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A teoria austríaca dos ciclos econômicos e as causas da Grande Depressão

Em junho de 1931, o economista britânico Lionel Robbins escreveu um prefácio para o novo livro do economista austríaco Friedrich A. Hayek, Prices and Production.  O professor Robbins explicou o "maravilhoso renascimento" que a escola austríaca de pensamento econômico havia vivenciado desde o fim da Primeira Guerra Mundial sob a liderança de economistas como Ludwig von Mises.  Dentre as mais importantes contribuições recentes da escola austríaca, disse ele, estava a teoria dos ciclos econômicos, cujo referido livro de Hayek tinha a intenção de apresentar para o mundo anglófono.  Observou o professor Robbins:

A maioria dos teóricos monetários parece ter falhado completamente em apreender corretamente a natureza das forças operantes nos EUA antes do evento da grande depressão, aparentemente pensando que a relativa estabilidade do nível de preços indicava um estado de coisas necessariamente livre de nocivas influências monetárias.  A teoria austríaca, da qual o doutor Hayek é tão ilustre expoente, pode reclamar ao menos esse mérito, que ninguém que realmente entendeu suas principais doutrinas poderia ter nutrido por algum momento tão vãs ilusões.

Eventos históricos nunca são o resultado de um fator influente, mesmo que este seja fortemente dominante.  E isso não é menos verdadeiro para o caso das influências políticas e econômicas que atuaram antes do início da Grande Depressão em 1929.  A Primeira Guerra Mundial havia desorganizado todas as relações políticas e econômicas normais ao redor do globo.  Enormes quantidades de capital físico e mão-de-obra humana haviam sido consumidas e destruídas durante os quatro anos da guerra.  As inflações que ocorreram durante a guerra e principalmente no período posterior à guerra rasgaram o tecido social e cultural dos principais países da Europa, especialmente Alemanha e Áustria.  As instituições da sociedade civil e liberal foram severamente enfraquecidas e substituídas por regimes políticos intervencionistas e socialistas que limitaram ou aboliram as liberdades civis e econômicas.

Novas nações surgiram na Europa Central e no Leste Europeu com o colapso dos impérios alemão, austríaco e russo.  Todas elas, embora com intensidades distintas, seguiram o caminho do nacionalismo econômico — impondo tarifas protecionistas, subsidiando a agricultura e várias indústrias privilegiadas, nacionalizando setores inteiros da economia, instituindo controles de capital e taxas de câmbio artificiais, estabelecendo programas assistencialistas.

Os pagamentos de reparação impostos sobre a Alemanha representaram uma espécie peculiar de "dança das cadeiras", um mecanismo financeiro artificioso por meio do qual os EUA emprestavam dinheiro para os alemães para que estes pudessem quitar seus pagamentos para com as forças aliadas, dentre as quis os próprios EUA — as barreiras comerciais impostas por americanos e europeus praticamente impossibilitaram a Alemanha de obter, por meio de suas exportações, a soma necessária de moeda estrangeira com a qual cumprir todas as suas obrigações financeiras sob os termos impostos pelo tratado de paz que pôs fim à guerra.

O sistema monetário mundial — o padrão-ouro internacional — foi fatalmente enfraquecido pelas políticas inflacionárias adotadas pelos governos durante e após a guerra.  Não obstante todas as debilidades do modelo de padrão-ouro que foi adotado — um padrão-ouro em que havia reservas fracionárias —, e apesar de todos os abusos impostos a esse padrão-ouro pelos governos que o gerenciaram nas décadas anteriores a 1914, é notório que tal sistema logrou trazer um alto grau de estabilidade monetária, criando um ambiente econômico global propício à poupança, ao investimento, ao comércio internacional e à formação de capital.  Na década de 1920, entretanto, os sistemas monetários das principais nações da Europa já eram formados por moedas fiduciárias mais diretamente controladas e manipuladas pelos seus respectivos governos, ainda que tais moedas continuassem nominalmente "atreladas" ao ouro.

Nos Estados Unidos, a criação do Federal Reserve System, o banco central americano, em 1913, criou uma nova e centralizada máquina de expansão monetária.  Dentro desse arranjo, o banco central americano colocou em prática seu experimento de tentar, por meio de manipulações na oferta monetária, estabilizar o nível de preços da economia americana.

