A cada dois anos escolhemos aqueles políticos locais
e nacionais que imaginamos serem capazes de melhorar nossas vidas. Os problemas que queremos que eles resolvam
são exatamente os mesmos que eles previamente criaram na ânsia de tentar
administrar e cuidar de nossas vidas.
A maneira como eles se elegem é única: prometendo
confiscar e redistribuir a riqueza de terceiros -- exatamente a riqueza que
produz a prosperidade -- em troca de votos.
Justamente por se basear maciçamente na mentira e
por se sustentar na espoliação da renda dos mais produtivos, a qualidade da
política está sempre em constante declínio. As únicas melhorias ocorrem
nos procedimentos que envolvem más ações: mentir, corromper, iludir, manipular,
trapacear, roubar e até matar.
Na política, ocorre uma forma bastante atípica de
competição: uma disputa para ver como um pode superar o outro em termos de
ideias ruins e de comportamento estupidificante. Em vez de aprimorar o
desempenho e estimular uma constante melhoria, a competição política parece
gerar o resultado oposto: os partidos recorrem ao mais sórdido denominador
comum entre eles, e parecem dispostos a reproduzir as piores peculiaridades de
cada oponente. Em vez de excelência, ficamos com mediocridade -- e com um
agravante: a tendência é sempre declinante.
Para aumentar a injúria, os preços dos serviços
políticos estão constantemente aumentando, seja nos impostos que pagamos ou nas
propinas dadas em troca de privilégios. Não há obsolescência, planejada
ou espontânea. Como Hayek famosamente argumentou, na política, os piores sempre chegam ao
topo. E, o que é pior, não há prestação de contas e nem
imputabilidade: quanto mais alto o cargo, maior a transgressão criminosa da
qual o sujeito pode se safar.
A
política estimula a submissão
Políticos detêm poder sobre uma instituição da qual
eles não são os proprietários, mas que irão gerenciar por quatro anos, tempo
durante o qual a quadrilha encastelada no poder irá implantar medidas
econômicas destrutivas que irão beneficiar apenas a si própria e a seus
auxiliares (públicos e privados) nesse esquema de extorsão.
Políticos não arriscam virtualmente nada que seja
deles nesse jogo. A pior consequência que podem vir a encarar é não serem
reeleitos daqui a quatro anos, sendo que sairão de seus mandatos espantosamente
enriquecidos pelo dinheiro
doado por grupos de interesse e por empresários ligados ao regime, os quais
eles financiaram durante o mandato com o dinheiro que você pagou de impostos.
Praticamente todas as pessoas com as quais
conversamos hoje em dia admitem um sério desgosto com as opções
eleitorais. Entretanto, ainda assim a maioria das pessoas irá optar nas
urnas pelo "menor dos males" — seja lá o que isso signifique, e
provavelmente não há como saber antecipadamente —, já sabendo que nenhuma opção
real e viável irá surgir.
O que nos leva ao pior problema da política: ela
estimula a obediência e a submissão das massas. Enquanto os políticos do
partido azul fingem culpar os políticos do partido vermelho, e os políticos
vermelhos fingem rivalidade com os políticos azuis, as massas se comportam
bovinamente como líderes de torcida, prendendo a respiração a cada embate
público entre esses dois times, e sempre se mantendo submissas a ambos.
Afinal, se seu time vencer as próximas eleições, aí
sim as coisas poderão finalmente melhorar!
Não apenas a política exaure a energia mental e
emocional de nossas vidas, como ela também torna as pessoas bem mais propensas
à submissão e a seguir ordens de maneira automática. "Não gosto do partido
A que está no poder; queria muito que o partido B estivesse no controle, aí sim
eu estaria satisfeito".
Isso sim é
realmente perigoso.
