A empresa de telefonia Oi está financeiramente insolvente. Na segunda-feira, dia 20, ela entrou com o maior
pedido de recuperação judicial já protocolado na história do país.
A empresa informou que o total que tem a pagar a
terceiros é de R$ 65,4 bilhões.
Este pedido de recuperação é seis vezes maior do que
o recorde anterior, pertencente à OGX, de Eike Batista, que, em 2013, declarou
ter dívidas de R$ 11,2 bilhões.
Com a medida, a Oi se protege de cobranças de
credores, enquanto tenta renegociar sua dívida bilionária com supervisão
judicial.
Somente a dívida financeira da companhia está
próxima de R$ 50 bilhões, sendo R$ 34 bilhões devidos a credores estrangeiros e
cerca de R$ 16 bilhões a instituições financeiras.
Qual a história da Oi?
Indo direto ao ponto, a atual Oi nasceu da
megalomania do ex-presidente Lula de querer criar "campeãs nacionais" em vários
setores da economia -- além da Oi, temos OGX (de Eike Batista), Odebrecht (na cadeia), BRF e JBS
(propina a políticos), LBR (quebrada), Marfrig (no vermelho) e Fibria (a única
que se mantém, até porque mexe com celulose) como as principais representantes
desse delírio.
A intenção de Lula, com a Oi, era criar uma "supertele
nacional" para fazer frente a gigantes como a espanhola Telefónica (dona da
Vivo) e a mexicana América Móvil (dona de Claro, Embratel e Net). Falava-se até em lançar operações em outros
países.
Obcecado, Lula não se furtou a desrespeitar as leis vigentes
e, por meio de um decreto presidencial, mudou
a Lei Geral de Telecomunicações (algo que não poderia ser regulamentado
naquela época), permitindo a fusão da Telemar com a Brasil Telecom, de Daniel
Dantas.
Envolto em um morfético discurso nacionalista, Lula exortou
os bancos estatais -- BNDES, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil -- a
financiar a operação. Utilizando do nosso
dinheiro de impostos, a fusão foi feita, daí resultando a Oi.
Mas, desde o início, já havia indícios de que essa operação
política seria um fracasso. Tanto que, ainda em 2010, Lula começou a manobrar
para trazer um novo sócio para a empresa, a Portugal Telecom. A justificativa
era que, com os portugueses na gestão e trazendo mais capital, a companhia
decolaria.
O tempo mostrou, mais uma vez, que a intervenção do estado
resultou em um péssimo negócio. A Oi continuou
afundando em dívidas, em prejuízos e em serviços de péssima qualidade.
Pior, afundou-se em denúncias de corrupção. Foi
descoberto que, antes da fusão com a Brasil Telecom, a Telemar havia dado R$ 5,2 milhões para a Gamecorp,
empresa controlada por Lulinha, o filho mais velho de Lula.
Mais tarde, vieram à tona investigações em Portugal sobre
irregularidades na entrada dos portugueses na negociata da Oi. A coisa era tão escabrosa, que até o
ex-primeiro ministro português, José Sócrates, acabou indo para a
cadeia.
Inevitavelmente, a imagem da empresa ficou enlameada.
As sucessivas trocas de administrações não bastaram para superar a incapacidade
da empresa de se reinventar, de ser mais eficiente, de prestar bons serviços e
de ter solidez fiscal.
A recuperação judicial da Oi é apenas mais um retrato
do nosso descalabro.
Por
que a Oi tem de falir
Veja essa notícia, do mês passado:
Prejuízo
da Oi cresce 268% e atinge R$ 1,6 bilhão no primeiro trimestre
A
Oi encerrou o primeiro trimestre com prejuízo líquido consolidado de R$ 1,644
bilhão, 268% maior que o de R$ 447 milhões no mesmo período de 2015, impactado
principalmente pelo resultado financeiro. Este foi de R$ 1,903 bilhão, 49,9%
maior que no mesmo trimestre do ano anterior, quando era de R$ 1,269 bilhão.
Ou seja, os prejuízos da empresa eram
contínuos. E isso é nefasto para toda a
sociedade.
