No último artigo,
explicou-se a lógica por trás do aparato estatal, por que os piores sempre chegam ao
poder e como eles ali se perpetuam.
Agora, é hora de entendermos o que fornece sustento aos parasitas, o que
permite que eles permaneçam no poder e, por fim, o que deve ser feito para
reverter essa situação.
O papel dos
intelectuais
Antes de procedermos à solução, um fato sociológico
deve ser reconhecido: a importância do papel dos intelectuais, da educação e da
ideologia. Tão logo uma agência de
proteção adquira o monopólio territorial da violência e tomada suprema de
decisões judiciais -- ou seja, um estado -- ela deixa de ser um protetor
genuíno e se transforma numa máfia de extorsão.
E, para combater qualquer eventual resistência por parte das vítimas a
este esquema de extorsão, um estado necessita de legitimidade, de justificação
intelectual para o que ele faz. Quanto
mais explícito se torna o esquema de extorsão do estado -- isto é, a cada
aumento nos impostos e nas regulamentações --, maior se torna a necessidade de
sua legitimação.
Para assegurar a predominância do correto
pensamento estatista, este monopolista territorial irá utilizar sua posição
privilegiada de beneficiário de um esquema de extorsão para estabelecer
rapidamente um monopólio da educação.
Afinal, apenas
deter o monopólio não será suficiente, principalmente caso a agência seja
formada por uma pequena minoria em relação ao número total de súditos.
Uma minoria não pode dominar eternamente uma maioria apenas pelo uso da força
bruta. Ela precisa dominar a opinião dessa maioria. A maioria da
população deve ser adestrada a aceitar voluntariamente o seu
domínio. Isso não quer dizer que a maioria tenha de concordar com cada
uma de suas medidas. Na realidade, ela pode muito bem achar que muitas
das suas políticas estão erradas. Entretanto, ela tem de ser levada a
acreditar na legitimidade da instituição do estado como tal; e que,
por conseguinte, mesmo que uma política em particular esteja errada, tal erro é
um acidente que deve ser tolerado em nome de um bem maior fornecido pelo
estado.
Entretanto, como é possível persuadir a maioria da
população a acreditar nisso? A resposta: somente com a ajuda dos intelectuais.
E como é possível fazer com que os intelectuais
trabalhem a seu favor? A resposta a isso também é fácil: a demanda de
mercado por serviços intelectuais não é exatamente alta e estável. Os
intelectuais estariam à mercê dos valores efêmeros das massas; e as massas não
estão interessadas em questões intelecto-filosóficas.
O estado, por outro lado, pode acomodar os egos tipicamente hipertrofiados dos
intelectuais e oferecer a eles um cargo cordial, seguro e permanente em seu aparato.
Porém, não é suficiente que o estado empregue
apenas alguns intelectuais. O estado tem de empregar
essencialmente todos eles, mesmo aqueles que trabalham em
áreas bem distantes daquelas com as quais o estado está mais preocupado:
filosofia, história, ciências sociais e literatura. Pois mesmo os
intelectuais que trabalham com matemática ou ciências naturais, por exemplo,
podem obviamente pensar por conta própria e se tornar potencialmente
perigosos. Portanto, é importante que o estado também garanta a lealdade
deles. Colocando de maneira diferente: é preciso ser um monopolista.
E tal condição será melhor atingida se todas as instituições educacionais,
desde o jardim de infância até as universidades, forem subjugadas ao controle
estatal e todo o corpo docente for certificado e aprovado pelo estado.
Mas e se as pessoas não quiserem ser
educadas? Para evitar isso, a educação deve ser declarada compulsória; e
para que todas as pessoas sejam submetidas a uma educação controlada pelo
estado pelo máximo de tempo possível, todos devem ser declarados igualmente
educáveis. É óbvio que os intelectuais sabem que tal igualitarismo é
falso. Entretanto, afirmar tolices do tipo "todos são Einsteins em
potencial desde que recebam uma suficiente atenção educacional" é algo que
agrada às massas e, por sua vez, gera uma demanda praticamente ilimitada por
serviços intelectuais.
É claro que todas essas medidas não garantem que o
almejado pensamento genuinamente estatista torne-se predominante.