Não importa quem esteja no poder, o
governo sempre vencerá
Quando as pessoas pensam
no governo, elas normalmente imaginam um grupo de 600 pessoas na capital
federal tomando algumas decisões racionais. A verdade, no entanto, é que
o governo é composto por milhões de empregados, sendo a esmagadora maioria
impossível de ser demitida. Para piorar tudo, oceanos de dinheiro passam
pelas mãos dessas pessoas diariamente. Esse arranjo é totalmente propício
ao abuso de poder, e sempre será. Trata-se de um problema estrutural, o
qual não pode ser resolvido apenas "votando nas pessoas certas".
Foi Jeffrey Tucker quem
melhor resumiu a
situação:
Não é a classe política quem comanda as
coisas. [...] Políticos vêm e vão. A classe política é apenas o
verniz do estado; é apenas a sua face pública. Ela não é o estado
propriamente dito. Quem de fato comanda o estado, quem estipula as leis e
as impinge, é a permanente estrutura burocrática que comanda o estado,
estrutura esta formada por pessoas imunes a eleições. São estes, os
burocratas e os reguladores, que compõem o verdadeiro aparato controlador do
governo.
Ou seja, a estrutura do
governo é, por natureza, corrupta e abusiva, e continuará assim até que a
própria estrutura seja mudada. Meras eleições, mesmo que "as pessoas
certas sejam eleitas", não irão alterar essa estrutura.
A política está sempre se
esforçando para nos fazer crer que as coisas irão melhorar... tão logo derrotemos
o partido inimigo, é claro. Só que, independentemente de nossas
esperanças, sempre vamos acabar lidando com algo chamado "governança
efetiva". Em outras palavras, nada irá mudar, ainda que as faces que
aparecem na televisão sejam trocadas de quatro em quatro anos.
A política se baseia na superstição
Arraigada na prática da
política está uma superstição, qual seja: se protestarmos o bastante, e da
maneira correta, vamos conseguir o que queremos, e sem corrermos nenhum risco.
Em outras palavras, queremos
acreditar que a política nos fornece uma solução fácil, e que nossas
reclamações têm poderes mágicos.
Ora, se queremos que as
coisas sejam diferentes, então temos de agir para torná-las
diferentes. Só que a política aniquila essa possibilidade ao tornar as
pessoas mais passivas e ao fazê-las acreditar que meras manifestações verbais
têm poderes mágicos, e que a passividade é uma virtude.
Ou seja: há milhões de
pessoas decentes e capazes que podem perfeitamente resolver seus próprios
problemas, sem ter de recorrer a políticos; no entanto, essas mesmas pessoas
foram condicionadas a jamais agir por conta própria e a sempre acreditar que
podem conseguir o que querem -- sem correr nenhum risco -- apenas se
manifestando e utilizando as palavras corretas.
A política, portanto,
criou uma mentira atraente e irresistível demais para ser ignorada: mude
o mundo: sem dor, sem esforço, sem riscos.
Não apenas essa promessa é
uma fragorosa superstição, como ela também desestimula as pessoas a realmente se
esforçarem para mudar o mundo à sua volta. Por que gastar sangue, suor e
lágrimas se você pode apenas reclamar e obter os mesmos -- ou até melhores --
resultados?
"Temos de votar nos bons!"
Após toda a experiência
democrática, o eleitorado já deveria reconhecer que, na melhor das hipóteses,
elegerão incompetentes (e isso é tudo pelo que podemos torcer); na pior,
escroques.
No entanto, por piores que
sejam os resultados, e por piores que sejam as consequências destes resultados,
aquele ingênuo e constante mantra pró-democracia seguirá impávido: "É só
elegermos as pessoas certas".
O único problema é que as
"pessoas certas" não estão (e nunca estarão) concorrendo a cargos
públicos. Em vez disso, continuaremos tendo de aturar "o político
comum que não apenas é um imbecil", como escreveu H.L. Mencken, "mas
que também é dissimulado, sinistro, depravado, patife e desonesto".
Mencken foi certeiro ao
dizer que, para ser eleito e continuar sendo eleito para qualquer cargo
público, é necessária a total suspensão de toda e qualquer ética ou bom senso
que uma pessoa eventualmente possua.
