Há uma semana, no dia 17 de outubro, foi celebrado o
Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.
Pobreza, neste caso, é a dramática situação em que, segundo a ONU, se encontram
todas aquelas pessoas que vivem com menos de 1,90 dólar por dia (57 dólares por
mês).
Evidentemente, a pobreza atacada neste dia não é
aquela pobreza anedótica e sem muitos critérios a que muitos normalmente se
referem, mas sim a pobreza extrema: aquela que em que a pessoa possui recursos
materiais que garantem apenas a sua subsistência.
E, neste sentido, a evolução dos indicadores de
pobreza extrema durante os últimos 200 anos nos permite ser bastante otimistas
quanto ao futuro. Em
1820, aproximadamente 95% da população mundial vivia na pobreza, com uma
estimativa de que 85% viviam na pobreza "abjeta". Em 2015, menos
de 10% da humanidade continuam a viver em tais circunstâncias.
Já o Banco Mundial recentemente relatou que as
amenidades básicas para se ter uma vida digna estão disponíveis para os mais
pobres do planeta em um volume jamais visto em toda a história da humanidade. E
por uma grande margem. Desde 1980, mais de 1 bilhão de pessoas saíram da
pobreza extrema (o número de pobres extremos caiu de 2 bilhões para 700 milhões).
Ao passo que, há 40 anos, 44% da população mundial estavam afundadas na mais
absoluta miséria, hoje apenas 9,5% estão nesta situação. O próprio Banco
Mundial reconhece que esta chaga poderá
finalmente desaparecer por inteiro de nosso planeta em menos de 15 anos.
Como mostra o gráfico abaixo, do projeto Our World in Data, a
pobreza extrema está em declínio ao mesmo tempo em que a população mundial
está aumentando.
A área vermelha mostra o número de pessoas ao redor
mundo vivendo na pobreza extrema; a área verde mostra o número de pessoas ao
redor do mundo fora da extrema pobreza. ('Extrema pobreza' é definida como um
nível de consumo diário menor que US$ 1,90 por dia, com o valor já ajustado
para a inflação e para as diferentes realidades de preço de cada país).

Gráfico
1: a área vermelha mostra o número de pessoas ao redor mundo vivendo na pobreza
extrema; a área verde mostra o número de pessoas ao redor do mundo que não
estão na extrema pobreza.
Observe que a redução da pobreza extrema em escala
global é recente. Desde 1970, tem havido um rápido crescimento no número de
pessoas vivendo acima da linha de pobreza extrema e uma drástica redução no
número de pessoas vivendo abaixo dele.
E é importante ressaltar novamente: a pobreza
extrema está em declínio ao mesmo tempo em que a população mundial está aumentando.
A porcentagem da população mundial que vive na
pobreza extrema está em queda livre.

Gráfico
2: porcentagem da população mundial na pobreza extrema. Fonte: Banco Mundial.
As
causas
Mas, qual seria a causa por trás deste acelerado
ritmo de erradicação da pobreza? Por que os últimos 30 anos foram o período da
história em que mais gente conseguiu escapar da miséria mais extrema?
Essencialmente, graças à ampliação do capitalismo e
da globalização.
Como mostraram os economistas Romain
Wacziarg e Karen Horn Welch, que coletaram
amplos dados a respeito, aqueles países que se abriram para a globalização entre
1950 e 1998 -- ou seja, aqueles países que liberalizaram seus regimes
comerciais durante este período -- vivenciaram um crescimento econômico médio
anual 1,5 ponto percentual superior ao daqueles outros países que não o
fizeram.
E essa diferença está longe de ser insignificante:
um país cuja economia cresce 1,5% ao ano durante 40 anos enriquecerá 80% neste período;
já um país crescendo 3% ao ano durante este mesmo período enriquecerá nada
menos que 226%.
Mais liberdade comercial -- mais capitalismo --
significa mais enriquecimento e maior padrão de vida.
Mas seria possível dizer que este maior crescimento econômico
realmente significa menos pobreza extrema? Não poderia ocorrer que os frutos
desse crescimento econômico fossem majoritariamente para as mãos daquela
oligarquia extrativa que mantém subjugado o grosso de uma população pauperizada?
Os economistas David Dollar e Aart
Kraay já demonstraram, há anos, que, na
maioria dos países, existe uma tendência de que a renda do quintil mais pobre
da população aumente no mesmo ritmo que o crescimento médio da economia: por
isso, aqueles países que conseguem manter um crescimento econômico sólido e
constante são também aqueles em que mais pessoas escapam da pobreza.
Ou seja, mais globalização significa mais
crescimento econômico, e mais crescimento econômico significa mais crescimento
na renda dos cidadãos mais pobres da sociedade.
Também sobre isso, os economistas Andreas Bergh e Therese
Nilsson encontraram
uma forte correlação negativa entre pobreza extrema e intensidade da abertura à
globalização de um país: mais globalização, menos pobreza extrema; e menos globalização,
mais pobreza extrema.