Na década de 1920, Ludwig von Mises demonstrou a fundamental incapacidade de todas as tentativas de estabilizar uma economia por meio de políticas monetárias que visam à estabilização do nível de preços, explicando o problema da inerente não-neutralidade da moeda.  Mudanças na oferta monetária necessariamente ocorrem por meio da injeção de quantias novas de dinheiro em alguns pontos específicos do mercado.  Essas adições de dinheiro novo à oferta monetária afetam o resto da economia através de um processo temporal e sequencial, em que o novo dinheiro criado é utilizado por cada indivíduo e por cada grupo de ofertantes e demandantes que vão recebendo esse novo dinheiro ao longo do tempo.

O resultado final é uma mudança no poder de compra geral, isto é, no valor do dinheiro.  Porém, durante esse processo de mudança no poder de compra do dinheiro, a estrutura de preços relativos, salários e renda, bem como a alocação de recursos por toda a economia, também são modificados.  Mais ainda: se as injeções monetárias ocorrem através do sistema bancário, as taxas de juros são alteradas, e isso pode gerar um ciclo econômico.

Porém, foi o jovem colega austríaco de Mises, Friedrich A. Hayek, quem detalhou por que as tentativas de estabilizar o nível de preços podem distorcer a estrutura dos preços relativos da economia de tal maneira que um ciclo econômico provavelmente será gerado.  Em seu livro Monetary Theory and the Trade Cycle (1929), Hayek argumentou que a função da taxa de juros em uma economia de mercado é assegurar que a quantidade de investimentos e os horizontes temporais desses investimentos se deem de acordo com a quantidade de poupança disponível na economia, que é o que permite esses investimentos.  Quando a taxa de juros não sofre intervenções e é livremente formada de acordo com as forças concorrenciais do mercado, poupança e investimento permanecem em equilíbrio.  Porém, quando as taxas de juros são manipuladas — como quando há um banco central —, poupança e investimento podem ficar em desequilíbrio, gerando assim os ciclos econômicos.

Uma economia que está vivenciando aumentos na produtividade e na formação de capital, apresentará maiores eficiência de custo e capacidade produtiva de suas várias indústrias.  Isso, com o tempo, irá pressionar para baixo os preços, justamente por causa da maior oferta de bens oferecidos aos consumidores no mercado.  O preço de cada um desses bens será reduzido até o ponto em que o mercado em que cada bem é vendido chegue ao seu novo equilíbrio.  Nos mercados em que a demanda dos consumidores reage mais sensivelmente a esse aumento na oferta de bens — isto é, em que a demanda aumenta por causa da maior oferta —, os preços individuais de cada bem irão se reduzir apenas moderadamente.  Em outros mercados, em que a demanda dos consumidores seja notadamente menos sensível a esse aumento na oferta de bens, os preços individuais de cada bem teriam de cair com maior intensidade para fazer com que essa maior oferta fique equilibrada com a demanda, cuja alteração foi pequena.

Com o passar do tempo, o nível médio de preços mensurado por alguma estatística de índice de preços iria apontar a ocorrência de uma "deflação".  Porém, tal deflação de preços não apenas não seria ruim para a economia, como na verdade seria essencial para fazer com que a estrutura do mercado equilibrasse os preços relativos, mantendo a oferta e a demanda de cada bem equilibradas entre si ao longo do tempo.

No caso específico dos EUA durante a década de 1920, a economia do país estava passando por rápidas transformações tecnológicas, o que gerou grande aumento na produtividade e, consequentemente, pressões baixistas nos preços dos bens e serviços.  Porém, em vez de permitir que essa tendência baixista nos preços ocorresse naturalmente, o Fed estimulou o aumento da oferta de dinheiro na economia americana com o intuito de neutralizar esse processo normal de deflação de preços.  Em termos agregados, a quantidade de dinheiro na economia foi aumentada de tal forma que fez com que a demanda por bens e serviços aumentasse o suficiente para igualar o aumento ocorrido na quantidade de bens e serviços oferecidos no mercado.  Essa equivalência de aumento da demanda com aumento da oferta fez com que o nível de preços se mantivesse praticamente "estável" ao longo de grande parte da década de 1920. 

Ou seja, não havia nenhum sinal aparente da tradicional inflação de preços nos EUA durante a década de 1920.