Mesmo aqueles que
começaram sua carreira política com a melhor das intenções, e que possuem
capacidades mensuráveis que o tornariam bem-sucedido em qualquer campo,
rapidamente percebem que as habilidades necessárias para ser bem sucedido na
política não são exatamente aquelas requeridas fora da política.
A política é pré-histórica
O sistema de homens
governando homens data do ano 6.400 a.C. Já o tipo de governança que mais
se assemelha à nossa começou por volta de 5.000 a.C. Assembléias
bicamerais (como Senado e Câmara dos Deputados) já existiam em 2.500 a.C.
Ou seja, são coisas que já
existiam naquele período de tempo que convencionalmente rotulamos de
"pré-história".
Logo, eis a pergunta: por
acaso há algo mais que já existia antes das pirâmides do Egito e que ainda
governa nossas vidas hoje?
O homem não mais tem de
lavrar a terra manualmente. Ele não mais tem de utilizar rochas para
fazer fogo. Ele não mais tem de andar de carroças. Ele não mais
depende da tração animal. Já aprendemos a escrever, a inventar, a
navegar, a percorrer em poucas horas enormes distâncias no globo, a dirigir, a
voar, a chegar à lua etc.
E, ainda assim, essa
relíquia do nosso passado mais primitivo ainda permanece. Se há uma área
da vida em que os humanos fracassaram e em nada evoluíram, essa área é a
política.
Déspotas disfarçados
Nenhum governo, em nenhum lugar, pode ser creditado
pela existência da liberdade. Como disse Mises, um
governo liberal é uma contradicto in adjecto: duas ideias que não
podem se combinar, um oximoro, uma frase impensável.
Há
uma tendência inerente a todo poder governamental em não reconhecer nenhuma
restrição às suas operações e a ampliar a esfera de seu domínio o máximo
possível. Controlar tudo, não deixar nenhum espaço para que nada aconteça
livremente fora da interferência das autoridades -- esse é o objetivo que todo
governante secretamente se esforça em alcançar.
Mises está chamando a atenção para algo de que as
pessoas raramente são dão conta. Todos os governos, em todos os lugares,
querem ser totalitários. Só não conseguem atingir tal meta devido à
própria incapacidade do estado em fazer as coisas corretamente, ou mesmo por
causa da relutância das pessoas em aceitar tal descalabro.
Para entender melhor esse fenômeno, pense em uma
organização criminosa. Ela sem dúvida gostaria de usufruir o livre
direito de saquear, extorquir, matar e acumular poder. Por outro lado,
ela também sabe que está se arriscando mais a cada crime cometido. Se
suas atividades enfurecerem muitos, ela corre o risco de perder o poder que já
possui. O mesmo ocorre com os governos: eles desejam o poder total, mas
muitas vezes se limitam a ficar apenas com aquilo que lhes permita escapar
livremente.
Como vivemos em tempos de declínio cultural e moral
acelerado, parece ser indelével o fato de que as pessoas estão mais propensas a
tolerar déspotas. A maioria hoje só reconheceria um tirano na presidência
caso ele tivesse um bigode da mesma largura das fossas nasais.
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Veja todos os nossos artigos sobre
democracia:
http://www.mises.org.br/Subject.aspx?id=11
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Lew Rockwell, chairman e CEO
do Ludwig von Mises Institute, em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com, e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State.
Paul
Rosenberg é o
presidente da Cryptohippie USA, uma
empresa pioneira em fornecer tecnologias que protegem a privacidade na
internet. Ele é o editor FreemansPerspective.com, um site
dedicado à liberdade econômica, à independência pessoal e à privacidade
individual.
Douglas
French é o diretor do
Ludwig von Mises Institute do Canadá. Já foi o presidente do Mises Institute
americano, editor sênior do Laissez Faire
Club, e autor do livro Early
Speculative Bubbles & Increases in the Money Supply.
Doutorou-se em economia na Universidade de Las Vegas sob a orientação de Murray
Rothbard e tendo Hans-Hermann Hoppe em sua banca de avaliação.