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Não é o consumo que cria a prosperidade

Quando eu era estudante de economia, uma das tarefas mais difíceis sempre foi a de entender a relação exata entre gastos com consumo, poupança e prosperidade.  Ainda na graduação, fui alimentado com a teoria padrão fornecida pelas curvas IS/LM, que diz que o consumo é a força motriz da produção.  Essa teoria padrão pode ser resumida em algumas frases curtas, utilizando alguns "fatos" óbvios sobre o funcionamento do sistema econômico.

1. Empresas irão contratar trabalhadores e produzir coisas se, e somente se, elas esperarem com isso poder gerar receitas de venda suficientes para a) cobrir seus custos operacionais e b) obter alguma taxa de lucro.

2. As indústrias produtoras de bens de capital irão ajustar seus planos de produção de acordo com a demanda vivenciada pelas indústrias de bens de consumo.  Caso a demanda por bens de consumo diminua, qualquer que seja o motivo, as empresas irão reduzir sua produção e demitir empregados.

3. Durante períodos de crise econômica, diz-se que uma redução dos salários não será benéfica para o sistema econômico como um todo porque salários menores significam menores gastos com bens de consumo, o que agravaria ainda mais a crise.

4. A cura para tudo, diz-se, deve advir do aumento dos gastos públicos.  Tal aumento deve ser financiado por déficits orçamentários em conjunto com o aumento da oferta monetária e da expansão do crédito.

O propósito desse artigo é mostrar a exata relação entre gastos com consumo, poupança, acumulação de capital e prosperidade.  Será mostrado que o consumo em termos reais, bem como gastos com consumo expressos em termos monetários, não são a causa, mas, sim, um efeito de uma maior poupança e de uma maior acumulação de capital.

Demanda por bens não é demanda por mão-de-obra

Com o intuito de reconhecer a falácia da teoria padrão da maneira mais clara possível, é preciso antes estabelecermos uma conexão correta entre a demanda por bens de consumo e todas as outras atividades econômicas, particularmente, é claro, a demanda por mão-de-obra.

O primeiro passo nessa análise é entender a seguinte e simples observação: esses dois fenômenos, a saber, a compra de bens de consumo e a demanda por mão-de-obra, representam dois eventos fisicamente separados. Isto é, quando alguém compra um bem de consumo, essa pessoa não está comprando simultaneamente mais nada além do bem de consumo em questão.  Em particular, não se está comprando ao mesmo tempo mão-de-obra ou bens de capital.  A pessoa está comprando apenas um bem de consumo.  É importante, nessa etapa da análise, deixar de lado todas as outras possíveis consequências futuras dessa compra inicial, e manter o foco no simples fato de que a demanda por bens de consumo e, aqui, a demanda por mão-de-obra, constituem dois eventos separados.  Dizer que a demanda por bens de consumo deve ser vista e analisada separadamente não é o mesmo que de alguma forma desconsiderar o papel do consumidor ou da demanda do consumidor.  Ninguém nega o fato de que a compra de bens de consumo tenha consequências econômicas importantes para o processo de produção em questão.  Porém, com o intuito de se chegar a uma fotografia nítida das relações funcionais presentes nesse processo, é indispensável levar em consideração a separação lógica dos dois eventos.

Ademais, também é importante entender que quando alguém demanda bens de consumo, no sentido de se gastar uma quantia definida de dinheiro nele, este algum está reduzindo sua capacidade de demandar, digamos, serviços de mão-de-obra.  Este, obviamente, é um claro exemplo de escassez.  Se eu gastar toda a minha renda mensal em, por exemplo, jogos, eu não terei como comprar outras coisas.  O mesmo tipo de escassez se aplica com igual intensidade a um sistema econômico complexo, com a única diferença sendo que, o fator restringente nesse sistema econômico como um todo será a quantidade de dinheiro e o volume de gastos.

Mesmo em um sistema monetário em que a quantidade de dinheiro pode ser expandida rapidamente, a lógica da escassez se aplica com a mesma intensidade.  O ato de ter de se decidir entre demanda por bens e demanda por serviços de mão-de-obra já pressupõe a existência de escassez, independentemente de quão rapidamente a oferta monetária possa aumentar.

