A lenda viva do xadrez, Garry Kasparov --
nascido no Azerbaijão, criado na Rússia comunista e hoje vivendo
na Croácia --, irritou toda a esquerda-chique americana ao postar, em sua
página no Facebook, um desenho
fazendo troça do pré-candidato democrata (e assumidamente
socialista) à presidência dos EUA, Bernie Sanders.
Na caricatura postada por Kasparov, Sanders utiliza um boné com a frase "Make
America Greece Again".
Essa frase é, ao mesmo tempo, uma paródia do slogan
de Donald Trump ("Make
America Great Again" -- Façamos a América Grande Novamente) e uma síntese
do que aconteceria caso Sanders ganhasse a eleição ("Make America Greece Again"
pode ser traduzido como "Façamos a América a Grécia Novamente").

Na legenda da caricatura de Sanders, Kasparov escreveu:
Um
boné de Bernie Sanders para concorrer com Trump! Obrigatório para nos prepararmos para mais outro
grande triunfo do socialismo, depois de Grécia e Venezuela.
Desnecessário dizer que toda a intelligentsia
e todo o beautiful people ficaram de-sa-pon-ta-dís-si-mos
com Kasparov, e invadiram seu perfil para lhe repreender e dar sermões grandiosos e eloquentes sobre
quão realmente belas e humanas são as propostas socialistas de Sanders.
Kasparov, no entanto, não se fez de rogado. E escreveu:
Estou
adorando a ironia de ver os americanos que apóiam Sanders explicando pomposamente
para mim, um ex-cidadão soviético, todas as glórias do socialismo e o que ele
realmente significa!
O
socialismo soa bonito em frases curtas e slogans postados no Facebook, mas, por
favor, mantenham-no confinado aí. Na prática,
o socialismo corrói não apenas a economia, mas também o próprio espírito
humano, acabando com a ambição e as conquistas que possibilitaram ao
capitalismo moderno retirar milhões de pessoas da pobreza.
Falar
sobre as belezas do socialismo é um enorme luxo; um luxo ao qual só é possível nos
darmos graças aos êxitos do capitalismo.
A desigualdade de renda é, sim, um grande problema; mas a ideia de que a
solução é ter mais governo, mais regulamentações, mais endividamento e menos
arrojo empreendedorial é perigosamente absurda.
Acuados, os defensores de Sanders tentaram
contra-argumentar dizendo que o senador de Vermont não defende exatamente o
socialismo, mas sim uma versão das social-democracias escandinavas.
Ao que Kasparov respondeu,
em uma surpreendente demonstração de conhecimento econômico e, acima de tudo,
histórico:
Sim,
por favor, tomem a Escandinávia como exemplo!
Implantar alguns elementos socialistas APÓS já ter se tornado uma
economia capitalista rica é uma medida que irá funcionar somente se você não estrangular
exatamente aquilo que lhe tornou rico em primeiro lugar.
De
novo, o socialismo é um item de luxo que não deve ser confundido com aquele
item que realmente está fazendo o sistema funcionar [o capitalismo]. Muitos fazem essa confusão.
E
não se esqueçam de que praticamente todas as incontáveis invenções, inovações e
criações industriais do século XX, as quais tornaram o resto do mundo
desenvolvido tão eficiente e confortável, vieram dos EUA. E isso não foi uma simples coincidência.
Enquanto
a Europa podia contar com os [empreendedors dos] EUA incorrendo em riscos e
investindo ambiciosamente -- e, sim, gerando "desigualdade" --, ela pôde se dar
ao luxo de apenas se beneficiar desses resultados sem ter de fazer os mesmos sacrifícios.
Quem
será a América da América?
Os oponentes, então, simplesmente deitaram o rei no
tabuleiro e se retiraram da mesa.