A
polêmica nunca acaba: se uma determinada empresa recebe uma isenção fiscal do
governo, imediatamente começa a gritaria de que ela está "recebendo subsídios do
governo".
Em
seguida, afirma-se que isso seria muito injusto para com quem não recebe o
mesmo tratamento.
Mesmo
alguns liberais que sabem distinguir corretamente entre isenções e subsídios, dizem
que tais isenções são ruins porque geram "distorções no mercado".
Afinal,
uma redução de impostos para um segmento específico deve ser considerada ruim?
Seria um subsídio? Gera distorções?
Comecemos
pelo básico.
Isenções são o oposto de subsídios
Subsídio é o governo tomar dinheiro de Paulo e
repassar a Pedro.
Isenção fiscal é o governo simplesmente não tributar Paulo. Ou Pedro.
Subsídio é imoral (pois envolve roubo e repasse)
e economicamente ineficiente (pois o beneficiado passa a trabalhar com o
dinheiro recebido gratuitamente de terceiros).
Já isenção é o governo retirar uma barreira que
ele próprio erigiu e que nem sequer deveria existir.
Igualar
isenção tributária a subsídio sempre foi uma medida insensata. De nenhuma
maneira uma pessoa, empresa ou instituição está sendo subsidiada quando o
estado simplesmente se abstém de confiscar uma fatia de sua propriedade privada
(renda).
A
ideia de que uma isenção tributária configura um subsídio se baseia na
suposição de que toda a riqueza de uma pessoa, empresa ou instituição pertence
exclusivamente ao governo, de modo que qualquer fatia dessa riqueza que
permaneça com ela está sendo, de alguma maneira, retirada do seu "dono
legítimo", o governo.
Trata-se
de uma ideia radicalmente socialista.
Permitir
que você mantenha sua renda (isenção tributária) não é o mesmo que tomar a
renda de terceiros e repassá-la a você (subsídio). Isenções tributárias
não representam um esquema coercitivo de redistribuição de renda. Já os
subsídios representam, pois só há subsídio se houver impostos. Consequentemente,
subsídios beneficiam alguns produtores à custa de outros.
Em
um subsídio, o recebedor adquire um privilégio à custa de terceiros; já no caso
de uma isenção fiscal, o beneficiário está evitando um ônus. Enquanto o
subsídio é feito à custa de terceiros, a isenção não impõe tal custo aos
outros. Culpar o beneficiário da isenção por não pagar imposto é o mesmo que
culpar um escravo de fugir de seu senhor.
Gera distorções?
Entendida
a diferença radical entre subsídios e isenções, passemos à próxima questão, que
diz que isenções fiscais geram distorções econômicas. Procede?
De
novo, comecemos pelo básico.
O
estado, por meio impostos, confisca a renda das empresas com dois
propósitos: a) para beneficiar a si próprio, ou b) para distribuir a
terceiros.
Ambos
os casos envolvem o confisco de recursos que estariam sendo usados eficientemente
para atender desejos dos consumidores, e seu desvio para usos
não-eficientes. Ambos os casos envolvem subsídios, pois no
primeiro caso subsidiam-se os serviços governamentais e os funcionários do
governo, e no segundo subsidiam-se os recebedores dos recursos.
Os
subsídios, portanto, surgem como consequência
natural dos impostos. Toda vez que o estado gasta ou distribui os
recursos confiscados por impostos, ocorre um subsídio. E quanto maiores
forem os impostos, e consequentemente os subsídios advindos destes, menor será a
eficiência de uma economia.
Logo,
são exatamente a distribuição de uns para outros mais as
perdas econômicas produzidas pelos impostos -- as quais englobam também o custo
de arrecadar e de distribuir o recurso confiscado, e o custo da energia
despendida com o processo político -- que geram o que podemos chamar de
distorção.
Para
quem está focado no cenário de maior eficiência e prosperidade -- ou seja, no
livre mercado -- qualquer imposto gerará distorção. Consequentemente, qualquer
subsídio (o qual só existe porque há imposto) gerará distorção.
Logo,
são os subsídios, e não as isenções, que geram distorções econômicas.
É
fato que empresas beneficiadas por isenções tributárias incorrerão em custos
menores que empresas que não usufruem esse benefício. Mas isso não significa
que isenções forneçam uma vantagem injusta. Com efeito, significa
exatamente o oposto: mostra que impostos penalizam aqueles empreendedores que
tiveram o azar de ficar com o ônus de sustentar o governo.
Ou
seja, de novo, o problema não é a isenção, mas o imposto.
