Se
você é daqueles que acredita que haverá uma revolução, e que esta será liderada
pela tecnologia, reconsidere. Tal ideia
é totalmente contraditória.
Não
haverá revolução e a tecnologia não levará a nenhuma revolução.
Por
quê?
A
essência de uma revolução é a centralização
do poder. Engels já sabia disso
desde cedo,
e fez questão de nos lembrar disso ao longo de vários anos. Não há nada mais centralizador do que uma
revolução.
Todas
as revoluções ocorridas na história geraram uma centralização do poder, inclusive
a Revolução Americana.
Não
estamos na iminência de uma revolução. Estamos,
isso sim, à beira de uma não-revolução.
O
que estamos vendo ao redor do mundo é uma descentralização. Estamos testemunhando a fragmentação do
equivalente ao Império Romano. Não houve
nenhuma revolução contra o Império Romano. Ele simplesmente se
desintegrou. O mundo medieval foi um
período de enorme descentralização.
Ao
longo do século XVII, houve várias tentativas de iniciar revoluções. A
Revolução Puritana na Inglaterra foi uma delas. Foi uma revolta contra o poder
centralizado do rei, mas foi uma revolta feita em nome da centralização do poder no Parlamento. Ela simplesmente gerou um ditador militar,
Oliver Cromwell, de 1649 a 1659.
Cromwell
foi substituído por um novo rei em 1660, mas o parlamento continuou a
centralizar o seu poder. A Revolução
Gloriosa de 1688 e 1689 retirou muito do poder do rei, mas não reduziu o poder
do governo; ela simplesmente transferiu o poder para o Parlamento.
O
Parlamento então adotou uma peculiar teoria sobre 'soberania parlamentar' algo
até então sem precedentes na história da tirania. Ele reivindicou, e ainda reivindica, soberania
suprema sobre todos os aspectos da vida britânica. Não foi elaborada nenhuma constituição para conter
o Parlamento britânico. Havia apenas o direito consuetudinário para contê-lo, o
que já era de alguma importância. Mas o
fato é que a centralização continuou. E
continua até hoje.
Com
uma intensa descentralização surge não uma revolução, mas sim uma secessão. E não me refiro a uma secessão
ao estilo daquela que ocorreu no sul dos EUA, que era apenas uma maneira de centralizar
o poder no sul do país. Aquilo não passou
de um grupo de revolucionários armados que procuravam centralizar o poder na
região que queriam controlar. Como eles próprios
argumentavam, era uma repetição da Revolução Americana.
Revoluções
significam centralização do poder. Quem não
entender isso não irá entender o que está ocorrendo hoje com o mundo, e o que
vem ocorrendo ao longo dos últimos 500 anos. Revoluções centralizam o poder. Se o objetivo é combater militarmente um poder
centralizado, então os combatentes têm de centralizar o poder em torno de si próprios. Ao fazer isso, tudo o que é alcançado é
simplesmente uma mudança de lealdade, a qual irá para esse novo grupo de
centralizadores formados. Até hoje as pessoas
ainda não aprenderam isso.
Os
cercamentos privados que
ocorreram na Inglaterra foram cruciais para o estabelecimento da liberdade
inglesa. Todo o processo representava
uma guerra contra o governo federal. Era
uma guerra contra o poder centralizado. Era
uma guerra contra burocratas que davam ordens ao povo sobre o que deveria ser
feito com a propriedade.
Para fugir do sistema, você não tem de fazer uma revolução; você tem de fazer
uma secessão. Você tem de retirar todo o seu apoio ao sistema
vigente. Você tem de revogar a legitimidade
que você conferiu a essas organizações. Você tem de fazer isso, e todas as
outras pessoas também têm de fazer isso.
E isso não é uma coisa que pode ser organizada
antecipadamente. As pessoas simplesmente aprendem, escândalo após escândalo, arbitrariedades após arbitrariedades, que o estamento burocrático é incorrigível e que o sistema é irreparável. Ele
não pode ser reformado.
