A
grande ironia é que, com o colapso do modelo social-democrata e assistencialista
na Europa e na América Latina, a retórica anti-mercado e pró-socialismo está
ressurgindo com força nas manchetes dos jornais (ver aqui, aqui e aqui) e aparecendo cada vez mais frequentemente nas mídias sociais.
Invariavelmente,
tais pessoas acreditam firmemente que organizações financiadas pelo governo --
como o FMI (instituição criada
por Keynes e financiada pelos impostos
pagos pelos cidadãos dos países ricos) -- são representantes da genuína
economia de mercado.
Esse
tipo de confusão conceitual não interessa a essas pessoas, pois os artigos e os
memes de internet recorrem ao típico
tom populista e a frases curtas e triviais, repletas de clichês e soluções
fáceis -- e são intencionalmente construídas assim para facilmente evitar
ataques e causar mais impacto nos leigos.
Ao
final, tudo pode ser resumido à seguinte mensagem: o socialismo funciona e é
melhor do que o capitalismo.
Embora
a maior parte dessa retórica venha da esquerda, a direita não é inocente, uma
vez que a direita parece estar majoritariamente preocupada em promover sua
própria versão de populismo, a qual aparentemente não envolve a defesa dos
mercados. Por exemplo, "Vamos restringir
a entrada de imigrantes pobres!" não é a resposta certa para "Abaixo os lucros
abusivos!".
Em
vez de descer a este nível tosco de argumentação ou de simplesmente dizer
"Leiam Mises!" (essa, sem dúvida, uma resposta bem mais adequada), temos de
mostrar, mais uma vez, que o socialismo -- até mesmo sob o comando de líderes
políticos angelicais e genuinamente bem intencionados -- é impossível e gera
consequências desastrosas.
A necessidade de haver lucros, preços e
empreendedores
O
socialismo é a propriedade coletiva (ou seja, o monopólio estatal) dos meios de
produção. O socialismo defende a
abolição da propriedade privada dos fatores de produção (indústrias, fábricas,
maquinários, bens de capital, e trabalhadores).
Salários e lucros são duas fatias do mesmo bolo, e o socialismo diz que
a "fatia lucro" deve ser zero.
Todos
os problemas teóricos do socialismo emanam de sua definição, e não de pontos
específicos de sua aplicação. Os
defensores do socialismo definem "propriedade coletiva" como sendo a proibição
de um mercado privado para os fatores de produção. Só que, sem um mercado para esses fatores de
produção, não há como haver formação de preços e salários para esses
fatores. E, sem essa formação de preços e
salários para os fatores de produção, não há como mensurar os custos de
produção. E aí tudo se complica.
Em
uma economia de mercado livre e desimpedido, os preços e os salários dos
fatores de produção são determinados pela sua capacidade de ajudar a produzir bens
e serviços que os consumidores querem. Em
termos mais técnicos, os fatores de produção tendem a ganhar o valor do seu produto
marginal ("produto marginal" se refere às unidades extras produzidas quando se
aumenta em uma unidade quantidade de fatores de produção). E, dado que cada trabalhador possui alguma
vantagem comparativa, há uma fatia do bolo para todos.
Se
eventuais mudanças tecnológicas tornam certos fatores mais produtivos, ou se a
educação e o treinamento tornam um trabalhador mais produtivo, então seus preços
ou salários serão elevados a esse novo e mais alto produto marginal (um mesmo
trabalhador ou um mesmo maquinário produzem agora mais bens). Um empreendedor não irá contratar ou comprar
um fator de produção cujo preço seja maior do que seu produto marginal, pois
isso faria com que esse empreendedor sofresse prejuízos.
Prejuízos
empreendedoriais são mais importantes do que muitos imaginam. Prejuízos não são apenas um golpe no
resultado financeiro do empreendedor.
Prejuízos significam que os recursos que estão sendo utilizados para
produzir algo valem mais do que esse algo que eles estão produzindo. Ou seja, prejuízos significam que o capital
está sendo mal empregado; está sendo utilizado de maneira ineficiente. Prejuízos, portanto, mostram que está havendo
uma destruição de riqueza.
Já
os lucros significam o oposto. Lucros
representam crescimento econômico e criação de riqueza. Uma linha de produção lucrativa é aquela cujos
itens utilizados para produzir um determinado bem de consumo custam menos do
que o valor que os consumidores estão dispostos a pagar por esse bem de
consumo.
Sendo
assim, lucros e prejuízos são mais do que apenas incentivos importantes; são
mais do que uma tramóia conspiratória do sistema capitalista. Lucros e prejuízos são a única maneira de
saber se está havendo criação de riqueza ou destruição de riqueza em alguma
linha de produção.
Sob
o socialismo, há um único proprietário para todas as linhas de produção. E, por causa da ausência do sistema de lucros
e prejuízos, esse proprietário não tem como utilizar os fatores de produção de
maneira eficiente. Ele não tem como
saber quais fatores de produção devem ser direcionados para quais linhas de
produção. É impossível fazer uma
alocação eficiente. É impossível ter um
mínimo de certeza sobre qual maquinário específico, qual ferramenta específica
ou qual fábrica específica poderiam ser utilizados para produzir algum outro
bem de maneira mais eficiente.
É
impossível saber quanto de cada produto deve ser produzido em cada etapa da cadeia
de produção. É impossível saber quais
técnicas ou quais matérias-primas devem ser utilizadas na produção como um
todo. É impossível saber qual a
quantidade de matérias-primas a ser utilizada.
