O assunto é aborrecidamente óbvio, mas
infelizmente é necessário reprisá-lo constantemente, pois ele aparece na
imprensa quase que diariamente. Afinal,
desemprego baixo é sinônimo de economia robusta? Ou, colocando de outra maneira, pode uma
economia fraca apresentar baixos índices de desemprego?
Ao contrário da crença da grande maioria das
pessoas (leigos e até mesmo economistas), o objetivo de uma economia não é criar empregos. O objetivo
de uma economia saudável é ter uma produtividade
crescente. Empregos serão
uma consequência positiva da produtividade
Empregos podem
ser um sinal de saúde de uma economia, assim como um alto nível de energia pode
ser um indicativo de um corpo saudável. Mas assim como substâncias
nocivas podem artificialmente dar ao viciado aquele impulso energético que nada
tem a ver com saúde, empregos artificialmente criados e mantidos apenas
exacerbam os problemas.
Você pode dar a alguém um "emprego" de
cavar um buraco num dia e tapá-lo no dia seguinte -- ou talvez o equivalente a
isso, porém executado em uma escrivaninha. Mas isso não trará benefício
nenhum a ninguém. Da mesma maneira,
seria possível reduzir o desemprego a zero por meio de uma regressão
compulsória na tecnologia: poderíamos abolir completamente o uso de caminhões e
trens, e obrigar toda a carga a ser transportada de carro. Isso criaria milhões de novos empregos. Ou poderíamos também abolir o uso do carro e
criar ainda mais empregos, pois agora as pessoas só poderiam transportar carga
nas costas.
Em cada um desses casos, o número de empregos
criados iria superar com ampla margem o número de empregos perdidos na
indústria de caminhões e na automotiva.
Mas fica a pergunta: essa criação de empregos por acaso nos deixou mais
ricos? Por acaso aumentou o nosso
bem-estar? A resposta é óbvia. Essa criação de empregos, na prática, gerou
uma redução no padrão de vida de todas as pessoas.
Um
exemplo
Um país de economia fechada pode ter -- e
certamente terá -- um desemprego menor do que um país de economia aberta. No entanto, a questão é: será que tais
empregos estão realmente gerando valor e riqueza para esse país de economia
fechada?
Vamos a um exemplo prático. Suponha que uma economia tenha várias pessoas
empregadas na indústria automotiva, desde as linhas de montagem até as cadeias
de distribuição e de peças de reposição.
Isso é bom para a economia como um todo?
Depende.
Se a indústria automotiva deste país está
sujeita à concorrência de carros estrangeiros, os quais podem ser livremente
comprados pelos cidadãos deste país, sem tarifas de importação, então essa
indústria automotiva é eficiente, e os empregos que ela consegue manter
certamente são de alta produtividade e geram um produto de alta qualidade. Afinal, se mesmo com a concorrência de carros
estrangeiros a população nacional ainda assim segue comprando os carros
fabricados nacionalmente, então é porque o produto é bom, a indústria é
eficiente e os produtos fabricados por seus trabalhadores satisfaz os
consumidores locais.
Porém, e se essa indústria automotiva emprega
muita gente simplesmente porque ela é protegida por altas tarifas de
importação, as quais impedem os consumidores nacionais de terem acesso barato
aos carros estrangeiros?
Nesse caso, há uma grande chance de os empregos
mantidos por essa indústria serem artificiais e ineficientes, pois ela agora
está operando em um ambiente semelhante a uma "reserva de mercado". No mínimo, esses empregos não existiriam na
quantidade que existem atualmente caso a aquisição de automóveis importados fosse
mais fácil.
No primeiro exemplo, os trabalhadores da
indústria automotiva de fato estão criando um produto valoroso para a
sociedade, e isso é nitidamente demonstrado pela preferência voluntária dos
consumidores. Dado que eles têm a opção
de comprar carros importados baratos, mas ainda assim optam por comprar
maciçamente os carros nacionais, então isso é um sinal de que o produto é
satisfatório aos preços a que estão sendo vendidos, o que significa que os
trabalhadores dessa indústria estão sendo eficientes em criar um produto de
valor para a sociedade.
