A crescente automação em vários setores da economia
se transformou em uma grande preocupação nos últimos anos. Com os algoritmos
dos computadores se tornando cada vez mais sofisticados, as máquinas estão se
tornando cada vez mais capacitadas para realizar trabalhos que são o ganha-pão
de várias pessoas.
Carros sem
motorista já estão, há um bom tempo, sendo testados nas estradas americanas
e européias. Embora ainda não estejam disponíveis comercialmente, é apenas uma
questão de tempo para que o sejam. Quando isso acontecer, eles irão substituir
não apenas os taxistas, como também as pessoas que hoje trabalham para empresas
como Uber e Lyft. Afinal, se os empregadores puderem remover os gastos
relacionados ao pagamento de motoristas, eles poderão fornecer seus serviços a
preços muito menores. Simultaneamente, ainda conseguirão reter um maior lucro
líquido.
Veículos automatizados (e autônomos) também
irão substituir caminhoneiros.
Mas não é só nessa área que a automação irá sacudir
o mercado de trabalho. Nos países mais ricos, já vemos a integração de várias
máquinas de auto-atendimento nas grandes redes de supermercado, substituindo os
caixas humanos. Mesmo restaurantes fast-foods estão adotando essa tendência. O
McDonald's atualmente possui quiosques em várias localidades que permitem aos
clientes pedir e receber sua comida sem qualquer interação humana. As redes Carl's Jr.
e Hardees
também
já anunciaram que irão testar quiosques automatizados em seus estabelecimentos.
Ainda em 2012, uma startup de robótica chamada Momentum Machines apresentou
um protótipo de uma máquina totalmente autônoma que recebe os pedidos dos
clientes, cozinha a carne, fatia os vegetais, monta o hambúrguer, embala-o, e
entrega ao cliente. Esta máquina se mostrou capaz de preparar 400 hambúrgueres
em uma hora. A empresa já comprou um prédio na cidade de San Francisco e
pretende inaugurar um restaurante totalmente autônomo em breve. Tal restaurante
ainda irá necessitar de alguns poucos humanos, que terão as funções de garantir
que as máquinas funcionem harmoniosamente, retirar o dinheiro das máquinas e
efetuar outras tarefas menores.
Obviamente, caso essa hamburgueria automatizada se
comprove lucrativa, é de se esperar que as grandes cadeias sigam essa tendência.
A pergunta que está na cabeça de várias pessoas é:
se as máquinas podem conduzir as pessoas em carros e processar pedidos e fazer
sanduíches, o que ocorrerá com os milhões de indivíduos que atualmente estão
empregados nessas profissões?
Os
mercados mudam -- e isso vem ocorrendo desde o surgimento dos mercados
Mas o fato é que essas tendências, embora
surpreendentes, realmente não têm nada de novo. O mundo se desenvolveu e
enriqueceu exatamente dessa maneira.
As impressoras eliminaram a necessidades de escribas
(pessoas que literalmente tinham de escrever a mesma coisa várias vezes para
assim difundir uma obra). E, mais recentemente, a mídia online reduziu a
necessidade de impressoras (hoje, você mesmo pode publicar seu livro online,
sem ter de recorrer a editoras).
As máquinas de venda automática -- tanto para
tickets quanto para cervejas, refrigerantes e guloseimas -- já substituíram os
vendedores humanos há muito tempo. E não nos esqueçamos de que ascensoristas
eram extremamente comuns no passado, pois apenas eles sabiam como operar um
elevador.
Voltando ainda mais no tempo: no passado, a maioria
das pessoas trabalhava no campo. A
automação acabou com 99% desses empregos. Literalmente, 99%. Eles
não existem mais. O trator substituiu o arado e a enxada.
A criação do automóvel e do caminhão tornou obsoleto
todo o setor de transporte manual, em que cargas eram carregadas nas costas por
vários trabalhadores. Já o computador provavelmente destruiu mais empregos
do que qualquer outra inovação tecnológica na história da humanidade, com a
possível exceção do automóvel. Por sua vez, a eletricidade destruiu um
sem-número de empregos na indústria de velas e na indústria de carvão.
Ao mesmo tempo, todas essas invenções destruidoras
de empregos acabaram criando outros novos empregos que até então ninguém jamais
havia imaginado serem possíveis.
