Somos continuamente bombardeados por um grande
número de mitos econômicos, os quais distorcem a noção do público a respeito de
problemas importantes e nos levam a aceitar políticas governamentais perigosas
e frágeis.
Aqui estão os seis principais.
Mito #1
Déficits são a causa da inflação de preços;
déficits não têm nada a ver com a inflação de preços.
A norma é sempre haver déficits
nominais no orçamento do governo
federal. Déficits orçamentários significam que o governo federal está gastando
mais do que está arrecadando em impostos.
Sempre que a mídia divulga o mais recente número do
déficit orçamentário do governo federal, a reação invariável do partido que
está fora do poder, qualquer que seja ele, é denunciar esses
déficits como sendo a causa da carestia perpétua. E a reação invariável de
qualquer que seja o partido que está no poder é a de alegar
que déficits orçamentários não têm nada a ver com a inflação.
Ambas as
declarações antagônicas são mitos.
Quando o governo gasta mais do que arrecada e
incorre em um déficit orçamentário, essa diferença entre gastos e arrecadação
pode ser financiada de duas maneiras.
Se o déficit for financiado pela venda de títulos do
Tesouro ao público (como ocorre por meio do Tesouro Direto), então os déficits não são inflacionários. Nenhum dinheiro
novo está sendo criado; o público e as empresas simplesmente tiram dinheiro de
seus depósitos bancários para pagar pelos títulos, e o Tesouro, então, gasta
esse dinheiro. O dinheiro simplesmente foi transferido do público para o
Tesouro, que então gastará esse dinheiro com outros membros do público.
Por outro lado, se o déficit for financiado pela
venda de títulos ao sistema bancário, então todo o sistema se torna
inflacionário. Neste arranjo, os títulos do Tesouro são majoritariamente
comprados por uma lista exclusiva de bancos privilegiados, os chamados dealers primários.
Estes bancos privilegiados compram títulos do Tesouro por meio de uma pura e
simples criação de dinheiro.
Mais especificamente, por meio de um processo
complexo chamado de "reservas
fracionadas", o Banco Central possibilita que os bancos criem dinheiro do
nada e o repassem ao Tesouro. Esse novo dinheiro criado do nada, e agora na
forma de depósitos bancários, será repassado ao Tesouro e em seguida gasto pelo
governo, entrando permanentemente na corrente de gastos da economia, aumentando
preços e causando inflação.
Assim, o governo e o sistema bancário que ele
controla acabam, na prática, "imprimindo" dinheiro novo para pagar
pelo déficit federal. Isso é totalmente inflacionário.
Logo, déficits são inflacionários quando são
financiados pelo sistema bancário; eles não são inflacionários
quando são financiados pelo público.
Mas toda essa relação nem sempre é direta. Por
exemplo, se o sistema bancário criar dinheiro para comprar os títulos do
Tesouro, mas em seguida vender ativos para seus correntistas em igual montante (como CDBs, quotas em
fundos de investimento, LCIs, LCAs ou mesmo os próprios títulos do Tesouro),
essa segunda operação anula o efeito inflacionário da primeira. Quando
correntistas compram ativos bancários, dinheiro que estava em sua
conta-corrente é "apagado" e repassado para o próprio caixa dos bancos. Desta
forma, a mesma quantidade de dinheiro que entrou na economia via déficits
orçamentários acabou sendo retirada do público.
Portanto, não é possível, a priori, dar um veredicto
claro e direto sobre os déficits orçamentários do governo: eles podem ou não
gerar inflação -- tudo vai depender de como eles serão financiados.
Mito #2
Déficits orçamentários não afetam o investimento
privado
Não importa como os déficits orçamentários serão
financiados, se com criação de dinheiro pelos bancos ou diretamente pelo
público (ver Mito #1): no final, eles sempre afetam e reduzem o investimento
privado, um efeito conhecido como crowding-out.
O primeiro caso é direto e fácil de ser visto: se a
população e as empresas estão direcionando sua poupança para bancar os gastos
do governo, e não para financiar investimentos produtivos, então o investimento
privado está sendo diretamente afetado pelos déficits orçamentários do governo.
Os déficits do governo estão desviando a poupança da
população para os gastos improdutivos do governo, levando a um crowding-out do
investimento produtivo, gerando dificuldades cada vez maiores para melhorar ou
até mesmo para manter o padrão de vida do público, no longo prazo.
A lógica nos diz que, se a poupança vai para os
títulos do governo, vai haver necessariamente menos poupança disponível para o
investimento produtivo, e as taxas de juros serão maiores do que seriam sem os
déficits.