Porém, como argumentou Hayek em Monetary Theory and the Trade Cycle,

A taxa de juros que equilibra a oferta de poupança real com a demanda por capital não pode ser também uma taxa de juros que impeça mudanças no nível de preços.  Neste caso, a estabilidade do nível de preços pressupõe mudanças na oferta monetária.... A taxa de juros sob a qual, em uma economia em crescimento, a quantidade de dinheiro que entra em circulação na economia é apenas suficiente para manter o nível de preços estável, sempre será menor do que a taxa que faria com que a quantidade de capital disponível para empréstimos seja igual à quantidade simultaneamente poupada pelo público.  Assim, apesar da estabilidade do nível de preços, essa taxa de juros artificial possibilita que haja um afastamento da posição de equilíbrio.

Aumentos na oferta monetária, institucionalmente, são feitas na forma de um aumento das reservas do sistema bancário, aumentos esses feito pelo Banco Central, que cria moeda do nada e com ela compra títulos em posse do sistema bancário.  É sobre essas novas reservas bancárias que novos empréstimos são concedidos pelo sistema bancário.  Porém, a única maneira de os bancos poderem induzir potenciais tomadores de empréstimo a aceitarem novas quantias é diminuindo a taxa de juros que os eles cobram sobre esses empréstimos.

Uma taxa de juros mais baixa diminui o custo do empréstimo em relação à taxa de retorno esperada de vários projetos de investimento.  Porém, a taxa de juros não é apenas uma medida do custo dos empréstimos; ela é também o fator por meio do qual o valor esperado de um investimento é capitalizado em termos de seu valor presente — isto é, ela permite que se estime a rentabilidade de um projeto de longo prazo.  Uma taxa de juros mais baixa, portanto, também age como um estímulo para se incorrer em projetos de investimento de prazos mais longos, com horizontes temporais maiores, visando a um futuro mais distante.  Caso não tivesse havido esse aumento na oferta monetária, as taxas de juros para o mercado de empréstimos não teriam sofrido essa redução temporária.  Consequentemente, tais investimentos de longo prazo não teriam se tornado repentinamente atraentes e, portanto, não teriam sido iniciados.

Assim, na década de 1920 nos EUA, sob a aparente calma criada por um nível de preços estável, a política monetária expansionista adotada pelo Fed estava criando uma estrutura de preços e lucros deturpada, que induziu um grande número de investimentos de longo prazo, investimentos esses para os quais não havia uma poupança real disponível para sustentá-los no longo prazo. 

E por que eles eram insustentáveis no longo prazo?  Porque, à medida que o novo dinheiro criado ia sendo gasto em novos e alargados projetos de investimento, esse dinheiro adicional, com tempo, chegava às mãos dos fatores de produção (isto é, a mão-de-obra) que foram atraídos para esses empregos por causa dos maiores salários.  À medida que esses maiores salários eram, por sua vez, gastos no mercado, as demandas por bens de consumo eram estimuladas, fazendo com que houvesse contrapeso: os recursos que haviam sido desviados para os investimentos de longo prazo passavam a ser novamente trazidos para a produção de bens de consumo e para projetos de investimento com horizontes temporais menores.

Nesse cenário, a tendência seria a de que houvesse um aumento das taxas de juros mercado, pois empréstimos estavam sendo demandados por todos os lados.  Entretanto, para evitar essa subida nos juros, o Fed seguiu injetando dinheiro no sistema bancário.  Somente assim ele foi capaz de impedir que os juros de mercado se mantivessem abaixo de seus níveis adequados de equilíbrio, o que possibilitou que a lucratividade dos investimentos de longo prazo se mantivesse temporariamente alta — investimentos esses que foram gerados justamente pela tentativa de se manter o nível de preços estável.

Finalmente, em 1928, sob a pressão dessa expansão monetária, o nível de preços da economia americana começou a subir.  O Fed, receoso de provocar um descontrole absoluto nos preços, reduziu acentuadamente o ritmo de crescimento da oferta monetária.  Porém, com o fim da expansão monetária, as taxas de juros começaram subir para seus níveis de equilíbrio de mercado.  Alguns dos investimentos de longo prazo — tanto aqueles que já haviam sido finalizados como aqueles que ainda estavam em progresso — revelaram-se não lucrativos sob as novas e maiores taxas de juros.  O "boom" dos investimentos chegou ao fim e o início de seu colapso foi sinalizado pelo crash da bolsa de valores em outubro de 1929.  