À luz da simples análise acima, é possível tirarmos conclusões importantes.  Afirmar, por exemplo, que a causa do problema do desemprego — e, consequentemente, sua solução — é uma insuficiente demanda por bens de consumo, significa cometer uma falácia lógica elementar.  Mais ainda: significa estar afirmando que a demanda por bens de consumo de certa forma incorpora a demanda por mão-de-obra; que, no exato momento em que alguém compra um bem de consumo, esse alguém está também comprando serviços de mão-de-obra.  Ou, colocando mais precisamente, tudo isso significa dizer que a demanda por bens de consumo envolve mais do que apenas isso, o que seria uma impossibilidade lógica.

O conceito do gasto produtivo

A existência de demandas distintas por bens de consumo, bens de capital e serviços de mão-de-obra, respectivamente, nos permite fazer uma distinção estrita entre os dois tipos de gasto que existem na economia de mercado.  O primeiro tipo pode ser chamado de gastos com consumo, e está relacionado à demanda por bens de consumo.  O segundo tipo pode ser chamado de gastos produtivos, e está relacionado aos gastos feitos por empresas e indústrias com a compra de bens de capital e serviços de mão-de-obra.  Uma característica distinta dos gastos produtivos é que eles, obviamente, devem ser feitos com fundos que foram anteriormente poupados — isto é, que não foram gastos na compra de bens de consumo.

Observe — e este é outro ponto importante — a diferença crucial entre os dois tipos de gastos.  Do ponto de vista do consumidor, o dinheiro que ele gasta na compra de bens de consumo vai embora, e os bens de consumo que foram comprados, tão logo eles estejam fisicamente extintos ou de alguma forma deixem de ter serventia ao consumidor, devem ser novamente adquiridos.  Para que possa comprar os bens e serviços de que necessita, o consumidor deve ter uma fonte de renda monetária.  Esta é uma característica distinta dos gastos com consumo: eles dependem de fontes externas.

Já os gastos produtivos, por outro lado, são feitos por indústrias e empresas com o propósito específico de trazerem subsequentes receitas de venda, as quais normalmente superam os custos monetários incorridos no processo de produção.  Do ponto de vista de um empreendedor, os gastos produtivos constituem um meio para se obter uma quantia de dinheiro maior do que aquela que foi gasta.

A poupança e os gastos produtivos, e não os gastos com consumo, são os dois fatores que constituem a demanda por mão-de-obra e por bens de capital.  São eles que permitem alargar e sustentar os processos de produção capitalista, os quais, por sua vez, possibilitam às empresas e indústrias aumentarem sua produção e, como consequência, cortar os custos de seus produtos.

Quanto maior for a poupança e os gastos produtivos dos empreendedores e dos capitalistas, maior será a demanda por mão-de-obra e por bens de capital em relação à demanda por bens de consumo, e maiores serão os salários e a produtividade da mão-de-obra — essa última por causa da produção e do emprego de mais bens de capital por trabalhador.

O surgimento de assalariados em conjunto com uma abundância de bens de consumo a preços baixos gerou, pela primeira vez na história da humanidade, o fenômeno do mercado de massas e do consumo em massa.  E, como a palavra "massa" sugere, a esmagadora maioria dos consumidores, e a vasta significância econômica que eles possuem, representa a recém-criada classe de assalariados.  Como já deve estar ficando claro, o consumo em massa é, na realidade, o efeito, e não a causa, da maior produtividade e prosperidade — contrariamente ao que pensam os defensores da teoria de que um baixo nível de consumo é a causa dos males econômicos.

A oferta cria sua própria demanda, e não o contrário.  E, principalmente durante períodos de crise econômica — os quais sempre foram exclusivamente produto de uma política governamental de inflação monetária e expansão do crédito —, a medida mais perniciosa que pode ser tomada é aumentar os gastos do governo em detrimento da poupança e do gasto produtivo.

