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Um governo em dieta - quando os gastos realmente foram cortados

Podem os gastos de um governo federal, e consequentemente seu déficit orçamentário, serem de fato reduzidos substancialmente sem fazer com que o PIB entre em uma espiral descendente e o desemprego aumente a níveis extraordinários?

Social-democratas e economistas com simpatias keynesianas sempre argumentaram que reduções substanciais no gasto federal quando a atividade econômica está fraca (como atualmente nos países desenvolvidos) são medidas desastrosas.  Será mesmo?  Vejamos o que realmente aconteceu na última vez em que o governo de um país desenvolvido realmente reduziu seus gastos de maneira substancial.

O país é os EUA e o período é de 1945-1950.  Tal período é (praticamente) um teste científico de uma hipótese keynesiana.  Não obstante os repetidos alertas de vários economistas convencionais de que cortar gastos ao fim da Segunda Guerra Mundial traria de volta a Grande Depressão, o Congresso americano reduziu dramaticamente os gastos governamentais entre 1945 e 1950. 

Os gastos do governo federal caíram de US$ 106.9 bilhões em 1945 para US$ 44,8 bilhões em 1950.  Os gastos com defesa sofreram o maior corte de todos, caindo de US$ 93,7 bilhões em 1945 para apenas US$ 24,2 bilhões em 1950.  Em apenas 5 anos, os gastos do governo caíram (em porcentagem do PIB) de 45% em 1945 para apenas 15% em 1950, e o déficit orçamentário anual do governo federal caiu de US$ 53,7 bilhões em 1945 para apenas US$ 1,3 bilhão em 1950.

Porém, o que aconteceu com a produção econômica e o desemprego?  Não obstante as maciças transições econômicas por que passava a economia, que rearranjava sua estrutura até então voltada para o esforço de guerra para a produção doméstica, o PIB na verdade aumentou (confundindo todos os keynesianos) de US$ 223 bilhões em 1945 para US$ 244,2 bilhões em 1947 e então para US$ 293,8 bilhões em 1950.  E mesmo com os milhões de soldados voltando para casa após a guerra, a taxa de desemprego ficou na média extremamente baixa de 4,5% entre 1945 e 1950.  Desastre econômico?  Dificilmente.

A história, obviamente, nunca se repete da mesma maneira, e 2010 não é 1945.  Porém, uma coisa é clara: cortar os gastos e os déficits do governo federal americano no período imediatamente após a Segunda Guerra Mundial não foi nenhuma obstrução à economia; longe disso.  Com efeito, à medida que os gastos do governo e os controles de preço da época da guerra recuaram, a economia do setor privado expandiu-se robustamente e o desemprego permaneceu sensivelmente baixo.  Os keynesianos, completamente errados na teoria, estavam completamente errados na prática também.

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Leia também sobre o mesmo assunto: 

Um conto de duas grandes depressões



autor

Dom Armentano
é professor emérito da Universidade de Hartford e autor de Antitrust and Monopoly (Independent Institute, 1998) e Antitrust: The Case for Repeal (Mises Institute, 1999).  Já publicou artigos, colunas e críticas no The New York Times, Wall Street Journal, London Financial Times, Financial Post, Hartford Courant, National Review, Antitrust Bulletin e em vários outros jornais.

  • Cristiano  07/12/2010 16:13
    Apesar de curto o artigo chama a atenção para um fato que vem sendo muito distorcido ultimamente.
    O corte de gastos que as nações européias, todas literalmente quebradas, estão anunciando não enganam. São pífios, servem apenas de perfumaria para a imprensa e incautos do mercado financeiro venderem como "estão tomando medidas duras".
    Na verdade não cortam absolutamente nada de relevante.
    Por isso é tão dificil pinçar exemplos como o citado no artigo onde tivemos cortes relevantes.
  • LUIZ OLIVEIRA  07/12/2010 17:18
    Esse artigo curtíssimo vale infinitamente mais que todos os tratados de economia keynesiana, neokeynesiana e pós-keynesiana juntos.
  • Anna  09/12/2010 11:56
    Correta em parte. Quando os soldados voltaram da guerra, as mulheres deixaram seus empregos e tornarams-e donas de casa, uma solução plausível para a época, porém inviável nos dias de hoje. Campanhas massivas foram realizadas para que as mulheres assumissem seu papel em casa e deixassem o emprgo para os homens, se isto não tivesse acontecido o desemprego seria enorme. \r
  • Tiago Bezerra  05/12/2012 07:00
    Obrigado pessoal do Mises, por me tirar de mais uma matrix. Sempre fui enganado acerca da Grande Depressão. Quanto mais leio seus artigos, mais eu vejo o quanto eu fui enganado. Continuem com esse trabalho de mostrar a verdade. Abraços.
  • Emerson Luis, um Psicologo  16/08/2014 22:46

    Acontecimentos como estes e suas lições são estrategicamente ignorados.

    * * *
  • Victor  30/11/2014 16:35
    Olá, em um debate eu disse praticamente isso do artigo que eu já havia lido antes, porém um amigo meu me disse o seguinte:
    EUA aumentaram a sua economia na Segunda Guerra Mundial a uma taxa média de 25% ao ano. Pra que eles iriam aplicar Keynesianismo e trabalhar na demanda, se já havia demanda mais que suficiente na Europa? Era só mandar o excedente através de Plano Marshall. Que inclusive, tem vários traços semelhantes ao Keynesianismo - Linhas de crédito...

    Como refutar?
  • Léo   01/12/2014 10:30
    Refutar o quê? Não deu pra entender nada desse emaranhado de palavras e idéias convolutas...
  • Felipe  01/12/2014 11:55
    Pelo o que eu entendi do raciocínio é que como havia demanda reprimida na europa, os maléficos americanos enviaram dólares para a Europa através do Plano Marshall para assim os europeus comprarem produtos americanos,e os americanos se beneficiaram com isso.

    Não faz sentido, o raciocínio dele é que se o governo criar dinheiro e dá para alguém fica comprando seus produtos isso é bom. Basta pergunta para seu amigo como esse processo irá melhorá a vida dos consumidores.

    As indústrias beneficiadas certamente irão trabalhar a toda capacidade, mas isso não é bom vejamos:

    Primeiro é que haverá aumento de preços e portanto distorção de renda, pois quem está recebendo dinheiro primeiro se beneficiará de quem não recebeu.

    Segundo é que algumas indústrias estarão se beneficiando indevidamente, indústria que já não atendem o consumidor e deveriam está falindo não estarão, essas indústrias utilizarão recursos para aumentar sua capacidade produtiva, e para fazer isso estarão prejudicando o crescimento de outras indústrias que melhor iriam atender o consumidor.

    Terceiro e mais importante, é que esse processo está destruindo o capital, a economia precisa poupar recursos para que haja investimentos e assim crescer a economia.
  • Thiago Teixeira  08/12/2015 03:46
    Olhem aqui a saída para o Brasil!
    E para todas as sociais-democracias...
  • Willians  15/08/2017 15:22
    Olá caras, gosto muito dos artigos, mas devo dizer que vocês deveriam colocar e destacar melhor as referencias. Isso faz muita falta quando, por exemplo, se deseja usar algum artigo daqui para exemplificar alguma ideia.


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