No estudo de sistemas complexos e dinâmicos
-- a chamada 'ciência do caos' --, "atratores" são princípios operacionais ao
redor dos quais a turbulência e o caos aparente são harmonizados. Aquilo que as nossas simples experiências
passadas descarta como sendo aleatoriedade e desordem, o estudo do caos e da
complexidade revela como sendo padrões profundos de regularidade.
Atratores ajudam a identificar a dinâmica
por meio da qual sistemas complexos se organizam autonomamente. Assim sendo, pode-se dizer que uma falha
geológica serve como um atrator para forças geológicas em placas tectônicas,
assim como redes de drenagem são atratores para um curso d'água exercer
contínuas relações com as forças da gravidade.
Em um nível social, um leilão de bens antigos pode ser visto como um
atrator para colecionadores de antiguidades; aterros sanitários, como atratores
para coisas abandonadas; e hospitais, como atratores para doenças. Na economia de mercado, o sistema de preços é
um atrator para compradores e vendedores que querem transacionar suas
propriedades.
O estudo do caos nos ajuda a entender por
que todos os sistemas políticos produzem rupturas e são divisivos e
destruidores do processo social. Por
meio desta nova ciência, estamos descobrindo -- ao contrário das arrogantes
suposições de Platão -- que sistemas complexos produzem comportamentos que são,
ao mesmo tempo, determinados e imprevisíveis. Se deixado à mercê
das forças que operam sobre ele, um sistema complexo irá espontaneamente gerar
consequências implícitas -- embora imprevisíveis -- dentro dele.
Mas sabemos que muitas pessoas não gostam de
um mundo que seja imprevisível e indiferente aos seus interesses
particulares. É por isso que um
empreendedor poderoso que seja incapaz de disputar clientes com seus
concorrentes em um livre mercado irá fazer de tudo para perturbar essa ordem,
uma vez ela não atende aos seus caprichos.
Ele pode começar tentando fazer acordos voluntários com seus
concorrentes com o intuito de reduzir o ritmo no qual eles buscam seus
respectivos interesses. Porém, como essa
estratégia raramente dá certo e rapidamente gera insatisfação nos membros desta
indústria, esse empreendedor e vários de seus concorrentes irão recorrer ao
estado para conseguir, por meio da força, resultados que eles não tiveram a
competência de alcançar no livre mercado.
O estado é quase que universalmente definido
como um sistema que usufrui um monopólio legal do uso da violência e das
decisões jurídicas supremas dentro de um dado território. Não obstante todo o circo montado pela mídia,
todo o condicionamento mental e doutrinário feito pelo sistema de ensino
controlado pelo governo, e todas as demais propagandas institucionais criadas
para pintar o sistema político como algo nobre e moralmente dedicado a servir
ao bem-estar geral, o fato é que o estado é capaz de fazer apenas uma coisa: compelir
as pessoas -- por meio da violência e da ameaça de violência -- a fazer aquilo
que elas voluntariamente optariam por não fazer, ou a se abster de fazer aquilo
que elas gostariam de fazer.
Se o estado for definido desta maneira
realista e verdadeira -- isto é, uma instituição que usufrui o monopólio do uso
da violência e da tomada suprema de decisões jurídicas --, então qual é
exatamente o caráter das pessoas que se sentem atraídas a integrar o estado e a
fazer uso de suas ferramentas e práticas violentas? Que tipo de indivíduo se sente atraído por
carreiras que lhe dão o poder arbitrário de obrigar terceiros a obedecer suas
ordens, um trabalho cuja premissa está no imperativo da obediência?
No que diz respeito aos graus de conduta anti-social,
há uma linha tênue que separa o comportamento sociopata do comportamento
psicopata. Um funcionário dos Correios
ou um recepcionista de uma agência do DETRAN pode perfeitamente não exibir
nenhum destes traços. Mas e quanto aos
funcionários públicos cujas atribuições são impingir algum decreto ou
alguma regulamentação arbitrária do estado?
O indivíduo que está preparado para iniciar um ato de punição com o
intuito de impingir obediência a um decreto ou regulamentação do governo não se
distingue daquele policial valentão que integra uma equipe de força-tarefa que
invade residências, confisca bens e tortura pessoas. A mentalidade é a mesma. O
fato de que um utiliza a caneta ao passo que o outro recorre à força física
representa apenas uma diferenciação de métodos. A mentalidade autoritária que
os estimula é a mesma. É o apetite pelo
poder supremo sobre terceiros o que impulsiona tais pessoas.