Já se os déficits do governo são financiados pela
venda de títulos do Tesouro aos bancos -- ou seja, por uma inflação monetária
feita pelo sistema bancário em conjunto com o Banco Central --, todo o efeito
será indireto: esse novo dinheiro "impresso" pelo governo vai diluir
o poder de compra de todo o dinheiro em posse da população, gerando um
acelerado aumento de preços. E isso não só irá desarrumar toda a economia, como
também irá desestimular investimentos produtivos.
Quando um empreendedor faz um investimento voltado
para o longo prazo, o mínimo que ele tem de saber é como será o poder de compra
da moeda no futuro. Se ele não tiver ideia de quanto valerá a moeda lá no
futuro, ele não conseguirá estimar quais serão são custos e suas
receitas. Consequentemente, ele não conseguirá nem sequer estimar se terá
lucro ou prejuízo.
Planejar para o longo prazo tendo em mente uma
inflação futura de 3% ao ano é totalmente diferente de planejar tendo em mente
uma inflação futura de 10% ao ano. Os tipos de investimentos que são
lucrativos em cada um desses cenários são totalmente distintos.
Se você prevê uma inflação continuamente alta no
futuro, então você irá se concentrar em projetos de curto prazo; projetos que visam
ao futuro mais imediato. Você não irá fabricar máquinas e equipamentos;
não irá ampliar suas instalações industriais. Você irá se dedicar a
fabricar bens de consumo simples e triviais (como pirulitos e chicletes) que
dão retorno mais imediato. Com inflação em alta, fazer investimento de
longo prazo torna-se extremamente arriscado.
Adicionalmente, neste cenário, a maior preocupação
de investidores e empreendedores passa a ser a de se proteger da perda do poder
de compra da moeda. Torna-se mais sensato dedicar mais tempo especulando
no mercado financeiro e comprando títulos do governo indexados pela
inflação. Consequentemente, os investimentos produtivos caem. E aí o
crescimento econômico vai junto.
Por fim, vale ressaltar que déficits orçamentários
sempre geram o temor de que o governo irá elevar impostos no futuro. Contas
desarranjadas não duram por muito tempo. Se o orçamento do governo está deficitário,
o empreendedor sabe que o ajuste futuro muito provavelmente será via aumento de
impostos. E aumento de impostos sempre gera custos adicionais às empresas, mudando
totalmente o cenário no qual elas basearam seus planos de investimentos.
Empresas planejam a longo prazo. Investimentos
produtivos são investimentos de longo prazo. Um aumento-surpresa de impostos
gera custos adicionais no longo prazo e altera totalmente o cenário no qual as
empresas inicialmente basearam seus planos de investimentos. Elementos como
previsibilidade, facilidade de empreender e custo tributário são cruciais.
Mudanças abruptas alteram todo o planejamento das empresas e inibem seus
investimentos. Como investir quando não se sabe nem como serão os impostos no
futuro?
Portanto, qualquer que seja a forma com que você
encare os déficits orçamentários, eles causam graves problemas econômicos. Independentemente
da maneira como são financiados, eles sempre afetarão diretamente os
investimentos privados.
Mito #3
Aumentar impostos é a maneira correta de acabar com
os déficits.
Aqueles que estão corretamente preocupados com os
déficits orçamentários do governo, infelizmente oferecem uma solução
inaceitável: aumentar impostos.
Curar os déficits por meio de um aumento de impostos
é o equivalente a curar uma bronquite com um tiro na cabeça. A "cura"
é bem pior do que a doença.
O primeiro motivo pelo qual não se deve aumentar
impostos para acabar com déficits é simples e direto: aumentar impostos
simplesmente dará mais dinheiro ao governo; e quanto mais dinheiro o governo
recebe, mais ele aumenta seus gastos
Essa é a reedição da Lei de Parkinson, em
homenagem ao professor Cyril Northcote Parkinson, que afirmou que, em uma
burocracia estatal, "os gastos sobem de encontro à receita."
Com efeito, sempre que o governo eleva impostos, ele
concomitantemente eleva seus gastos correntes. Os gastos do governo sempre
sobem junto com o aumento das receitas. E isso é uma empiria observada ao
redor do mundo. Veja o gráfico para o Brasil (valores nominais mensais):

Fonte:
Banco Central
O gasto público sempre cresce concomitantemente à
receita, como mostra o gráfico acima. Não há nenhum motivo para crer que
"desta vez será diferente", e que um aumento dos impostos será
efetivo em cobrir o rombo nas contas públicas.