Isso significa que principalmente a tributação dos lucros corporativos, das heranças e da distribuição de dividendos irá confiscar fundos que de outra forma seriam utilizados para a demanda de bens de capital e mão-de-obra, e desviá-los para gastos com consumo do governo.  Assim, todos os tipos de gastos públicos elevados desta forma, incluindo-se aí os projetos com um caráter aparentemente benéfico, como obras públicas, construção de infraestrutura na forma de rodovias ou meios de comunicação, gastos para educação e escolas etc., podem apenas contribuir para o aumento do desemprego. 

E se o gasto governamental for elevado por meio da criação de mais dinheiro, a única maneira como isso poderá aumentar a demanda por mão-de-obra e bens de capital não será em decorrência de sua mera existência, mas somente se as adicionais receitas de venda resultantes desse aumento monetário forem poupadas e produtivamente gastas por seus recebedores.

Conclusão

O erro básico dos defensores da teoria de que um baixo nível de consumo é a causa dos males econômicos está na crença de que a prosperidade está correlacionada direta e positivamente aos gastos com consumo; na crença de que, ao demandar bens de consumo, um indivíduo estará, de alguma forma, demandando serviços de mão-de-obra em conjunto com bens intermediários que contribuem para a produção do bem final.  O erro advém da incapacidade de identificar as forças que na realidade são as responsáveis pelo consumo em massa e pelo aumento da prosperidade em termos reais.  Tais forças são a poupança e os gastos produtivos feitos pelas empresas e indústrias.

Com relação à teoria econômica, é muito importante entender que uma compreensão correta da relação funcional entre consumo, poupança, gastos produtivos e prosperidade não pode ser adquirido por meio da ciência econômica contemporânea, uma vez que esta consegue confundir coisas básicas em tal grau que a torna praticamente inútil.



autor

Wladimir Kraus
é membro sênior da FCA Markets Analysis and Risk e co-autor do livro Engineering the Financial Crisis: Systemic Risk and Failure of Regulation (University of Pennsylvania Press, 2011). Possui Ph.D. em Economia pela Universidade de Aix-Marselha.

  • Marcelo Werlang de Assis  24/08/2010 20:07
    Mais um excelente artigo proporcionado pelo IMB!\r
    \r
    No fundo, o autor (Wladimir Kraus) explica com primor os meandros da Lei de Say, cujo funcionamento o Leandro Roque me esclareceu num desses comments que se publicam por aqui.\r
    \r
    Gostaria de aproveitar a oportunidade para realizar um pedido. Quando os textos me atraem (isto é, a maioria deles), eu os copio para o Word e os formato como eu quero, de modo a imprimi-los depois (ou apenas salvá-los).\r
    \r
    Percebi que os textos passaram a ter um espaço a mais entre uma frase e outra. Eu lhes peço que voltem a utilizar apenas um espaço, abandonando a prática de haver dois espaços. Claro, se vocês assim preferem, não há problema. O importante é o texto, ou seja, o seu conteúdo.\r
    \r
    Um grande abraço a todos! Que vocês mantenham sempre viva a notável batalha pela liberdade! :)\r
    \r
    Au revoir!\r
  • Rudinei Melo  27/08/2010 10:22
    Não farei comentários, mas colocarei uma dúvida que tenho: supondo que a média mensal que as famílias demandem para consumo de arroz seja de 10kg/família.
    Será que, se os produtores aumentarem a oferta de arroz as famílias aumentarão o consumo do mesmo, já que elas não necessitam mais que 10kg?
    No aguardo de resposta, desde já agradeço.
  • Leandro  27/08/2010 10:46
    Prezado Rudinei, se os produtores aumentarem a oferta de arroz, mas a demanda por arroz continuar a mesma, então os preços terão de cair para que essa oferta adicional seja consumida.

    Nesse cenário - preço do arroz mais baixo -, várias coisas podem ocorrer, sendo que um dos dois cenários abaixo é o mais provável:

    1) As famílias passam a consumir mais arroz;

    2) As famílias mantêm o consumo de arroz em 10kg/família. Porém, como agora estão gastando menos com arroz (por causa de seu preço mais baixo), vai sobrar mais dinheiro, com o qual elas poderão passar a consumir mais de outros produtos. Nesse cenário, os produtores de arroz terão de exportar sua produção excedente.

