Caros
progressistas: vocês não estão com medo da pessoa de Donald Trump. Trump está
neste mundo há 70 anos e, fora um eventual desgosto pela pessoa dele, ninguém
jamais sentiu sua vida ameaçada só porque Trump habitava a terra. Ele poderia
fazer o que quisesse, e isso não afetava em nada a sua vida. Ele não possuía
absolutamente nenhum controle sobre vocês.
Agora,
no entanto, vocês o temem. Mas vocês não temem exatamente a pessoa dele, mas
sim todo o poder que ele agora usufruirá.
No
Brasil, um fenômeno semelhante, embora de proporções ínfimas, já é observado na
figura do deputado Jair Bolsonaro. Embora este -- ao contrário de Trump --
sempre estivesse dentro do aparato estatal, ele também nunca lhe foi grande
fonte de preocupação (vocês podem discordar radicalmente das idéias dele, mas
nenhuma delas foi implantada sobre sua vida). No entanto, a partir do momento
em que ele começou a vislumbrar uma corrida presidencial, vocês perderam o
sono. E deveriam.
Mas
foram vocês que geraram essa situação.
Nos
EUA, os conservadores se sentiram igualmente ameaçados quando Obama foi eleito
há oito anos. Mas a preocupação deles envolvia o uso do poder do estado para
uma eventual abolição do direito ao porte de armas e para perseguições de cunho
religioso. Todos se lembram da histeria em massa, após a eleição de Obama, que
elevou os preços das armas e das munições de 200 a 300%. Obama chamou os
conservadores de "amargurados
apegados", retrógrados que se apegam a armas e religião. Vários outros progressistas
os rotularam de teóricos conspiracionistas de extrema-direita.
Vocês
se deliciaram a cada vez que Obama dizia que faria de tudo para restringir o
direito constitucional dos americanos de ter uma arma. Vocês foram ao delírio
todas as vezes em que Obama dizia que o estado garantiria saúde a todos ao obrigar todos os
cidadãos a comprarem um plano de saúde -- o que serviu apenas para elevar
as despesas do cidadão comum com as mensalidades de seus planos de saúde,
que encareceram na faixa dos dois dígitos.
Vocês
não se preocuparam com a expansão deste poder estatal. Ao contrário: vocês se deliciaram com ele.
Mas
agora esse mesmo tipo de poder estatal poderá ser usado contra vocês. E vocês
sabem disso. E é isso o que vocês -- corretamente -- temem. Vocês temem Trump
porque sabem que ele agora terá controle sobre vocês. Ele terá o poder de
afetar sua vida pessoal e as vidas daqueles que vocês amam. E ele próprio já
ameaçou utilizar esse poder de uma maneira que vocês consideram impensável e
inaceitável.
Igualmente,
os brasileiros de esquerda se deliciaram a cada investida progressista feita
pelo governo nos últimos 13 anos. Aclamaram medidas como o kit-gay
nas escolas primárias, operações
de mudança de sexo pelo SUS, a tentativa de implantar "conselhos
populares" (à moda dos soviets), a distribuição de dinheiro
de impostos para blogs progressistas, todas as políticas
de ação afirmativa e, claro, sem falar em todas as medidas populistas adotadas
na economia, amplamente apoiadas por vocês, e que levaram à destruição da
mesma.
Agora,
uma eventual mudança da pessoa que controlará todo este poderoso aparato lhes
trará grandes inquietações. Vocês sabem que, assim como o governo tem o poder
de adotar políticas que lhes agradam, este mesmo aparato estatal também tem o
poder de adotar políticas que lhes desagradarão e provocarão intermináveis
revoltas.
Não
importa se esse vasto poderio estatal será manuseado por alguém como Bolsonaro
(seu maior temor do momento) ou por algum outro "direitista": o fato é que, em
algum momento, alguém que vocês desprezam irá controlá-lo. E ele poderá ser
utilizado contra vocês.
O que
nos leva à primeira lição básica: jamais endossem um poder estatal que vocês
não gostariam de ver sendo controlado pelo seu pior inimigo. Nos EUA, os
progressistas, em breve, aprenderão esta dolorosa lição.
Um convite
Pois é, parece
que todos adoram um ditador benevolente. Ou até mesmo um brutal. Desde que a fúria dele esteja apontada na outra direção.
Igualmente, todos amam ver o aprofundamento de sua agenda, desde que as partes
não tão legais estejam apontadas para a outra direção. Aceitamos rapidamente
abrir mão de nossas liberdades em troca da promessa de que nossos líderes
amados irão esmagar a nossa diabólica oposição.
Porém,
sempre vale repetir: todo o poder utilizado para controlar nossos inimigos
sociais e políticos também pode ser utilizado para nos controlar.
Vocês progressistas
adoram quando um líder iluminado recorre a medidas provisórias para avançar uma
agenda esquerdista, contornando todo o Congresso e todo o sistema de freios e
contrapesos. E também adoram rotular os oponentes, dizendo que eles são
"reacionários" que "impedem o progresso" e que não querem que um "governo do
povo" faça mais pelo povo.
Vocês, em suma, adoram quando o estado impõe medidas intervencionistas que são de sua total aprovação.
Mas
vocês se esquecem de que este mesmo poder sempre poderá cair nas mãos de um
indivíduo que irá utilizá-lo para perseguir vocês. Tal possibilidade é de real
concretização nos EUA. E poderá ocorrer também no Brasil. Sim, deve estar sendo apavorante. As liberdades de que vocês
abriram mão em troca de segurança e os poderes que ajudaram a entregar ao
governo podem nunca mais voltar.