Quem de fato comanda o estado, quem estipula as leis e as impinge, não são os políticos, mas o estamento burocrático: a permanente estrutura formada por pessoas imunes a eleições ou a troca de regimes. São estes que compõem o verdadeiro aparato controlador do governo.
O estamento burocrático é uma máquina estável que sempre procura fazer o sistema funcionar em benefício próprio. Ele resiste a qualquer arroubo (revolucionário ou reacionário) que possa causar desconforto.
E ele não pode ser
"capturado desde dentro". Ele tem de deixar
de ser financiado.
O segredo da liberdade não é a revolução; o segredo da
liberdade é a deixar de financiar a ordem centralizada existente.
O
segredo da estabilidade monetária e de uma moeda forte não é capturar o Banco Central
e colocar lá "um dos nossos", ou conceder a ela uma suposta independência. O segredo
é a soberania monetária. Qualquer um
utiliza a moeda que quiser sob uma ordem social de livre mercado. E isso só se consegue via secessão.
O
segredo de uma melhor educação não é capturar e controlar o sistema público de
ensino. O segredo de uma educação melhor é utilizar a internet (o que reduz
sobremaneira os custos da educação), descentralizar todo o processo, e colocar
os pais no controle do programa educacional de suas famílias.
O
problema é que os conservadores e vários libertários são de lento aprendizado.
Eles ainda insistem em dizer que o melhor a ser feito é capturar e controlar o
sistema progressista, pois acreditam que têm um plano melhor para fazê-lo
funcionar. Isso foi o que os bolcheviques fizeram com a burocracia do Czar.
Isso foi o que os revolucionários franceses fizeram com a burocracia de Luís
XVI. Isso foi o que os revolucionários americanos fizeram com a burocracia de
George III. Isso é o que o sul dos EUA teria feito caso tivesse vencido.
A
revolução tecnológica, a revolução "open source", vai descentralizar o mundo de
maneira mais intensa. A descentralização
não vai levar a uma revolução. A
descentralização vai levar à secessão. Refiro-me a uma secessão ao estilo de Gandhi.
Refiro-me à retirada do apoio.
Você não tem de pegar em armas contra o estado;
você simplesmente tem de se recusar a cooperar com ele. Agindo assim, você faz com que seja mais difícil
e mais custoso para o estado tentar tiranizar você.
A
Iugoslávia não existe mais. A União Soviética não existe mais.
Essa é a onda do futuro. Os estatistas e
os pretensos estatistas irão continuar em busca da Grande Revolução. Assim como Marx, eles veem como iminente a
Grande Revolução. Só que ela nunca veio. A revolução comunista ocorreu justamente
onde, segundo a própria teoria marxista, não deveria ter ocorrido: a área rural
do império russo. O proletariado urbano não fez a revolução; quem a fez foi um
bando de intelectuais alienados em conjunto com assaltantes de banco.
O
que iremos testemunhar é o fim do apoio aos regimes centrais. As revoluções no mundo árabe não
descentralizaram nada. Elas apenas
reorganizaram a centralização nas mãos de um outro grupo de tiranos. É bom ver os antigos tiranos sendo humilhados
e derrubados, pelo menos de longe. Mas isso não muda nada. O Egito é exatamente
o mesmo que era sob o jugo de Mubarak. É
uma ditadura militar. A revolução não trouxe nada de positivo.
Revolucionários
têm de ter um objetivo centralizador. Pode
ser explícito ou não, mas sempre há uma agenda centralizadora em todos os
movimentos revolucionários. Todo revolucionário sempre acredita que sua
revolução será a última. Todo
revolucionário acredita que, quando ele finalmente estiver no controle da
cadeia hierárquica de comando, as coisas serão diferentes. Sim, será diferente: teremos um grupo
diferente de espoliadores pilhando a produtividade das vítimas.
Enquanto
conservadores e alguns libertários continuarem sonhando com a captura e o
controle de sistemas hierárquicos de poder, nada vai mudar.
Nenhum
plano centralizador pode surgir de um sistema de comunicação descentralizado. Vivemos nos Bálcãs digitais, e não na Iugoslávia.
As redes sociais estão descentralizando o mundo. Elas estão"balcanizando" o mundo. E isso vai continuar.