Sendo
uma pessoa racional, abomino essa tal Hora do Planeta, que
diz que as pessoas devem ficar 60 minutos com todas as luzes apagadas, sem
utilizar nenhum aparelho elétrico, como forma de manifestar concordância com o
mito climático reinante.
E
meus motivos passam longe de ser uma mera birra contra a religião do "aquecimento
global" (desculpe, "mudanças
climáticas", igual aquelas que ocorrem quando vamos do outono para o
inverno). Minhas motivações são outras.
Eletricidade
abundante e barata foi a maior fonte de libertação do ser humano no século
XX. Todos os avanços materiais e sociais
ocorridos no século XX dependeram da proliferação de eletricidade confiável e
acessível.
Por
exemplo, as mulheres só conquistaram a liberdade de poder trabalhar fora de
casa porque a disponibilidade de eletricidade permitiu a massificação do uso de
aparelhos domésticos eletroeletrônicos, os quais reduziram enormemente o tempo
dedicado às tarefas da casa, bem como o fardo físico exigido por tais tarefas.
As
crianças só puderam parar de fazer trabalhos pesados, e passar a frequentar
escolas, porque a disponibilidade de eletricidade permitiu um aumento na
produtividade da mão-de-obra (uma serra elétrica é mais produtiva que um
serrote), uma diminuição no número de pessoas necessárias para realizar uma
mesma função, e uma redução da carga de trabalho muscular necessária para a
realização de várias tarefas. Adicionalmente,
foi a eletricidade que permitiu que elas pudessem ler e estudar da maneira
segura dentro de ambientes fechados.
O
desenvolvimento e a oferta de serviços modernos de saúde são absolutamente
impossíveis sem eletricidade. A expansão
da oferta de alimentos e a promoção de hábitos de higiene e de nutrição só
ocorreram porque nos tornamos capazes de irrigar campos, refrigerar e cozinhar
alimentos, e ter um contínuo fluxo de água quente em nossas casas.
As
populações mais pobres do mundo ainda sofrem brutais condições ambientais
dentro de suas casas por causa de necessidade de cozinhar alimentos e de
iluminar suas casas fazendo fogo com galhos e estrume. Essa ausência de eletricidade, além de causar
desmatamento local, ainda causa a proliferação de doenças pulmonares.
Qualquer
pessoa que realmente queira melhorar as condições de vida do terceiro mundo
deveria deixar a ideologia de lado e se dar conta da importância de ter acesso
à eletricidade barata gerada pela queima de combustíveis fosseis em estações
geradoras. Afinal, foi assim que o
Ocidente se desenvolveu.
A
mentalidade em torno da Hora do Planeta é uma mentalidade que demoniza a
eletricidade. Já eu celebro a
eletricidade por tudo aquilo que ela propiciou à humanidade. A Hora do Planeta celebra a ignorância, a
pobreza e o atraso. Ao repudiar o maior
propulsor da libertação humana, a Hora do Planeta se transforma em uma hora
dedicada ao anti-humanismo e ao obscurantismo.
Os adeptos da Hora do Planeta fazem o gesto hipócrita de desligar
aparelhos elétricos triviais, durante um período de tempo trivial, em
deferência a uma abstração mal definida chamada "o Planeta", ao mesmo tempo em
que têm a segurança de que continuarão se beneficiando de uma oferta de
eletricidade contínua e segura. Apenas
pessoas acostumados a todos os confortos fornecidos pela eletricidade podem se
dar ao luxo desse gesto farisaico.
Pessoas
que veem virtude em ficar sem eletricidade deveriam, por coerência, desligar
suas geladeiras, fogões, fornos microondas, computadores, ar-condicionado,
chuveiro elétrico, lâmpadas, televisões e todos os outros aparelhos elétricos por um mês, e não por apenas uma
hora. E deveriam ir a todas as unidades
cardíacas dos hospitais e desligar a eletricidade de lá também.
Já
eu não quero voltar a um estado brutal da natureza. Vá a uma região atingida por terremotos,
enchentes e furacões, e você verá o que é retroceder ao estado natural do ser
humano. Para seres humanos, viver em
condições "naturais" significaria uma vida extremamente curta marcada pela
violência, pela doença e pela ignorância.
Apenas ignorantes, embora muitos possam ser genuinamente bem-intencionados,
podem querer isso. A maioria dos ambientalistas
atuais é formada por tipos de classe alta, gente chique que mora em regiões abastadas,
rodeadas de todos os confortos que apenas o capitalismo pode dar.
Ambientalistas não moram no meio de árvores e madeiras, sem nenhuma
eletricidade. Quem mora, não tem nenhuma ilusão quanto à bondade da deusa
Gaia. Estes sabem que a própria
existência da humanidade depende da subjugação da natureza, a qual deve ser
constantemente domesticada e adaptada aos nossos conformes. Se algum dia
pararmos de fazer isso, as selvas irão reivindicar e retomar nossas cidades.
É
por isso que aquelas pessoas que genuinamente querem ver o fim da pobreza e uma
redução drástica das doenças estão, na realidade, lutando contra essa condição
"natural" da vida na terra. Espero que
essas sempre deixem suas luzes acessas.
Aqui
em Ontário, onde moro, por meio do uso de tecnologias de controle de poluição e
de engenharia avançada, a qualidade do nosso ar melhorou dramaticamente desde a
década de 1960, não obstante a grande expansão da indústria e da oferta de
energias elétrica, mineral e derivada de combustíveis fósseis.
Se,
após tudo isso, formos aceitar a ideia de que as emissões remanescentes são
maiores do que todos os benefícios da eletricidade, e que por isso temos de nos
envergonhar e nos punirmos ficando uma hora no escuro, como crianças de castigo
por terem feito estripulias, então estaremos dizendo que a natureza imaculada é
um ideal absoluto e transcendental, que está muito acima de todas as outras
obrigações éticas e humanas.
Não,
obrigado. Gosto de visitar a natureza e
observá-la, mas não quero viver no meio dela.
E me recuso a aceitar a ideia de que a civilização, não obstante todos
os seus defeitos, é algo de que devemos nos envergonhar.
Ah,
sim, o que eu fiz durante a Hora do Planeta?
Enquanto os obscurantistas exigiam escuridão, fiz questão de acender
absolutamente todas as luzes da minha casa, dentro e fora, para celebrar a
civilização humana.