    Caso o cenário 2 continue se repetindo, porém as exportações não estejam sendo proveitosas (por causa do câmbio, por exemplo), então é factível imaginar que os produtores irão voluntariamente restringir sua produção futura, para que o preço do arroz volte ao nível anterior.

    Abraços.
  • Ulisses Alfredo Santos Lima  29/09/2010 13:33
    Meu Avô já falava, quer prosperar na vida? Trabalhe!!!\r
    \r
    \r
    e a medida da prosperidade pode ser medida em jaule...
  • rafael  13/02/2011 03:17
    > Uma característica distinta dos gastos produtivos é que eles, obviamente, devem ser feitos com fundos que foram anteriormente poupados - isto é, que não foram gastos na compra de bens de consumo.

    Mas pra poupar vc precisa ganhar, que precisa de vendas, que precisa de consumo. Isso ñ significa que consumo gera poupança? Ou então vc pega empréstimos.

    > Isso significa que principalmente a tributação dos lucros corporativos, das heranças e da distribuição de dividendos irá confiscar fundos que de outra forma seriam utilizados para a demanda de bens de capital e mão-de-obra, e desviá-los para gastos com consumo do governo.

    Mas esses consumo do governo, como por exemplo o gasto com infra-estrutura, ñ podem ser considerados como gastos de mão de obra ou gastos produtivos?
  • Marcel Freitas  21/09/2011 00:53
    Rafael.

    Tentarei responder à suas perguntas.

    Sobre a primeira pergunta:

    Antes de qualquer empresa começar a operar no mercado, ou seja, antes que ela ganhe o seu primeiro centavo, devem ser feitos investimentos. Estes investimentos incluem contratação de mão-de-obra, compras de maquinários, aluguéis de prédios, dentre outros. Isso somente será possível caso haja poupança anteriormente acumulada. Essa poupança necessária à realização dos investimentos somente pode ser obtida de três formas:

    1. Poupança acumulada pelo próprio empreendedor;

    2. Poupança acumulada por novos acionistas;

    3. Empréstimos de terceiros.

    Nos três casos, a poupança pressupõe a anterior abstenção de gastos com consumo por parte dos agentes.

    Não importa a ânsia de consumo por parte dos consumidores nem o tamanho do seu poder aquisitivo. Caso não haja poupança disponível por meio das três fontes citadas acima não serão possíveis os investimentos, impossibilitando a produção. Sem produção, consequentemente, não há consumo.

    Não se pode consumir o que não foi produzido.

    Sobre a segunda pergunta:

    Quando o governo realiza gastos públicos, mesmo que seja com contratação de trabalhadores ou em infra-estrutura ele está sendo guiado por algum critério arbitrário de utilidade que não o sistema de lucros. Desse modo, na melhor das hipóteses tudo o que o governo faz é retirar os recursos que seriam consumidos ou investidos pela iniciativa privada e investi-los no setor público. Ou seja, inevitavelmente, haverá menos consumo e investimento por parte da iniciativa privada.

    Levando em consideração que o governo não teve que poupar nem irá arriscar o próprio dinheiro nos empreendimentos públicos não terá o mesmo zelo e aplicação que teria um empreendedor privado gerindo sua próprias economias.


    Abraços.

  • Leandro  22/09/2011 01:29
    O erro básico dessa elucubração do Rafael foi pensar a poupança em termos puramente financeiros. Ele assumiu que poupança é o dinheiro que você ganha e não gasta. Essa é a definição monetária de poupança, e não está errada; mas ela não explica o fenômeno da poupança como acumulação de capital.

    Poupança é tudo aquilo que não foi consumido. É tudo aquilo que está disponível para ser utilizado. É nesso momento que o exemplo de Robinson Crusoé na ilha vem bem a calhar. Quando está coletando frutos e peixe, mas não os está consumindo, Crusoé vai acumulando poupança que vai lhe permitir ser mais produtivo nos dias vindouros, quando ele vai se dedicar à construção de uma choupana sem ter de ficar colhendo frutos e peixes.