Quem gostaria de voltar a viver em um mundo sem
carros, computadores, internet e eletricidade, considerando todos os empregos que
tais invenções destruíram? Quem gostaria de voltar a viver em um mundo em
que praticamente todos os seres humanos tinham de trabalhar exaustivamente no
campo -- querendo ou não -- apenas para sobreviver?
Hoje, ninguém se queixa de nenhuma dessas invenções.
Ninguém se queixa da falta de empregos para escribas, para ascensoristas, e
para operários em fábricas de carroça e de máquinas de escrever. Sabemos que
esses empregos desapareceram porque tais tarefas podem hoje ser efetuadas muito
mais econômica e rapidamente por outros meios.
O mesmo continua ocorrendo hoje, só com que outros
empregos.
Outro fato digno de menção é que a automação cria
luxos com os quais a humanidade jamais havia sonhado. Mais ainda: ela nos
entrega serviços que jamais sequer sabíamos que queríamos. Por exemplo, antes
de inventarmos os automóveis, o ar condicionado, as televisões de tela plana e
o cinema, ninguém que vivia na Roma antiga sonhava com a possibilidade de
assistir a filmes em um televisor de tela plana enquanto se locomoviam para
Atenas dentro de um veículo confortável e climatizado.
Adicionalmente, a automação nos possibilitou
empregos com os quais jamais havíamos sonhado. A industrialização e suas
máquinas fizeram mais do que apenas aumentar nossa expectativa de vida. Ao
libertar a humanidade da necessidade de efetuar trabalhos pesados, maçantes,
brutos e monótonos, ela levou uma grande fatia da população a decidir que
humanos foram feitos para ser músicos, filósofos, bailarinos, matemáticos,
atletas, artistas, designers de moda, professores de ioga, escritores de romances
e, hoje, pessoas com profissões mais "exóticas", como
YouTuber, Instagramer, jogador profissional de videogame etc.
O mesmo é válido para a atual tendência da
automação. No futuro, olharemos para o passado (hoje) e teremos vergonha do
fato de que seres humanos eram utilizados para fazer determinados tipos de
trabalho braçal, monótono e intelectualmente desestimulante.
Reduzindo
o custo de vida
Em economias livres e dinâmicas, os empreendedores
estão continuamente se esforçando para implantar inovações que os tornem mais
eficientes e, consequentemente, mais lucrativos e mais preparados para agradar os consumidores. Uma maior automação
apenas intensificará esse processo.
Isso, no entanto, leva a um questionamento bastante
comum: sim, é fato que todas essas inovações permitidas pela automação irão
criar empregos para as pessoas mais
capacitadas e qualificadas, como os engenheiros que constroem essas
máquinas, os programadores e cientistas da computação que irão desenvolver os
algoritmos para essa máquinas, e os profissionais da Tecnologia da Informação,
que irão lidar com os problemas de software e de hardware sempre que estes
ocorrerem.
Mas e os trabalhadores pouco qualificados? É certo que nem todo mundo tem o privilégio (ou
o tempo, dado que várias famílias são obrigadas a ter vários empregos para
pagar suas contas) de se tornar criadores, codificadores e reparadores de
máquinas.
E mesmo que absolutamente cada empregado das redes
de fast-food, cada taxista e cada caminhoneiro adquirisse uma nova habilidade,
isso faria com que os outros mercados se tornassem saturados de mão-de-obra
qualificada à procura de um novo emprego.
O que fazer?
Com o efeito, a resposta está à nossa volta: o
benefício da automação, hoje e sempre, é o de reduzir o custo de vida (os
preços relacionados à tecnologia estão ou em queda ou estáveis) e o de fazer
com que todo e qualquer trabalho seja mais produtivo (salários maiores em
termos reais).
Analisando o que ocorreu ao longo das últimas
décadas com itens como tecnologia, alimentação e vestuário, veremos que houve
uma queda dramática nos preços -- quando mensurados em termos de horas de
trabalho necessárias para se adquirir a mesma quantidade de cada item -- e uma
sensível melhora na qualidade dos produtos.
Isso, aliás, vem ocorrendo desde a invenção da roda
e de todas as outras máquinas que reduzem a necessidade de esforço físico.
Isso, no entanto, leva a outra objeção: de nada
adianta haver bens mais abundantes e baratos se ninguém tiver emprego (e renda)
para comprá-los. Qual a resposta?