Entretanto, elas ajudam a alcançar a conclusão desejada caso o indivíduo
perceba que, sem o estado, ele poderia estar sem seu emprego e talvez teria de
tentar ganhar a vida como frentista. Isso seria uma tragédia quando se
sabe que ele poderia muito bem ganhar um bom salário ocupando-se de assuntos
mais prementes como alienação, igualdade, exploração, desconstrução do gênero e
do papel dos sexos, opressão feminina, ou até mesmo a cultura dos esquimós, dos
hopis e dos zulus.
E mesmo que os intelectuais venham a se sentir
subestimados pelo estado, isto é, por uma administração estatal em particular,
eles sabem que a ajuda só poderá vir da próxima administração
estatal, e não de um ataque intelectual à instituição do estado.
Portanto, não é surpresa alguma que a esmagadora maioria dos intelectuais
contemporâneos, inclusive os mais conservadores ou mesmo os
"livre-mercadistas", sejam filosófica e fundamentalmente estatistas.
A pergunta que fica: será que o trabalho dos
intelectuais surtiu efeito para o estado? Eu diria que sim. Se perguntadas
se a instituição do estado é necessária, não creio que seria exagerado dizer
que 99% de todas as pessoas iriam resolutamente dizer que sim. E, ainda
assim, esse sucesso se apóia em pilares muito instáveis, e todo o edifício
estatista pode ser demolido caso o trabalho dos intelectuais seja contestado
pelo trabalho de intelectuais anti-intelectuais, como eu gosto de
chamá-los.
A enorme maioria dos defensores do estado não é
formada por estatistas filosóficos, isto é, eles não pensaram
profundamente no assunto. A maioria das pessoas não pensa muito sobre
qualquer questão filosófica. Elas apenas seguem sua rotina diária, e
pronto. Logo, a maior parte do apoio ao estado advém do simples fato de
que ele existe e sempre existiu desde há muito tempo (tempo
esse que é tipicamente o tempo de vida da pessoa que pensou no assunto).
Ou seja, a maior conquista dos intelectuais estatistas foi o fato de que eles
cultivaram a preguiça (ou incapacidade) intelectual natural das massas, e nunca
permitiram que o assunto viesse à tona para uma discussão séria. O estado
passou a ser considerado uma parte inquestionável do tecido social.
A primeira e mais importante tarefa dos
intelectuais anti-intelectuais, portanto, é atacar essa letargia dogmática das
massas oferecendo uma definição precisa do estado, como feito no artigo anterior, para
em seguida perguntar se não há nada de verdadeiramente incomum, estranho,
bizarro, tosco, ridículo e de fato burlesco em uma instituição como essa.
Estou confiante de que esse simples trabalho de definição irá produzir algumas
sérias dúvidas em relação a uma instituição que anteriormente vinha sendo tida
por natural.
O intelectualismo anti-intelectual
A partir desta constatação sobre a importância das
ideias e do papel dos intelectuais como protetores do estado e do estatismo,
segue-se que o papel mais importante no processo de liberalização -- a
restauração da justiça e da moralidade -- deve ser assumido por aqueles que podemos
chamar de intelectuais anti-intelectuais. No entanto, fica a pergunta:
como estes intelectuais anti-intelectuais podem ter êxito em deslegitimar o
estado perante a opinião pública se considerarmos que a esmagadora maioria de
seus colegas é formada por estatistas que farão de tudo para isolá-los e
desacreditá-los, taxando-os de extremistas e malucos? O espaço aqui me
permite fazer apenas breves comentários sobre esta questão, que é fundamental.
Primeiro: Dado que será
necessário enfrentar a oposição cruel e maliciosa de seus colegas, para que o
indivíduo possa resistir e não se deixar abater é de máxima importância não
basear sua posição no utilitarismo e na ciência econômica, e sim em argumentos
de ordem ética e moral. Pois somente convicções morais provêem a força e
a coragem necessárias para uma batalha intelectual e ideológica. Poucos
se sentem inspirados ou se dispõem a aceitar sacrifícios quando estão se opondo
a coisas que consideram ser meros erros ou superficialidades. Por outro
lado, inspiração e coragem podem ser obtidas em grande dose se se souber que se
está lutando contra o mal e combatendo mentiras perversas. (Retorno a este
ponto brevemente).
Segundo: É importante
reconhecer que não é necessário convencer outros intelectuais convencionais.
