nenhuma atitude menos
construtiva e mais enganadora do que "na dúvida, melhor não arriscar", usada
para justificar toda e qualquer medida de combate ao aquecimento global. É possível que uma quadrilha de bandidos
hi-tech esteja planejando invadir sua casa. Será que, só por via das dúvidas,
vale a pena gastar todas as suas economias, incluindo o que iria para a educação
de seus filhos, para contratar um esquema de segurança de ponta? "Na dúvida,
melhor não arriscar"? Balela demagógica. O cálculo de custo e benefício deve
sempre ser feito, ponderado pelas incertezas.
Por fim, supondo que os
resultados do aquecimento global sejam realmente catastróficos e exijam medidas
preventivas, resta a pergunta decisiva:
qual a melhor solução? Seriam
críveis as propostas, por exemplo, de um mercado de créditos de carbono? O
modelo atual não tem nada de mercado: governos ganham cotas e usam-nas para cartelizar
a economia. O custo dessas medidas envolve não apenas dinheiro, como também o
crescimento estatal (e pior: de um Estado mundial) e a piora considerável que
isso traz à vida humana, cada vez mais vigiada e controlada.
Até agora, todas as propostas
partem da idéia ingênua do Estado, ou seja, daqueles que têm o direito à
coerção, como eficiente, sábio e bem-intencionado, e do mercado, ou seja, da
interação voluntária entre indivíduos livres, como inerentemente destrutivo,
ganancioso e mau. Estamos à espera, ou em busca, de uma visão de mundo que
harmonize o bem-estar humano com a preservação do meio-ambiente. um liberalismo
verde, um ambientalismo verdadeiramente capitalista, que resolva os problemas
ambientais não pelos cálculos fictícios e imposições arbitrárias de um distante
poder estatal, mas pela cooperação voluntária de indivíduos conscientes de que
o próprio bem-estar depende do bem-estar dos demais, e que a qualidade do
meio-ambiente é condição necessária da qualidade de vida.