Se fossemos julgar as motivações destas
pessoas tomando por base apenas as promessas que elas fazem, chegaríamos à conclusão de que elas desejam apenas
promover o bem-estar de nossa sociedade ou até mesmo de toda a humanidade. Querem também acabar com as injustiças e
promover os direitos e interesses dos pobres e oprimidos. Proteger as crianças. Gerar prosperidade econômica. Ou promover outros fins nobres que sirvam ao
interesse público. Nossa propensão em
aceitar que tais objetivos benevolentes são a explicação para o fato de que
alguns poucos querem ter poder coercivo sobre todo o resto é um reflexo de
nossa tola credulidade.
É por isso que todo o sistema se sustenta
apenas com mentiras. Enquanto as
mentiras forem propagadas e reforçadas por pessoas que são respeitadas pelo
público em geral -- e tais vozes respeitadas são encontradas nos corredores das
instituições dominantes, na academia e na mídia --, qualquer incompatibilidade
com a verdade raramente é questionada.
Aqueles que querem ter poder coercivo sobre a
sociedade têm de convencer seus almejados súditos a fazerem aquilo que nenhum
indivíduo racional jamais pensaria em fazer: subordinar a busca de seus
interesses próprios aos interesses da agenda política de terceiros. Para sobrepujar a insanidade que é fazer com
que os propósitos de um indivíduo -- na realidade, a própria vida deste
indivíduo -- sejam inferiores aos interesses próprios dos elitistas que estão
no controle do governo, instituições foram dotadas de plenos poderes para
condicionar as mentes dos indivíduos a aceitar as virtudes da obediência e do
auto-sacrifício. Aqueles que porventura
resistirem a esta campanha são imediatamente rotulados de "egoístas",
"insensíveis" e "reacionários", palavras que, para esta elite estatal, têm um
único significado: "indivíduos que colocam seus interesses mesquinhos
acima dos meus."
No entanto, é inevitável que ao menos algum
súdito mais observador possa inadvertidamente se deparar com a incongruência
entre a mentira e a implacável aspereza do mundo real. Porém, os efeitos de tal eventualidade podem
ser facilmente isolados pelos membros filosóficos da classe dominante, cuja
destreza na arte do ludibrio fará com que suas explicações sejam mais
palatáveis para aqueles que descobriram a contradição.
Muito mais problemáticas para a classe
dominante são aquelas pessoas que não apenas descobrem a verdade por trás das
falsidades, como também a revelam para terceiros. As mentiras, os exageros, as controvérsias
meticulosamente criadas, e todas as outras distorções e adulterações da
realidade são facilmente entendidas pelas mentes mais inteligentes e observadoras
como sendo essenciais para os interesses do estado e de seus membros. Se as instituições governamentais devem
representar um fim em si mesmas, então todos os indivíduos devem subordinar
seus propósitos aos propósitos da ordem estatal estabelecida. Porém, dado que o mundo real funciona de
acordo com práticas descentralizadas, a ideia de que instituições devem
ter uma importância centralizada e proeminente sobre o comportamento
humano é uma ficção que só pode ser mantida com fortes distorções da verdade. Aqueles que dizem "Eu nunca acredito em nada
que o governo diz", ou "nunca aceite nada como sendo verdadeiro até que seja
oficialmente negado pelo governo", ajudam a despertar seus vizinhos para a
natureza fundamentalmente desonesta de todos os sistemas políticos.
Randolph Bourne dizia que a guerra é o
alimento do estado. Exatamente por isso,
aqueles que são atraídos para o estado querem, no fundo, exercer violência
sobre indivíduos inocentes e produtivos, sempre em benefício próprio, mas
espertamente utilizando termos insípidos como "bem-estar", "desfavorecidos",
"prosperidade", "justiça social" e "equilíbrio" como o real motivo de suas
agressões.
Assim como seria inconcebível imaginar Madre
Teresa operando um bordel, também é inconcebível imaginar genuínos defensores
da paz, da liberdade e da não-iniciação de violência contra inocentes procurando o
poder estatal. Mesmo aqueles indivíduos
bem intencionados que genuinamente querem minimizar o poder do estado se infiltrando
nele estão cometendo um erro tático: não se pode querer enfrentar, desde
dentro, uma máquina construída justamente para atrair sociopatas e
psicopatas. É impossível querer reduzir,
desde dentro, algo que foi construído especificamente para utilizar níveis
crescentes de violência contra concidadãos inocentes e produtivos.
No final, as palavras de H.L. Mencken
resumem tudo: "A ânsia em salvar a humanidade é quase sempre uma máscara para disfarçar
a ânsia em governá-la".