Como demonstrou Thomas Kuhn, isto é algo bastante raro até mesmo nas ciências
naturais. Nas ciências sociais, praticamente não se conhece casos de
intelectuais consagrados que abandonaram suas opiniões anteriores e se
converteram. Em vez disso, os esforços devem ser concentrados naqueles
jovens que ainda não se comprometeram intelectualmente; jovens cujo idealismo
também os torna particularmente mais receptivos a argumentos morais
rigorosos. E, da mesma maneira, deve-se ignorar o mundo acadêmico e se
esforçar para alcançar o grande público (isto é, os leigos inteligentes
esclarecidos), o qual, de modo geral, nutre alguns saudáveis preconceitos
anti-intelectuais, que podem ser facilmente explorados.
Terceiro (retornando à
importância de um ataque moral contra o estado): É essencial compreender que
não se pode fazer nenhuma concessão em nível de teoria. É claro que
não se deve recusar uma cooperação com pessoas que possuam opiniões que sejam
essencialmente erradas e confusas, desde que os objetivos delas possam ser
classificados, clara e inequivocamente, como um passo correto em direção à
desestatização da sociedade. Por exemplo, é correto cooperar com pessoas
que pretendem introduzir um imposto de renda uniforme (flat) de 10%
(embora não iríamos querer cooperar, por exemplo, com aqueles que gostariam de
combinar esta medida com um aumento em outros impostos a fim de manter a
arrecadação inalterada). No entanto, sob nenhuma circunstância esta
cooperação deve levar a, ou ser obtida por meio de, uma contemporização dos
próprios princípios. Ou a tributação é algo justo ou ela é injusta.
E uma vez que ela seja aceita como justa, como então será possível se opor a
qualquer aumento da mesma? A resposta logicamente é que não é possível!
Em outras palavras, fazer concessões em nível de
teoria, como vemos acontecer, por exemplo, entre liberais moderados como Hayek
e Friedman, ou mesmo entre os chamados minarquistas, não apenas denota uma
grande falha filosófica, como também é uma atitude, do ponto de vista prático,
inútil e contraproducente. As idéias destas pessoas podem ser -- e de
fato são -- facilmente cooptadas e incorporadas pelos governantes e pelos
ideólogos do estado. Aliás, não é de se estranhar a frequência com que
ouvimos estatistas defendendo a agenda estatista dizendo coisas como "até
mesmo Hayek (Friedman) diz -- ou, nem mesmo Hayek (Friedman) nega -- que isto e
aquilo deve ser feito pelo estado!" Pessoalmente, eles até podem ter
ficado descontentes com isso, mas não há como negar que suas obras serviram
exatamente a este propósito; e, consequentemente, queiram ou não, eles
realmente contribuíram para o contínuo e incessante crescimento do poder do
estado.
Ou seja, gradualismo ou concessão teórica irá gerar
apenas a perpetuação da falsidade, do mal e das mentiras do estatismo.
Somente o purismo teórico, com seu radicalismo e sua intransigência, pode e irá
resultar primeiro em reformas práticas e graduais, depois no aprimoramento, até
finalmente chegar a uma possível vitória final. Deste modo, sendo um
intelectual anti-intelectual no sentido rothbardiano, um indivíduo não deve se
limitar apenas a criticar diversas tolices do governo, ainda que ele possa ter
de começar por elas; ele deve sempre partir deste ponto e ministrar um ataque
fundamental à instituição do estado, mostrando-o como uma afronta ética e
moral. O mesmo deve ser feito com seus representantes, que devem ser
expostos como fraudes morais e econômicas, bem como mentirosos e impostores --
devemos sempre apontar que os reis estão nus.
Particularmente,
o indivíduo jamais deve hesitar em atacar o próprio núcleo da legitimidade do
estado: seu suposto papel de indispensável fornecedor de segurança e proteção.
Já demonstrei em termos teóricos o quão ridícula é esta alegação: como é
possível uma agência que pode expropriar propriedade privada alegar ser
protetora da propriedade privada? Mas tão importante quanto o ataque
teórico é atacar também a legitimidade do estado em bases empíricas. Isto
é, trabalhar arduamente sobre o tema de que os estados, que supostamente
deveriam nos proteger, são eles próprios a instituição responsável por 200
milhões de mortes apenas no século XX -- mais do que as vítimas de crimes
privados em toda a história da humanidade (e este número de vítimas de crimes
privados, crimes contra os quais o governo não nos protegeu, teria sido bem
menor caso os governos de todos os locais e de todas as épocas não tivessem se
empenhado continuamente em desarmar seus próprios cidadãos para que eles
mesmos, os governos, não encontrassem resistência e pudessem se tornar máquinas
mortíferas ainda mais eficientes)!