Já no segundo exemplo, os trabalhadores da
indústria automotiva estão operando dentro de um mercado protegido pelo
estado. Isso é uma receita certa para a
ineficiência. Devido às altas tarifas de
importação, que praticamente proíbem a compra de carros importados, os carros
nacionais poderão ser de pior qualidade e vendidos a preços mais altos -- e
ainda assim serão comprados, pois a população não tem muita escolha.
Consequentemente, ao ter de desembolsar valores
mais altos para adquirir esses carros, a população terá um renda disponível
menor para adquirir outros bens de consumo.
Os trabalhadores dessa indústria automotiva
terão salários acima dos de mercado, ao passo que o restante da população
ficará com um poder aquisitivo menor do que teria caso pudesse comprar carros
mais baratos do exterior.
O exemplo acima abordou apenas um setor da
economia. Se você expandir esse
raciocínio para todos os outros setores -- eletroeletrônicos, utensílios
domésticos, produtos tecnológicos, vestuário, siderurgia etc. --, começará a
ter uma noção de como o seu poder de compra pode ser afetado apenas para
garantir que estes setores tenham mais emprego do que o normal.
O raciocínio econômico só é completo quando ele
é capaz de contemplar não apenas o que está ocorrendo com um determinado grupo
(desempregados e indústrias), mas sim o que está ocorrendo com todos os grupos
da sociedade. E não apenas no curto
prazo, mas também no longo prazo.
Baixo
desemprego, por si só, não quer dizer nada
Por tudo isso, um país ter uma baixa taxa de
desemprego não quer dizer nada. O que
tem de ser olhado é o quão produtivo são esses empregos e se eles realmente
estão produzindo aquilo que o consumidor quer. Você ter um canteiro de obras repleto de peões
que fazem o mesmo serviço que apenas um homem com uma máquina seria capaz de
fazer não é um exemplo de economia pujante ou rica, mas sim de desperdício de
recursos. Você terá uma baixa taxa de
desemprego, mas não estará criando riqueza de forma eficiente.
Consequentemente, o objetivo de se alcançar uma
baixa taxa de desemprego não deve ser apenas a criação de empregos per se; o objetivo tem de ser a criação
de empregos produtivos e economicamente
viáveis.
Empregos só são valiosos quando as pessoas
trabalham com o intuito de fornecer bens e serviços que são genuinamente
valorizados e demandados pelos consumidores.
Se não há uma real demanda pelos produtos fabricados, ou se a demanda é
artificialmente criada por barreiras à importação ou por outras regulações
governamentais, tais empregos representam um grande desperdício de recursos
escassos.
Ao contrário do que alegou Keynes, se todos os
desempregados atuais fossem compulsoriamente empregados na construção de
pirâmides, isso não traria benefício nenhum para a sociedade. No entanto, seria ótimo para as empresas que
ganhassem os contratos do governo para fornecer os tijolos e o cimento. E seria péssimo para os reais empreendedores,
que agora teriam de lidar com preços mais altos para o tijolo, para o cimento e
para a mão-de-obra, o que poderia inviabilizar vários outros empreendimentos
mais demandados pelos consumidores.
Conclusão
A única maneira de criar e manter empregos que não produzem realmente aquilo que o
consumidor quer é utilizando o governo.
Seja por meio de subsídios diretos, seja por
meio de regulações que criam um cartel e proíbem a concorrência, seja por meio
de tarifas de importação que criam um reserva de mercado -- apenas o governo
pode manter operante empresas que produzem algo que não é genuinamente
demandado pelo consumidor.
E, ao fazer isso, empregos são gerados. E eles podem custar muito caro.