    É nesse sentido que se deve pensar a poupança como acumulação de capital, o que vai aumentar a produtividade.

    Abraços!

    P.S.: estou fora do país e com acesso remoto à internet, o que significa que ficarei um pouco afastado daqui. Digo isso apenas para a eventualidade de me perguntarem algo e a minha resposta demorar a aparecer.
  • anônimo  20/09/2011 06:58
    Acredito que os valores de um produto não têm nada comparável com os valores emocionais de uma ocasião, um produto numa data de aniversário não vale mais que um produto numa data diferente. Deve existir a separação de valores quando atribuimos valor ao quie compramos. Penso que este seja um dos grandes erros do mercado.
  • Anônimo II  20/09/2011 16:04
    Anonimo:
    Se um bem não serve pra satisfazer uma vontade, então não serve pra nada, não importa o quanto você tente escapar dessa necessidade lógica.
    Se pessoas demandam mais bens em uma data específica porque aquela data tem um significado especial para elas, negar que os bens valem mais NESSE momento é a mesma coisa que negar a individualidade e a existência dessas pessoas.
  • Alexandre M. R. Filho  20/09/2011 18:35
    O problema é vc obrigar as pessoas a concordarem com vc.\r
    \r
    Considerando que vc acha que um bem tem um valor independentemente do momento e da vontade de quem o está adquirindo/vendendo, vamos supor que, para vc, uma barra de chocolate deva valer 5 patacas.\r
    \r
    Aí, vc vai lá e obriga o dono de uma barra de chocolate como essa a vendê-la por 5 pacatas.\r
    \r
    Quando o dono da barra resolve vender por 10 patacas (sei lá, prum namorado que esqueceu de comprar o presente da namorada no dia do aniversário dela e está desesperado pela tal barra de chocolate) vc vai lá e prende o coitado do dono da barra.\r
    \r
    Nesse caso, vc estará dando uma de socialista, escravocrata, ditador, sei lá. Pode escolher o adjetivo.\r
    \r
    Agora, se vc só achar essa bobagem aí que vc acha, mas não obrigar ninguém a concordar com vc, então tudo bem. Boa sorte nos negócios. Vc vai precisar.
  • Equipe IMB  20/09/2011 12:44
    AVISO AOS LEITORES:

    Prezados, por causa de uma coincidência inusitada de agendas, os integrantes do IMB estarão em trânsito (cada um em um canto do globo) nos próximos dois dias, de modo que o site só voltará a ser atualizado na quinta-feira, dia 22 -- por isso os dois artigos de hoje.

    A moderação dos comentários, consequentemente, ficará um tanto atrasada. Mas, por gentileza, não deixem de enviá-los.

    Pedimos desculpas por isso e contamos com a compreensão de todos.

    Cordiais saudações,

    Equipe IMB
  • Vinci  20/09/2011 13:16
    'A poupança e os gastos produtivos, e não os gastos com consumo, são os dois fatores que constituem a demanda por mão-de-obra e por bens de capital. São eles que permitem alargar e sustentar os processos de produção capitalista, os quais, por sua vez, possibilitam às empresas e indústrias aumentarem sua produção e, como consequência, cortar os custos de seus produtos.'

    A ligação entre poupança e gasto produtivo não me parece ser simples e direto. O que incentiva o gasto produtivo? Como se dá a decisão de produção?