Portanto, em vez de tratar políticos com respeito,
nossa crítica a eles deveria ser significativamente intensificada: quase sem
exceção, eles não são somente ladrões; são também falsificadores, corruptos,
charlatães e chantagistas. Como ousam exigir nosso respeito e nossa
lealdade?
Mas será que uma vigorosa e distinta radicalização
ideológica trará os resultados desejados? Não tenho a menor dúvida que
sim. De fato, apenas ideias radicais -- e, na verdade, radicalmente
simples -- podem incitar as emoções das massas inertes e indolentes, e
deslegitimar o governo perante seus olhos.
Uma
revolução de baixo para cima
Finalmente,
vamos à explicação detalhada do significado desta estratégia revolucionaria feita
de baixo para cima. Para isto, deixe-me
voltar aos comentários feitos no artigo anterior sobre o
uso defensivo da democracia -- isto é, o uso dos meios democráticos para se
alcançar fins libertários não-democráticos e pró-propriedade privada. Duas
constatações preliminares já foram estabelecidas.
Primeiro,
da impossibilidade de uma estratégia de cima para baixo, segue-se que não se
deve gastar muito (na verdade, nenhum) tempo, dinheiro e energia em disputas
políticas nacionais, como eleições presidenciais. E, particularmente, também não se deve perder
tempo em disputas por qualquer cargo no governo central, seja no senado ou na
câmara dos deputados.
Segundo,
de acordo com a constatação sobre o papel dos intelectuais na preservação do
atual sistema, da atual máfia de extorsão, segue-se que, igualmente, não se
deve gastar muito (ou nenhum) tempo, dinheiro ou energia tentando reformar a
educação e o meio acadêmico a partir de sua própria estrutura. Tentar se infiltrar no sistema universitário
para lecionar sobre livre iniciativa ou propriedade privada, por exemplo, só ajuda
a emprestar legitimidade à própria ideia que se quer combater. As instituições oficiais de educação e
pesquisa devem ser sistematicamente combatidas, agitando-se para que suas verbas
e fontes de financiamento sejam retiradas e secadas. E, para que isso seja feito, todo o apoio ao
trabalho intelectual -- sendo isso uma parte essencial da tarefa geral que
temos pela frente -- deve logicamente ser dado a instituições e centros
determinados a fazer precisamente isto, como este instituto.
As
razões para estes dois conselhos são claras: nem a população como um todo e nem
todos os educadores e intelectuais são completamente homogêneos
ideologicamente. E, mesmo que seja
impossível conquistar uma maioria que apoie uma plataforma decididamente
antidemocrática e libertária em escala nacional, parece não haver nenhuma
dificuldade insuperável para se conquistar esta mesma maioria em localidades
suficientemente pequenas, e em funções locais e regionais dentro da estrutura
governamental democrática geral. Com
efeito, parece não ser nada fora da realidade esperar que essa maioria exista
em milhares de localidades. Ou seja,
localidades dispersas por todo o país, mas não dispersas uniformemente. Igualmente, mesmo que a classe intelectual
deva ser de modo geral considerada inimiga natural da justiça e da segurança,
existem em diversas localidades intelectuais anti-intelectuais isolados e, como
o Instituto Mises comprova, é totalmente possível reunir estes indivíduos
isolados em torno de um centro intelectual e dar a eles unidade e força, bem
como uma plateia nacional ou até internacional.
Mas,
e depois? Todo o resto advém quase que
automaticamente do objetivo supremo, que deve ser mantido sempre em mente, em
todas as atividades desenvolvidas: a restauração, de baixo para cima, da noção
de propriedade privada e do direito de proteger a propriedade; o direito à
autodefesa, à liberdade de contrato, e de excluir ou incluir quem quisermos
em nossas relações. E a resposta pode
ser dividida em duas partes.
Primeiro,
o que fazer nestas pequenas localidades, onde um candidato pró-propriedade
privada e personalidade anti-populista possa vencer. E segundo, como lidar com os níveis mais
elevados do governo e, especialmente, com o governo federal centralizado. Primeiramente, como um passo inicial, e
refiro-me agora ao que deveria ser feito em nível local, o primeiro alicerce
central da plataforma deveria ser: deve-se fazer de tudo para restringir o
direito de voto sobre decisões a respeito de impostos locais -- particularmente
a respeito de impostos sobre propriedades e regulamentações -- aos donos de
imóveis e propriedades. Somente donos de
propriedades devem poder votar, e seus votos não devem ter pesos iguais, e sim
devem valer de acordo com o valor do patrimônio líquido possuído e do total de
impostos pago.