Ademais, todo aumento de impostos inevitavelmente se
traduz em mais benesses para políticos e burocratas, sem nenhum benefício
líquido para o povo, que agora estará com menos dinheiro no bolso. Não há
absolutamente nenhum motivo para crer que um aumento de impostos será
direcionado exclusivamente para o fim anunciado, qualquer que seja ele.
Para agravar, se o governo arrecada mais e
consequentemente gasta mais, isso significa que sua burocracia, suas
regulamentações e seu quadro de funcionários estão inchando. O peso da burocracia estatal está aumentando. E isso, por definição, leva a uma redução da
participação do setor privado na economia. Com mais burocratas, mais burocracia
e mais regulamentações há menos facilidade para o empreendedorismo e,
consequentemente, menos geração de riqueza. Isso, por si só, é totalmente
contrário à ideia de estimular o crescimento econômico.
No entanto, mesmo ignorando-se toda essa realidade,
ainda resta uma pergunta a ser feita àqueles que defendem aumento de impostos
como forma de curar os déficits: por que alguém deveria acreditar que um imposto é
melhor que um aumento de preços?
É verdade que a inflação é uma forma de tributação;
mas, ao menos com inflação, as pessoas ainda estão colhendo alguns benefícios da
troca. Se o preço do pão vai para $20, isso é lamentável, mas ao menos você
ainda pode comer o pão. Por outro lado, se os impostos sobem, seu dinheiro é
expropriado para os benefícios de políticos e burocratas, e você não ganha
absolutamente nada em troca, ficando sem receber nenhum serviço ou benefício.
O único resultado é que o dinheiro dos produtivos
será confiscado para o benefício de uma burocracia que irá utilizar parte desse
dinheiro confiscado em prol de seus apaniguados, piorando a situação.
A única cura eficiente para os déficits é simples,
porém quase nunca mencionada: cortar o orçamento federal. Como e onde? Em
qualquer lugar e em todo o lugar.
Mito #4
Há um trade-off entre desemprego e inflação
Um dos mais discutidos
tópicos da macroeconomia moderna é o suposto trade-off entre
inflação de preços e desemprego: a ideia é que quando há mais inflação, há uma
queda no desemprego; e quando há uma redução na inflação, há um aumento no
desemprego.
A curva de Phillips se
tornou, de certa maneira, o esteio da política monetária moderna desde a década
de 1960, quando os ganhadores do Nobel Paul Samuelson e Robert Solow
apresentaram a curva como se ela fosse um "cardápio" de escolhas
politicamente exploráveis: ou você tem inflação de preços alta e baixo
desemprego, ou você tem inflação de preços baixa e alto desemprego, ou você
fica com uma escolha do meio, entre esses dois extremos.
Bem assim, à la
carte.
Os economistas Milton
Friedman e Edmund Phelps contestaram essa interpretação ingênua, de modo que,
desde então, essa contestação adquiriu tração e se estabeleceu firmemente no
cenário do debate público. Friedman e Phelps explicaram que esse dilema entre
inflação e desemprego era apenas um fenômeno de curto prazo: quando políticas
monetárias expansionistas -- juros artificialmente baixos e crédito farto --
geram uma inesperada inflação de preços, o emprego pode ser estimulado apenas
se os salários aumentarem mais lentamente do que todos os
outros preços da economia.
Nesse caso, os
custos relativos da mão-de-obra diminuem -- enquanto as
receitas das empresas ainda estão aumentando -- e mais pessoas podem ser
empregadas como consequência.
No longo prazo, no
entanto, à medida que as expectativas quanto à inflação futura vão se ajustando
-- fazendo com que trabalhadores e sindicatos exijam reajustes salariais de
acordo com as taxas de inflação --, o efeito positivo da inflação sobre o
desemprego deixa de existir.
A verdade é que Friedman
e Phelps, longe de terem feito uma grande descoberta, simplesmente ressuscitaram
uma visão que havia predominado no debate econômico durante um longo período: a
ideia de que o desemprego é um fenômeno que, em última instância, depende de
fatores econômicos reais, como o ambiente político e institucional,
especialmente em relação ao mercado de trabalho. O próprio Ludwig von Mises
também tinha essa visão, sendo que ele apropriadamente rotulava um aumento
prolongado no desemprego de desemprego institucional.
Com efeito, a inflação, mesmo que ela reduza o
desemprego no curto prazo ao fazer com que os preços aumentem bem mais que os
salários (portanto reduzindo os salários reais), vai apenas criar mais desemprego no longo prazo. Em algum
momento, os salários passarão a subir junto com a inflação. E toda inflação
inevitavelmente traz recessão e desemprego em seu rastro, como explicado acima:
inflação de preços em alta inibe investimentos produtivos e, com isso, afeta o
crescimento econômico e, consequentemente, o emprego.
