N.
do E.: o IMB sempre foi um inflexível defensor da descriminalização de
absolutamente todos os tipos de drogas. No
entanto, e por motivos óbvios, a defesa da descriminalização das drogas de
maneira nenhuma implica a defesa do uso de drogas, como alguns caluniadores gostam
de inferir. O artigo a seguir fala sobre isso.
Podem me odiar à vontade, mas irei dizer mesmo
assim: a maconha é nojenta.
Fumar maconha é, dentre todos os tipos de fumo, o
pior hábito de todos. A coisa fede. O cheiro é muito pior que o de cigarros
convencionais. Não dá para ficar em um
mesmo ambiente com pessoas fumando maconha.
A maconha também deixa as pessoas abobadas e com um raciocínio
lento. Consequentemente, ela destrói encontros
sociais ao tornar toda a ocasião menos inteligente. Ademais, é extremamente rude fumar
maconha perto de pessoas que, como eu, não toleram o cheiro da coisa e nunca
encostariam em um baseado. Especialmente
irritante é a tentativa de menosprezar e escarnecer aqueles de nós que têm interesse
zero em fumar uma planta que transforma o fumante em um otário.
É por esse motivo que devo me confessar
particularmente estupefato ao constatar quão estranhamente badalada e em voga a
maconha se tornou.
Quando eu era criança, fumar maconha era considerado
um ato depravado e perigoso. Hoje, se você
falar isso perto de praticamente qualquer pessoa com menos de 30 anos de idade,
ela lhe dará um sermão sobre quão maravilhosa a maconha realmente é.
Os defensores da maconha podem citar todos os dados
supostamente científicos que quiserem, mas eu sei mais apenas por causa da
minha experiência de vida. Eu ainda me
lembro de quando a maconha deixou de ser proibida e passou a ser modismo. Eu fazia faculdade no estado da Virgínia e morava
com outros quatro caras no andar de cima de uma casa. Eles eram absolutamente viciados na planta.
Todas as noites -- e eu realmente enfatizo que eram
todas as noites --, eles juntavam dezenas de latas de cerveja, ligavam o rádio
em uma estação de rock, acendiam seus baseados e fumavam ininterruptamente das
5 da tarde até 1 da manhã. Eles
simplesmente ficavam sentados no sofá conversando coisas idiotas em um tom de
pseudo-profundidade. Eles falavam sobre
o universo, sobre a vida em outros planetas, sobre personagens de desenho
animado e por aí vai.
Normalmente, eu jamais teria má vontade para com a
maneira que outros voluntariamente escolhem se divertir, mas fazer isso todas
as noites? Com o tempo, não consegui
conter meu crescente sentimento de desprezo.
Eles continuamente me pressionavam a se juntar a
eles. A coisa foi se
transformando em alta pressão. Inevitavelmente,
acabei cedendo e dei uma tragada seguida de uma inalada. Fiquei instantaneamente nauseado. Assaltei a geladeira e fui para a cama,
odiando a mim mesmo. Nunca mais fumei novamente e jamais o farei.
Desde então, nos anos subsequentes, fumar maconha
deixou de ser visto como um hábito de derrotados e se transformou em uma
cultura universal entre os jovens. Parece
haver dezenas de maneira de fumar maconha -- enrolada num papel, cachimbo, bongos, comestível etc. Não consigo me manter atualizado. E as variedades de maconha disponíveis surpreendem. Sempre que me oferecem a erva, recebo uma
completa apresentação sobre a modalidade em questão, como se estivesse em um
restaurante chique participando de uma degustação de vinhos.
As alegações feitas em defesa da substância estão cada
vez mais implausíveis. Se você realmente
parar para ouvir as pontificações dos usuários, terá a certeza de que a maconha
é o caminho mágico para uma vida longa, bem-sucedida e repleta de êxtase. A única porta de entrada que ela oferece é
para a felicidade.
