Acadêmicos,
políticos, clérigos e outros tipos sempre aparentam perplexidade frente à
seguinte questão: por que existe pobreza no mundo? As respostas normalmente variam, indo desde
exploração e ganância até escravidão, colonialismo e outras formas de
comportamento imoral. A pobreza é vista
como um fenômeno que deve ser explicado apenas por meio de análises
complicadas, doutrinas conspiratórias, fórmulas mágicas e feitiçarias. Essa visão acerca da pobreza é, na verdade,
parte do problema, impedindo que a questão seja abordada corretamente.
Na
realidade, há muito pouco de complicado ou de interessante na pobreza. A pobreza tem sido a condição natural e
permanente do homem ao longo da história do mundo. As causas da pobreza são bem simples e
diretas. Em termos gerais, indivíduos em
particular ou nações inteiras em geral são pobres por uma ou mais das seguintes
razões: (1) eles não podem ou não sabem produzir muitos bens ou serviços que
sejam muito apreciados por outros; (2) eles podem e sabem produzir bens ou
serviços apreciados por outros, mas são impedidos de fazer isso; ou (3) eles
voluntariamente optam por ser pobres.
O
verdadeiro mistério é entender por que realmente existe alguma riqueza no mundo. Isto é, como uma pequena porção da população
humana (em sua maioria no Ocidente), por apenas um curto período da história
humana (principalmente nos séculos XIX, XX e XXI), conseguiu escapar do mesmo
destino de seus predecessores?
Algumas
vezes, referindo-se aos EUA, as pessoas justificam sua riqueza apontando para o
fato de que o país é abundante em recursos naturais. Tal explicação, entretanto, é
insatisfatória. Fosse a abundância de
recursos naturais a causa de riqueza, a África e a América do Sul seriam os
continentes mais ricos do mundo, e não o lar de algumas das pessoas mais
miseravelmente pobres do planeta. Em
contrapartida, tal explicação, por uma questão de lógica, infere que países
pobres em recursos naturais, como Japão, Hong Kong e Grã-Bretanha, deveriam ser
miseráveis, e não estarem classificados entre os lugares mais ricos do mundo.
Outra
explicação insatisfatória para a pobreza é o colonialismo. Esse argumento sugere que a pobreza do
terceiro mundo é uma herança pelo fato de tais países terem sido colonizados,
explorados e espoliados de suas riquezas pelos países colonizadores. Ocorre, porém, que países como Estados
Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia também foram colônias; e ainda assim
estão entre os mais ricos do mundo. Hong
Kong foi colônia da Grã-Bretanha até 1997 -- quando a China reconquistou a
soberania da ilha --, mas consegui se tornar a segunda mais rica jurisdição
política do Extremo Oriente. Por outro
lado, Etiópia, Libéria, Tibete e Nepal jamais foram colônias, ou foram por
apenas alguns poucos anos, e ainda assim figuram entre os países mais pobres e
mais atrasados do mundo.
Não
obstante as várias críticas justificáveis ao colonialismo e, devo acrescentar,
às multinacionais, o fato é que ambos serviram como uma forma de transferência
de tecnologias e de instituições ocidentais, fazendo com que pessoas de países
atrasados entrassem em contato com o mundo ocidental, mais desenvolvido. Um fato trágico -- embora pouco comentado --
é que vários países da África passaram por expressivos declínios econômicos após
suas independências. Em muitos desses
países, o cidadão médio pode dizer que comia mais regularmente e usufruía mais
proteções aos seus direitos humanos quando ainda estava sob domínio
colonial. As potências coloniais jamais
perpetraram os indescritíveis abusos de direitos humanos -- incluindo-se aí o
genocídio -- que vimos ocorrer em países como Burundi, Uganda, Zimbábue, Sudão,
África Central, Somália e outros lugares após sua independência.
Qualquer
economista que diga saber uma resposta completa para as causas da riqueza deve
ser imediatamente visto com muita desconfiança.
Simplesmente não sabemos plenamente o que torna algumas sociedades mais
ricas que outras. Entretanto, podemos
fazer suposições baseadas em correlações.
É relativamente simples. Comece
enumerando os países de acordo com seu sistema econômico. Conceitualmente, podemos ordená-los desde os
mais capitalistas (aqueles que possuem um mercado mais livre) até os mais
comunistas (aqueles que possuem ampla intervenção e planejamento estatal). Então consultamos a Anistia Internacional e
seu ranking de países ordenados de acordo com abusos de direitos humanos. E então utilizamos as estatísticas de renda
fornecidas pelo Banco Mundial para ordenar os países da maior até a menor renda
per capita.
Ao
se compilar essas três listas, seria possível observar uma correlação muito
forte, embora imperfeita: aqueles países com maior liberdade econômica tendem
também a oferecer maiores proteções aos direitos humanos. E seus cidadãos são mais ricos. Dado que tal descoberta não é uma
coincidência, especulemos os motivos dessa correlação.