Em 1932, em um artigo intitulado "The Fate of the Gold Standard" (O Destino do Padrão-Ouro), Hayek resumiu aquela que ele considerava ser a lição da década de 1920:

Ao invés de permitir que os preços pudessem cair lentamente — resultado inevitável de uma economia em crescimento —, um volume tão grande de crédito adicional foi colocado em circulação, que o nível de preços se manteve praticamente estável...  Se tal inflação monetária irá servir apenas para manter os preços estáveis, ou se ela levará a um aumento dos preços, é algo de importância secundária.  A experiência agora confirmou aquilo que a teoria já predizia: que tal inflação também pode fazer com que a produção seja direcionada para investimentos insustentáveis, fazendo com que, no final, um colapso na forma de crise econômica se torne inevitável.  Isso, entretanto, também comprova a impossibilidade de alcançar, na prática, a manutenção absoluta do nível de preços em uma economia dinâmica.

Tão logo a expansão monetária foi interrompida (em 1928-1929), as forças corretivas do mercado entraram em cena.  Porém, a intensidade e a duração da Grande Depressão acabaram sendo maiores e mais longas do que o normalmente necessário para um equilíbrio econômico ser restaurado.  Os motivos da severidade da Grande Depressão não podem ser encontrados em qualquer defeito inerente à economia de mercado, mas, sim, nas ideologias políticas e nas medidas governamentais da década de 1930.

______________________________________________________

Para entender o que causou a severidade da Grande Recessão, os artigos a seguir são essenciais:

A Grande Depressão - uma análise das causas e consequências 

Herbert Hoover e George W. Bush: intervencionistas que amplificaram recessões (1ª Parte) 

Herbert Hoover e George W. Bush: intervencionistas que amplificaram recessões (final)

Rothbard, Friedman e a Grande Depressão - quem afinal estava certo? 

Como Franklin Roosevelt piorou a Depressão



autor

Richard Ebeling

leciona economia na Northwood University de Midland, Michigan, é um scholar adjunto do Mises Institute e trabalha no departamento de pesquisa do American Institute for Economic Research.


  • anônimo  25/05/2011 17:06
    A economia dos EUA continua como ciência particular dos banqueiros.

    Precisamos de uma mudança de paradigma.
  • Rodrigo Branco  26/05/2011 12:31

    Teacher,

    Today, can´t we see a similar process running in the U.S., with the rampant issuance of dollars in post-2008 financial crisis?


    Rgds

    Rodrigo Branco
  • Alexandre M. R. Filho  20/03/2012 22:22
    Leandro, que belo texto.

    Meu professor havia dito que essa história de manipulação da base monetária por governos causar crises seria bobagem porque, em 1929, o sistema bancário americano funcionava com 100% de reservas.

    Essa parte, especificamente, matou minha dúvida:

    "O sistema monetário mundial — o padrão-ouro internacional — foi fatalmente enfraquecido pelas políticas inflacionárias adotadas pelos governos durante e após a guerra. Não obstante todas as debilidades do modelo de padrão-ouro que foi adotado — um padrão-ouro em que havia reservas fracionárias —, e apesar de todos os abusos impostos a esse padrão-ouro pelos governos que o gerenciaram nas décadas anteriores a 1914, é notório que tal sistema logrou trazer um alto grau de estabilidade monetária, criando um ambiente econômico global propício à poupança, ao investimento, ao comércio internacional e à formação de capital. Na década de 1920, entretanto, os sistemas monetários das principais nações da Europa já eram formados por moedas fiduciárias mais diretamente controladas e manipuladas pelos seus respectivos governos, ainda que tais moedas continuassem nominalmente "atreladas" ao ouro."

    Porém, vc sabe se tem algum gráfico disponível no IMB tratando da quantidade de $$ em circulação logo antes, durante e logo depois da crise de 1929?

    Obrigado, mais uma vez!
  • Leandro  20/03/2012 23:22
    Prezado Alexandre, esta informação não consta em nenhum meio oficial. Exatamente por isso ela foi objeto de profunda pesquisa do Rothbard em seu livro America's Great Depression. Leia a partir da página 85 sua definição da oferta monetária daquela época, bem como a variação dela, com direito a tabela e tudo.