Nada muda. O cenário mais realista é o de que, com
os preços em queda (como já estão nos países de economia estável), serão
necessários menos empregos e menos horas de trabalho para se manter uma
família.
Isso, aliás, foi exatamente o que ocorreu ao longo
do século XX, quando a jornada de trabalho foi continuamente reduzida -- graças aos avanços
tecnológicos e à acumulação de capital -- e os trabalhadores passaram a
trabalhar cada vez menos. Simultaneamente, o padrão de vida subiu
continuamente.
Para fazer esse exercício de previsão, todos os
fatos têm de ser considerados: a inovação nos negócios poderá acabar com
empregos obsoletos; porém, com a maior eficiência permitida pela automação,
bens e serviços custarão cada vez menos.
Peguemos, por exemplo, os carros autônomos. Embora
seja de se lamentar que eles irão gerar um desemprego temporário para vários
motoristas profissionais, a queda nos preços do transporte serão uma dádiva
para todo o resto da humanidade.
Isso poderá ser especialmente benéfico para várias
famílias de baixa renda, que gastam uma grande fatia de sua renda mensal com
manutenção, seguro, combustível e impostos de seu carro. E as que nem sequer
têm carro, vêem seu salário descontado por causa do vale-transporte. Para todas
essas pessoas, não apenas ter um carro passará a ser desnecessário, como também
os gastos com transporte serão cada vez menores. Elas agora poderão usar
automóveis esporadicamente -- como muito já fazem ao recorrer ao Uber --, e a
preços irrisórios. Isso terá
um efeito excepcional sobre a sua renda.
Com efeito, várias famílias já relataram que não
têm como pagar caso seu carro necessite de um serviço de manutenção de
emergência [no Brasil, é
ainda pior]. Consequentemente, para muitas famílias, a possibilidade de seu
carro estragar representa um assustador risco econômico. Por outro lado, o
surgimento de transportes autônomos em larga escala irá reduzir acentuadamente
este risco para o orçamento das famílias.
Muitas outras famílias também irão perceber que não
mais será economicamente sensato ter um carro próprio e incorrer em todas as
suas despesas de manutenção, seguro, combustível e impostos. Ato contínuo, irão
optar pelos transportes autônomos e baratos. Consequentemente, terão mais
dinheiro para gastar em outras coisas, ou mais dinheiro para poupar e investir.
Conclusão
Embora a inovação tecnológica possa eliminar os empregos
de algumas pessoas, outras várias pessoas serão enormemente beneficiadas.
Se os preços de vários bens e serviços caírem em
decorrência da automação, os salários mais baixos passarão a ser suficientes
para que várias pessoas vivam confortavelmente. Isso é o que é chamado de "amento
na renda real", e é o que realmente importa.
De resto, como a história repetidamente já
demonstrou, a automação sempre representou uma libertação para o ser humano, não
só livrando-o da necessidade de realizar trabalhos braçais pesados e desumanos,
como ainda permitindo um aumento exponencial da sua renda: a renda média diária mundial,
que era de $ 3 há dois séculos, hoje é de $ 33, já descontando a inflação. E,
nos países ricos, é de US$ 100 por dia;
Essa libertação material nos permitiu viver vidas
mais confortáveis, mais humanas e muito mais gratificantes do que outras gerações
jamais experimentaram. Se isso, por si só, não é um argumento convincente, então
nenhum outro pode ser.
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Thomas
Woods é um membro sênior do Mises Institute, especialista em história americana. É o autor de nove
livros, incluindo os bestsellers da lista do New York Times The Politically Incorrect Guide to American History e, mais recentemente, Meltdown:
A Free-Market Look at Why the Stock Market Collapsed, the Economy Tanked, and
Government Bailouts Will Make Things Worse. Dentre seus outros
livros de sucesso, destacam-se Como a Igreja Católica Construiu a Civilização
Ocidental (leia um capítulo aqui), 33 Questions About American History You're Not
Supposed to Ask e The Church and the Market: A Catholic Defense of the
Free Economy (primeiro lugar no 2006 Templeton
Enterprise Awards). Visite seu novo website.
Aaron
Bailey é articulista do site Modern Survival Online, veterano
da Marinha, professor de violão e piano.