É impossível saber onde especificamente fazer toda essa produção. É
impossível saber seus custos operacionais ou qual processo de produção é mais
eficiente.
Ninguém
sabe o que produzir, quanto produzir, como produzir, onde produzir. Tem-se apenas caos econômico.
Quem
é contra a liberdade de preços e salários está, em maior ou menor grau,
defendendo a instauração desse caos econômico no sistema produtivo.
Sem mercado, impossível saber o que ou como
produzir
O
sistema de lucros e prejuízos é o que guia e corrige empreendedores no processo
de produzir os bens que eles esperam ser demandados pelos consumidores.
Sem
essa informação, incluindo-se aí muito especificamente os custos de produção,
os empreendedores não podem incorrer em nenhum tipo de cálculo econômico. Sem o sistema de lucros e prejuízos, é impossível
estimar a diferença entre receitas futuras e os custos de produção necessários
para alcançar essas receitas futuras.
Consequentemente,
trabalhadores serão alocados para trabalhar em áreas nas quais não possuem
nenhuma vantagem comparativa. Agricultores
são enviados para trabalhar em fábricas, e alfaiates são enviados para
trabalhar em
minas. Trabalhadores
estão em linhas de produção erradas tendo de lidar com máquinas e ferramentas
que desconhecem. A economia se torna uma
bagunça.
O
filme polonês Brunet Will Call, de 1976, satiriza situações como
essa ao longo de toda a película, mostrando bens de consumo e bens de capital
nos lugares mais improváveis. Um
açougueiro retira um cabo de embreagem do seu congelador e o repassa ao
personagem principal, que paga fornecendo informações sobre a localização de
dois carrinhos de bebê que talvez sejam do interesse do açougueiro caso ele
venha a gerar filhos gêmeos (os carrinhos estão em uma loja de flores,
obviamente).
O
fracasso do socialismo não depende da cultura, da época ou da localização das
vítimas. O socialismo já é falho em seu
núcleo: a propriedade "coletiva" dos meios de produção.
Sendo
assim, não há como criar uma versão funcional e produtiva do socialismo em
lugar nenhum do mundo. Na prática, os
problemas teóricos do socialismo geram convulsões sociais e protestos, os quais
são combatidos com rigor pelas forças policiais do estado, resultando em uma carnificina maior que a
de todas as guerras oficiais já travadas no mundo.
Sem
o sistema de lucros e prejuízos para guiar a produção, cotas de desempenho têm
de ser impingidas. Com essas cotas, e
mesmo naqueles casos em que os trabalhadores não mintam sobre sua produção, o
caos reina supremo. Por exemplo, se o
governo institui uma cota de produção de parafusos, impondo um número mínimo de
parafusos a ser produzido, os trabalhadores dessa linha de produção irão
produzir vários, pequenos e inúteis parafusos.
Já uma cota de parafusos baseada no peso estimularia os trabalhadores a
produzir parafusos massudos e totalmente inúteis -- uma situação satirizada
neste desenho
da revista satírica russa Krokodil
durante a década de 1960.
Intermináveis
filas se formavam na URSS repletas de pessoas procurando por sapatos -- muito
embora a produção de sapatos na URSS excedesse à dos EUA. O problema era que todos os sapatos
produzidos ma URSS eram pequenos demais, pois a produção de sapatos era
mensurada unicamente pelo número de unidades produzidas, sem levar em consideração
o tamanho e o estilo demandados pelos consumidores.
Não
há como escapar da lei da escassez: se o governo impõe que deve haver um grande
número de sapatos produzidos, e se os recursos disponíveis para produzir esses
sapatos não são infinitos, então cada sapato produzido tem ser pequeno; caso
contrário, não haverá material para fazer o número mínimo de sapatos
determinados pelo governo.
Essa
lei vale não apenas para sapatos, mas também para absolutamente qualquer outro
item cuja produção seja estimada por burocratas e não pelas forças de mercado
guiadas pelo sistema de lucros e prejuízos.
Nos estertores do socialismo
Alguns
casos são apenas engraçados; outros são trágicos. Aproximadamente sete milhões de pessoas
morreram de fome na Ucrânia
apenas no biênio 1932-33. Os autores
d'O
Livro Negro do Comunismo (1999) estimam em 100 milhões de pessoas o número
de mortos gerados por regimes socialistas e comunistas. Isso é mais de 200 vezes o número de
americanos mortos na Segunda Guerra Mundial.
Mesmo
hoje, em Cuba, o salário médio é de aproximadamente US$ 20 por mês. Na Coréia do Norte, os cidadãos são
rotineiramente capturados e publicamente executados pelo "crime" utilizar
televisões sul-coreanas contrabandeadas para o país. E, na Venezuela, há escassez de alimentos e
remédios.
Quando
o povo se torna faminto e infeliz, é impossível o estado sobreviver caso esse
povo saiba que há pessoas em outros lugares do usufruindo uma vida muito
melhor. Por isso, os estados comunistas
recorrem à propaganda, à desinformação e à censura para fazer com que uma já
cativa população fique ainda mais confusa e submissa.
Por
tudo isso, devo-me confessar surpreso ao ouvir clamores por socialismo em pleno
2015 -- se o poderoso argumento da impossibilidade do cálculo econômico sob o
socialismo e a astronômica carnificina gerada por esse regime ainda não foram
capazes de desanimar a esquerda em suas reiteradas exortações por mais
socialismo, então nada mais o fará.
O
socialismo é uma ideia falida e mortal, tanto na teoria quanto na prática.