    Abraços!
  • Josias Luna  09/01/2014 10:49
    "...o Fed estimulou o aumento da oferta de dinheiro na economia americana com o intuito de neutralizar esse processo normal de deflação de preços."

    Leandro, por que a deflação incomodaria o FED? Não entendi por que houve aumento da expansão monetária para equilibrar os preços, visto que preços em queda são bons para os consumidores e positivos no sentido de melhorar a reputação da politica econômica frente aos eleitores. Então, o que motivou o FED a impedir a queda de preços?

    Abraços!
  • Leandro  09/01/2014 10:57
    Essa é a pergunta que atormenta o mundo. Por que keynesianos, neoclássicos e a maioria dos chicaguistas são contra preços em queda? Eles acham que preços em queda desestimulam investimentos (nunca devem ter ouvido falar no setor de produtos tecnológicos) e levam a economia a uma espiral infindável de deflação-recessão.
  • Hell Back  11/02/2015 17:47
    O Federal Reserve impediu a queda de preços porque os bancos, sem exceção, lucram com a inflação. Os bancos não poderiam mais se apropriar do imposto inflacionário dos correntistas.
  • Yonatan Mozzini  05/05/2014 11:21
    Muito bom este artigo!

    Leandro, a história que se vê nos livros de colégio e até nas faculdades de economia afirma que houve um maciço investimento das empresas em geral e uma superprodução durante os anos 20 e que a quebradeira ocorreu pelo fato de não haver demanda efetiva respectiva a essa oferta de bens e serviços por parte da sociedade, dos trabalhadores em geral, devido aos baixos salários. Esta posição está correta também? Pois o texto diz:

    "E por que eles eram insustentáveis no longo prazo? Porque, à medida que o novo dinheiro criado ia sendo gasto em novos e alargados projetos de investimento, esse dinheiro adicional, com tempo, chegava às mãos dos fatores de produção (isto é, a mão-de-obra) que foram atraídos para esses empregos por causa dos maiores salários. À medida que esses maiores salários eram, por sua vez, gastos no mercado, as demandas por bens de consumo eram estimuladas, fazendo com que houvesse contrapeso: os recursos que haviam sido desviados para os investimentos de longo prazo passavam a ser novamente trazidos para a produção de bens de consumo e para projetos de investimento com horizontes temporais menores."

    Houve na época um aumento apenas nominal nos salários? Um aumento real nos salários ajudaria a amenizar a crise que viria?

    Obrigado!
  • Gabriel  27/01/2017 13:10
    Aumento real do salário foi o que teve durante a recessão. Só o que isso fez foi o desemprego saltar de 4% para 25%.
  • Lucca  11/12/2014 19:22
    Leandro, muito bom artigo! Uma pergunta, qual é o motivo prático para os investimentos insustentáveis, que foram feitos na época da taxa baixa de juros, falirem? Pelo que eu entendi seria uma demanda inexistente de seus produtos, visto que demanda no momento seria maior por bens de consumo. Mas não seriam considerados também os maiores custos dos fatores de produção, causados pela inflação de preços? Ou podemos considerar também novas captações de empréstimos a juros mais altos para a continuidade do projeto, o que inviabilizaria o mesmo? O que estou tentando entender é se existe um único fator preponderante que deixa esses projetos inviáveis ou se são vários fatores que acarretam em sua inviabilidade. Contabilmente falando, se os problemas são baixas receitas, altos custos ou altas despesas com financiamento.

    Muito obrigado.
  • Leandro  11/12/2014 21:47
    É uma combinação entre endividamento, renda arrefecida e preços mais altos.

    Durante a fase da expansão do crédito, as pessoas se endividam e os preços sobem.

    Quando a expansão do crédito se arrefece, as pessoas endividadas têm de arcar com o serviço de sua dívida.

    Quando a expansão do crédito se arrefece, o crescimento da renda diminui e as pessoas endividadas não apenas têm de arcar com o serviço de sua dívida, como também têm de lidar com os preços mais altos em toda a economia (consequência da expansão do crédito).

    Essa combinação entre endividamento, renda estagnada e preços mais altos afeta a demanda por esses investimentos.

    Um exemplo prático aplicado ao Brasil foi dado neste artigo:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=1943
  • Emerson Luis, um Psicologo  12/12/2014 00:17

    É impressionante que todo esse conhecimento já esteja disponível há quase um século e desde então seja sistematicamente ignorado, gerando um enorme sofrimento evitável.

