O
tamanho da dívida de alguns países da zona do euro - em especial Portugal,
Espanha e Grécia -, e a (falta de) capacidade de eles honrarem o serviço dessa
dívida, têm feito não só as bolsas de todo o mundo despencar, como também vêm
provocando uma forte corrida ao dólar - exatamente como a ocorrida no final de
2008.
O
presidente do Banco Central português Vítor Manuel Constâncio já disse ser
imperativo cortar o déficit. Mas também
deixou claro que isso irá requerer medidas "difíceis" e que é improvável que a
economia do país acompanhe a dos seus pares europeus. Pudera: até 2011, a dívida pública de
Portugal vai subir para 91% do PIB. Ano
passado, ela estava em 77%.
O
partido de oposição, formado por maoístas-trotskistas, não quer saber de
aceitar o plano de austeridade, o que contribui para empurrar Portugal para o
mesmo caminho
da Grécia. Caso as medidas de
austeridade fossem adotadas, seria de se esperar protestos de rua ao estilo
argentino.
O
mercado financeiro vinha ignorando esse problema europeu durante os últimos
meses; foi só nas últimas semanas que passou a prestar mais atenção. Como não podem imprimir dinheiro como os EUA
e o Reino Unido, esses países europeus - todos sujeitos ao Banco Central
Europeu - são obrigados a recorrer à austeridade fiscal. Simplesmente não há outra saída. Aliás, se não fossem as impressoras,
certamente estaríamos vendo situações similares também nos EUA e no Reino Unido
- ter bancos centrais dispostos, por meio de maciça criação de dinheiro, a reduzir
o padrão de vida das pessoas e a reduzir seu poder de compra foi a "solução"
que ambos adotaram.
Além
de Grécia, Portugal e Espanha, a Itália e a Irlanda também representam áreas de
tensão, e no devido tempo também terão de enfrentar ajustes. Os problemas que esses países estão
enfrentando não são do tipo que irá durar apenas duas semanas ou dois meses; é
factível afirmar que eles estarão no limbo por anos.
Entra
em cena a Alemanha e o FMI. O mercado
financeiro dá praticamente como certo as suas intervenções, pois é o euro quem
está em jogo. É óbvio que tais
intervenções irão meramente servir como esparadrapos, e não irão de modo algum
atacar de fato os problemas estruturais que todos esses países se recusam a
resolver - vale repetir que, curiosamente, esse é o mesmo problema enfrentado
pelos EUA e pelo Reino Unido, com a diferença que ambos possuem banco central
próprio, o que lhes permite imprimir dinheiro e mitigar no curto prazo os
malefícios de suas más políticas. É por
isso que um banco central é o objeto de devoção de todos os políticos, que
podem utilizá-lo para maquiar suas lambanças, ao passo que a sua abolição seria
o seu terror, pois os obrigaria a viver exclusivamente dentro de seu orçamento.
Os
analistas hoje dizem que não há como saber quanto o euro irá cair como
consequência dessa crise europeia. Uma
moratória grega seria um golpe substancial no arranjo monetário da União
Europeia, que exige que seus membros mantenham suas finanças sob controle. Além da Alemanha e do FMI, também já se
especula que outras nações poderão ser chamadas para o socorro caso a Grécia
não consiga fazer os cortes de gastos que prometeu ou aumentar sua arrecadação -
algo impossível em tempos de recessão. Caso Portugal siga pelo mesmo caminho, a coisa
tende a ficar insustentável.
Tudo
isso fez com que os investidores assustados corressem para o dólar, que ainda é
visto como um porto seguro - muito mais por motivos históricos do que pela
atual gestão temerária de Bernanke. Como
disse Peter Schiff, abandonar o euro e correr para o dólar é como sair de uma
panela quente e cair direto no fogo.
Quem nos lê com frequência já esperava essa subida
momentânea do dólar, algo típico em mercados com tendência de baixa. Jim Rogers a previu em duas ocasiões (
aqui e
aqui). Porém, vale lembrar, que a tendência de longo
prazo continua sendo o derretimento da moeda americana.