Toda a relação entre inflação, atividade econômica e
desemprego para o Brasil foi explicitada em detalhes neste artigo: o desemprego disparou exatamente após a inflação de preços ter aumentado fortemente. Depois de
mais de duas décadas de inflação, estamos agora vivendo esse "longo
prazo."
Por fim, acreditar que inflação estimula o emprego é
o equivalente a dizer: "Puxa, ano que vem meu custo de vida estará 10%
maior. Exatamente por isso vou contratar uma faxineira, uma cozinheira,
um motorista e um professor particular para meus filhos". Tem lógica?
Mito
#5
Desvalorizar
o câmbio ajuda a indústria e promove exportações
Segundo os
desenvolvimentistas, uma desvalorização cambial gera dois efeitos benéficos
para a economia: ela encarece os preços dos bens estrangeiros, o que reduz suas
importações e, consequentemente, diminui a concorrência sobre a indústria
nacional; e faz com que os bens nacionais fiquem mais baratos para os
estrangeiros, o que aumentaria as exportações.
Como efeito colateral, as
importações mais caras fariam com que a população nacional passasse a consumir
mais produtos produzidos nacionalmente, o que aumentaria duplamente as vendas
das indústrias nacionais.
A teoria acaba
aí. Agora vem a prática para desmoralizá-la.
Em primeiro lugar, os
efeitos de uma desvalorização não podem ser completamente isolados do resto da
economia. Uma moeda desvalorizada significa, por definição,
uma moeda que perdeu poder de compra. E uma moeda com menos poder de compra
significa preços mais altos e renda menor para a população. E renda
menor significa que a demanda por bens de consumo diminui. E isso, também
por definição, irá afetar todo o setor industrial e atacadista. Afeta toda
a cadeia produtiva, que entra em contração e gera o efeito contrário ao
imaginado pelos desenvolvimentistas.
Portanto, uma moeda
desvalorizada não pode, ao contrário do que afirmam os desenvolvimentistas,
estimular o consumo interno e impulsionar as indústrias nacionais.
Mas há outra encrenca.
No mundo globalizado em
que vivemos, vários exportadores são também grandes importadores. Para
fabricar, com qualidade, seus bens exportáveis, eles têm de importar máquinas
e matérias-primas de várias partes do mundo. E elas também têm de comprar,
continuamente, peças de reposição.
Se a desvalorização da
moeda fizer com que os custos de produção aumentem -- e irão aumentar --, então
o exportador não mais terá nenhuma vantagem competitiva no mercado
internacional.
Portanto, uma
desvalorização afeta a demanda interna pelos bens industriais e afeta também os
custos de produção da indústria. Difícil imaginar uma combinação pior.
Por tudo isso, e
contrariamente à conclusão dos economistas convencionais e do público leigo,
uma desvalorização frequentemente resultará em uma redução das exportações, em
uma estagnação (ou mesmo contração) do setor industrial e, pior ainda, na
deterioração do poder de compra da população como um todo, reduzindo seu padrão
de vida.
A seguir, a evolução do
câmbio, das exportações e da produção industrial durante os últimos 13 anos:

Evolução
do preço do dólar em reais desde janeiro de 2003

Evolução
das exportações

Evolução
da produção da Indústria de Transformação (linha vermelha), da Indústria de
Bens de Capital (linha azul), e da Indústria de Bens de Consumo Duráveis (linha
verde)
Como mostra a empiria --
que apenas comprova a teoria --, a desindustrialização no Brasil chegou ao auge
justamente no período em que a moeda mais se desvalorizou.
E, exatamente ao
contrário do que defendem os economistas desenvolvimentistas, é justamente
quando o câmbio está se apreciando (como ocorreu de 2003 a 2008, e de 2010 a
2011) que as exportações aumentam e a indústria se expande. E é
justamente quando o câmbio se desvaloriza (2009, e 2012 até o final de 2015),
que as exportações caem e a indústria encolhe.
Mito #6:
Queda de preços é algo impensável, e causaria uma
catastrófica depressão.
A memória parece ser curta. Do início da Revolução
Industrial, em meados do século XVIII, até o início da Segunda Guerra Mundial, os preços nos países
desenvolvidos geralmente caíam, ano após ano. Um cenário de deflação de
preços anual era a norma no mundo, especialmente nos EUA, entre 1865 e 1913
(ano da criação do Fed). Foi também nessa época que o país mais cresceu em
termos anuais
Isso porque um contínuo aumento da produtividade,
gerado pelo livre mercado, levou a uma queda nos preços. E dado que os custos de
produção caíam junto com os preços de venda, os investimentos aumentavam
normalmente. Em geral, os salários permaneceram constantes ao passo que o custo
de vida caiu -- de tal forma que os salários "reais", ou o padrão de
vida de todos, aumentou constantemente.