    * * *
  • Gustavo  17/09/2016 00:02
    Prezado Leandro, achei um trecho numa monografia que faz um extensa crítica ao método seguido pelos Austríacos. Em relação especificamente à esse tema dos ciclos econômicos, o autor escreve o seguinte:

    "The Austrian theory also suffers from serious internal inconsistencies. If, as in the Austrian theory, initial consumption/investment preferences "re-assert themselves," why don't the consumption goods industries enjoy a huge boom during depressions? After all, if the prices of the capital goods factors are too high, are not the prices of the consumption goods factors too low? Wage workers in capital goods industries are unhappy when old time preferences re-assert themselves. But wage workers in consumer goods industries should be overjoyed. The Austrian theory predicts a decline in employment in some sectors, but an increase in others; thus, it does nothing to explain why unemployment is high during the "bust" and low during the "boom".

    Como explicar o fato de o setor de bens de consumo não sofrer um boom durante recessões? E se o desemprego aumenta e diminui baseada na estrutura de produção, como é possível ele enfrentar aumentos e quedas "agregadas" (desculpe-me por usar esse termo, mas não sei como me expressar de outra maneira) no volume de emprego durante as fases do ciclo? É possível haver simultaneamente preços de bens de capital e preços de bens de consumo inflados de maneira proporcional?

    Um pouco depois, falando especificamente sobre a atuação do BC sobre a taxa de juros, ele disserta:

    "The objection is simple: Given that interest rates are artificially and unsustainably low, why would any businessman make his profitability calculations based on the assumption that the low interest rates will prevail indefinitely? No, what would happen is that entrepreneurs would realize that interest rates are only temporarily low, and take this into account."

    Ou seja, porque empreendedores são vítimas das taxas de juros apenas quando elas são artificiais? O que eu entendi do argumento dele, é que os malinvestments podem surgir mesmo em uma situação de taxa de juros natural. Pois em determinado período futuro, após o início do projeto e/ou investimento realizado pelo empreendedor, os juros podem subir por forças meramente de mercado, e levar o empreendedor à falência.

    Um argumento que a EA pode levantar, é que apenas quando as taxas de juros são artificiais é que empreendedores erram suas previsões de maneira generalizada; porém com juros à taxa natural, esses erros de investimento seriam apenas pontuais, certo?

    Minha dúvida é a seguinte: uma taxa de juros natural que é aceita em toda economia, ao subir num tempo futuro (digamos por aumento das preferências temporais) não tenderia a causar um efeito tão devastador quanto as mudanças arbitrárias causadas por BCs? Não seria esse fenômeno um criador de malinvestments generalizados da mesma forma?

  • Leandro  17/09/2016 00:36
    Essa objeção do Bryan Caplan foi respondida em detalhes pelo Joseph Salerno nesta monografia:

    mises.org/system/tdf/qjae15_1_1.pdf?file=1&type=document

    Para ver uma aplicação prática da teoria austríaca dos ciclos econômicos na economia brasileira -- abordando juros, setor de bens de capital e de consumo -- veja este artigo:

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=2466
  • Gustavo  17/09/2016 00:52
    "A Reformulation of Austrian Business Cycle Theory in Light of the Financial Crisis"...

    Esse título me deu um frio na espinha. "Reformulação" me parece uma expressão que abre espaço pra gente chata vir alegar que "Mises estava errado".

    Mas obrigado pela indicação.

    Abraço.
  • Leandro  17/09/2016 01:46
    "Reformulation", no caso, significa reescrever a mesma coisa, só que recorrendo a exemplos do mundo atual e fazendo uso de instrumentos financeiros modernos, que ainda não existiam no início do século XX. Fique descansado, pois a teoria misesiana se mantém absolutamente intacta ao longo de toda a monografia.