Já o que eu vejo é muito mais óbvio. A maconha transforma você em um otário. Há um quê do personagem Salsicha, do desenho
Scooby-Doo, em cada fumante: aquele jeito preguiçoso, levemente desmiolado, de
andar rastejante e de fala lenta e desconexa, resultantes de se querer utilizar
a maconha para anestesiar reações normais às ansiedades da vida.
Provavelmente é verdade que a maconha não seja mortífera,
e não estou aqui para conjecturar se ela é prejudicial à saúde. Os perigos da maconha são mais sutis. Seu uso pressupõe que todas as ansiedades
desta vida devem ser abolidas, sempre e a cada tragada. Inale a fumaça mágica e exale todos os seus
problemas.
Nisso eu não acredito. A mente necessita de ansiedade; ela tem de
ter esse treino, especialmente em idades mais jovens. Desapontamentos, frustrações, medos e preocupações
devem fazer parte da narrativa da vida, pois estes sentimentos apenas se
intensificam com o avançar do tempo. Se descobrirmos
uma maneira mágica de entorpecer nossos sentidos em relação a estes
sentimentos, e a uma idade jovem, como poderemos funcionar bem em um mundo
adulto?
No que mais, e deixando tais considerações de lado,
a estética da maconha é totalmente cafona.
Já a testemunhei inúmeras vezes. Sempre
que sou convidado para uma "reuniãozinha" após algum evento público, sempre
fico com a esperança de que não envolva maconha. E quase sempre erro. Tão logo a fumaça (e seu fedor) começa a
envolver o recinto, o nível da conversação entra em queda livre.
E então eu perco todo o dia seguinte tentando tirar
o cheiro das minhas roupas e do meu cabelo.
É de embrulhar o
estômago.
É também algo que me entristece ver pessoas me
julgando tão severamente pelo simples fato de eu não ser um usuário de maconha.
Já tive amizades extremamente
promissoras que foram bruscamente interrompidas tão logo confessei que não fumava
maconha. A pessoa, de início, parecia
apenas desapontada com a revelação. Depois,
simplesmente passou a agir como se "bem, se você não fuma maconha, você jamais
poderá ser meu amigo".
Quaisquer que sejam as consequências que a maconha
tem sobre as pessoas, uma postura de tolerância em relação aos não-usuários não
é uma delas. "Preconceito fanático" é
uma descrição cabível. Aliás, nunca entendi
como foi que se tornou socialmente obrigatório ser agressivo com os fumantes de
tabaco, mas infinitamente tolerante -- e até mesmo festivo -- com os fumantes
de maconha.
Apenas para deixar minha opinião bem clara, sou
totalmente a favor da descriminalização da maconha (e de todas as drogas). Não quero que maconheiros sejam encarcerados.
Não quero que sejam molestados. Não quero nem mesmo que a maconha seja
tributada. Se você quer cultivar uma
planta, empacotá-la, vendê-la e consumi-la, por mim tudo bem. Assim como quem não toma banho e se veste
mal, usuários de maconha causam danos apenas a si próprios.
Já está bastante óbvio que, quanto mais a polícia
persegue a maconha, mais popular ela se torna.
Tenho, aliás, uma crescente suspeita de que, com efeito, foi a própria ilegalidade
que gerou a implausível popularidade da maconha. Fumar maconha é uma maneira fácil de "ser
contra as regras" e "desafiar o status quo".
O melhor argumento em prol da retirada da maconha da lista dos frutos
proibidos é que sua própria normalidade já a submeteria ao tribunal do bom
gosto e das boas maneiras. E, neste
tribunal, estou praticamente certo de que a maconha seria condenada.
Adoraria ver o regresso dos bons e velhos tempos em
que o uso da maconha era amplamente visto como depravado e ignóbil, um hábito
de derrotados. Porém, para regressarmos a
isso, será essencial abolir a guerra estatal contra a maconha, para que padrões
normais (e não-estatais) de desaprovação social -- mais perspicazes, mais
severos e mais eficazes -- voltem à cena.
Quando isso ocorrer, a realidade de que fumar maconha é um hábito
nojento voltará a ser óbvia para todos.