    Penso que o consumo realmente não tem nada a ver com a demanda por trabalho, mas é justamente o consumo o fator de estabilidade das expectativas das firmas, que portanto demandam trabalho. Nesse caso, entendo que a ligação entre consumo e trabalho não é direta, mas indiretamente existe essa ligação.
  • Tiago Moraes  21/09/2011 11:00
    O que o autor está querendo dizer é que o próprio aumento da produção fomenta o crescimento da demanda, pois o maior emprego de fatores, indubitavelmente gerará mais renda em detrimento de uma tendência de queda dos preços, ou seja, temos um crescimento qualitativo e quantitativo da demanda apenas com o aumento da oferta. Enfim, apenas a variável "Consumo de bens finais" não justifica crises econômicas, recessões e crescimento econômico.
  • Tiago RC  21/09/2011 12:10
    A poupança está ligada à produção porque não há maneira de se aumentar o volume de capital (meios de produção) sem antes poupar recursos para esse objetivo. Se todo recurso produzido for consumido, não sobra nada para ser investido em aumento do capital.
  • Robson Cota  20/09/2011 22:44
    Estou ansioso pelas respostas às perguntas do rafael (principalmente a primeira consideração) e do Vinci.
  • anônimo  21/09/2011 11:41
    Investidores somente arriscarão sua poupança para fazer investimentos produtivos se houver expectativa de demanda futura, e consequentemente, expectativas de lucros.

    Se as pessoas começarem a consumir menos e a poupar mais, mais verbas serão liberadas para investimentos produtivos, mas eu não entendo por qual motivo os investidores iriam utilizar essas verbas se o consumo atual está diminuindo? Menor demanda hoje não pode indicar aos investidores menor expectativa de lucros?
  • Robson Cota  23/09/2011 19:03
    Acho que esse é um ponto importante. O que vai fazer o empreendedor que se encontra no início da cadeia de produção, mesmo tendo poupança de sobra, a expandir seu negócio, sabendo que lá no fim da cadeia, na etapa do consumo final, a demanda é baixa por causa de uma recessão?
  • LIVIO LUIZ SOARES DE OLIVEIRA  22/09/2011 11:46
    "O mesmo tipo de escassez se aplica com igual intensidade a um sistema econômico complexo, com a única diferença sendo que, o fator restringente nesse sistema econômico como um todo será a quantidade de dinheiro e o volume de gastos."

    Aqui não entendi. Como assim o fator restringente será a quantidade de dinheiro? Não será a quantidade de bens produzidos e ofertados o fator restringente? Fosse a quantidade de dinheiro o fator restringente, o Zimbabue, com sua oferta monetária infinita de moeda sem lastro, seria o país mais rico do mundo. Ou na Alemanha da hiperinflação da década de 20 todos viveriam na superabundância. Sinceramente, não entendi essa passagem.
  • vanderlei  24/09/2011 08:53
    Então, poderíamos considerar três variáveis para a solução: Consumo - Poupança - Produção, o consumo só seria válido gerando a poupança,e assim obtendo produção e Mão-de-obra?
  • Carlos  26/09/2011 00:10
    A oferta cria sua própria demanda, e não o contrário.

    Penso que nem toda oferta gerará sua própria demanda. Haverão ofertas que não gerarão demanda se os consumidores reprovarem esta oferta.

    Se por questões de valores por exemplo, todas elas reprovem o consumo de drogas, mesmo que ele seja livre, não haverá demanda por drogas.

    Isso que eu acho interessante no mercado. A sua ação sempre está sujeita a aprovação ou não do restante dos indivíduos, representada pela demanda.

    Se sua ação é profícua ela terá boa demanda, e se for rejeitada não haverá demanda.
  • M.  04/10/2011 04:16
    Sobre a equação: yd=(y+tr-tx-u). Aumentando u(poupança empresarial) vai diminuir a renda disponível, que vai diminuir a renda nacional, ou seja, nessa equação fica clara que u diminui renda nacional, enquanto que o texto mostra que a poupança, inclusive a empresarial,que é a causa da prosperidade.
    Porém na faculdade nos é passado essa equação e nos dizem que u diminue Y. Mas seria possível tomar essa equação como efeito, um segundo estágio apos a acumulação? Ou a equação é falha?
  • Rhyan  14/12/2011 16:22
    Não entendi bem essa parte:

    "Do ponto de vista do consumidor, o dinheiro que ele gasta na compra de bens de consumo vai embora"

    Como assim 'vai embora'?
  • Leandro  14/12/2011 16:29
    Quando você, consumidor, compra um Big Mac ou um almoço a quilo, seu dinheiro vai embora (você fica sem aquele dinheiro), assim como esse seu bem de consumo, tão logo você o consuma. É isso que o parágrafo está dizendo.