Direitos e prosperidade
Uma
maneira de mensurar a proteção aos direitos humanos é perguntando até que ponto
o estado protege a propriedade privada e a liberdade de trocas voluntárias --
ou seja, o direito de adquirir, possuir e se desfazer de propriedade da maneira
que mais aprouver ao indivíduo, desde que ele não viole os direitos de
terceiros. A diferença entre a
propriedade privada e a propriedade coletiva não é meramente filosófica. A propriedade privada produz incentivos e
resultados sistemicamente distintos da propriedade coletiva.
Dado
que os coletivistas frequentemente banalizam os direitos de propriedade privada,
vale à pena elaborar essa questão.
Quando os direitos de propriedade são aplicados integralmente à
propriedade privada, todos os custos e benefícios das decisões que um indivíduo
proprietário toma ficam concentrados nele e nele apenas. Já quando os direitos de propriedade são
coletivizados, eles se tornam difusos e dispersos pela sociedade.
Por
exemplo, a propriedade privada força os proprietários de imóveis a levarem em
consideração o efeito que suas atuais decisões terão sobre o valor futuro de
seus imóveis. Por quanto tempo mais um
imóvel continuará sendo valorizado como uma boa moradia -- e, por conseguinte,
ser revendido a um bom preço -- é algo que vai depender exclusivamente de como
seu proprietário irá cuidar dele. Assim,
uma propriedade gerida privadamente faz com que a riqueza de um indivíduo seja
refém de suas atitudes; esse indivíduo, para manter sua riqueza, terá de
incorrer em uma atitude "socialmente responsável": economizar recursos
escassos.
Compare
esses incentivos àqueles gerados pela propriedade coletiva. Quando o governo é o proprietário de um
imóvel, um indivíduo não tem incentivos para cuidar bem deste imóvel
simplesmente porque ele, caso aja assim, não irá capturar o benefício completo
de seus esforços. O resultado de seus
esforços será disperso por toda a sociedade.
Por outro lado, para este mesmo individuo, os custos de ele ser
descuidado e desleixado com o imóvel coletivo também serão similarmente
dispersos pela sociedade. Não é
necessário ser um gênio para prever que, sob tais circunstâncias, os cuidados
para com essa propriedade serão muito menores.
Simplesmente não há incentivos para tal atitude; não há incentivos para
se economizar recursos escassos. A
propriedade coletiva gera desperdício de recursos escassos, sendo portanto
socialmente irresponsável -- justamente o contrário do que almejam seus
apologistas.
Mas
a propriedade nominalmente coletiva não é o único arranjo que desestimula essa
responsabilidade social. Quando o
governo tributa a propriedade, ele altera as características inerentes ao ato
de possuir uma propriedade. Se o
governo, por exemplo, impuser um imposto de 75% sobre a venda de imóveis, tal
medida irá reduzir os incentivos que um indivíduo possui para utilizar sua propriedade
de maneira sensata, economizando recursos escassos. Tal medida, na verdade, estimularia um
comportamento mais desleixado do indivíduo proprietário, o que levaria a uma
rápida deterioração do imóvel, uma destruição de recursos escassos. Afinal, para que cuidar bem de algo que, ao
ser vendido, não lhe trará grandes receitas?
Esse
argumento se aplica para todas as atividades, inclusive trabalho e
investimento. Qualquer medida que reduza
o retorno ou aumente o custo de um investimento irá reduzir os incentivos para
que se faça tal investimento. Isso é
válido tanto para investimentos em capital humano quanto para investimentos em
capital físico -- isto é, aquelas atividades que elevam a capacidade produtiva
dos indivíduos.
De
maneira significativa, a riqueza das nações está incorporada em seus
cidadãos. O exemplo mais acabado disso é
a experiência dos alemães e japoneses após a Segunda Guerra Mundial. Durante a guerra, os bombardeios das forças
aliadas destruíram praticamente todo o estoque de capital físico desses dois
países. O que não foi destruído foi o
capital humano das pessoas: suas habilidades físicas e mentais, e sua
educação. Em duas ou três décadas, ambos
os países ressurgiram como formidáveis forças econômicas. Não foi o Plano Marshall, tampouco os outros
subsídios americanos à Europa e ao Japão, que trouxe a recuperação a esses dois
países; nem haveria sentido econômico caso isso ocorresse.
A
correta identificação das causas da pobreza é algo crítico. Se ela for vista, como ocorre muitas vezes,
como resultado da exploração, a política que naturalmente irá ser sugerida é a
redistribuição de renda -- isto é, o confisco governamental da renda "adquirida
injustamente" por algumas pessoas e sua subsequente "restituição" aos seus
proprietários "por direito". Trata-se da
política da inveja: programas assistencialistas cada vez maiores em nome de uma
suposta igualdade, a qual é impossível de ser obtida na prática.
Quando
a pobreza passar a ser vista como o que realmente é, a saber, o resultado de
intervenções governamentais irracionais -- como regulamentações,
burocratização, tributação e inflação -- e da falta de capacidade produtiva,
políticas mais eficazes surgirão.
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