Impostos
são obstáculos que nem sequer deveriam existir. Portanto, se um governo reduz
ou -- melhor ainda -- extingue impostos, mesmo que seja para apenas um setor da
economia, então ele simplesmente está retirando um obstáculo que ele próprio
criou e que nem sequer deveria estar ali. Isso está longe de ser um "privilégio".
Quando
economistas argumentam que isenções não são subsídios, isso significa que
isenções, por si sós, não causam distorções na economia. Ao
contrário, distorções são causadas pelo fato de que, tão logo isenções são
concedidas, quaisquer impostos remanescentes gerarão efeitos distorcivos. Em
outras palavras, isenções não criam vantagens injustas: são os impostos que
criam desvantagens injustas.
Quando
uma determinada empresa vai à falência por causa de impostos, o real problema
está nos impostos, e não no fato de que outras empresas usufruem isenções.
Portanto,
pode uma redução de impostos ser considerada ruim por ocasionar
"distorções"? A resposta é um categórico não. É
impossível haver um aumento de distorção do conjunto de indivíduos só porque
houve uma diminuição de distorção de um setor específico (via redução de
impostos para este setor). Uma menor intervenção estatal agregada irá diminuir
a distorção agregada, por definição.
Qualquer redução de
impostos, ainda que para um único agente, levará a menores perdas
econômicas para o conjunto de indivíduos. A distorção advém do nível
geral de impostos, e não do ato de redução de um imposto.
A
redução de impostos para um agente não é, sob hipótese alguma, um ônus para os
outros agentes. Bem ao contrário: além do beneficiário direto da redução
de impostos, outros irão também beneficiar-se pela maior produção e renda do
beneficiário. É uma falácia a crença de que a produção adicional do
beneficiário se dará à custa de outros que seriam prejudicados. A redução
de impostos é uma situação ganha-ganha.
Isenções geram impostos maiores?
Por
fim, há o argumento de que empresas serem beneficiadas por isenções fiscais faz
com que os impostos pagos pelas outras pessoas e empresas tenham de ser maiores
apenas para compensar essa isenção concedida.
Isso
até pode ocorrer, mas isso não é um problema com as isenções, mas sim com o
tamanho dos gastos do governo. Logo, a solução óbvia não é abolir as isenções,
mas sim cortar os gastos governo.
Se uma empresa recebeu
isenção fiscal, então o governo tem de cortar gastos. Ponto. Se ele decide
aumentar impostos para fazer frente a seus gastos, então o culpado já está
evidente. Não faz sentido condenar as isenções por isso. Quem deve ser
condenado é o governo por ser incompetente em controlar seus gastos.
Murray Rothbard fez um comentário certeiro sobre
tudo isso:
Uma das principais fontes de confusão que afeta
tanto economistas quanto defensores do livre mercado é que a sociedade tem sido
frequentemente definida pelo status de "igualdade perante a lei" ou
de "privilégios para ninguém".
Em consequência, muitos têm usado tais conceitos
para condenar uma isenção fiscal como sendo um "privilégio" e uma
violação do princípio de "igualdade perante a lei".
Esse último conceito dificilmente constitui um
critério de justiça, pois depende da justiça da própria lei.
Suponha, por exemplo, que João e sua comitiva
proponham escravizar um grupo de pessoas. Deveríamos argumentar que a "justiça"
pressupõe que todos sejam escravizados igualmente? E suponha que um indivíduo tenha
a felicidade de escapar. Deveríamos condená-lo por livrar-se da "igualdade da
justiça" a que estão condenados seus companheiros?
Resta óbvio que a igualdade de tratamento não é
critério algum de justiça. Se uma medida é injusta, então o justo é que ela tenha
o menor efeito possível. Igualdade de tratamento injusto não pode nunca ser
considerada um ideal de justiça. Portanto, aquele que defende que um imposto
seja igual para todos deve primeiro estabelecer que o imposto em si é justo.
Conclusão
A
redução de impostos é sempre desejada, seja sob a ótica da moralidade, ou pela
busca de eficiência econômica.
Isenções
fiscais são benéficas para aqueles contemplados por elas, mas não são
subsídios. Ao contrário: isenções são como coletes salva-vidas em um mar
de redistribuição forçada de riqueza.
Mises
já dizia que
é graças a essas brechas nas regulamentações que as economias ainda conseguem
respirar.
Por isso, isenção fiscal é exatamente a política
a ser adotada em toda e qualquer circunstância. (O ideal, com efeito, seria o
governo expandir a isenção para todos, e simplesmente desaparecer).
Lamentavelmente,
essa simples constatação ainda não foi percebida por várias pessoas
sensatas.