Além
disso, todos os funcionários públicos -- professores, juízes, policiais -- e
todos os recebedores de ajudas assistencialistas do estado, inclusive empresários protegidos, devem ser excluídos
de votações que tratem de impostos locais e regulamentações locais. A renda destas pessoas advém de impostos e,
por isso, elas não deveriam poder dizer nada a respeito do valor dos impostos. É óbvio que, com esta plataforma, não se pode
vencer em todo lugar. Você certamente
não será eleito em Brasília com uma plataforma como esta, mas eu arriscaria
dizer que, em muitas localidades, principalmente naquelas formadas
majoritariamente por indivíduos trabalhadores e produtores, isto pode
facilmente acontecer. As localidades têm de ser pequenas o bastante e têm de
ter um bom número de pessoas decentes.
Consequentemente,
todos os impostos e taxas locais, bem como a arrecadação fiscal como um todo,
irão inevitavelmente diminuir. O valor
das propriedades e a maior parte da renda local irão aumentar, ao passo que o
número de funcionários públicos e o valor de seus salários irão cair.
Neste
momento, e este é o passo mais decisivo, o seguinte deve ser feito – e sempre tenha
em mente que estou falando sobre distritos territoriais muito pequenos.
Nesta
crise de financiamento do governo, que surgirá assim que o direito de votar for
retirado da turba, uma maneira de sair dela seria a privatização de
todos os ativos do governo. Faz-se um
inventário de todos os prédios públicos -- e em um nível local não são tantos
assim: escolas, corpo de bombeiros, delegacia de polícia, tribunais, ruas etc.
-- e, em seguida, ações ou títulos parciais de propriedade devem ser
distribuídos aos donos de propriedade privada locais de acordo com o total de
impostos -- impostos sobre propriedade -- que estes pagaram durante suas vidas.
Afinal, tudo isso é deles, pois foram eles que pagaram por estas coisas.
Consequentemente,
uma vez que as autoridades locais não mais estivessem sujeitas aos ditames do
governo central, as ordens deste seriam apenas palavras ao vento. Todavia, enquanto
o número de comunidades liberadas ainda for pequeno, esta postura
parece ser um tanto perigosa. Seria
aconselhável, portanto, que, durante esta fase, fossem evitados confrontos
diretos com o governo central, não se condenando publicamente sua autoridade e
nem mesmo renunciando solenemente ao reino.
Preferencialmente,
seria aconselhável praticar uma política de não-cooperação e de resistência pacífica.
Os cidadãos locais simplesmente param de
ajudar na imposição e na execução de toda e qualquer lei federal. Pode-se assumir a seguinte atitude: "Tais
regras são suas, e cabe a você impingi-las. Não posso impedir que você faça isso, mas
também não irei ajudá-lo, pois meu único compromisso é com meu eleitorado local".
Se
aplicado com consistência, sem nenhuma cooperação e sem nenhuma ajuda em nenhum
nível, o poder do governo central diminuiria drasticamente. Ou até mesmo se evaporaria. E, levando-se em consideração a opinião
pública geral, seria extremamente improvável que o governo federal ousasse
ocupar um território em que os habitantes não fizeram nada além de tentar
cuidar da própria vida.
Tão
logo o número de territórios implicitamente separatistas atingisse uma massa
crítica -- e cada ação bem-sucedida em uma pequena localidade estimula e encoraja
a próxima --, tudo inevitavelmente tornar-se-ia um movimento de municipalização
radical em nível nacional, com políticas locais explicitamente secessionistas, demonstrando
pública e insolentemente desobediência à autoridade
federal.
E
então, será em uma situação como esta -- quando o governo central for obrigado
a abdicar de seu monopólio da violência e da tomada suprema de decisões judiciais, e quando a relação entre as autoridades
locais (em ressurgimento) e as autoridades centrais (prestes a perder seus
poderes) puderem ser colocadas em um nível puramente contratual -- que
recuperaremos o poder de defender nossa própria propriedade novamente.
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Leituras
complementares:
O fundamento lógico para a
privatização total
A esperança para a
liberdade está na secessão - Hans Hoppe sobre economia, filosofia e política