    É importante também ler o parágrafo seguinte para entender a diferença entre gastos com bens de consumo e gastos com bens de produção.
  • Rhyan  14/12/2011 16:37
    Mas esse dinheiro nunca vai chegar no produtor?

    Off: Às vezes dá erro quanto tento postar aqui, perco tudo que escrevi, um erro recente.
  • Leandro  14/12/2011 16:39
    Vai chegar, é claro. Mas é por isso que o trecho enfatiza: "do ponto de vista do consumidor".
  • Rhyan  14/12/2011 17:01
    Na verdade minha dúvida não se prende a esse trecho. Uma sociedade voltada para o consumo, segundo essa idéia do texto, sofreria com desindustrialização. Mas esse consumo não geraria poupança para os produtores?
  • Leandro  14/12/2011 17:45
    Não tem como. Primeiro porque quem consome hoje não terá poupança para consumo futuro. Sendo assim, para quem os produtores venderão sua produção? Ademais, quem consome está por definição exaurindo bens de consumo. Com menos bens de consumo à disposição dos produtores, estes não terão poupança abundante à disposição (lembre-se que a oferta de bens de consumo é em si uma poupança).

    Essas ideias foram mais bem desenvolvidas neste artigo

    Por outro lado, uma expansão da oferta monetária poderia remediar este problema, mas apenas sob circunstâncias muito específicas, exatamente como explicado no artigo de hoje:

    Consumidores não criam empregos
  • Rhyan  14/12/2011 18:07
    Ok, obrigado!

    Não estou compreendendo totalmente esse assunto, parece que falta alguma coisa.

    Tem algum texto sobre como seria uma sociedade voltada para o consumo?

    abraço!
  • Leandro  14/12/2011 18:20
    Um bom exemplo de sociedade voltada para o consumo foi o Brasil da década de 1980 e início da década de 1990. Como o dinheiro se desvalorizava todo dia, as pessoas tinham de consumir ao máximo para garantirem alguma coisa. Esse tipo de economia, totalmente voltada para o consumo, inviabiliza qualquer investimento de longo prazo, justamente porque o consumo representa exaurimento de poupança. Sem poupança, sem investimento.

    Todo o consumo sempre se dá à custa de investimentos em capital (a estrutura do capital não se alonga); como consequência, toda a economia fica mais pobre. Todo o consumo implica destruição de capital.

    Daí a idiotice de achar que é o consumo o que cria riqueza na economia. Como uma coisa que consome capital pode criar riqueza? A menos que o pessoal ache que dinheiro girando é o mesmo riqueza...
  • Rhyan  14/12/2011 19:05
    Entendi, valeu!
  • Paulo  19/08/2012 09:28
    Leandro, vc tem dados das taxas de poupança da Inglaterra na época da Revolução Industrial (período de apogeu britÂnico de 1770 a 1850)? Se não me engano os norte-americanos e ingleses do século XIX poupavam bem mais do que em qqr época...
  • Eduardo  15/09/2015 01:51
    "Quanto maior for a poupança e os gastos produtivos dos empreendedores e dos capitalistas, maior será a demanda por mão-de-obra e por bens de capital em relação à demanda por bens de consumo, e maiores serão os salários e a produtividade da mão-de-obra — essa última por causa da produção e do emprego de mais bens de capital por trabalhador"

    A ultima frase eh um non sequitur, ou algo me escapou?
    De resto, excelente artigo!
  • Luiz Fernando Ramos  27/11/2018 20:16
    Muito bom! Este artigo é o mais elucidativo do site com relação à bens de capital, consumo e mão de obra; sem ele não teria entendido.
  • Emerson Luis  20/09/2019 17:58

    Se todas as pessoas gastassem tudo o que possuem em consumo, não haveria criação de riqueza, apenas destruição de riqueza.

    Para que haja criação de riqueza é necessário que pelo menos algumas pessoas poupem alguma parte do que possuem e a invistam em vez de consumir tudo.

    * * *


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