Vale enfatizar: o segredo está na produtividade. Com o aumento da
produtividade e da eficiência dos métodos de produção, os custos podem cair
proporcionalmente mais que os preços, tornando qualquer empreendimento
lucrativo, mesmo com queda de preços.
Em um cenário de deflação de preços generalizada,
ter lucros pode ser ainda mais fácil, pois, ao contrário do que ocorre hoje, os custos de produção também estariam
caindo. E, com a correta adoção de economias de escala e métodos produtivos
mais eficientes, os custos cairiam ainda mais que os preços, garantindo altos
lucros.
Não há nada de terrível se ter preços em queda. Queda
de preços é justamente o que ocorre em uma economia de mercado em que haja
concorrência e um contínuo aumento da oferta de bens e serviços. Todos nós
consumidores gostamos quando os preços das coisas ficam mais baratos.
Ademais, se uma redução de preços contínua levasse a
uma depressão permanente, o setor tecnológico já teria desaparecido. Deflação de
preços é a norma neste setor. Os preços de câmeras, notebooks, smartphones,
televisões etc. só caem. E ainda assim as empresas desses ramos só lucram.
Mas mesmo aquelas pessoas que aceitam essa lógica,
ainda assim insistem em dizer que, se as pessoas sabem que os preços cairão
continuamente, então elas irão postergar ao máximo seu consumo, esperando tudo
ficar mais barato. Consequentemente, com o consumo em queda, toda a economia
entraria em depressão. Na prática, essas pessoas estão dizendo que, entre
comprar hoje ou postergar a compra em 5 anos, quando os preços estarão menores,
todos optarão pela segunda alternativa.
Só que, em primeiro lugar, não há nenhuma evidência
de que uma queda nos preços faça com que as pessoas posterguem suas
compras. Se isso de fato ocorresse, ninguém jamais compraria televisões,
smartphones, câmeras, notebooks e demais apetrechos eletrônicos, pois sabemos
perfeitamente bem que tais itens estarão mais baratos e com ainda mais
qualidade no ano que vem. O que ocorre na realidade é que as pessoas
acabam comprando uma grande quantidade de todos esses itens.
As pessoas compram coisas quando necessitam delas, e
levam em consideração a tendência dos preços (afinal, ninguém pode adiar
compras para sempre).
Em segundo lugar, e isso é ainda mais importante, o
ser humano sempre irá preferir ter um bem hoje a ter esse mesmo bem apenas no
futuro distante. Isso é o básico da teoria da preferência temporal.
Logo, sempre que possível, consumidores preferem consumir no presente. Além
de você não poder postergar sua demanda por alimentos, roupas, moradia e alguns
outros bens, há também o fato de que você não necessariamente irá adiar sua
aquisição de um bem hoje só porque ele estará mais barato daqui a uma ano.
Porque mesmo comprando-o hoje a um preço maior, você sabe que seu poder de
compra será maior no futuro. E isso muda tudo.
Se você vive em um ambiente em que os preços estão
caindo, você sabe que seu poder de compra futuro será maior
que o atual. Mesmo sabendo que um carro estará $3.000 mais barato daqui a
dois anos, você ainda assim irá comprá-lo hoje, pois sabe que daqui a dois anos
seu dinheiro estará valendo mais. Não obstante seu gasto de hoje, você
terá maior poder de compra para aquisições futuras. É justamente o fato
de você saber que terá maior poder de compra no futuro o que não irá
restringir seu consumo presente.
Ao contrário até: é bem possível que o consumo
presente possa aumentar.
De resto, não há evidências de que queda nos preços
afete a confiança das empresas. Se uma queda de preços realmente afetasse
a confiança das empresas, nenhuma empresa jamais iria empreender no ramo
tecnológico.
As empresas investem naqueles setores em que
acreditam ser possível ter lucro, e o lucro está muito mais relacionado a
custos do que a preços de venda. Se os custos estiverem caindo, não haverá
problemas se os preços também caírem.
Em um cenário de deflação de preços, os preços
cairiam, mas os custos também cairiam.
Custos são preços. Eles também estão embutidos na queda.
Com o aumento da produtividade e da eficiência dos métodos de produção, os
custos podem cair proporcionalmente mais que os preços, tornando qualquer
empreendimento lucrativo, mesmo com queda de preços.
Deflação de preços, longe de trazer uma catástrofe,
é a marca tradicional de um crescimento econômico sadio e dinâmico.