Quem
aceita abrir mão de suas liberdades individuais em troca das promessas de um
governo benevolente entrará em desespero tão logo esse governo cair em mãos de alguém que vocês consideram tirânico e ditatorial.
Mas, e
se o governo não tivesse nenhum poder sob sua vida pessoal? E se Trump ou
Bolsonaro se limitassem apenas a fazer "ameaças" (sob o ponto de vista seus),
sem no entanto ter qualquer meio para agir de acordo com seus desejos
"maldosos"? Em suma, e se nossos políticos jamais tivessem o poder de nos
tolher em nossas liberdades civis e econômicas?
É
exatamente isso o que defendemos nós, os libertários. Foi exatamente para
evitar esse tipo de totalitarismo que nós nos opomos veementemente ao governo
quando vocês estavam no poder e o expandiam continuamente sobre todas as áreas.
Sabíamos o que estava sendo criado. E vocês agora também saberão.
Que tal
vocês agora finalmente começarem também a se opor ao estado, ajudando a limitar
seu tamanho e o poder de seus ocupantes?
Nós
libertários acreditamos que o governo não tem o direito de 1) dizer o que você
pode ou não pode comprar; 2) estipular um pedágio que você deve pagar ao
comprar produtos estrangeiros; 3) confiscar uma fatia da sua renda, não importa
qual seja o destino dela; 4) fechar uma parte do mercado para suas empresas
favoritas; 5) subsidiar pessoas ou empresas; 6) determinar com quem você pode se
casar; 7) determinar com quem você pode se relacionar comercialmente; 8)
especificar em quais áreas da economia você pode ou não empreender.
Nossa
filosofia é simples e justa: não agredimos pessoas inocentes, não confiscamos
sua propriedade honestamente adquirida e não impomos nenhum estilo de vida. E
também não aceitamos que um determinado estilo de vida -- seja ele alternativo
ou progressista -- seja imposto a nós como sendo um novo normal. Acreditamos
que ninguém deve roubar nada de ninguém, por mais "belas e justas" que sejam
suas intenções redistributivas.
Sob esse
arranjo, o governo -- caso ele sequer existisse -- seria comandado por um
presidente tão restringido, que nem sequer seria importante saber quem ele é. Viveríamos
em uma sociedade livre que não é controlada por ninguém, exceto por seus
membros em suas qualidades de cidadãos, pais, trabalhadores e empreendedores.
Seria uma sociedade na
qual as pessoas deveriam governar a si mesmas e planejar sua própria economia,
e não tê-la planejada por burocratas em uma capital distante. O
presidente nunca se interessaria pelo bem-estar do povo porque o governo
federal não teria voz nesse assunto. Isso seria deixado para as próprias
comunidades decidirem.
O resultado das eleições seria
altamente irrelevante porque a sociedade é regida por leis e não por homens.
Não tememos o governo porque ele não nos tira nada, não nos dá nada, e nos
deixa em paz para moldarmos nossas vidas, comunidades e futuros.
Para nós, o único governo
bom é aquele que não existe. O segundo melhor governo é aquele que menos
governa. Como disse Thomas Paine, governo, em seu melhor estado, é um mal
necessário e, no seu pior estado, é intolerável. A melhor coisa que
qualquer governo poderia fazer seria simplesmente nos deixar em paz.
Essa filosofia é chamada
de liberalismo clássico.
Funcionaria nos dias de
hoje? Pense nas questões litigiosas da sociedade atual. Cada uma certamente
envolve uma área que está relacionada com alguma forma de intervenção
governamental. Os conflitos atuais giram em torno do desejo de apoderar-se da
propriedade de terceiros usando para esse fim o aparato político de coerção que
é o estado. A nossa sociedade seria mais pacífica e próspera se tivesse seguido
o programa liberal? A pergunta carrega sua própria resposta.
Conclusão
Alegremente aceitamos a
companhia de esquerdistas arrependidos por terem estimulado uma expansão
estatal e de direitistas que entendem a importância de se ter um estado
limitado e não-preocupado em impor valores morais. (Desde quando conservadores
genuínos delegam a políticos a tarefa de incutir ética e moral nas famílias?)
Se você
acredita nessas idéias, mesmo que apenas em princípio, então já é um começo.
Talvez, daqui a algumas décadas, após sucessivos e fracassados governos de
esquerda e de direita, podemos criar algum consenso em relação à importância
crucial de se limitar os poderes do estado.
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Leia também:
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Jason Stapleton é hoje
uma das principais vozes pró-liberdade do mundo, tendo criado seus próprios serviços
educacionais. Criou também seu próprio podcast. Visite seu website.
Lew Rockwell, chairman e CEO do Ludwig von Mises Institute,
em Auburn, Alabama, editor do website LewRockwell.com,
e autor dos livros Speaking of Liberty e The Left, the Right, and the State.
Laurence Vance, acadêmico associado ao Mises Institute, escritor
freelancer, professor adjunto de contabilidade da Pensacola Junior College, em
Pensacola, Flórida, e autor dos livros Social Insecurity, The War on Drugs is a War on Freedom, King James, His Bible, and Its
Translators eWar, Empire, and the Military:
Essays on the Follies of War and U.S. Foreign Policy
Leandro
Roque é o editor e tradutor do site do Instituto
Ludwig von Mises Brasil.