    P.S.: frio na espinha é o que me acomete quando alguém vem a público julgar todo o conteúdo de uma monografia tendo lido apenas uma palavra do título. ;)
  • Chaudd  18/09/2017 13:32
    Olá pessoal, alguém sabe me dizer o que causou a situação econômica tenebrosa que os USA viveram em 1920?
  • Michel  29/09/2017 03:21
    https://conhecimentoeconomico.wordpress.com/2016/06/01/as-falhas-da-escola-austriaca-parte-1-os-ciclos-economicos/

    O que dizer?
  • Felipe Lange  18/12/2017 15:21
    Tem que chamar o Leandro.
  • Substituto  18/12/2017 17:05
    Até tentei ler. Mas a cada "houveram" que ia surgindo, meu QI foi caindo. Aí desisti, pois podia ser contagioso.

    Teoria dos ciclos econômicos? Está aqui, explicada de maneira completa tanto na teoria quanto na prática.

    www.mises.org.br/Article.aspx?id=2466

    Quem quiser pode tentar refutar.
  • Guilherme S. Nunes  27/06/2021 23:23
    Boa noite, pessoal, perdoem-me a certa ignorância, porém eu fiquei com um uma séria dúvida quanto a injeção monetária na economia com o intuito de equilibrar a "deflação" dos preços.

    Eu entendi que essa tendência baixista de preços é normal em uma economia em crescimento e com alta produtividade devido a maior oferta de bens e serviços e pela tentativa natural do mercado de equilibrar a oferta e demanda da economia, por isso a baixa de preços. No entanto, não tenho certeza se compreendi ao certo a lógica do porquê de se injetar dinheiro de tal forma na economia para fazer com que a demanda aumente e se iguale com a oferta, que, por sua vez, já estava em aumento, mantendo assim os preços em estabilidade artificial.

    Pois bem, eu creio que eu entendi como que se estabilizam os preço: o preço diminui no intuito de que a demanda aumente para que se iguale com a oferta, fazendo assim com que o preço se estabilize; contudo, não entendi por que o banco Central americano tenta impedir essa baixa de preços? E ainda mais, não entendi como que a demanda aumentaria se igualando com a oferta e, consequentemente, estabilizando os preços por causa da injeção de mais dinheiro na economia. Essas são as duas questões que eu não entendi, alguém poderia me ajudar?
  • Say  27/06/2021 23:44
    Não verdade, você apenas constatou aquilo que toda pessoa inteligente constata: não faz sentido governos combaterem a deflação de preços. E, no entanto, é exatamente isso o que eles fazem. Eles acham que preços em queda são algo horrível, e que o ideal são preços subindo, só que lentamente.

    Eis aqui três artigos sobre essa bizarrice:

    www.mises.org.br/article/2717/as-bencaos-de-uma-deflacao-de-precos

    www.mises.org.br/article/3302/a-atual-carestia-dos-alimentos-e-consequencia-de-uma-cega-devocao-ao-sistema-de-metas-de-inflacao-

    www.mises.org.br/article/163/deflacao-os-maiores-mitos
  • Felipe  28/06/2021 01:13
    Inflação de preços beneficiaria o estado de que forma? Falo de algo de 0 a 10 %, não de hiperinflação. Imagino que haja outros benefícios além da redistribuição de renda para os altos funcionários governamentais e empreiteiras ligadas ao governo. Penso também de que a dívida bruta em termos reais fique menor (assim como o orçamento anual), mas haveria um limite para isso (vide Venezuela).

    Aí fica a outra questão: supondo que voltemos ao padrão-ouro, os salários reais seriam crescentes, inclusive dos próprios burocratas. A que medida isso influenciaria nos benefícios governamentais de se buscar uma inflação?
  • Estado máximo, cidadão mínimo.  28/06/2021 17:29
    Com o padrão-ouro em vigor os salários de todos tenderiam sim a ser crescentes, mas em um ritmo bem lento. Como pensamentos de longo prazo não são o forte da nação, o jeito é ficar no padrão-impressora-a-todo-vapor para que os iluminados nababos públicos tenham recursos prontamente disponíveis para seus fulgurantes projetos de desenvolvimento pessoal.
  • Bolsodilma cirolulaguedes  28/06/2021 01:11
    Eles não gostam de deflação. Inflação, que é o oposto, é um tipo de imposto que eles cobram ocultamente, já que eles emitem moeda pra financiar seus gastos estatais. Por isso eles adoram.

    Com deflação esse esquema não funciona. Com deflação, o governo ia ter que fazer uma contabilidade de gastos, coisa que não ele não faz, e se tornar responsável, coisa que contraria o establishment que fatura tomando dinheiro dos produtivos da sociedade.


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