Sim, empresas tendo seguidos prejuízos são nefastas,
pois estão destruindo riqueza da sociedade.
Imagine que você adquiriu um material que, em seu
estado bruto e inalterado, vale $100. Ato contínuo, você altera essa
matéria-prima, adiciona sua criatividade e sua mão-de-obra, e gera um produto
final que as pessoas irão voluntariamente querer adquirir por $150. Você
gerou valor para a sociedade. Você acrescentou valor para a sociedade e
auferiu um lucro por causa disso.
Agora, imagine que você adquire esse mesmo material,
que em seu estado bruto e inalterado vale $100, altera-o à sua maneira e gera
um produto final valorado em apenas $50 pelas pessoas. Você não apenas
não auferiu lucro nenhum, como na realidade subtraiu riqueza
da sociedade. A sociedade ficou mais pobre por sua causa.
É por isso que empresas que geram prejuízos são
deletérias para uma sociedade. Elas consomem recursos e não entregam
valor. Elas, na prática, subtraem valor da sociedade.
Uma empresa que opera com prejuízo é uma máquina de destruição de
riqueza. (O mecanismo sinalizador que orienta todas as decisões e fornece
os resultados é o sistema de preços).
E é por isso que empresas que operam continuamente
com prejuízo -- por mais importantes que elas sejam para o "orgulho
nacional" -- devem falir e ser vendidas para novos administradores mais
competentes. Falências são algo extremamente positivo para uma economia, pois
permitem que aqueles concorrentes mais produtivos e mais capazes tenham a
oportunidade de comprar os ativos das empresas falidas a preços de barganha,
permitindo-os fortalecer suas operações e voltar a criar valor para a
sociedade.
Um governo proteger empresas falidas ou que operam
com seguidos prejuízos é a maneira mais garantida de empobrecer uma economia.
A
situação é pior
A situação da Oi se torna ainda mais bizarra quando
se leva em consideração o fato de que essa empresa não apenas foi formada com
dinheiro público, como ainda opera em um setor totalmente protegido pelo
governo por meio de uma agência reguladora.
A função da ANATEL, como já comprovada por
vários fatos, é exatamente a de criar uma reserva de mercado, proteger as
empresas já estabelecidas, e impedir a entrada de concorrentes estrangeiros no
setor, garantindo assim retornos confortáveis para as operadoras de telefonia.
O que há no setor de telefonia do Brasil é uma brincadeira
de capitalismo. Vivo, Oi, TIM e Claro brincam de concorrência umas com
as outras -- concorrência capitalista, no entanto, nunca existiu. Essas
empresas são protegidas pelo governo de potenciais concorrentes, e vão
empurrando com a barriga as inovações, e cobrando altíssimos preços por
serviços latrinários. Todas são recordistas de reclamações no
Procon.
O economista Felipe Rosa explica esta situação:
A
Anatel também regula a quantidade de empresas que atuam por região, assim como
proíbe a livre entrada e saída de empresas ofertantes de produtos e serviços no
atacado e no varejo. Essa combinação no controle de entradas e saídas de
produtos e empresas, somadas ao rígido regime tarifário imposto pela Anatel,
são aspectos preponderantes para o fraco desempenho brasileiro no setor quando
o comparamos ao britânico.
A
Anatel, ao regular a entrada e saída de empresas nas telecomunicações, está
protegendo as concessionárias que possuem a outorga de ofertar o serviço em suas
regiões. Tal ação garante às quatro empresas dominantes nesse segmento total e
completa segurança contra a entrada de potenciais concorrentes. Essa
característica de mercado proposta pela agência reguladora brasileira carteliza
o mercado institucionalmente, tornando o arranjo concorrencial propício para
uma política de preços altos e/ou serviços ineficientes.
A questão da ANATEL já foi abordada mais detalhes neste artigo específico,
e não será o foco dessa postagem de blog.
A intenção aqui é mostrar a façanha da Oi: uma empresa formada com o nosso dinheiro e resultado de uma megafusão
patrocinada pelo governo, opera em um mercado protegido e cartelizado, e ainda
consegue ir à falência.
Eis um retrato perfeito de quão nefasto é o capitalismo de estado
no Brasil.