Gráfico
3: no eixo Y, a taxa de pobreza absoluta; no eixo X, a abertura do país ao
livre comércio. Fonte: Is
Globalization Reducing Absolute Poverty? (2014)
E, dado que a pobreza extrema está sendo reduzida tão
aceleradamente em tantos rincões do planeta, a desigualdade global da renda também
está se estreitando: a renda dos mais pobres cresce mais rapidamente que a dos
ricos e, como consequência, o índice de Gini global está caindo
significativamente pela primeira vez desde a Revolução Industrial.

Gráfico
4: no eixo Y, o coeficiente de Gini; no eixo X, a evolução do tempo. Os pontos
verdes representam a desigualdade global. A linha azul mostra a evolução da
desigualdade internacional ponderada pelo crescimento populacional. A linha
vermelha mostra a evolução da desigualdade internacional sem qualquer ponderação.
Fonte: Branko Milanovic
Liberdade
econômica
A globalização e o livre comércio andam juntos com a
liberdade econômica. E a expansão da liberdade econômica coincidiu com essa
impressionante redução na pobreza extrema global.
Aqueles países que mais abraçaram a liberdade
econômica foram os que mais vivenciaram uma substantiva redução na porcentagem
de pessoas vivendo em destituição. Como mostra o índice Economic Freedom of the
World (Liberdade Econômica do Mundo), os países mais economicamente
livres têm os menores níveis de pobreza, ao passo que, nos países menos
economicamente livres, altos níveis de pobreza persistem.
No eixo Y, a taxa de pobreza. No eixo X, o
agrupamento de países de acordo com sua liberdade econômica. Quanto mais à
direita, maior a liberdade econômica. Em cada agrupamento há o percentual de
pobreza extrema (extreme) e de pobreza moderada (moderate).

Gráfico 5: Liberdade econômica e taxas de pobreza extrema e pobreza
moderada. No eixo Y, a taxa de pobreza. No eixo X, o agrupamento de países
de acordo com sua liberdade econômica. Quanto mais à direita, maior a liberdade
econômica. Em cada agrupamento há o percentual de pobreza extrema (extreme)
e de pobreza moderada (moderate). Fonte: Cato Institute et al., "Economic Freedom of the World: 2016
Report."
As evidências ficam ainda mais explícitas: para
reduzir a pobreza é necessário ter liberdade econômica. E liberdade econômica pressupõe
livre comércio e livre iniciativa.
Conclusão
A divisão do trabalho em escala global e a
especialização da mão-de-obra são as características mais intrínsecas ao
capitalismo global. A produção industrial se torna mais concentrada nos países
em desenvolvimento, cujos custos trabalhistas são menores que nos países ricos.
O capital é direcionado para onde os custos são menores e os retornos são
maiores. E, em troca, gera produtos cada vez melhores a preços cada vez
menores.
O maior acesso a produtos melhores e a preços menores
é exatamente o que retira as pessoas da condição de pobreza extrema. O livre comércio
global, consequentemente, é um arranjo no qual os mais pobres do mundo podem se
aproveitar dos métodos de produção de mais baixo custo e de maior
especialização. E isso é apenas um dos vários exemplos dos benefícios gerados
pelas poderosas forças do comércio internacional e da concorrência global.
Vale lembrar que o modo padrão durante a maior parte
da história humana sempre foi a pobreza. A pobreza sempre foi a norma e a
condição natural e permanente do homem ao longo da história do mundo. E esta se
manifestava em conjunto com todos os seus problemas.
Hoje, uma pessoa
sai da pobreza extrema a cada segundo, graças a melhores sistemas
econômicos, a um maior conhecimento adquirido, e a melhores e mais baratas
tecnologias, as quais já chegam a quase todas as áreas do globo.
A libertação do indivíduo em relação à destituição e
às incertezas da agricultura de subsistência é uma das maiores façanhas do
mundo moderno. Cada vez mais pessoas têm uma expectativa de vida maior e vivem
com mais saúde e com mais conforto em relação a qualquer outro período da
história humana.
Reconhecer o enorme e positivo efeito desta
transformação gradual é de suprema importância não apenas para contrabalançar o
crescente pessimismo que nos acomete, como também para não nos esquecermos
jamais do arranjo que permitiu a ocorrência deste fenômeno.
Por isso, o Dia Internacional para a Erradicação da
Pobreza deveria ser dedicado à celebração da globalização capitalista: o maior
motor de redução da pobreza em toda a história da humanidade.
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Leia
também:
Como o capitalismo e a
globalização reduziram os preços e trouxeram progresso para todos
Como a desigualdade de
riqueza acaba reduzindo a pobreza
A diferença básica entre
globalismo e globalização econômica: um é o oposto do outro